quarta-feira, 27 de julho de 2011

Alta de commodities derruba subsídios agrícolas nos EUA

Autor(es): Scott Kilman | The Wall Street Journal, de Shelbyville, Illinois
Valor Econômico - 26/07/2011
 

Os negócios estão a todo vapor nesta típica cidade agrícola do centro dos Estados Unidos, com sua estátua de bronze de Abraham Lincoln a vigiar a praça do fórum local.
O preço da terra subiu vertiginosamente, bem como os depósitos bancários, já que a alta do milho e da soja implica em que os produtores rurais estão obtendo o maior faturamento de sua vida. Na Sloan Implement, que vende tratores da John Deere, "pode ser o melhor ano que já tivemos", diz o diretor-presidente Tom Sloan.
Uma exceção ao boom é o escritório local do Departamento de Agricultura dos EUA, conhecido como USDA, distribuidor dos subsídios federais para os agricultores que são beneficiados por uma gama variada de programas. Numa tarde recente, o estacionamento em frente à sede de tijolo à vista, que fica atrás de um restaurante chinês, estava quase vazio.
O motivo é que os pagamentos do principal programa de subsídios agrícolas dos EUA, criado na década de 30, cessaram por aqui. A cotação dos grãos está alta demais para permitir os pagamentos, de acordo com a fórmula do programa de preços mínimos. Em outras palavras, o mercado tem feito o que décadas de rusgas políticas não conseguiram: cortar os subsídios agrícolas.
Embora os pagamentos de subsídios sempre tenham oscilado com a cotação das safras, muitos economistas estão convencidos de que o que está acontecendo agora é diferente. Uma elevação fundamental no preço das lavouras tem criado uma chance real de os produtores rurais dos EUA nunca mais atingirem as condições que permitem a forma mais básica de subsídio agrícola.
Ainda há outros tipos de subsídios, que continuam sendo pagos porque não são ligados à cotação do mercado. Mas os preços altos estão minando o apoio político para esses programas, especialmente no momento em que o Congresso e a Casa Branca começam a discutir seriamente a contenção dos gastos federais, devido aos déficits trilionários e os conflitos políticos sobre o teto de endividamento do governo americano.
Subsídios agrícolas há muito são um pomo da discórdia comercial entre os EUA e outros países que exportam alimentos. O próprio governo brasileiro já se queixou repetidamente que a ajuda do governo americano a agricultores desequilibra o comércio internacional. Washington frequentemente defende seus subsídios, apontando para a ajuda que seus parceiros comerciais dão aos agricultores deles próprios.
Os cheques do governo para os produtores rurais americanos encolheram para cerca de US$ 11 bilhões por ano - metade do que eram há seis anos - e ainda podem encolher outra metade se Washington seguir adiante com os planos de eliminar um segundo tipo de subsídio importante, que custa ao governo cerca de US$ 5 bilhões por ano.
"Os subsídios estão simplesmente sumindo", disse J. Mark Welch, economista da Universidade Texas A&M.
Há muito que os críticos do sistema acusam os subsídios agrícolas de serem obsoletos e um desperdício. Responsáveis por já ter consumido US$ 760 bilhões em recursos federais, os subsídios foram criados para combater a pobreza rural na época da Grande Depressão, quando um quarto dos americanos vivia no campo. Hoje em dia, menos de 1% da população é agrícola. O produtor rural típico cultiva muito mais hectares que antigamente, graças, em parte, a tratores e colheitadeiras cada vez mais potentes, das quais as mais recentes até dispensam o motorista.
A maior parte do dinheiro dos subsídios federais segue para produtores rurais que são mais ricos que o contribuinte americano médio. O Environmental Working Group, um grupo militante de Washington que quer transferir os dólares de subsídios para programas de conservação ambiental, tem um banco de dados que mostra que 10% das fazendas recebem 74% dos recursos federais. Os pequenos produtores recebem pagamentos menores simplesmente porque cultivam menos hectares.
Os subsídios são protegidos há muito tempo por uma das poucas coalizões bipartidárias remanescentes em Washington - de políticos de Estados rurais importantes.
O foco recente maior nos gastos em Washington mudou esse cálculo. O Senado já votou para eliminar os créditos tributários do etanol. Grupos de produtores agrícolas, conformados com os cortes profundos, estão sugerindo programas alternativos de subsídios que eles dizem que podem custar menos aos contribuintes.
"Acabou aquela era", diz o secretário de Agricultura, Tom Vilsack, membro do Partido Democrata que já foi governador do Estado de Iowa. "Não existem mais vacas sagradas. Tudo é negociável."
Isso é motivo de preocupação para alguns. Embora os atuais preços altos façam com que os fazendeiros não sintam muita falta dos cheques de subsídio, alguns economistas agrícolas temem o que pode acontecer da próxima vez em que a notavelmente volátil economia agrícola contrair. "A rede de segurança dos produtores rurais americanos sempre esteve um andar abaixo dos agricultores", diz o economista Steve Elmore, da DuPont Co., que produz químicos e sementes. "Ela ainda existe, mas agora está oito andares abaixo."

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