20/07/2011 10:21 | ||||
Estudo analisa relação entre os grupos de preços que compõem o IPCA e o crescimento econômico dos últimos anos O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada divulga nesta quinta-feira, 21, o Comunicado do Ipea nº 101 - A dinâmica da inflação brasileira: considerações a partir da desagregação do IPCA. O estudo será apresentado pelo técnico Thiago Sevilhano Martinez e pela diretora de Estudos e Políticas Macroeconômicas, Vanessa Petrelli de Correa, às 14h30, na sede do Instituto, em Brasília (SBS, Qd. 1, Bl. J, Edifício Bndes/Ipea, auditório do subsolo). O comunicado aborda o comportamento da inflação brasileira na última década, com maior destaque para o período após 2007. Os pesquisadores do Ipea fizeram a decomposição do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, para analisar quais são os grupos que mais influenciaram a inflação e como eles estão relacionados à trajetória recente de crescimento da economia brasileira. Desde 2004, o país vive uma fase de crescimento mais acelerado. No período, houve aumento nos preços dascommodities e melhorias no mercado de trabalho e na distribuição de renda. O estudo avalia o impacto dessas mudanças nos preços dos grupos alimentos, bebidas, serviços, monitorados e industrializados, que formam o IPCA. Confira a íntegra do Comunicado do Ipea n° 101 - A Dinâmica da inflação brasileira: Considerações a partir da desagregação do IPCA http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/comunicado/110721_comunicadoipea101.pdf De 1995 a 2003 a taxa de crescimento média do PIB real foi de 2,18% ao ano, enquanto de 2004 a 2010 o crescimento médio subiu para 4,42% (fonte: Ipeadata). Amitrano (2010) associa essas taxas mais elevadas ao surgimento de um novo regime de crescimento, consubstanciado em alterações no regime de demanda, regime de produtividade e alívio da restrição externa. A força motora do novo regime é o mercado interno, fomentado pela melhora na distribuição de renda e redução da pobreza, expansão do crédito e recuperação relativa da renda do trabalho. Os instrumentos principais da intervenção governamental sobre a distribuição de renda e redução da pobreza são a política de valorização do salário mínimo e os programas sociais de transferência de renda. Embora já houvesse um movimento anterior de recuperação do valor real do salário mínimo, a partir de 2004 ele passa a ser mais intenso e em 2007 culmina em uma regra explícita de indexação do salário mínimo à inflação do ano anterior mais o crescimento real do PIB de dois anos anteriores. A elevação do salário mínimo impacta diretamente a distribuição da renda por ser o piso dos pagamentos previdenciários e da remuneração de contratos formais de trabalho, mas também indiretamente ao fortalecer o poder de barganha de trabalhadores na negociação de suas remunerações, que têm o mínimo como referência. As transferências de renda às famílias por meio de programas sociais, especialmente por meio do programa Bolsa Família criado em 2004, cresceram em ritmo acelerado. Esse direcionamento de recursos para as transferências às famílias teve implicações ficais vultosas. Segundo Orair e Gobetti (2010), de 2004 até o primeiro semestre de 2010 as transferências às famílias responderam por quase 80% da expansão das despesas não-financeiras da União. Do aumento total nas transferências às famílias, no mínimo um terço é diretamente observável como resultado da valorização do salário mínimo (12,2% dos benefícios previdenciários do regime geral no valor do salário mínimo e 10,3% dos benefícios da Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) no valor do salário mínimo) e da ampliação dos programas sociais de transferência de renda, especialmente o Bolsa Família (12%). Conforme Barbosa e Souza (2010), a adoção dessa estratégia foi possível sem gerar desequilíbrios fiscais porque foi conduzida dentro dos limites do aumento de arrecadação bruta gerado pela aceleração do crescimento econômico e maior grau de formalização dos contratos, de maneira a manter estável a carga tributária