O Estado de S. Paulo - 22/09/2011 |
Para o Banco Central, troca de posições é a responsável pela recente disparada das cotações do dólar Medidas para reduzir a especulação no câmbio e a piora da crise levaram investidores a mudar de estratégia. Nos últimos dias, eles compraram um total aproximado de US$ 20 bilhões apostando na alta da moeda americana e abandonando as apostas no real valorizado ante o dólar. Desses, cerca de US$ 13 bilhões foram adquiridos no mercado futuro e US$ 7 bilhões no mercado à vista. A troca de posição, reconhece o Banco Central, é a responsável pela recente disparada das cotações. Para evitar uma alta ainda maior, o Banco Central decidiu tirar o time de campo: não compra dólares no mercado há uma semana e anunciou ontem que vai reduzir a atuação no mercado futuro. A avaliação interna no Banco Central é que o dólar deve se acomodar nos próximos dias porque o espaço para a alta estaria "perto do fim". A cotação acima de R$ 1,85 provocou reações rápidas no Banco Central. Logo após o almoço, às 14h, a instituição avisou que desistira de comprar US$ 1,98 bilhão no mercado futuro nos próximos dias. A operação seria necessária para renovar contratos de swap cambial reverso - que equivalem à compra de dólares - que vencem em outubro. Fonte da equipe econômica diz que a decisão foi tomada porque adquirir dólares no mercado futuro provocaria mais desequilíbrio e consequente alta extra das cotações. Segundo a fonte, o BC reconhece que é melhor não adicionar pressão em um mercado que sofre com um verdadeiro "gargalo" nos últimos dias. Esse estrangulamento aconteceu após medidas que encareceram a aposta de valorização do real e o agravamento da crise. Nesse ambiente, sumiram os vendedores da moeda e passaram a prevalecer apenas os compradores de dólar. Há 45 dias, as apostas no real forte no mercado futuro somavam US$ 22 bilhões - o que economistas chamam de posição "vendida". Mas, com a mudança das condições do mercado, esses investidores passaram a comprar a moeda para anular a aposta no real e por acreditar que o dólar ficaria cada vez mais caro. Com isso, a aposta no real no futuro caiu para US$ 8,6 bilhões. No mercado à vista - aquele com dinheiro vivo -, bancos já inverteram a posição e estão "comprados" em US$ 1,7 bilhão. Ou seja, investidores reduziram drasticamente a crença no real forte no mercado futuro e já apostam quase US$ 2 bilhões no dólar à vista. Essa troca fez com que esses mesmos investidores comprassem US$ 13 bilhões no mercado futuro e mais de US$ 7 bilhões à vista nas últimas semanas. Para o BC, é por isso que as cotações dispararam. Estabilização. Diante da atual menor da posição "vendida" no futuro, existe o entendimento no BC de que a tendência de alta do dólar é transitória e estaria perto do fim. "O ajuste foi forte e o espaço para continuar não é tão grande. Não há motivos para continuar e a moeda deve se estabilizar em alguns dias", diz a fonte. Além disso, com a alta das cotações, há possibilidade de chegar a um ponto em que comprar dólar no mercado futuro pode não ser tão vantajoso. Outro motivo seria o estoque de dólares de exportadores no exterior. Não há cálculos precisos, mas estimativas da equipe econômica mostram que poderia haver entre US$ 20 bilhões e US$ 80 bilhões nessas condições. Parte desses recursos poderiam entrar no País atraídos pela cotação mais favorável. O economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, diz que essa leitura do BC tem fundamento teórico, mas não concorda que a alta estaria perto do fim. "A racionalidade não funciona muito em um mercado anômalo como o atual. É muito mais difícil fazer previsões." |
Investidores fogem de fundos de ações e multimercados
Autor(es): Antonio Perez | De São Paulo |
Valor Econômico - 22/09/2011 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/9/22/investidores-fogem-de-fundos-de-acoes-e-multimercados |
