Luiz Silveira
O lançamento do plano Brasil Maior, do governo federal, prevê R$ 25 bilhões em incentivos para ampliar a competitividade da indústria nacional, que está perdendo mercado externo e interno na briga com os produtos importados. As commodities (mercadorias produzidas em larga escala com comércio e padrão mundiais) representaram 71% das exportações brasileiras do primeiro semestre deste ano, chamando atenção para o baixo nível de exportações de produtos industriais e de serviços.
O alto preço das commodities agrícolas e metálicas e a perda de competitividade da indústria nacional no mercado mundial aumentaram a relevância dos produtos básicos nas exportações e reacendeu o velho debate sobre o valor agregado nas exportações.
Afinal, é ruim o Brasil exportar principalmente itens básicos, como minério de ferro, soja e petróleo? A questão é controversa. Para alguns, é bom que o País se especialize nas exportações em que é mais competitivo. Para outros, a grande dependência das commodities deixa as contas do País em risco, porque os preços desses produtos são globais e variam muito.
Mas mesmo para aqueles que se preocupam com a situação, o problema não está nas commodities em si. “Não tenho nada contra as commodities, só que o País está muito dependente delas e, se os preços caírem, o Brasil pode ter um déficit comercial em 2012”, avalia o presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. O déficit comercial ocorre quando o país importa mais do que exporta.
Em outras palavras, Castro defende que sejam tomadas medidas para ampliar a exportação de produtos industrializados, mas não para reduzir as exportações de commodities. A indústria brasileira está exportando menos porque o real forte torna os produtos nacionais mais caros em outras moedas.
O problema cambial também passa pelo fato de governos de grandes exportadores industriais, principalmente da China, estarem mantendo suas moedas desvalorizadas artificialmente. Assim, seus produtos ficam mais baratos nos outros países.
“O aumento da parcela das commodities nas exportações decorre das vantagens comparativas que o agro e o setor minerador apresentam”, avalia o coordenador técnico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), Geraldo Barros. Para ele, os investimentos em produtividade deram aos setores produtores de commodities uma competitividade internacional que ainda não foi atingida pela indústria.
Além disso, Castro, da AEB, lembra que os preços internacionais das commodities estão bem acima da média histórica, o que não ocorre com os preços de produtos industriais. A demanda dos países emergentes por alimentos e minérios para a construção civil e de automóveis está puxando os preços mundiais desses produtos. Países como a China privilegiam a importação dos itens básicos, para serem industrializados localmente.
Especialização
Há, no entanto, especialistas que não veem sinais negativos no peso das commodities na pauta de exportações. “A produção industrial para o mercado interno continua diversificada e aquecida. Nas exportações, no entanto, deve-se aceitar que os setores mais competitivos, como os de commodities, devem ocupar um espaço maior, aproveitando-se os bons preços internacionais e a ascendente demanda doméstica e internacional”, afirmam as pesquisadoras Paula Moura e Isabella Franchini, em um novo artigo da RedeAgro, intitulado “Produção industrial e a especialização da pauta de exportação: ganhos para o Brasil”.
O estudo concluiu que, de fato, as commodities ganharam espaço na pauta desde 2007, enquanto que os chamados produtos diferenciados perderam participação. A produção de itens diferenciados não caiu, de acordo com as autoras. Pelo contrário, entre 2006 e 2010 a produção de bens de capital (usados na produção de outros bens) cresceu 36%, e a produção de bens de consumo aumentou 10%.
É importante ressaltar que as commodities não são apenas produtos brutos, como grãos de soja e minério de ferro. Produtos processados a partir deles, como o óleo de soja e o aço, também são commodities.
Confira definições simples de commodities e de commodities agrícolas no nosso glossário.
PRODUÇÃO INDUSTRIAL E ESPECIALIZAÇÃO DA PAUTA DE EXPORTAÇÃO: GANHOS PARA O BRASIL
Ter, 26 de Julho de 2011 00:00 Última atualização em Qua, 27 de Julho de 2011 18:06
A especialização da pauta de exportação brasileira é um tema que gera constantes debates e reúne defensores e opositores. Há muita confusão sobre o assunto, já que especializar as exportações não quer dizer especializar a produção internamente. É preciso que se entenda que o Brasil só tem a ganhar com a especialização dos produtos exportados, mas que não necessariamente haverá especialização na produção nacional. Ao contrário, os dados da produção industrial brasileira mostram que a pauta é diversificada e que nos últimos anos todos os setores registraram crescimento. A produção industrial para o mercado interno continua diversificada e aquecida. Nas exportações, no entanto, deve-se aceitar que os setores mais competitivos, como os de commodities, devem ocupar um espaço maior, aproveitando-se os bons preços internacionais e a ascendente demanda doméstica e internacional.
