domingo, 21 de agosto de 2011

Classe C eleva lucro de banco, mas toma empréstimo em loja

Contas-correntes dobram em oito anos, mas a maioria pede crédito em lojas, mesmo que o juro seja maior

Maior problema é que as instituições não conhecem os costumes dessa nova clientela, afirmam especialistas


SHEILA D'AMORIM
FLÁVIA FOREQUE

DE BRASÍLIA

Enquanto o número de contas-correntes praticamente duplicou nos últimos oito anos, impulsionado pela ascensão da classe C, a oferta de produtos e serviços no setor bancário se concentrou em poucas instituições.
Juntos, os cinco grandes bancos que operam no varejo hoje são maiores do que eram as 50 principais instituições em funcionamento no final de 2002.
Eles têm 70% a mais em dinheiro e em bens para administrar e somam 17 mil agências, total que os 50 maiores bancos tinham há oito anos.
Apesar da concentração, o que diminui a concorrência, o maior problema dessa expansão bancária, na avaliação de especialistas, é a falta de conhecimento dos bancos sobre os costumes da nova clientela -que ainda prefere tomar empréstimo em loja.
Segundo pesquisa do instituto Data Popular, 58% da classe C tomaria crédito pessoal prioritariamente em lojas populares, mesmo que a taxa de juros fosse 5% maior.
Para Renato Meirelles, sócio do instituto, a pesquisa feita com 5.000 consumidores em todo o país mostra que "o sistema financeiro não está preparado para atender essas pessoas".
Na avaliação do pesquisador, esse desconhecimento explica a busca dos grandes bancos por parcerias com as redes de varejo. "Os bancos estão, na verdade, comprando o relacionamento das lojas com esse público."

DESCONFIANÇA
Estagiária de administração, Rayane Cristina da Silva abriu sua primeira conta em 2010 e usa o cartão do banco só para débito. Quando quer comprar, prefere o financiamento de lojas populares.
"O banco me liga oferecendo serviços e nem entendo. Dizem que querem aumentar o limite, mas não sei", conta, desconfiada.
Segundo o Data Popular, a classe C já representa cerca de 55% dos clientes bancários e mais de 40% deles dizem ter dificuldade para entender as finanças bancárias.
"Essa classe tem mais dificuldade porque foi incluída há pouco tempo [no sistema bancário]", afirma Maria Inês Dolci, coordenadora do ProTeste, entidade de defesa do consumidor.
Mesmo sem entender os bancos, clientes como Rayane ajudam a engordar o lucro dessas instituições ao usar uma conta-corrente e pagar tarifas.
Somente no ano passado, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander lucraram R$ 43 bilhões, quase o dobro do valor estimado pelo governo para as obras da Copa do Mundo de 2014.
Em oito anos, foram cerca de 64 milhões de novas contas-correntes, de acordo com a Febraban (entidade que representa os bancos).
Ao mesmo tempo, as fusões acentuaram a concentração da oferta de serviços.
Das dez instituições que estavam no topo do ranking em dezembro de 2002, três foram compradas pelos concorrentes maiores. O BB adquiriu a Nossa Caixa, o Itaú comprou o Unibanco, e o Santander levou o ABN Amro.

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