Alta da inflação ameaça América do Sul |
Autor(es): Daniel Rittner | De Buenos Aires |
Valor Econômico - 02/05/2011 |
Com exceção de Colômbia e Equador, a inflação tornou-se uma das principais ameaças macroeconômicas em toda a América do Sul. Na Bolívia e no Paraguai, o índice acumulado em 12 meses voltou a dois dígitos. Em outros três países - Chile, Peru e Uruguai -, assim como no Brasil, pode ser ultrapassado o teto da meta estipulada pelos bancos centrais, que já promoveram várias rodadas de elevação das taxas de juros. Com distorções macroeconômicas mais sérias, Argentina (25%) e Venezuela (26%) disputam o título de maior inflação do mundo, segundo levantamento do FMI. Em todos os países há uma inflação de commodities, por pressões internacionais. “Mas os bancos centrais não podem fechar as portas e sair de férias"" adverte Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs. "Como a região é exportadora líquida de commodities, o processo de aumento de renda alavancou o consumo e, por esse canal, ainda vai pressionar a inflação pelo lado da demanda." Com a alta das commodities e uma forte demanda interna, o aumento da inflação tornou-se uma das principais ameaças macroeconômicas em toda a América do Sul, com exceção da Colômbia e do Equador. Na Bolívia e no Paraguai, o índice acumulado em 12 meses voltou ao patamar de dois dígitos. Em outros três países - Chile, Peru e Uruguai -, pode ser ultrapassado o teto da meta estipulada pelos bancos centrais, que já promoveram várias rodadas de elevação das taxas de juros. Enquanto isso, com distorções macroeconômicas mais sérias, Argentina e Venezuela disputam o título de maior inflação do mundo, segundo levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI). "Claramente há uma inflação de commodities em todos esses países, com graus variados", diz o economista Alberto Ramos, especialista em mercados emergentes do Goldman Sachs. Um novo relatório do banco de investimentos demonstra que as pressões vindas do aumento no preço internacional das commodities deverão se moderar nos próximos 12 meses. "Mas os bancos centrais não podem fechar as portas e sair de férias", adverte. "Como a região é exportadora líquida de commodities, o processo de aumento de renda alavancou o consumo e, por esse canal, ainda vai pressionar a inflação pelo lado da demanda." Um dos países que sofrem com o aumento de preços é o Chile, onde o próprio BC prevê o estouro da meta para 2011, que varia de 2% a 4%. A atual estimativa é de 4,3% e levou a autoridade monetária a subir os juros em 1,25 ponto percentual desde fevereiro. Nem mesmo a valorização do peso chileno, que atingiu o maior nível em três anos na semana passada, tem dado refresco para a inflação. Há boa coordenação, no entanto, entre as políticas monetária e fiscal: o Ministério da Fazenda anunciou um corte de até US$ 800 milhões no orçamento. Com isso, pela primeira vez em oito anos, o gasto público deverá crescer em um ritmo menor do que o do PIB. Situação parecida vive o Uruguai, que teve inflação de 1,42% em março, a maior para o mês desde 1996. O índice de preços acumulado em 12 meses já ultrapassa em mais de dois pontos percentuais o teto da meta definida pelo BC para este ano, de 4% a 6%. Sobrevalorizado, devido à entrada de dólares pelas exportações agropecuárias e pelos investimentos estrangeiros, o peso uruguaio tocou o menor valor desde a crise de 2002. O governo prometeu apertar a política fiscal e os juros subiram, mas há analistas que consideram a estratégia "ineficaz" até agora, como Jorge Caumont, professor de economia da Universidade ORT. Além de defender a livre flutuação da moeda, com o fim das intervenções no câmbio, ele critica o relaxamento da política monetária. "A inflação não poderá ser controlada e terá um registro similar ao da diferença entre o ritmo de expansão da quantidade de dinheiro em circulação e o ritmo de crescimento da economia. Essa diferença se situa hoje em mais de 10%, o que deverá se traduzir em aumento dos preços ao consumidor", afirma Caumont. Também há fortes críticas quanto à condução da política monetária na Venezuela. Apesar da recessão nos últimos dois anos, a disparada inflacionária não cedeu. O país cortou três zeros da moeda nacional, que ganhou o nome de bolívar forte, em 2008. Mas enfrentou desvalorizações - a última, em janeiro, acabou com o regime duplo de câmbio para as importações - e teve alta de 26,2% nos preços no acumulado em 12 meses. Para Orlando Ochoa, professor de economia da Universidade Católica Andrés Bello, a culpa pode ser atribuída ao BC, que fixou um "nível ótimo" de reservas internacionais em torno de US$ 28 bilhões. Tudo o que entra no país acima disso, em um momento de cotações elevadas do petróleo (produto que representa 95% das exportações venezuelanas), vai para um fundo social diretamente gerido pelo presidente Hugo Chávez e injeta dinheiro na economia, evitando o controle da inflação. Nos demais países andinos, há cenários opostos. Colômbia e Equador devem ter índices abaixo de 4% neste ano. No Peru, o BC deu um "minichoque" nos juros, com quatro altas consecutivas, que levaram a taxa básica a 4%. Com isso, espera manter a inflação dentro do teto da meta (3%), embora o acumulado apenas no primeiro trimestre já tenha chegado à metade disso. Já a Bolívia tem uma situação mais complexa. Na virada do ano, o presidente Evo Morales viveu a maior crise política de sua gestão após um aumento de 82% no preço dos combustíveis, que foi obrigado a revogar por causa dos protestos sociais. Só que isso representou um sinal verde para uma série de outros reajustes, que levaram a inflação a 10%, no acumulado de 12 meses. O governo revisou a meta para este ano (de 4% para 6%) e o reajuste dado por Morales a funcionários públicos, também de 10%, acabou ficando defasado. Na Argentina, onde a inflação oficial é inferior à metade da registrada por consultorias e centros de estudos independentes, a temporada de negociações salariais chega à sua etapa decisiva no segundo trimestre. Na semana passada, os bancários ameaçaram entrar em greve para forçar um reajuste de 35%. De acordo com levantamento da SEL Consultores, especializada no mercado de trabalho, o aumento médio dos salários neste ano está sendo de 30% - 2,5 pontos percentuais a mais do que as empresas privadas haviam programado em seus orçamentos. Para a SEL, "a ausência de indicadores de preços aceitos por todas as partes pode derivar em uma superestimativa das expectativas inflacionárias, cujo efeito pode ser uma demanda salarial mais alta". A divergência é grande. Enquanto o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) aponta inflação acumulada de 2,3% no primeiro trimestre, as medições paralelas atingem 5,6%, como a da Buenos Aires City, vinculada à Universidade de Buenos Aires e dirigida por Graciela Bevacqua, ex-diretora do Indec afastada pelo governo. Para o Goldman Sachs, Argentina e Venezuela devem ser analisadas como um caso à parte. "A inflação nesses dois países tem uma característica muito diferente: não caiu significativamente nem mesmo na recessão de 2008/2009, é endêmica e leva a um grau de subinvestimento muito grande na economia", observa Alberto Ramos. "Só não se evolui para uma hiperinflação porque não existe monetização dos déficits fiscais", argumenta. |
terça-feira, 3 de maio de 2011
Inflação, ameaça na América do Sul
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