terça-feira, 3 de maio de 2011

DADOS DE ABRIL CONFIRMAM ACOMODAÇÃO NA INDÚSTRIA

RITMO DA INDÚSTRIA ACOMODA, MAS AINDA É DESIGUAL ENTRE SETORES
Autor(es): Sergio Lamucci | De São Paulo
Valor Econômico - 02/05/2011
 

Os sinais de que a economia brasileira passa por um processo de acomodação do ritmo de crescimento ficaram mais fortes em abril. Enquanto fabricantes de bens de consumo ainda registraram encomendas fortes em março e abril, setores importantes de produção de bens intermediários, como aço e papelão ondulado, começaram a rever, para baixo, suas projeções para o crescimento do ano. Ao mesmo tempo, sindicatos relatam negociações salariais mais difíceis. Com database em abril, trabalhadores têxteis de Brusque, importante polo catarinense do setor, fecharam acordo só com a inflação dos últimos 12 meses.

O Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) informa que em abril a entrega de mercadorias foi 12% inferior a de março e 1,5% menor que a de igual mês do ano passado, situação que fez o setor reestimar de 15% para 12% o crescimento do ano. “Mas o consumo total doméstico não deve crescer", diz Carlos Loureiro, presidente do Inda, explicando que as usinas brasileiras estão recuperando terreno perdido para as importações. Em papelão, a projeção de um 2011 4% maior deve ser revista para 3% diante da alta dos juros e da restrição ao crédito.


O aumento das taxas de juros e as medidas de contenção ao crédito continuam provocando efeitos desiguais na indústria. Alguns setores importantes relatam perda de força nos últimos dois meses, como a distribuição de aço e o segmento eletroeletrônico. O setor de papelão ondulado, por sua vez, teve um primeiro trimestre de vendas modestas, enquanto no Polo Industrial de Manaus (PIM), o cenário é mais otimista, com volume significativo de encomendas. Indicador que tenta replicar o Produto Interno Bruto (PIB) mostra atividade de abril próxima de março, que recuou levemente sobre fevereiro.
No setor de distribuição de aço, depois de um primeiro trimestre bastante positivo, houve arrefecimento dos negócios em abril, segundo o presidente do Inda (associação do setor), Carlos Loureiro. Em fevereiro e março, diz ele, houve uma antecipação de compras em função do aumento de preços de 6% a 10% que entrou em vigor no começo do mês passado. "O primeiro trimestre teve um resultado muito bom, com alta de 12,4% em relação ao mesmo período de 2010, uma base de comparação elevada", diz Loureiro.
Para abril, porém, a expectativa é que a distribuição de aços planos tenha atingido 337 mil toneladas, 12% menos que em março deste ano e 1,5% abaixo do registrado em abril do ano passado. Loureiro diz que as usinas reclamam de uma programação fraca de pedidos para junho, indicando que não há um movimento firme de encomendas. "Há 45 dias, havia mais otimismo no setor", afirma ele. Segundo Loureiro, o volume um pouco mais fraco de pedidos ocorre em todos os segmentos, da indústria automobilística e de autopeças a de linha branca, passando pela construção civil, máquinas e equipamentos e máquinas agrícolas. "O segundo trimestre parece que vai ser bem mais fraco que o primeiro", diz ele.
No começo do ano, ele esperava alta de 15% para a distribuição de aço em 2011. Depois do desempenho dos quatro primeiros meses do ano, um crescimento de 12% lhe parece mais provável. Loureiro observa ainda que parte dessa alta é conquista de uma fatia de mercado que em 2010 ficou nas mãos dos importados. "Acho que consumo aparente de aço [produção mais importação, menos exportação] não cresce nada neste ano."
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, também nota algum arrefecimento na situação do setor nos últimos dois meses. Na sondagem conjuntural feita pela entidade em março, 43% das empresas ouvidas relataram que o ritmo de negócios no mercado interno está conforme o esperado, um pouco abaixo dos 45% de fevereiro. Ao mesmo tempo, subiu de 35% para 41% o percentual de companhias que informaram negócios abaixo do que projetavam. A inflação em alta e o notíciário sobre a alta de juros podem ter alguma influência sobre o ânimo do consumidor, acredita Barbato, para quem o ambiente de extremo otimismo que havia no país começa a ser revertido. A Abinee, que projetava aumento de 12% do faturamento em 2011, pode revisar o número para 8% a 10%.
O presidente da Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO), Ricardo Trombini, viu um bom desempenho do segmento em março, quando a expedição ficou 1% abaixo do mesmo mês de 2010, que teve um dia útil a mais. A média diária, explica, ficou 2,4% maior. Segundo Trombini, as encomendas de embalagens seguem firmes nos setores de alimentos e higiene e limpeza, produtos em geral vendidos à vista, mais dependentes do comportamento da renda, que continua forte. Os pedidos dos fabricantes de bens duráveis (como eletroeletrônicos e móveis) mostraram uma pequena acomodação, diz ele, lembrando que esses são os setores mais ligados ao crédito. Embora os números de abril ainda não estejam fechados, Trombini considera possível um resultado semelhante ao do mesmo mês do ano passado.
Para 2011, Trombini aposta em alta de 4% para o setor, que pode ser revisto para 3%, a depender do impacto e da dosagem das medidas de combate à inflação.
No Polo Industrial de Manaus (PIM), o nível de produção e encomendas tem sido bastante positivo, segundo o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Wilson Périco. "A produção e as encomendas foram maiores que em março e abril de 2010, com o ritmo próximo ao do fim do ano passado", afirma ele. No primeiro bimestre, o faturamento foi 29% maior do que no mesmo período de 2010. Os setores de eletroeletrônicos, como o de televisões de LCD e celulares, vai bem, assim como o de motocicletas. "O comércio continua fazendo um volume expressivo de pedidos", diz Périco. "A produção e as encomendas seguem em ritmo forte. Não houve arrefecimento e as expectativas continuam positivas para os próximos dois meses pelos menos." Nesse quadro favorável, as empresas que atuam em Manaus contrataram 6 mil empregados no primeiro trimestre.
A alta dos juros e as restrições ao crédito não afetaram os negócios no PIM, diz ele. A renda em alta e a possibilidade de ainda financiar a compra em um número elevado de prestações mantêm o apetite do consumidor. No geral, Périco diz que a indústria de Manaus mostra um desempenho forte, que deve levar a um crescimento de 10% a 12% no faturamento neste ano, como ele já projetava em janeiro.
O Indicador de Atividade Econômica da LCA Consultores, que tenta captar a evolução mensal do Produto Interno Bruto (PIB), aponta para estabilidade em abril, na comparação com março, feito o ajuste sazonal. Em março, o IAE mostrou recuo de 0,6% da atividade em relação a fevereiro. O indicador é calculado a partir de dados como licenciamento de veículos, consumo de energia expurgado da influência da temperatura, o valor exportado e importado e a trajetória de dinheiro poder da população. De 1 a 27 de abril, o consumo de energia ajustado pela temperatura subiu 1,8% em relação ao mês anterior. Em março, ele havia caído 5,2% Já o licenciamento de automóveis e comerciais leves subiu 1% em março e 2,3% em abril, sempre na série com ajuste sazonal.

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