Autor(es): Leonencio Nossa |
O Estado de S. Paulo - 27/07/2011 |
Presidente surpreende assessores ao decidir, após críticas em evento, que concessão de bolsas para cursos de exatas não será 100% por mérito Após ouvir cobranças de dois representantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), ela disse que as 75 mil vagas em cursos nas áreas tecnológicas e exatas serão distribuídas por Estados e uma parte será concedida de acordo com questões étnicas e de gênero. No evento, Dilma pediu para os empresários bancarem outras 25 mil bolsas. Os dirigentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), da União Nacional de Cana-de-Açúcar (Única) e da Câmara Brasileira da Construção (CBIC), que estavam no encontro, não se pronunciaram. Apenas dois empresários, em decisões individuais, ofereceram recursos para a concessão de cem bolsas cada um. O programa de bolsas do governo é estimado em R$ 3,1 bilhões e tem como prioridade cursos de engenharia, além de outras áreas tecnológicas e de licenciatura em ciências exatas. A decisão da presidente em abandonar a seleção totalmente por mérito surpreendeu assessores do governo. Após o anúncio, Dilma tentou mostrar que não havia contradição. Enfatizou que o mérito será "crucial" mesmo na seleção das vagas por questões étnicas e de gênero, sem dar detalhes. "A partir desse primeiro critério, de mérito, teremos de aplicar outros critérios que podem contemplar toda a questão relativa a gênero, à questão étnica", afirmou. A presidente alterou o programa após os discursos dos conselheiros Naomar de Almeida Filho, ex-reitor da Universidade Federal da Bahia, e José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares. Naomar discursou que a deficiência em língua estrangeira é o maior entrave para a participação dos estudantes da rede pública na seleção de bolsas. Ele defendeu mais investimento na capacitação dos alunos das classes de renda baixa. Depois, em entrevista, avaliou como "ponto vago" a parte do programa que o governo espera ver bancada pela iniciativa privada. Dilma afirmou que o mérito no País já está "combinado com outros fatores", citando o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e o Programa Universidade para Todos (ProUni) - que concede bolsas de graduação em cursos de humanas. Ela observou que o ProUni mostrou a capacidade dos estudantes das classes baixas e garantiu que se empenhará para evitar distorções no novo programa de bolsas. A presidente disse que o crescimento econômico recente criou gargalos na área de infraestrutura e hoje profissionais de engenharia estão em falta no mercado. "Não precisamos apenas de engenheiros nas tesourarias dos bancos, mas para fazer projetos, trabalhar na infraestrutura e na área de pesquisa", disse. O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, avaliou que a meta é corrigir uma deficiência na formação de profissionais na área de exatas. Ele comparou o número de formandos em ciências humanas, que cresceu 66% em 2009, comparado com 2001, com o de formandos em engenharia, que cresceu apenas 1%. |
Área de exatas é prioridade, diz Mercadante
O Globo - 27/07/2011 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/7/27/area-de-exatas-e-prioridade-diz-mercadante |
No Brasil, de cada 50 formandos, apenas um é engenheiro De acordo com o ministro Aloizio Mercadante, o objetivo do programa será investir em profissionais da área de exatas, sobretudo em engenheiros. Ele declarou que, no Brasil, de cada 50 formandos, apenas um é engenheiro. Na Coreia do Sul, essa relação é de quatro para um. A intenção do governo, com o Ciência sem Fronteira, é enviar estudantes para as 50 melhores universidades do mundo no exterior e também atrair talentos para trabalhar aqui. Terão prioridade, por exemplo, estudantes e pesquisadores nas áreas de computação e tecnologia da informação, fármacos, petróleo, gás, tecnologia nuclear, biotecnologia, tecnologia aeroespacial entre outras. Das 75 mil bolsas, 27.100 serão destinadas nos próximos três anos a alunos em graduação; 24.600 a doutorados de um ano; 9.790 para doutorados de quatro anos; e 8.900 para pós-doutorados. O Brasil também pretende atrair 390 pesquisadores visitantes. Seleção por mérito recebe críticas A receptividade ao critério de selecionar bolsistas por mérito não foi total. O ex-reitor da Universidade da Bahia, Naomar Nogueira, por exemplo, disse que, do jeito que o projeto foi concebido, afastará os alunos mais pobres, que não têm acesso a escolas de idiomas e, só por isso, já estariam fora do páreo. Além disso, segundo Nogueira, os alunos que concorrerão às bolsas são oriundos de ensino médio de qualidade - e pago - e, consequentemente, obtiveram as vagas nas melhores universidades brasileiras. - Esse programa, se não for feita alteração, vai beneficiar a minoria que já tem como chegar a essas bolsas porque já falam idiomas e estudaram nas melhores universidades - avaliou. José Vicente, da Universidade Zumbi dos Palmares, concordou com as preocupações de Nogueira e acrescentou outra: na opinião dele, os negros poderão não ser contemplados. Por isso, defendeu cotas para os afrodescendentes. |
Para Guimarães, o grande desafio da educação superior é quantitativo
Jornal da Ciência (JC E-Mail)
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Edição 4309 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC
Jornal da Ciência (JC E-Mail)
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Edição 4309 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC
Confira a entrevista do presidente da Capes, Jorge Guimarães, publicada no Correio Braziliense de hoje (27).
Como o senhor vê a situação das universidades brasileiras, em comparação com as estrangeiras?
