sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Primeiro transgênico brasileiro é aprovado


Órgão de biossegurança liberou feijão desenvolvido pela Embrapa para ser resistente a vírus

Luiz Silveira

A primeira semente transgênica totalmente desenvolvida no Brasil foi liberada para comercialização nesta quinta-feira (15) em Brasília. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou o feijão transgênico, criado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para ser resistente ao vírus do mosaico dourado.
Cláudio Bezerra
Após 10 anos de trabalho, pesquisadores Josias Faria e Francisco Aragão comemoram aprovação do feijão
Além de ser o primeiro transgênico 100% brasileiro, trata-se também da primeira variedade de feijão geneticamente modificado a ser aprovada. Por meio da engenharia genética, o feijão recebeu um gene do próprio vírus do mosaico que o torna resistente ao micro-organismo.
O feijão foi liberado pela CTNBio com 15 votos a favor, 5 votos por diligência (mais estudos) e duas abstenções. “Foi um dos poucos, senão o único caso de aprovação comercial sem votos contrários na CTNBio”, comemora o pesquisador da Embrapa Francisco Aragão, um dos responsáveis pela pesquisa.
Para ele, o feijão transgênico 100% nacional vai mudar a forma como a sociedade enxerga a biotecnologia. “Esse feijão acaba com três mitos sobre os transgênicos: que eles só podem ser feitos por multinacionais, para serem usados só pelos grandes produtores e só para o plantio de commodities”, explica o cientista.
Cerca de 70% da produção de feijão do Brasil vem da agricultura familiar. Por isso, a Embrapa acredita que a nova tecnologia terá impactos sociais positivos. A presidente da Associação Nacional de Biossegurança (Anbio), Leila Oda, concorda. “A aprovação representa um grande alívio para os produtores, pois o vírus do feijão traz perdas de até 85% às lavouras”, calcula Leila, que é ex-presidente da CTNBio.
O mosaico dourado causa perdas de 90 mil a 280 mil toneladas de feijão todos os anos, segundo Aragão.  Além de evitar essas perdas, a nova variedade de feijão vai permitir que agricultores voltem a plantar a cultura em regiões em que a produção foi inviabilizada por conta da alta incidência da doença. “Há cerca de 200 mil hectares em diversos Estados nos quais o risco de perda da safra é de 100%”, explica Aragão.
Os produtores dessas regiões devem ser os primeiros beneficiários da nova tecnologia, na opinião do presidente do conselho administrativo do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Lüders. “Desde que o consumidor aceite o novo produto, a tendência é que a produção aumente e que os preços e os custos do feijão caiam”, prevê Lüders.
A redução de custos virá, principalmente, da diminuição na aplicação de inseticidas sobre as lavouras de feijão. “Os produtores que usam pivôs de irrigação chegam a fazer uma aplicação do produto por semana para controlar a mosca branca”, explica Aragão, da Embrapa. Com uma variedade resistente ao vírus do mosaico, a necessidade de controlar o inseto será menor.
Visão do consumidor
A preocupação do executivo do Ibrafe é com os possíveis temores da população com relação ao feijão transgênico. “A princípio, todos consumimos organismos geneticamente modificados (OGMs), mas tenho receio que a população reduza o consumo de feijão com medo de estar consumindo o transgênico”, explica ele.
Aragão acredita que as pessoas com dúvidas sobre a transgenia vão ficar preocupadas, mas que isso não depende do quanto se analisa a segurança de um transgênico. “A alimentação tem um componente emocional muito forte, e o novo feijão certamente será usado por opositores tradicionais dos transgênicos para apelar ao lado psicológico”, critica o pesquisador. Segundo ele, que já foi membro da CTNBio, a aprovação pelo órgão técnico significa que o novo feijão é, no mínimo, tão seguro quanto o não transgênico.
Até chegar à mesa do brasileiro, o novo feijão deve levar pelo menos três anos. Agora que a tecnologia foi aprovada pela CTNBio, a Embrapa precisa fazer ensaios de campo para registrar no Ministério da Agricultura as diferentes variedades de feijão que levarão o gene. Depois de registradas, as variedades serão replicadas em sementes e só então haverá o plantio comercial, previsto para 2014.
Francisco Aragão
Campo de teste do novo feijão: perdas evitadas podem chegar a 280 mil toneladas por ano
Alta resistência
O mosaico dourado é uma doença causada por um vírus que faz com que a planta produza um número muito pequeno de grãos, fique anã, com folhas, vagens e sementes deformadas. Como não tem sido encontrada alta resistência a essa doença em plantas que possam cruzar com o feijão, a Embrapa lançou mão da biotecnologia para obter plantas resistentes. Foi introduzido no feijão um gene do próprio vírus que gerou nas plantas uma resistência maior.
Além do feijão da Embrapa, a CTNBio também aprovou na reunião desta quinta-feira a liberação comercial de um novo milho transgênico da Monsanto.

Órgão já aprovou 33 sementes transgênicas para comercialização no Brasil
CTNBio libera comercialização de milho transgênico da Monsanto
Agência Estado
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou hoje a liberação comercial de um milho geneticamente modificado da Monsanto, resistente a lagartas e tolerante ao glifosato. 

Mais cedo, a CTNBio já havia aprovado a liberação comercial de feijão transgênico resistente ao vírus mosaico dourado, totalmente desenvolvido pela equipe da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Assim, o órgão eleva para 33 o número de sementes transgênicas aprovadas para liberação comercial, sendo 18 de milho, cinco de soja, nove de algodão e uma de feijão. 

A CTNBio também já aprovou 14 vacinas. Os demais pedidos apresentados na reunião de hoje – duas variedades de algodão da Bayer – ainda precisam de mais avaliações e não foram aprovadas. A variedade de feijão aprovada nesta reunião é a primeira planta transgênica totalmente produzida por instituições públicas de pesquisa brasileiras. 

De acordo com a Embrapa, com a aprovação pela CTNBio, as sementes transgênicas serão multiplicadas e devem chegar ao mercado dentro de dois a três anos. O órgão de pesquisa informou em comunicado que, no Brasil, o mosaico dourado está presente em todas as regiões produtoras de feijão e, se atingir a plantação ainda na fase inicial, pode causar perdas de até 100% na produção. 

Segundo estimativas da Embrapa Arroz e Feijão, os danos causados pela doença seriam suficientes para alimentar de cinco a 10 milhões de pessoas.

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