líquida. Além da maior distribuição de renda e diminuição da pobreza, a expansão do crédito às famílias foi essencial para fomentar o mercado interno. A criação do crédito consignado no final de 2003 e sua vigorosa disseminação a partir de 2004 dinamizou o consumo privado. O crédito imobiliário também cresceu mediante incentivos governamentais, especialmente a partir de 2008. Por fim, o mercado interno passou a ser realimentado pelos efeitos positivos do crescimento econômico e redistribuição de renda sobre o mercado de trabalho: queda do desemprego, expansão da massa salarial e formalização de postos de trabalho (Amitrano, 2010). A capacidade de oferta da economia também se expandiu em parte seguindo a demanda, em parte por políticas governamentais adotadas para esse fim. O dinamismo da economia, baseado nessas mudanças que fortaleceram o mercado interno de forma estrutural, associado à manutenção da estabilidade econômica com o trinômio metas de inflação, câmbio flutuante e metas de superávit primário, formaram o ambiente de confiança necessário para a expansão dos investimentos do setor privado. O governo também adotou políticas diversas para incentivar o investimento privado e ampliou o investimento público. Cabe destaque ao aumento dos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e a expansão de investimentos da Petrobras. Por fim, a apreciação da taxa de câmbio barateou o custo da importação de máquinas para a formação bruta de capital fixo. Enquanto de 2000 a 2005 a produtividade do trabalho na economia brasileira manteve-se constante, de 2006 a 2008 ela cresceu 9% de acordo com dados das contas nacionais (Squeff, 2011). A viabilidade desse regime de crescimento esteve escorada no alívio da restrição externa, proporcionado pelo impulso às exportações brasileiras com a alta dos preços de commodities a partir de 2003. O ingresso de capitais externos, atraídos pela situação favorável da economia brasileira e pela alta taxa de juros, também contribuiu decisivamente a esse resultado. A partir de 2006, o governo federal adotou uma política de acumulação de reservas internacionais aproveitando a abundância de divisas, que de US$ 55 bilhões ao final de 2005 passaram a US$ 207 bilhões no fim de 2007 (Barbosa e Souza, 2010). Esse estoque de reservas foi crucial durante a crise internacional de 2009, permitindo que fossem tomadas políticas anticíclicas para a recuperação rápida da economia nacional. Apesar da recessão em 2009, em 2010 já foi retomado o ritmo de crescimento econômico característico do atual modelo brasileiro. O controle da inflação foi mantido mesmo sob o ritmo de crescimento mais intenso. Desde 2004, as metas de inflação foram atingidas em todos os anos. A taxa de juros básica entrou em trajetória declinante, chegando a um patamar abaixo de um dígito durante a crise de 2009. Após essas considerações, o presente estudo passa a analisar, a partir da desagregação do IPCA, como os grupos de preços ao consumidor e a dinâmica inflacionária foram afetados pelas transformações estruturais ligadas ao novo regime de crescimento brasileiro. A Tabela 1 apresenta a decomposição do IPCA em quatro grandes agrupamentos: alimentos e bebidas, serviços, monitorados e industrializados. A primeira coluna da tabela mostra o peso médio entre 2000 e 2010 de cada agrupamento no IPCA, as próximas representam as variações percentuais do IPCA acumuladas em 12 meses para os anos de 2000 a 2010, além do mês de junho de 2011. As células destacadas correspondem a anos em que a taxa de variação do agrupamento em questão ficou acima da banda superior da meta de inflação. Como já identificado em Martinez e Cerqueira (2011), no período de 2000 a 2010 há uma segmentação em duas dinâmicas inflacionárias distintas: antes e depois de 2006. Na primeira metade da década, duas crises cambiais em 2001 e 2002 impossibilitaram o cumprimento das metas de inflação nesses anos e tornaram necessário redefinir para cima a meta para o próprio ano em 2003. Entre 2000 e 2005, os preços monitorados foram o agrupamento que mais impactou a inflação. Observando