sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Commodities agrícolas mantêm alta


Commodities ainda resistem às turbulências
Autor(es): Por Fernando Lopes e Gerson Freitas Jr. | De São Paulo
Valor Econômico - 01/09/2011

A crise financeira que marcou agosto e a economia em marcha lenta nos países desenvolvidos não foram suficientes para interromper a alta das principais commodities agrícolas do Brasil. Açúcar, café, cacau, suco de laranja, algodão, soja, milho e trigo encerraram o mês mais valorizados do que há um ano. As explicações são a atuação dos fundos de investimentos nos mercados e ameaças climáticas à oferta de alguns produtos.

As cotações das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior deram mais uma mostra, em agosto, de que as mudanças de patamares consolidadas na segunda metade da década passada vieram mesmo para ficar. Apesar das turbulências e dos dias de pânico nos mercados financeiros, relacionados a incertezas quanto à saúde das contas americanas e europeias, sobretudo na primeira quinzena, os preços mantiveram-se elevados e, apesar de alguns tropeços, açúcar, café, cacau, suco de laranja, algodão, soja, milho e trigo encerraram o mês mais valorizados do que há um ano.
A grosso modo, a escaladas dessas commodities começou a ganhar fôlego entre 2006 e 2007, na esteira do crescimento da demanda de países emergentes como China e Índia. Diante da farta liquidez, grandes fundos de investimentos ampliaram suas apostas agrícolas nas bolsas de Nova York e Chicago e colaboraram para catapultar a tendência - que perdeu força com o recrudescimento da crise global, em setembro de 2008, mas que deixou como saldo níveis de negociações muito superiores às médias históricas até então praticadas, mantidos com a preciosa colaboração da erosão do dólar.
Esse mesmo quadro, "emoldurado" por ameaças climáticas às ofertas de algumas culturas em regiões importantes de produção - como já aconteceu no ano passado -, ofereceu suporte às cotações em agosto. No caso dos principais grãos, referenciados na bolsa de Chicago, as adversidades mais relevantes estiveram concentradas nos Estados Unidos, onde a safra 2011/12 está em pleno desenvolvimento e a falta de chuvas em áreas do Meio-Oeste ampararam os preços ao longo do mês.
Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega - normalmente os de maior liquidez - mostram que o milho subiu 9% em agosto em relação a julho e passou a acumular ganhos de 21,52% sobre a média de dezembro e de 71,01% na comparação com a de agosto de 2010. A soja registrou leve ganho sobre julho (0,48%), fechou o mês com viés de alta e aparece com ganhos de 3,08% no ano (resultado da comparação com a média de dezembro) e de 33,79% em 12 meses (relação com a média de agosto de 2010). No trigo, agosto fechou 8,21% acima de julho, a retração no ano caiu para 4,81% e em 12 meses a variação tornou-se positiva (4,68%).
O rol de commodities agrícolas referenciadas em Nova York também sofreu influência de liquidação de contratos nas primeiras semanas de agosto, mas especialmente nos mercados de açúcar e café incertezas do lado da oferta, concentradas no Brasil, aliviaram a pressão. No café a média do mês foi 1,93% superior a de julho; no açúcar, foi 1,87% inferior. O algodão, que virou o ano em patamares recordes, devolveu parte dos ganhos, sob influência do aumento da oferta global, e teve baixa de 2,13%. As previsões de superávit mundial causaram uma queda de 3,93% do, e o fato de a temporada americana de furacões ainda não ter causado grandes prejuízos à citricultura da Flórida levou o suco a recuar 10,77%.
Independentemente das desvalorizações observadas, todos esses produtos negociados na bolsa nova-iorquina acumulam valorizações nos últimos 12 meses e, como no caso dos grãos, os fundamentos de oferta e demanda são, em geral, positivos para os preços. Assim sendo, o afluxo de recursos do mundo financeiro continua. E, depois de adotarem uma postura mais cautelosa em julho, os fundos de investimento voltaram a ser mais agressivos em agosto tanto em Nova York quanto em Chicago.
De acordo com os números da Comissão de Comércio de Futuros de Commodities dos Estados Unidos (CFTC, na sigla em inglês), a posição líquida de compra dos fundos nos mercados de açúcar, café, algodão, soja e milho cresceu 2,93%, para 569,4 mil contratos, nas quatro semanas encerradas no último dia 23. A posição líquida é o saldo entre os contratos de venda, com os quais o investidor aposta na queda dos preços, e os contratos de compra, com os quais tentam antecipar uma alta.
No mercado de soja de Chicago, a posição comprada cresceu 4%, para 118,8 mil contratos, maior volume desde 8 de março. No milho, o saldo cresceu 10,75%, para 275 mil contratos, maior nível desde 21 de junho. Em Nova York, os fundos aumentaram em 19% sua posição em algodão, para 28 mil contratos, e mais do que quintuplicaram seu volume de compra em café, para 10,5 mil contratos - nos dois casos, o maior patamar desde 14 de junho. A exceção ficou por conta do açúcar, o que ajuda a explicar a queda do preço médio de seus contratos de segunda posição na comparação entre agosto e julho. Depois de baterem o recorde deste ano em 26 de julho, os fundos liquidaram posições e reduziram seu saldo de compra para 137 mil contratos, um recuo de 16,5%. Mesmo assim, o volume é 11,5% maior do que a média de 2011 (122,8 mil contratos).

