8/8/2011 | |
A análise da conjuntura da semana é uma (re)leitura das ‘Notícias do Dia’ publicadas, diariamente, no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT - com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Sumário: O Brasil está se desindustrializando As medidas anunciadas Plano ou remendo? Gargalos do Plano Os empresários gostaram Os sindicalistas protestaram Política industrial e a crise mundial. Tudo a verConjuntura da Semana em frases Eis a análise. O Brasil está se desindustrializando O peso da indústria de transformação na economia nacional já foi na ordem de 30% nos anos 70, hoje está na ordem de 20% nas avaliações mais otimistas. Proporcionalmente ao encolhimento da indústria junto ao PIB brasileiro, assiste-se ao crescimento da economia baseada em produtos primários, a denominada commoditização ou ainda reprimarização da economia, com o avanço do agronegócio e da mineração. A pauta de exportações brasileira é feita, sobretudo, de produtos básicos, de commodities e mercadorias de baixa tecnologia, por outro lado, cresce a pauta de importação de bens manufaturados.Economia desindustrializada significa perda de competitividade no mercado internacional. É na indústria de transformação que se desenvolve pesquisa e tecnologia o que possibilita ganhos para o conjunto da economia de um país. Por outro lado, a desindustrialização precariza o mercado de trabalho. Os melhores salários encontram-se na indústria de bens manufaturados, é nesse setor que as categorias de trabalhadores e os seus sindicatos conquistam convenções coletivas mais avançadas, o que “puxa” a pauta de reivindicações do conjunto dos trabalhadores “para cima”. Perda de espaço no competitivo mercado internacional e precarização do mundo do trabalho são resultantes da desindustrialização. A vanguarda do capitalismo mundial situa-se em países de economias industrializadas e hoje, particularmente, naqueles que apostam e desenvolvem pesquisa e tecnologia em produtos da informação. De acordo com o economista Wilson Cano em entrevista ao IHU, “somente por meio da indústria é possível disseminar todos os setores produtivos da economia – a ciência e a tecnologia, o progresso técnico. É a industrialização que urbaniza, que eleva a produtividade do trabalhador e que exige que ele se eduque, que tenha um padrão de vida decente etc. Todos os países se desenvolveram com a industrialização e não ‘vendendo galinha’ e vendendo minério de ferro, ou soja. Vender commodities é bom, traz divisas para o país poder importar equipamentos, mas não é com isso que se desenvolve uma economia nacional”. As medidas anunciadas pelo governo na última semana para conter o processo de desindustrialização da economia nacional compreendem-se a partir do contexto anterior. Acrescente-se ainda que a política industrial do governo insere-se num contexto de forte retomada da crise economica mundial e embora o governo não tenha associado suas medidas à conjuntura internacional, é evidente que as mesmas não podem ser lidas fora dos acontecimentos economicos mundiais. A presente conjuntura pretende interpretar o significado das medidas anunciadas pelo governo para combater a desindustrialização, sua eficácia e contradições. Destacamos que o debate sobre a desindustrialização brasileira tem sido recorrente no sítio do IHU e duas revistas IHU On-Line, entre outras, dedicaram-se particularmente ao tema: O Brasil está se desindustrializando? Um debate – IHU On-Line n. 218 e Economia brasileira. Desafios e perspectivas - IHU On-Line n. 338 As medidas anunciadas O conjunto de medidas de incentivo a indústria batizado de Plano Brasil Maior foi elaborado e anunciado às pressas, não apenas em função de que era uma promessa de campanha de Dilma Rousseff, mas também e, sobretudo, pelo efeito devastador do câmbio junto a pauta de exportações/importações do setor industrial. A urgência do pacote foi pedida pela presidenta que recusou sugestão do ministro Guido Mantega para adiar o anúncio preocupado com a renúncia fiscal e seus impactos na receita do país. O governo anunciou o Brasil Maior como quem conserta um carro em movimento, afirmam fontes do governo. A pressa no anúncio gerou efeito colateral. As centrais sindicais, por exemplo, só foram chamadas para discutir a política na véspera do anúncio e não gostaram do que ouviram. Apesar das turbulências, o Planalto avaliou o anúncio como positivo. Até mesmo a tática do "efeito surpresa" exigido pela presidente foi celebrada como ação bem-sucedida. Dentre as principais medidas anunciadas, e que mais agradaram os empresários, estão a “desenoração” e o