A participação de commodities nas exportações vem crescendo desde 2007, ano em que o Brasil foi considerado país mais confiável sob a percepção do investidor. Tal fator, combinado com a alta dos preços das commodities, contribuiu para o aumento de investimentos no setor e, consequentemente, aumento na produção e na exportação. Para entender a dinâmica da pauta de exportação brasileira, bem como justificar a afirmativa de que a especialização é um fator positivo para o Brasil, utilizou-se a metodologia elaborada por Nakahodo e Jank (2007) no estudo “A Nova Dinâmica das Exportações Brasileiras: Preços, Quantidades e Destinos”, que analisa dados de 1996 a 2006. Em seguida, atualizou-se o estudo por meio dos dados de exportação da SECEX (Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), de 2007 a 2010.
A metodologia classifica os produtos exportados em duas categorias: commodities e diferenciados. Dentre as commodities, estão três classes de produtos: os do agronegócio, os combustíveis e os minerais e metais. Dentre os diferenciados estão os produtos de manufaturas industriais, classificados em níveis de “intensidade tecnológica”, podendo ser: alta, média-alta, média-baixa e baixa tecnologia.
Avaliando-se os dados de 2007 a 2010, comparando-os com aos dados de 1996 a 2006 (período de tempo avaliado por Nakahodo e Jank), percebeu-se que houve, de fato, mudança na participação do grupo das commodities na pauta de exportação. O equilíbrio observado até 2006 entre a participação dos produtos diferenciados e das commodities (ou seja, diferenciados e commodities possuíam mesmo peso na balança comercial), após 2007 as commodities passaram a ter maior peso nas exportações, representando quase 68% do valor exportado em 2010. Especificamente, as exportações dos produtos do agro tiveram um aumento significativo, com exceção de pontual queda em 2009, devido à crise iniciada no final de 2008. A participação de tais produtos, no entanto, continuou a crescer, atingindo seu ápice em 2009, com quase 40% do valor total exportado.
Nos combustíveis também houve aumento expressivo no valor exportado, que foi de USD 10,5 bilhões em 2006 para quase USD 20 bilhões em 2010. Vale lembrar que a alta nos preços das commodities tem forte influência nesses cenários e que, devido à volatilidade intrínseca dos preços dos produtos primários, a relação entre commodities e diferenciados, na pauta exportadora, pode voltar a se equilibrar se os preços caírem.
Quanto aos produtos diferenciados, uma variedade menor desses produtos vem sendo responsável por uma parcela maior das exportações. No período entre 1996 a 2006, observou-se certa constância na participação dos diferenciados nas exportações, com significativa presença dos de alta e média-alta tecnologia. De 2007 para frente, percebemos uma queda na participação dos diferenciados, principalmente nos produtos de média-alta tecnologia, apesar destes ainda serem significativos na pauta, representando 18% do total.
Este “rearranjo” da pauta de exportação não deve ser considerado algo ruim, uma vez que o País tem vantagens comparativas no setor de commodities e que a especialização não necessariamente reflete a realidade da pauta de produção (principalmente para consumo interno). Para exemplificar: quando avaliamos a produção industrial por meio do índice de quantum, percebemos que houve um incremento de 36% na produção de bens de capital e de 10% na produção de bens de consumo no período entre 2006 e 2010. Apesar da diferente classificação (em relação à usada por Nakahodo e Jank), fica claro que a produção de diferenciados (em que se enquadram as categorias de bens de consumo e de capital) continua a crescer, apesar da redução na participação no valor exportado. Isso mostra como a produção interna continua diversificada, apesar da especialização das exportações.
Exportar mais dos produtos em que o Brasil tem uma vantagem competitiva é positivo, não só em termos de comércio global, mas também em termos de emprego, renda e de benefícios para a sociedade. Se todos os setores crescerem em termos de produção (contrariando a tese de que a especialização na produção de commodities causaria a desindustrialização), não só faz sentido como é necessário o Brasil especializar sua exportação naqueles bens em que é mais competitivo internacionalmente. Nesse caso, devemos estimular o crescimento das exportações das commodities – e não rechaçá-los.