Exportação e importação batem recorde

Para especialistas, corrente comercial chegará perto dos US$ 500 bi no ano
Autor(es): Por Sergio Leo | De Brasília
Valor Econômico - 01/09/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/9/1/exportacao-e-importacao-batem-recorde
 

Exportações e importações bateram recorde em agosto. O resultado será anunciado hoje pelo Ministério do Desenvolvimento, mas especialistas esperam que o governo confirme vendas ao exterior em torno de US$ 26 bilhões e compras acima de US$ 22 bilhões no mês passado.

Outro recorde deve ser batido no ano. O total de importações e exportações, a corrente de comércio do país, vai chegar perto de meio trilhão de dólares, prevê o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece), Ivan Ramalho, ex-secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento. O ministro Fernando Pimentel disse ao Valor que pretende anunciar hoje uma nova revisão da meta de exportações. Em maio, a Pasta já havia revisto o valor de US$ 228 bilhões para US$ 245 bilhões. O maior responsável pelo desempenho são os produtos básicos, como soja, petróleo e café.
O vigoroso aumento nas operações de comércio exterior, em um mês com 23 dias úteis, garantiu para agosto um recorde nas exportações e importações brasileiras, como anunciará hoje o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ao divulgar as estatísticas do mês que terminou ontem. Especialistas do setor esperam que o ministério confirme hoje exportações em torno de US$ 26 bilhões e importações acima de US$ 22 bilhões no mês passado. O Brasil deve terminar o ano com superávit de cerca de US$ 20 bilhões no comércio exterior.
"O total das importações e exportações, a corrente de comércio do Brasil, vai chegar perto de meio trilhão de dólares neste ano", prevê o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece), Ivan Ramalho, ex-secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento. Ramalho, depois de cumprir a quarentena ao deixar o serviço público, hoje representa as principais trading companies brasileiras, responsáveis por cerca de 10% do comércio exterior do país. Ele prevê que as exportações somarão US$ 250 bilhões neste ano, e as importações não menos que US$ 230 bilhões.
O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, informou que pretende anunciar hoje uma nova revisão na meta de exportações. Em maio, o ministro já havia revisto a meta, de US$ 228 bilhões para US$ 245 bilhões. O maior responsável pelo desempenho considerado "excelente" pelos analistas são os produtos básicos, como soja, petróleo e café. Embora venha crescendo a importação de bens de consumo, como automóveis, as compras ainda são puxadas principalmente por petróleo, componentes para a indústria e bens semimanufaturados, usados na produção de indústrias.
Especialistas em comércio exterior no país endossam o otimismo em relação à balança comercial. "O Brasil está tirando proveito da situação internacional. Os preços das commodities vêm subindo como se saíssem do zero", comentou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior Brasileiro José Augusto de Castro. "Poderíamos tirar melhor proveito se tivéssemos melhor infraestrutura." Ele prevê que as exportações chegarão a US$ 255,5 bilhões neste ano, superando em mais de US$ 26 bilhões as importações.
O economista-chefe da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro, também prevê números recordes, de US$ 255 bilhões em exportações e US$ 229 em importações, e lembra que os preços das commodities continuam sustentando os resultados. O índice de preços de exportação de julho alcançou um recorde, diz ele, que espera uma redução suave, nos próximos meses, com a retração econômica mundial. "Já se percebe desaceleração na ponta: a taxa de crescimento é menor, mês a mês."
Se mantidas as médias das três primeiras semanas de julho, as exportações chegarão a US$ 26,1 bilhões e as importações, a US$ 22,6 bilhões em agosto. Depois deste mês, os números tendem a baixar gradualmente, preveem os economistas. Tanto Castro quanto Ribeiro notam a influência dos investidores financeiros, em busca de porto seguro, nos preços altos das commodities. Ribeiro lembra, porém, que há bases reais para a elevação de preços, e que só um colapso súbito da economia asiática, que vem liderando a demanda de commodities, poderia alterar significativamente o quadro de preços encontrado pelos exportadores brasileiros.
"Os preços das commodities ficaram baixos por muito tempo, reduziu-se a oferta, e houve crescimento súbito da demanda", notou o economista. "O crescimento da oferta demora a responder, e esse descompasso levará alguns anos a ser corrigido, a não ser que haja desaceleração muito forte na economia mundial."
Em seu novo posto no setor privado, Ivan Ramalho se diz preocupado com o que considera uma "demonização" das importações. "As vendas da indústria estão crescendo, o país vai alcançar recordes positivos de comércio." Apesar do crescimento nas importações de bens de consumo, os bens intermediários para produção e emprego no país ainda são o que mais pesa na balança, insistiu.

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