mecanismo de “reintegra”. A “desoneração” reduz a zero a alíquota de 20% para o INSS na folha de pagamento de setores considerados sensíveis ao câmbio e à concorrência internacional e intensivos em mão de obra. Fabricantes de móveis, calçados, confecções e softwares ficam isentos da alíquota de 20% de contribuição patronal sobre a folha de pessoal. Para compensar, serão taxados em 1,5% sobre o faturamento. A medida funcionará como um projeto piloto até dezembro de 2012 e deve custar R$ 1,3 bilhão em renúncia fiscal. A “reintegra” – Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras – vai devolver ao exportador de bens industrializados 0,5% da receita da exportação, nos mesmos moldes da restituição do Imposto de Renda. Por meio de decreto presidencial, a presidenta poderá elevar ainda esse percentual para 3%. O mecanismo tem aplicação imediata e os pagamentos devem começar em 90 dias. Com base nas atuais vendas ao exterior, devolverá cerca de R$ 4 bilhões por ano aos exportadores. No total, as medidas prevêem desoneração tributária de cerca de R$ 25 bilhões em dois anos. Além dos mecanismos da “reintegra” e da “desoneração” que agradaram ao capital produtivo, outras medidas completam o pacote anti-industrialização, entre elas, e a mais elogiada pelos sindicalistas, está o ítem “compras nacionais”. Por essa medida, o governo se compromete da dar preferência por produtos nacionais em suas compras, mesmo que até 25% mais caros que os concorrentes estrangeiros. A medida incorporará compras na área de saúde, educação e defesa principalmente. Além das medidas citadas anteriormente, e dentre um conjunto de 35, destacam-se ainda o incentivo às empresas que queiram investir em pesquisa e tecnologia com financiamento do Finep – Financiadora de Estudos e Projetos e subsídios ao setor automotivo com redução de IPI para as empresas que aumentarem o conteúdo nacional, elevarem investimentos e produzirem veículos inovadores. Plano ou remendo? O Plano Brasil Maior será eficaz no combate ao processo de desindustrialização? As medidas anunciadas darão conta de estancar a crescente perda de peso da indústria noPIB nacional? Haverá uma maior oferta de empregos na indústria da transformação? O pacote coloca obstáculos aos bens manufaturados vindos da China? Quais são as contradições do Plano? Como ele se insere no contexto da crise econonômica mundial? Na opinião do economista e especialista em política industrial Wilson Cano, ouvido peloIHU, o Plano anunciado por Dilma, "está apenas colocando remendos em cima de uma colcha suja e velha” e “tem um caráter político e foi feito para um Brasil nanico”. Segundo ele, o Plano é contraditório porque “o que predomina na política macroeconômica hoje – e essa é a questão central – é uma política anti-inflacionária. Então, o governo pisa em ‘cacos de vidro’ a todo o momento quando se trata de fazer renúncia fiscal, de aumentar gasto público e de alterar a taxa de juros”. “O Brasil precisa alterar a macroeconomia”, diz Cano, particularmente no câmbio e na taxa de juros. Segundo ele, não é possível querer conciliar macroeconomia ortodoxa e investir na indústria. Diz ele, “parodiando a fábula, diria que o rei está nu e todo mundo se recusa a chamar a atenção dele. Em outras palavras, as questões centrais continuam intocáveis. É impossível fazer política industrial com a macroeconomia sendo conduzida pela atual taxa de juros, pelo câmbio, com desproteção e com o neoliberalismo que está vigendo”. Para o professor da Unicamp, “o Brasil precisa alterar a macroeconomia”. Segundo Cano, “é utopia o anão querer entrar no ringue para brigar com os gigantes. O Brasil é um país subdesenvolvido, tem estruturas produtivas e esquemas de financiamento fracos. Com a abertura econômica que o país tem praticado, o Brasil se expôs à concorrência internacional sem ter condições de enfrentá-la. Insistir nessa política não vai levar a lugar algum, pelo contrário, está levando a economia desse país a um processo regressivo. País subdesenvolvido ou aplica uma política séria de controle sobre o câmbio, sobre o comércio exterior ou não tem controle de nada, e deixa a porta aberta para acontecer o que está acontecendo”, afirma o economista. O jornalista Vinicius Torres Freire, especializado em política econômica, acompanha o raciocínio de Wilson Cano. Em sua opinião, “a política industrial de Dilma é um programa de defesa comercial disfarçado e um analgésico para o real forte". Utilizando-se de uma metáfora, o jornalista, critica o pacote anunciado: “O telhado da casa está cheio de rombos. Chove. Em vez de trocar as telhas etc., o dono do imóvel