A participação de commodities nas exportações vem crescendo desde 2007, ano em que o Brasil foi considerado país mais confiável sob a percepção do investidor. Tal fator, combinado com a alta dos preços das commodities, contribuiu para o aumento de investimentos no setor e, consequentemente, aumento na produção e na exportação. Para entender a dinâmica da pauta de exportação brasileira, bem como justificar a afirmativa de que a especialização é um fator positivo para o Brasil, utilizou-se a metodologia elaborada por Nakahodo e Jank (2007) no estudo “A Nova Dinâmica das Exportações Brasileiras: Preços, Quantidades e Destinos”, que analisa dados de 1996 a 2006. Em seguida, atualizou-se o estudo por meio dos dados de exportação da SECEX (Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), de 2007 a 2010.
A metodologia classifica os produtos exportados em duas categorias: commodities e diferenciados. Dentre as commodities, estão três classes de produtos: os do agronegócio, os combustíveis e os minerais e metais. Dentre os diferenciados estão os produtos de manufaturas industriais, classificados em níveis de “intensidade tecnológica”, podendo ser: alta, média-alta, média-baixa e baixa tecnologia.
Avaliando-se os dados de 2007 a 2010, comparando-os com aos dados de 1996 a 2006 (período de tempo avaliado por Nakahodo e Jank), percebeu-se que houve, de fato, mudança na participação do grupo das commodities na pauta de exportação. O equilíbrio observado até 2006 entre a participação dos produtos diferenciados e das commodities (ou seja, diferenciados e commodities possuíam mesmo peso na balança comercial), após 2007 as commodities passaram a ter maior peso nas exportações, representando quase 68% do valor exportado em 2010. Especificamente, as exportações dos produtos do agro tiveram um aumento significativo, com exceção de pontual queda em 2009, devido à crise iniciada no final de 2008. A participação de tais produtos, no entanto, continuou a crescer, atingindo seu ápice em 2009, com quase 40% do valor total exportado.
Nos combustíveis também houve aumento expressivo no valor exportado, que foi de USD 10,5 bilhões em 2006 para quase USD 20 bilhões em 2010. Vale lembrar que a alta nos preços das commodities tem forte influência nesses cenários e que, devido à volatilidade intrínseca dos preços dos produtos primários, a relação entre commodities e diferenciados, na pauta exportadora, pode voltar a se equilibrar se os preços caírem.
Quanto aos produtos diferenciados, uma variedade menor desses produtos vem sendo responsável por uma parcela maior das exportações. No período entre 1996 a 2006, observou-se certa constância na participação dos diferenciados nas exportações, com significativa presença dos de alta e média-alta tecnologia. De 2007 para frente, percebemos uma queda na participação dos diferenciados, principalmente nos produtos de média-alta tecnologia, apesar destes ainda serem significativos na pauta, representando 18% do total.
Este “rearranjo” da pauta de exportação não deve ser considerado algo ruim, uma vez que o País tem vantagens comparativas no setor de commodities e que a especialização não necessariamente reflete a realidade da pauta de produção (principalmente para consumo interno). Para exemplificar: quando avaliamos a produção industrial por meio do índice de quantum, percebemos que houve um incremento de 36% na produção de bens de capital e de 10% na produção de bens de consumo no período entre 2006 e 2010. Apesar da diferente classificação (em relação à usada por Nakahodo e Jank), fica claro que a produção de diferenciados (em que se enquadram as categorias de bens de consumo e de capital) continua a crescer, apesar da redução na participação no valor exportado. Isso mostra como a produção interna continua diversificada, apesar da especialização das exportações.
Exportar mais dos produtos em que o Brasil tem uma vantagem competitiva é positivo, não só em termos de comércio global, mas também em termos de emprego, renda e de benefícios para a sociedade. Se todos os setores crescerem em termos de produção (contrariando a tese de que a especialização na produção de commodities causaria a desindustrialização), não só faz sentido como é necessário o Brasil especializar sua exportação naqueles bens em que é mais competitivo internacionalmente. Nesse caso, devemos estimular o crescimento das exportações das commodities – e não rechaçá-los.
Para saber mais:
Nakahodo, Sidney N. e Marcos S. Jank. 2007. A Nova Dinâmica das Exportações Brasileiras: Preços, Quantidades e Destinos. Disponível em:
Nakahodo, Sidney N. e Marcos S. Jank. 2007. A Nova Dinâmica das Exportações Brasileiras: Preços, Quantidades e Destinos. Disponível em:
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