O sistema universitário brasileiro é muito jovem, tem menos de sessenta anos. A universidade mais antiga é a USP, que só tem 77 anos. Comparado com o sistema europeu, é uma criança. Sendo tão jovens, estamos em pleno desenvolvimento e aperfeiçoamento das nossas atividades. Ainda temos muita influência do exterior na construção do conhecimento, mas estamos criando nosso próprio modelo.
Por que não há universidades brasileiras nas listas mundiais de excelência?
Não pode haver mesmo, nossas universidades são muito jovens! Quando a USP foi criada, Harvard já tinha 300 anos, não é possível comparar as nossas com as mais antigas do mundo. Mas, o Brasil tem tido muito sucesso em certas áreas, como na agricultura, na automação bancária, que é considerada a melhor do mundo, na exploração de petróleo, na fabricação de aviões e no desenvolvimento de papel celulose.
Qual é hoje o maior desafio na educação superior?
O grande desafio, hoje, é quantitativo. Não há o número suficiente de doutores do conhecimento que precisamos ter. No Brasil, há uma média de apenas 1,4 doutores para cada mil habitantes, entre 25 e 64 anos. Na Austrália, são 8, no Canadá, são 6,5 e, em casos excepcionais, como a Suíça, são 28.
Quais são as prioridades no aperfeiçoamento da educação?
A graduação e a pós-graduação nas áreas tecnológicas são fundamentais. Menos de 6% dos formandos no Brasil são da Engenharia, um percentual muito baixo, se comparado a outros países de desenvolvimento semelhante, como China, Coréia e Cingapura. Outra prioridade é a formação de professores para o ensino médio, é preciso pagar melhores salários. Todas as outras áreas do conhecimento se beneficiam se essas duas prioridades forem atendidas.
Como vê os questionamentos da imprensa e de entidades britânicas sobre a qualidade dos alunos brasileiros que poderão ir a universidades do Reino Unido com bolsas oferecidas pelo governo brasileiro?
Não vamos mandar para lá qualquer estudante. Haverá uma seleção rigorosa para que os melhores sejam enviados. Mas, não devemos usar o parâmetro de classificação do Reino Unido, que cria rankings de melhores universidades cheios de viés. Por exemplo, as universidades alemãs, que são as melhores em Engenharia, quase não aparecem nessas listas. O Reino Unido já foi o segundo destino preferencial dos alunos da Capes e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), mas caiu para o sexto lugar. Hoje, há interesse de empresas privadas britânicas em financiar bolsas para estudantes brasileiros. A British Gas vai bancar o custo de alguns alunos brasileiros que vão para o Reino Unido, porque a empresa tem interesse no Pré-sal brasileiro. O Brasil é a bola da vez.
O sistema universitário brasileiro é muito jovem, tem menos de sessenta anos. A universidade mais antiga é a USP, que só tem 77 anos. Comparado com o sistema europeu, é uma criança. Sendo tão jovens, estamos em pleno desenvolvimento e aperfeiçoamento das nossas atividades. Ainda temos muita influência do exterior na construção do conhecimento, mas estamos criando nosso próprio modelo.
Por que não há universidades brasileiras nas listas mundiais de excelência?
Não pode haver mesmo, nossas universidades são muito jovens! Quando a USP foi criada, Harvard já tinha 300 anos, não é possível comparar as nossas com as mais antigas do mundo. Mas, o Brasil tem tido muito sucesso em certas áreas, como na agricultura, na automação bancária, que é considerada a melhor do mundo, na exploração de petróleo, na fabricação de aviões e no desenvolvimento de papel celulose.
Qual é hoje o maior desafio na educação superior?
O grande desafio, hoje, é quantitativo. Não há o número suficiente de doutores do conhecimento que precisamos ter. No Brasil, há uma média de apenas 1,4 doutores para cada mil habitantes, entre 25 e 64 anos. Na Austrália, são 8, no Canadá, são 6,5 e, em casos excepcionais, como a Suíça, são 28.
Quais são as prioridades no aperfeiçoamento da educação?
A graduação e a pós-graduação nas áreas tecnológicas são fundamentais. Menos de 6% dos formandos no Brasil são da Engenharia, um percentual muito baixo, se comparado a outros países de desenvolvimento semelhante, como China, Coréia e Cingapura. Outra prioridade é a formação de professores para o ensino médio, é preciso pagar melhores salários. Todas as outras áreas do conhecimento se beneficiam se essas duas prioridades forem atendidas.
Como vê os questionamentos da imprensa e de entidades britânicas sobre a qualidade dos alunos brasileiros que poderão ir a universidades do Reino Unido com bolsas oferecidas pelo governo brasileiro?
Não vamos mandar para lá qualquer estudante. Haverá uma seleção rigorosa para que os melhores sejam enviados. Mas, não devemos usar o parâmetro de classificação do Reino Unido, que cria rankings de melhores universidades cheios de viés. Por exemplo, as universidades alemãs, que são as melhores em Engenharia, quase não aparecem nessas listas. O Reino Unido já foi o segundo destino preferencial dos alunos da Capes e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), mas caiu para o sexto lugar. Hoje, há interesse de empresas privadas britânicas em financiar bolsas para estudantes brasileiros. A British Gas vai bancar o custo de alguns alunos brasileiros que vão para o Reino Unido, porque a empresa tem interesse no Pré-sal brasileiro. O Brasil é a bola da vez.
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