adquire guarda-chuvas e os distribui para os moradores da casa. Com perdão para algum exagero irônico, isso é o que parece o programa ‘Brasil Maior’, o plano de política industrial lançado pelo governo de Dilma Rousseff”. Segundo ele, “nem se pode chamar o imenso e díspar conjunto de medidas de ‘política industrial’, pois há de tudo ali - menos linhas-mestras de um plano sobre o que fazer da indústria nacional no médio prazo”. Sintetiza o pacote como um “conjunto de medidas de defesa comercial”. "Na falta de meios técnicos e/ou políticos para alterar a taxa de câmbio, os subsídios e as reduções de impostos localizadas fazem o papel de minorar a perda de competitividade das empresas num ambiente de guerra comercial planetária (de resto fazendo amizades políticas)”, diz ele sobre o Plano Brasil Maior. Na mesma perspectiva, o economista da Unicamp, Wilson Cano, afirma: “O governo pode elaborar o plano mais inteligente que, obviamente, será inoperante porque quem rege as regras gerais da economia é a política macroeconômica, e não a industrial, a agrícola, a tributária”, diz ele. Para Cano o problema da desindustrialização brasileira está relacionado, entre outros aspectos, ao menos conjunturalmente, ao câmbio e a taxa de juros: “O Plano Brasil Maioré uma tentativa de dar ‘Melhoral’ para o doente, porque as questões estruturais a serem enfrentadas são outras, muito maiores do que estas que estão tentando resolver: é a taxa de juros e a taxa de câmbio. As medidas de proteção à indústria nacional, pelo menos as que foram anunciadas nesta semana, são muito tímidas”, destaca. Gargalos do Plano Além da crítica de fundo do economista Wilson Cano ao Plano, de que “as questões centrais continuam intocáveis'', ou seja, não vai ao cerne do problema que está na macroeconomia, outros gargalos e insuficiências são apontados no pacote pelo economista. Sobre a desoneração da folha de pagamento para alguns setores como o calçadista, moveleiro, têxtil e de software, o professor da Unicamp, considera que “a desoneração da folha de pagamentos, como propõe o governo, agirá apenas em cima de 8 ou 9% da folha salarial da indústria de transformação”, uma vez que o peso desses setores, em termos de salários, é de 8 a 9%. “Isso é muito pouco, tendo em vista o assédio que o país vem sofrendo no comércio exterior, e tendo em vista a representatividade desses setores não só na pauta exportadora, mas principalmente na estrutura industrial”, diz ele. Em sua opinião, “embora esses setores estejam sendo seriamente afetados pelas importações chinesas, o maior déficit comercial brasileiro se encontra nos setores de média e alta tecnologia: automóveis, eletrônicos, fármacos, produtos químicos”. Para ele, “o governo está com medo de afetar os setores tradicionais (calçadista, têxtil, moveleiro) porque eles empregam mais pessoas do que os outros segmentos da economia. Portanto, trata-se de um projeto político e não de uma política industrial”. Além disso, diz ele, “a medida é criticável porque os custos da previdência social nas folhas de salário não são exorbitantes e se encaixam dentro dos padrões internacionais. Ao desonerar a contribuição, entrará menos dinheiro na previdência social. Quem vai pagar essa conta? O Tesouro Nacional com o dinheiro do recolhimento de impostos ou com o aumento de dívida pública”. Para Cano, “é uma ilusão imaginar que, com essa medida, se revolverá o problema do emprego. A luta do dia a dia de tentar preservar o emprego na indústria automobilística e de autopeças, iniciada por Lula e continuada pela presidenta Dilma, é um engano monumental porque esses setores são adeptos, a todo instante, às mudanças tecnológicas mundiais. Esses setores são desempregadores e desmantelam cadeias produtivas para passar a importar mais barato um para-choque que antes era fabricado no país. Setores empregadores são a construção civil, que constrói casa de pobre, a educação, a saúde pública. Incentivar o desenvolvimento dessas áreas é investir em política de emprego”. A indústria automobilística instalada no Brasil é composta exclusivamente de multinacionais e foi beneficiada pela política industrial no novo pacote. A medida anunciada vai permitir ao governo reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para as empresas que aumentarem o conteúdo nacional, elevarem investimentos e produzirem veículos inovadores. O benefício vai durar até julho de 2016. Pela nova medida, o governo vai abrir mão de parte da sua arrecadação, desde que a empresa apresente um projeto que envolva melhoria de competitividade. "O dinheiro será carimbado, ou seja, a empresa só