A novela da crise das dívidas soberanas na Europa e a falta de fôlego da economia americana levam os investidores a fugir dos fundos de investimento de perfil mais arriscado este mês. As pessoas físicas, por exemplo, deram de ombros para a alta de 2,57% do Índice Bovespa na semana passada e sacaram R$ 173,36 milhões das carteiras de ações no período, apontam dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Com os resgates da semana passada, as saídas líquidas dos fundos de ações em setembro (até o dia 16) atingiram R$ 220,3 milhões, período em que o Ibovespa subiu 1,27%. No acumulado do ano, os saques dessas carteiras já somam R$ 1,022 bilhão. Os investidores também batem em retirada dos fundos multimercados, apesar da boa rentabilidade das carteiras em agosto e neste mês. Na semana passada, os multimercados amargaram resgates líquidos de R$ 1,498 bilhão, levando os saques em setembro a R$ 4,308 bilhões até o dia 16. Das seis estratégias de multimercados acompanhadas pela Anbima, cinco delas obtêm este mês rentabilidade média superior à variação do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, juro interbancário) no período, de 0,49%. Destaque absoluto para as carteiras macro - que apostam nas tendências de ativos como câmbio, juros e ações segundo análises macroeconômicas -, com ganho de 2,58% no mês. As carteiras multimercados macro só perdem em rentabilidade para os fundos cambiais, com ganhos de 7,96% em setembro até o dia 16, na esteira de uma valorização de 7,88% do dólar ante o real no período. Com as incertezas no cenário externo, os investidores continuam diminuindo o risco de suas carteiras e correndo para renda fixa, afirma Bruno Lembi, sócio da M2 Investimentos, escritório de aconselhamento financeiro. "Mas eu acho que o cenário deve mudar daqui para frente com a queda dos juros no Brasil", diz Lembi, que acredita em, pelo menos, mais dois cortes de 0,50 ponto porcentual da Selic este ano, para 11% ao ano. "Se a crise lá fora for mais aguda, os juros devem cair ainda mais." Com Selic em queda e inflação no nível atual, o juro real tende a ficar cada vez menor. Com isso, o investidor deve se sentir estimulado a arriscar em busca de mais rentabilidade. "A relação risco versus retorno da bolsa mudou, e as ações ficam cada vez mais atraentes, já que, além do potencial de valorização, há os dividendos", afirma. "Para quem pensa no médio e longo prazos, é o momento de comprar." No curto prazo, o mercado tende a continuar volátil, oscilando ao sabor das perspectivas para o crescimento mundial e para o desenlace da crise das dívidas soberanas na Europa. Por isso, o investidor deve ser cuidadoso na escolha dos papéis e evitar compras em grandes volumes. "O recomendável é manter uma parte do dinheiro em caixa para poder aproveitar quedas do mercado provocadas por aversão ao risco", diz Lembi. Seja qual for o desfecho da crise na Europa e do grau de recuperação dos Estados Unidos, Lembi ressalta que o desempenho da economia brasileira, e dos emergentes em geral, será superior à performance dos desenvolvidos. Isso tende a atrair dinheiro para o Brasil no médio prazo. "E com essa alta do dólar, a bolsa fica cada vez mais barata para o estrangeiro", afirma. As saídas de recursos dos fundos mais arriscados foram mais do que compensadas pelas entradas de dinheiro nas carteiras conservadoras. Apenas os fundos de renda fixa captaram R$ 5,858 bilhões na semana passada. No mesmo período, os curto prazo atraíram R$ 2,118 bilhões, e os referenciados DI, R$ 681,97 milhões. Ao todo, o setor de fundos recebeu R$ 5,707 bilhões na semana passada, levando a captação líquida no mês a R$ 6,862 bilhões. Em 2011, até o dia 16, o setor já amealhou R$ 75,598 bilhões, com liderança absoluta dos fundos da categoria renda fixa, cuja captação soma R$ 59,95 bilhões. O patrimônio líquido total doméstico do setor de fundos (sem contar as carteiras offshore) soma R$ 1,813 bilhão. |
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