o IPMI (Tabela 2), os monitorados responderam por mais da metade de toda a pressão inflacionária para cima das metas nesse período. Em todos os anos sua taxa de variação foi maior que a banda superior da meta de inflação. Parte dessa pressão elevada é explicada pela indexação dos contratos de serviços públicos ao Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), muito afetado pelo câmbio. Entretanto, o câmbio não explica tudo, já que os aumentos de preços do grupo foram intensos mesmo nos anos 2000, 2004 e 2005. O agrupamento alimentos e bebidas foi o segundo mais influente durante esse período, especialmente pelos efeitos da depreciação cambial em 2001 e 2002. Os produtos industrializados também responderam ao câmbio. Os serviços foram o agrupamento com os menores desvios em relação à meta no saldo do período, por responderem menos ao câmbio. Em 2006, a dinâmica inflacionária alterou-se. Destaca-se a queda na taxa de variação dos monitorados, causada por mudanças regulatórias nos setores de telefonia e energia elétrica, além de novas políticas no setor de combustíveis (detalhes na seção cinco). Martinez e Cerqueira (2011) observam quebra da variância nos transportes monitorados (ligada à política para os combustíveis), redução da constante na regressão do segmento habitação monitorados (peso da energia elétrica) e quebra na função de impulso resposta de comunicação monitorados (telefonia). Além desse comportamento diferenciado dos preços monitorados, as transformações da dinâmica inflacionária estão relacionadas às condicionantes e resultados do novo modelo de crescimento brasileiro. A primeira variável importante é a 8 taxa de câmbio (Gráfico 1). A partir de meados de 2004 a taxa de câmbio real passa a valorizar-se intensamente. Isso reflete em parte os ganhos no valor das exportações com o aumento dos preços de commodities (Gráfico 2), em parte a entrada de divisas na conta de capitais atraídas pela alta taxa de juros e a boa fase da economia brasileira. Em 2007 a alta de preços de commodities intensifica-se ao mesmo tempo em que a política de acumulação de reservas dissipa parte da pressão para apreciação do câmbio. Somando esses dois fatores, o repasse para preços internos de alimentos torna-se mais forte. Nos anos de 2007, 2008 e 2010 a variação dos alimentos e bebidas foi superior a 10% ao ano (Tabela 1). Apenas em 2009 os preços de alimentos e bebidas cresceram em ritmo abaixo do centro da meta, em virtude da queda dos preços de commodities com a crise internacional (Gráfico 2). Mas em 2010 tais preços já recuperaram o patamar anterior. O fortalecimento do mercado interno com as políticas de redistribuição de renda, combate à pobreza e expansão do crédito também teve implicações sobre a inflação. Observa-se que as taxas de variação no agrupamento serviços, cujos preços são particularmente sensíveis ao salário mínimo e à redução do desemprego, foram superiores ao centro da meta de inflação em todos os anos. A pressão inflacionária dos serviços se torna mais intensa desde 2008, com IPMI de ao menos 0,40 pontos. É claro que se trata de um movimento estrutural de mudança de preços relativos e não apenas de um aquecimento conjuntural de demanda, já que a taxa de variação dos serviços foi acima da meta mesmo em 2009, ano de recessão. Mas para o ano de 2010 há indícios mais claros de pressões inflacionárias no setor de serviços resultantes do aquecimento excessivo da economia, com IPMI superior a 0,70 pontos. Por fim, assim como os monitorados, os produtos industrializados também passaram a ter uma evolução mais favorável ao controle da inflação. Seus preços foram contidos pela apreciação do câmbio (Gráfico 1), mas também por ganhos de produtividade na indústria de bens de consumo duráveis, especialmente na automobilística. Em alguma medida esses ganhos de produtividade foram propiciados pelo próprio crescimento do mercado interno, em especial pelo aumento do crédito ao consumidor, dado que nesse tipo de indústria há economias de escala na produção. RESUMO: ALIMENTOS E BEBIDAS Os efeitos da alta