poderá se beneficiar se tiver um projeto aprovado pelo governo", diz um executivo do setor. Ele ressalta, contudo, que as regras do plano, como porcentuais de redução e que tipo de projeto pode ser beneficiado, não estão definidas. A medida atende a um forte lobby das montadoras que estão preocupadas com as importações dos automóveis coreanos e chineses. Como não há muito espaço para o uso de medidas de defesa comercial para conter as importações, os fabricantes pressionaram o governo para obter incentivos fiscais para carros "genuinamente brasileiros", mesmo que de montadorastransnacionais. A critica aos subsídios às montadoras feita por Wilson Cano é partilhada por Vinicius Torres Freire, para quem “há um mal explicado programa de incentivo à nacionalização e à inovação na indústria automobilística, que exigiria supostas contrapartidas - a ver. As montadoras são craques em cavar privilégios”, diz ele. Outro gargalo do pacote, apesar da boa intenção, é o que diz respeito ao incentivo à inovação – pesquisa e desenvolvimento de tecnologia. Essa medida pretente incentivar a inovação e melhorar a competitividade da indústria brasileira. Na análise do jornalistaCláudio Angelo, que acompanha a área de ciência e tecnologia, “a própria decisão de anunciar uma política industrial separada da política de ciência e tecnologia (a ser conhecida nas próximas semanas) denuncia essa dissociação cognitiva do governo. As indústrias mais beneficiadas pela desoneração da folha de pagamento são quase todas do século XIX (calçados, confecções e móveis), que geram muito emprego, mas pouco valor agregado”. Segundo ele, “a exceção é a de softwares e TI, que ganhou mais do que pediu: queria gastar até 2,7% do faturamento, levou 2,5%”, porém, “já recursos para indústrias do século XXI, como biotecnologia, energias renováveis e espaço, foram em geral ensacados numa linha de R$ 2 bilhões da Finep que não é nova. O recurso já tinha sido anunciado e foi quase todo disponibilizado”. Os empresários gostaram Em que pese as críticas de economistas e analistas, os empresários gostaram. Sobretudo porque o pacote traz redução de impostos e dinheiro em cash para o setor produtivo. ''Era tudo o que queríamos'', afirmou o presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), Ivo Cansan. Não tinha como ser diferente, particularmente o setor moveleiro, do qual faz parte o empresário, foi beneficiado com a desoneração de folha de salários. Quem também gostou foi a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), um dos setores mais fustigados pela concorrência internacional em função da forte desvalorização cambial, também beneficada pela desoneração. Para aAbicalçados, as medidas atendem a vários pleitos que o setor apresentou e, segundo cálculos, representarão economia superior a 40% aos fabricantes no que se refere à folha de pagamento. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, avaliou positivamente o pacote, que chama de "inicial", mas ressaltou ser necessário "tempo para que demonstre que é para valer". Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o programa "combate a anemia pela qual a indústria brasileira está passando", ao reduzir encargos que incidem sobre a folha de pagamentos de setores tradicionais do polo industrial brasileiro, como produtores de calçados, confecções e móveis. Os sindicalistas protestaram Diferentemente dos empresários, os sindicalistas não gostaram do pacote anunciado pelo governo, particularmente porque não foram consultados sobre o conteúdo do mesmo, irritaram-se ainda com o método, uma vez que foram chamados apenas às vésperas do anúncio para ouvirem e não discutirem o teor das medidas. “Nós não queremos ser chamados para ouvir, queremos falar também”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique. As centrais boicotaram o lançamento do plano. As centrais intepretaram que o governo priorizou o diálogo com os empresários em detrimento ao diálogo com os trabalhadores. Dentre as medidas, a que mais irritou os sindicalistas foi a desoneração da folha de pagamento. Para os sindicalistas, aos deixá-los de chamá-los para negociar, o governo retirou deles a oportunidade de usar propostas de interesse patronal, como era o caso da desoneração da folha, para arrancar concessão pró-trabalhadores. Por exemplo, o compromisso dos empresários de que o alívio fiscal da desoneração da folha seria revertido necessariamente em novos empregos, não só em lucro. Sabendo da insatisfação e do boicote dos sindicalistas ao evento, a presidenta fez questão de citar os "trabalhadores" várias vezes no discurso de lançamento do programa