sábado, 24 de setembro de 2011

Múltis aceleram remessa de lucros

24/9/2011
Multinacionais instaladas no Brasil aceleraram a remessa de lucros em agosto. Em meio à piora da crise, filiais brasileiras enviaram US$ 5,1 bilhões às sedes, recorde para o mês desde o início da coleta de dados feita pelo Banco Central em 1947.

A reportagem é de Fernando Nagakawa e Eduardo Rodrigues e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 24-09-2011.

Em setembro, as transferências diminuíram temporariamente pela disparada do dólar, o que prejudica a conversão do lucro em moeda estrangeira. Mas as cifras devem voltar a crescer nas próximas semanas porque, tradicionalmente, empresas elevam as remessas no fim do ano.

Exatamente como aconteceu na crise de 2008, multinacionais voltaram a pedir ajuda para as filiais. Com graves problemas nas economias dos países sedes, as unidades que dão lucro - como as brasileiras - precisam transferir mais dólares para ajudar no balanço das empresas.

Em agosto, foi o que aconteceu: as remessas saltaram 180% na comparação com julho e 103% ante agosto de 2010.

"Há uma explicação estrutural que é o maior investimento estrangeiro, o que aumenta o potencial de remessas. Mas a crise de 2008 também nos ensinou que há um fator conjuntural, que é a necessidade das sedes das multinacionais", diz Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).

Segundo os dados do BC,
o setor que mais remeteu lucro em agosto foi o financeiro, com US$ 954 milhões.

Especialmente na Europa, bancos têm sofrido com a crise e a chance de que um eventual calote da Grécia pode afetar os negócios. Além dos bancos, montadoras também tiveram papel importante e enviaram US$ 845 milhões às sedes.

Por mercado,
os Países Baixos lideraram as transferências e foram destino de US$ 1,19 bilhão que deixou o Brasil em agosto. Em seguida, aparecem Estados Unidos, Reino Unido e Espanha.

O BC reconhece que o volume enviado pelas multinacionais foi maior que o esperado. O recorde, porém, não é necessariamente uma surpresa. "É natural porque o estoque de investimento estrangeiro tem crescido de maneira robusta. Além disso, o bom desempenho da economia brasileira se traduz em lucro", disse o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.

"Não dá para afirmar que o comportamento caracterize movimento gerado apenas pela crise", disse ele.

Com as remessas recordes em agosto, o rombo das contas externas foi maior que o previsto: US$ 4,86 bilhões no mês passado. O saldo negativo nas transações entre o Brasil e os demais países foi maior que a previsão do mercado, que previa déficit entre US$ 2,2 bilhões e US$ 4,3 bilhões. O resultado negativo, porém, foi integralmente coberto pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED), em produção, que somou US$ 5,6 bilhões em agosto, recorde para o mês


Empresas enviam US$5 bilhões ao exterior, maior montante desde 1947

Autor(es): Gabriela Valente
O Globo - 24/09/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/9/24/empresas-enviam-us-5-bilhoes-ao-exterior-maior-montante-desde-1947
 

TURBULÊNCIA GLOBAL: Alta do dólar já foi sentida nas contas, diz Banco Central

Déficit externo somou US$4,9 bilhões em agosto, também um nível histórico

BRASÍLIA. A alta do dólar registrada desde o fim de agosto causou impacto nas contas externas, segundo o Banco Central (BC). Com a moeda americana mais cara, as empresas aproveitaram para mandar mais lucro para o exterior e contribuíram para que, no mês passado, as remessas atingissem US$5,1 bilhões, o maior montante desde 1947, quando o BC iniciou a série histórica. Com isso, o déficit em transações correntes somou US$4,9 bilhões, o maior resultado para o período e bem acima do saldo negativo contabilizado em agosto de 2010, de US$2,975 bilhões. No ano, quase US$26 bilhões já foram remetidos ao exterior, outro recorde.
O déficit do mês passado ficou acima do esperado pelo BC, porque o dólar aumentou e encareceu os aluguéis e favoreceu a remessa de lucros e dividendos para o exterior. No ano, o déficit em transações correntes foi de US$33,8 bilhões, rombo coberto pelos investimentos.
- O lucro daqui tapa o buraco das empresas lá de fora - disse José Carlos Amado, economista-chefe da corretora Renascença.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, é normal o investimento de hoje ser a remessa de lucros de amanhã. No entanto, agora, as empresas conciliam a perspectiva do câmbio, porque há a possibilidade de que uma desvalorização maior do real acelere as remessas. Além da cotação favorável, há necessidade de se reforçar o caixa das matrizes que padecem com a crise mundial.
Daqui para frente, espera-se que esse ritmo diminua. Em setembro, foi enviado US$1 bilhão. A previsão do BC para o ano, mesmo com a crise, é melhor para o rombo nas contas externas: passou de US$60 bilhões para US$54 bilhões. Até agosto, o déficit em transações correntes é de US$33,8 bilhões.
Brasil continua a receber investimentos recordes
No entanto, o BC se diz confortável, porque ele é completamente coberto pelos investimentos. E, mesmo num cenário de turbulência de grande porte, o Brasil continua a receber investimentos recordes. Entraram no país US$5,6 bilhões em agosto, o melhor desempenho para o mês desde 2004. Nem o agravamento da crise diminuiu esse ritmo. Nos 23 primeiros dias de setembro ingressaram US$4,4 bilhões.
- São fluxos que já estavam programados no planejamento das empresas. E a situação econômica brasileira, que é bem mais forte que em outros países, continua determinante na decisão dos investidores - disse Maciel.
No ano, já entraram US$44 bilhões em investimentos que chegam para aumentar as fábricas brasileiras. Entretanto, para o especialista em câmbio Sidney Nehme, esse ritmo deve diminuir daqui para frente.
- As matrizes devem retardar um pouco os investimentos por causa da crise e devem ficar com mais dinheiro no caixa para um colchão de liquidez maior.
Semana passada, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, afirmara que os investimentos fechariam o ano em torno de US$70 bilhões, mas esse número não apareceu na nota divulgada ontem à imprensa. O BC revisou sua projeção, mas de US$55 bilhões para US$60 bilhões. Também foram revistas as previsões de exportações em 2011 de US$250 bilhões para US$258 bilhões. Mas o BC já espera um ritmo menor por causa da crise.

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