internacional dos preços de commodities sobre os alimentos comercializáveis nos últimos anos, com a exceção de 2009, e do fortalecimento do mercado interno e aquecimento da economia sobre o grupo como um todo têm levado as taxas de variação dos preços de alimentos e bebidas a níveis muito acima da meta de inflação. A Tabela 4 sintetiza o efeito dos alimentos e bebidas sobre o desvio do IPCA em relação ao centro da meta de inflação através do IPMI. 4 Nota-se que o IPMI dos alimentos e bebidas comercializáveis é sempre elevado em termos absolutos, entre 0,5 e 1,0 pontos, sendo negativo apenas em 2009. No acumulado em 12 meses de junho de 2011, foi de 0,65, uma redução substancial em relação aos 0,93 de dezembro, mas ainda acima do centro da meta. A partir de 2008, o IPMI de alimentos não comercializáveis no domicílio passa a ser muito menor que o dos outros dois componentes. Para os alimentos e bebidas não comercializáveis fora do domicílio, o IPMI foi positivo e acima de 0,20 pontos em todos os anos desde 2007. Em junho de 2011, subiu um pouco em relação a dezembro de 2010, chegando a 0,47 pontos percentuais. RESUMO: SERVIÇOS O forte aumento dos preços dos serviços decorre de mudanças estruturais na economia brasileira relacionadas à melhora da distribuição de renda e redução do desemprego, mas se torna mais intenso nos anos em que a economia está aquecida. A variação dos preços de alimentos e bebidas não-comercializáveis fora do domicílio esteve por volta de 7,7% em 2007 e 2009, mas em 2008 e 2010, anos de crescimento econômico mais vigoroso, foi 12% e 9,8% respectivamente. O mesmo ocorre com os serviços pessoais: sua taxa de variação foi próxima a 7,5% em 2007 e 2009 e ao redor de 9,5% em 2008 e 2010. Para a maioria dos outros componentes dos serviços e para o grupo como um todo, esse aquecimento aparece com mais força no ano de 2010 especificamente. É assim com recreação (8,8% em 2010 contra 4,8% na média dos três anos anteriores), aluguel e condomínio (7,3% contra média anterior de 5,5%), mão-de-obra em reparos (10,6% contra 8,1%), serviços educacionais (6,7% contra 5,3%) e serviços de saúde (8,6% contra 6,5%). Para o todo dos serviços, sem serviços alimentícios, a taxa de variação foi em média 6% de 2007 a 2009 e 7,6% em 2010. RESUMO: MONITORADOS Nos últimos quatro anos as taxas de variação dos preços monitorados têm em geral se mantido abaixo do centro da meta e auxiliado a segurar a inflação, com exceção de 2009. Tal resultado se deve principalmente aos preços de combustíveis, telefonia e energia elétrica. Os dois últimos estiveram dentre as principais fontes de pressão inflacionária da economia desde as privatizações até as mudanças regulatórias ocorridas em 2005 e 2006, que substituíram indexadores inadequados e aprimoraram regras de repasse de custos. A evolução favorável dos preços dos combustíveis se deveu a políticas governamentais para reduzir a volatilidade do repasse dos preços do petróleo – via Petrobras e por tributação – e à difusão dos motores flex, que transformaram o etanol em um substituto de fato à gasolina. As categorias transporte público e plano de saúde e fármacos tiveram reajustes próximos ao centro da meta em alguns anos e acima em outros. Em transporte público, a maior influência vem do ônibus urbano, que responde por mais da metade do peso da categoria. Seu reajuste está muito ligado ao ciclo político das eleições municipais, com reajuste médio próximo ao centro da meta em 2007, inferior em 2008 e reajustes maiores em 2009 e 2010. Dos outros componentes, destaca-se o avião, que apesar de não ter peso tão alto impactou bastante a inflação com os reajustes de 32% em 2009 e 27% no acumulado de junho de 2011. Na categoria plano de saúde e fármacos, enquanto a regulação dos medicamentos tem estabelecido preços máximos geralmente abaixo da meta (exceto em 2009), a regulação dos planos de saúde vem estipulando reajustes máximos superiores ao IPCA do ano anterior. Por fim, os preços da categoria outros monitorados tiveram variação acima do centro da meta de 2007 a 2009 e variação negativa em 