Brasil Maior. Ao todo, foram sete vezes. Dilma disse, por exemplo, que o pacote não "desrepeita os direitos dos trabalhadores", que eles "podem ter certeza de que o governo está do lado deles" e que as medidas interessam "sobretudo aos trabalhadores brasileiros”. No dia seguinte ao anúncio do pacote, acusando o golpe da irritação dos sindicalistas, e para dar uma demonstração de respeito às centrais, a presidenta Dilma reuniu-se com representantes das centrais e levou consigo a tiracolo quatro ministros de Estado - Guido Mantega (Fazenda), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Garibaldi Alves(Previdência Social) e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência). Acompanharam ainda a reunião, o secretário da Receita Federal Carlos Alberto Barreto e os secretários executivos dos ministérios da Fazenda, Nelson Barbosa, e da Ciência e Tecnologia Luiz Antonio Rodrigues Elias. Na reunião, a presidente Dilma fez um mea culpa diante de centrais sindicais. “Vocês tem razão em relação à crítica, nós vamos melhorar esse método e não chamar vocês apenas para informar as medidas, mas construir um processo coletivo de discussão das medidas antes delas serem anunciadas”. A presidenta lamentou a falta das centrais na cerimônia de lançamento do programa de política industrial e disse: “Se houve um equívoco nosso foi não falarmos com vocês antes. Mas que fique bem claro: não falamos com os outros. Falamos com os empresários só no dia seguinte. Temos compromisso específico com as centrais sindicais. Onde tiver (representantes dos) empresários tem de ter (representantes) de vocês também”. O ministro Mantega, completou dizendo que governo “recebeu o recado” do movimento sindical e que junto com os dirigentes, o governo deve “ajustar as medidas já tomadas, corrigir rotas”. Na reunião, o ministro Gilberto Carvalho contou ainda que a presidenta Dilma ligou pessoalmente para o Luciano Coutinho (presidente do BNDES) para dizer a ele que empresas que recebem recursos do banco têm de tratar bem os trabalhadores. O telefonema ocorreu porque um sindicalista reclamou para a presidenta das condições de trabalho em uma empresa beneficiada por empréstimos do banco público que estava sendo visitada por ela. Num clima de aceno de bandeira branca, o secretário de Finanças da CUT, Vagner Freitas, agradeceu a presença da presidenta, ressaltou que ela deve falar mais vezes com os dirigentes sindicais para que todos possam saber como ela pensa, como ela age, e disse: “Não somos contra o plano Brasil Maior, temos divergências com relação a alguns itens, como a questão da desoneração da folha da forma como está colocada, principalmente com relação ao impacto na previdência social e na falta de garantias de que resultará realmente em mais empregos. Bastava o governo ter nos ouvido, debatido o tema conosco. Poderíamos ter melhorado a proposta. Não temos medo de participar nem de nos responsabilizarmos pelas políticas decididas conjuntamente", concluiu. Política industrial e a crise mundial. Tudo a ver A política industrial do governo é anunciada no contexto de forte retomada da crise economica internacional e a mesma deve ser interpretada a partir dessa conjuntura. Como destaca o jornalista Vinicius Torres Freire, "a política industrial de Dilma é um programa de defesa comercial disfarçado e um analgésico para o real forte". A crise da zona do euro e a crise americana embora não tenham sido citadas por Dilma estão por detrás das medidas do Plano Brasil Maior, trata-se sobretudo de um “conjunto de medidas de defesa comercial” como diz Torres Freire para fazer frente ao derretimento do dólar e a enxurrada de produtos que chegam ao Brasil principalmente manufaturados. Na realidade a crise de 2008 não terminou. O pânico disseminado nos últimos dias é uma demonstração do reavivamento da crise com os mesmos ingredientes de 2008. Na quinta-feira passada, o mercado financeiro global viveu um dia que lembrou os piores momentos da crise que eclodiu em setembro de 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers. Bolsas de valores caíram no mundo todo. A palavra pânico veio à tona. De novo o Estado através dos seus bancos centrais precisou entrar em cena. Segundo o jornalista Celso Ming, “a pesada intervenção de grandes bancos centrais nos mercados de câmbio – nos últimos dias – disseminou a percepção de que a economia global passa por forte contração e enorme perda de riquezas”. “Os colapsos em vários mercados financeiros seriam um prenúncio do apocalipse maia de 2012? Da segunda vinda da Grande Recessão”?, pergunta o jornalista Vinicius Torres Freire, para