ANÁLISE
ANDRÉ PESSÔA ESPECIAL PARA A FOLHA As cotações das commodities agrícolas vêm apresentando, nas últimas semanas, espantosa capacidade de resistir à turbulência do mercado financeiro, receoso de um segundo mergulho da economia mundial após a crise de 2008 e 2009. Uma das razões para esse comportamento diferenciado dos ativos agrícolas decorre da força dos fundamentos de longo prazo da demanda, entre os quais o acelerado processo de crescimento e urbanização da população mundial, a elevação da renda nos países em desenvolvimento e o uso de cereais e oleaginosas para a produção de biocombustíveis. Vive-se um choque de demanda por alimentos que nem mesmo a crise econômica mundial vivenciada em 2008 e 2009 foi capaz de reverter. Aparentemente, os agentes econômicos envolvidos nos mercados agrícolas estão descartando que uma nova crise consiga reverter a expansão da demanda. Outra razão é a baixa disponibilidade de opções para acelerar a oferta desses produtos. Áreas ainda disponíveis para a expansão sustentável da produção são cada vez mais escassas, limitando-se praticamente à América do Sul e a alguns países africanos e do Leste da Europa. Os incrementos esperados na produtividade serão insuficientes para enfrentar o frenético ritmo da demanda, mesmo que se considerem resultados promissores da ferramenta da biotecnologia. É nesse contexto, respeitados os limites impostos pela legislação ambiental, que o Brasil emerge como a grande aposta do mundo para acelerar a expansão da oferta de alimentos. Ainda temos abundante disponibilidade de terras para serem incorporadas ao processo produtivo. As oportunidades que se apresentam para nossa agricultura vinham atraindo de forma expressiva investidores externos, na sua maioria empresas agrícolas já estabelecidas em outros países e fundos de "private equity". Esse processo, que estava ajudando a criar uma alternativa de rápido desenvolvimento sustentável em regiões pobres como Maranhão, Piauí e Bahia, foi interrompido pelo parecer da AGU, de 2010, que restringe os investimentos de empresas brasileiras controladas por estrangeiros em compra e em arrendamento de terras. Estudo realizado pelas consultorias Agroconsult e MB Agro aponta a necessidade da ordem de R$ 93,5 bilhões para cobrir apenas os investimentos em compra de terras e na construção da infraestrutura produtiva básica em grãos, algodão, cana e florestas plantadas, até 2020, sem contar o investimento nas usinas e em fábricas. O mundo precisa ampliar a oferta agrícola em 20% nos próximos dez anos e espera que o Brasil eleve a produção em 40%, segundo a OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Com isso, o Brasil tem a chance de dar uma contribuição realmente relevante para o restante da humanidade. Tendo em vista a recorrente baixa disponibilidade de capital para investimentos de longo prazo, o Brasil corre o risco de não aproveitar essa oportunidade. ANDRÉ PESSÔA é sócio-diretor da Agroconsult. |
domingo, 21 de agosto de 2011
Há escassez de áreas no mundo para a expansão da produção
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