2010, com IPMI de -0,16. Destaca-se o subitem emplacamento e licenciamento veicular, marcado pelo ciclo político estadual, cuja variação foi de 8,5% em 2007, próxima à meta em 2008 e 2009 e de -9,5% em 2010. Para o ano de 2011, as perspectivas de evolução dos monitorados são pessimistas. O IPMI do grupo era igual a -0,38 em dezembro e foi a 0,43 em junho de 2011, aumento de 0,81 pontos, o maior dentre os quatro grandes grupos. As principais contribuições para esse resultado vieram dos combustíveis, transporte público e outros monitorados. O IPMI dos combustíveis subiu 0,37 pontos, de -0,15 em dezembro para 0,22 em junho, em decorrência da alta do etanol e seu reflexo sobre a gasolina. O IPMI do transporte público aumentou 0,19 pontos, de 0,08 para 0,27, sendo que as taxas de variação de quase todos os subitens se aceleraram substancialmente em relação a dezembro e à média dos anos anteriores. Os outros monitorados tiveram aumento de 0,15 no IPMI, de -0,16 para -0,01, devido aos subitens taxa de água e esgoto, emplacamento e licença e jogos de azar. As categorias que ainda não sofreram reajustes substanciais esse ano – plano de saúde e fármacos, 14 telefonia e energia elétrica – provavelmente terão elevações tarifárias maiores que as observadas no ano anterior graças à indexação à inflação alta de 2010. RESUMO: INDUSTRIALIZADOS Nos últimos anos, os produtos industrializados têm apresentado taxas de variação de preços inferiores ao centro da meta de inflação e IPMI entre -0,09 e -0,57. A maior parte dos bens mais relevantes que compõem essa categoria também teve essa evolução favorável, em razão da apreciação do câmbio e de ganhos de produtividade. A variação de preços do agrupamento automóvel, veículo e autopeças foi de 1,3% (IPMI de -0,18) em 2007 e negativa nos outros anos (IPMI entre -0,23 e -0,49), em virtude de intensos ganhos de produtividade da indústria automobilística e da redução do IPI em 2009. Os outros duráveis e semiduráveis também tiveram IPMI negativo em todos os anos (entre -0,09 e -0,30), principalmente graças aos preços dos eletroeletrônicos e aparelhos telefônicos, afetados pela apreciação cambial e por ganhos de produtividade. Retirando o subitem cigarro dos outros não-duráveis, apenas em 2008 o agrupamento teve alta de preços acima da meta (7,5%, IPMI 0,12), nos outros anos a taxa de variação foi entre 2,7% e 3,2% (IPMI de -0,08 a -0,06), também sob influência do câmbio. Os bens industrializáveis mais relevantes que tiveram em geral aumentos de preços acima da meta foram o grupo vestuário e o subitem cigarro, que faz parte dos outros não-duráveis. O grupo vestuário, de peso 6,6%, só teve variação de preços abaixo da meta em 2007, nos outros anos variou entre 6,1% e 7,5% e seu IPMI ficou entre 0,10 e 0,20. O cigarro, cujo peso é de quase 1%, teve um aumento de preços de 27% (IPMI 0,19) em 2009, fruto de elevação de impostos, e aumentos entre 5% e 9,6% nos outros anos (IPMI de 0,00 a 0,04). No acumulado em 12 meses de junho de 2011, o IPMI dos produtos industrializados continua negativo (-0,22), quase igual em relação a dezembro de 2010 (-0,23), porque a aceleração nos preços dos não-duráveis foi compensada pela desaceleração dos duráveis e semiduráveis. O IPMI do vestuário subiu 0,07 pontos, dos outros não duráveis também cresceu 0,07 pontos (0,01 pontos pelo cigarro e 0,06 pelo resto do grupo), de automóvel, veículo e autopeças caiu 0,08 e dos outros duráveis e semiduráveis caiu 0,05. Para os próximos meses, espera-se que o desaquecimento da economia venha pressionar para baixo os preços do setor como um todo. 7. Considerações finais A decomposição da variação do IPCA desde 2007 mostra uma estrutura bem definida. Os preços dos alimentos e bebidas têm sido os maiores responsáveis a pressionar a inflação para cima do centro da meta, seguidos pelos preços dos serviços. Os preços monitorados e dos produtos industrializados em geral atuaram no sentido oposto, mitigando as pressões inflacionárias dos alimentos e serviços. O tripé macroeconômico metas de inflação na política monetária, câmbio flutuante e