na sequência responder: “A resposta é assunto de profeta. O que deve de uma vez por todas ficar claro, porém, é que não se sai sem dor de catástrofe como a de 2008: a bandalha da finança desregulamentada com governos que o dinheiro grosso comprou ("capturou", como diz a economia política)”. O temor de uma nova recessão mundial ganha força em todo o mundo. A Europa já admite que a crise da dívida atinge o coração do continente. O jornalista Jamil Chade, destaca que o Banco Central Europeu (BCE) fracassou em blindar Espanha e Itália de um contágio da crise da dívida e o sinal mais claro do mal-estar foi dado pelo próprio presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, admitindo que a turbulência por conta da dívida já deixou a periferia e atinge o centro da UE. Para ele, a crise entra em uma nova dimensão e terá de contar com um fundo de resgate com maior poder de fogo - ou seja, mais dinheiro. A conjuntura economica internacional agravou-se ainda mais com a crise americana a partir do imbroglio no senado sobre o teto da dívida americana. Na sequência veio a notícia de que pela primeira vez na história, os EUA têm nota dos títulos de sua dívida rebaixada. A agência de avaliação de risco Standard & Poor's rebaixou a nota dos papéis da dívida do governo americano. A decisão pode trazer forte impacto para as Bolsas e para a economia mundial. Uma nova recessão mundial não está descartada. O prêmio Nobel de Economia, Joseph E. Stiglitz, afirma: “São principalmente a Europa e os Estados Unidos que ficaram atolados em crescimento lento e alto desemprego. E são a Europa e os Estados Unidos que estão marchando para o desenlace de uma grande débâcle. Uma bolha estourada acarretou um grande estímulo keynesiano que evitou uma recessão muito mais profunda, mas que também alimentou déficits orçamentários substanciais. A resposta - cortes maciços de gastos - assegura que níveis inaceitavelmente altos de desemprego continuarão por anos”. O grupo dos países mais desenvolvidos do mundo (G-7) irá se reunir nos próximos diaspara discutir uma resposta ao agravamento da crise econômica mundial. O encontro extraordinário reunirá líderes dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e o Canadá. O governo brasileiro acompanha o cenário internacional e procura demonstrar otimismo. A presidente Dilma Rousseff disse acreditar que o Brasil tem mais possibilidades de enfrentar uma crise econômica global agora do que tinha em 2008. Segundo ela, a força do mercado interno brasileiro virou "objeto de cobiça" internacional. "Hoje o Brasil está mais forte do que estava em 2008, quando a gente já tinha condições de enfrentar a crise", afirmou. "Dois números deixam isso muito claro. Temos 60% mais reservas internacionais que em 2008, mais de US$ 348 bilhões, para segurar qualquer processo de saída ou entrada de capitais, e temos, também, mais reservas, chamadas compulsório, para fornecer dinheiro caso se feche o crédito internacional: eram em torno de R$ 220 bilhões em 2008 e hoje são de R$ 420 bilhões. O Brasil não tem nenhuma fraqueza”. Foi então, pela primeira vez, que a presidenta associou o Plano Brasil Maior à crise ecomica mundial. Disse Dilma: "Não vamos deixar que, por causa da crise internacional, eles (indústrias estrangeiras) venham aqui, diminuindo o valor de seus produtos, e façam uma destruição dos nossos empregos”. Continuou a presidenta: "Temos uma indústria com empresas competitivas, e nós não vamos deixar que eles acabem com o trabalho mais qualificado no País, infiltrando toda sorte de produtos importados", argumentou. "Nós não somos contra os produtos importados, somos contra produtos com preço manipulado, ou com preço de referência incorreto, ou fruto de concorrência desleal, ou fraudulentos, que entram no Brasil sem pagar a totalidade dos tributos que devem”. Resta agora acompanhar se as medidas anunciadas no Plano Brasil Maior serão suficentes para conter as consequências da crise economica mundial junto ao capital produtivo nacional. É no contexto da crescente “guerra cambial” – resultante da crise mundial - que para muitos reside o problema maior não enfrentado pelo pacote de política industrial do governo. Cresce a tese entre economistas que o governo precisa mexer em sua macroeconomia, particularmente no câmbio e na taxa de juros. Manifestararm-se recentemente sobre isso os economistas Bresser Pereira e Wilson Cano, entrevistado pelo IHU. |
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Conjuntura da Semana. ''Brasil Maior''. Política industrial e a crise mundial
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