superávits primários na política fiscal foi adotado em 1999 e é mantido há mais de uma década. Dado que no regime de metas para a inflação o papel da política monetária é eminentemente reativo, respondendo aos desvios da inflação em relação à meta e às expectativas de inflação, podem-se apontar três fatores condicionantes da dinâmica inflacionária recente. • Em primeiro lugar, as intervenções governamentais nos preços monitorados, que até meados da década eram a maior fonte de pressões inflacionárias da economia brasileira e têm desde então ajudado a segurar a inflação. No vencimento de contratos firmados nas privatizações dos serviços públicos de telefonia e energia elétrica, as regras de reajustes foram alteradas, com a substituição de indexadores inadequados e critérios mais apropriados de repasse de custos e ganhos de produtividade. Para o setor de combustíveis, deu-se uma combinação de políticas: a Petrobras suavizando repasses dos preços internacionais do petróleo, alíquota variável da CIDE em sentido contrário às flutuações do preço do petróleo, e a difusão do etanol como substituto à gasolina pelos motores bicombustíveis. • Em segundo, os preços de commodities, que também são determinantes do atual padrão de crescimento brasileiro. Os efeitos do fortalecimento do mercado interno sobre a inflação são mais visíveis no setor de serviços. Nos últimos anos têm apresentado taxas de variação de preços acima do centro da meta, inclusive no ano de 2009, em que a economia esteve em recessão. Isso sugere que não se trata apenas de um aquecimento conjuntural da demanda agregada, mas sim de uma mudança de preços relativos na economia brasileira. Provavelmente é uma transformação decorrente da melhora na distribuição de renda e redução do desemprego, que pressionam os preços de serviços pela via de aumento de custos de mão-de-obra e pelo aumento da demanda por parte da população antes sem acesso a boa parte desses serviços. O canal de custos é mais visível em itens diretamente relacionados à política de valorização do salário mínimo, como serviços pessoais (empregado doméstico, cabelereiro e outros) e mão-de-obra para reparos. Tal interpretação é válida também para os alimentos e bebidas fora do domicílio, que sofrem pressão de custo direta pelos outros tipos de alimentos, mas também têm a característica de serem serviços. Embora seja uma mudança estrutural, o aumento dos preços dos serviços foi acentuado pelo aquecimento excessivo da economia em 2010. • Em terceiro lugar, o aquecimento do mercado interno que também provoca efeitos na direção oposta sobre preços de setores em que há economias de escala. É o caso dos 19 produtos industrializados, em que a expansão da demanda e do crédito ao consumo propiciou ganhos de produtividade no setor de bens de consumo duráveis, especialmente na indústria automobilística. Os preços dos produtos industrializados também são contidos pela taxa de câmbio, que se apreciou fortemente nos últimos anos. A análise dos efeitos da alta internacional dos preços de commodities sobre a inflação doméstica é mais complexa no caso de economias exportadoras desses produtos, como o Brasil, pois é necessário separar os efeitos diretos sobre os preços de alimentos dos efeitos indiretos sobre a economia com a apreciação cambial. Desde 2007, nota-se que houve um repasse intenso dos preços internacionais para os preços internos dos alimentos comercializáveis. Entretanto, como apontam Lora, Powell e Tavella (2011), as pressões inflacionárias resultantes da alta internacional dos alimentos são fracas sobre países exportadores líquidos desses produtos se a apreciação cambial resultante da entrada de divisas for tolerada. Assim, não é suficiente olhar os aumentos internos dos preços de alimentos para dimensionar o efeito total da alta internacional das commodities sobre a inflação doméstica, pois essa alta gera apreciação cambial, que alivia pressões inflacionárias de forma distribuída pela economia. No caso brasileiro, ainda contribui decisivamente para a apreciação cambial a taxa de juros excessivamente alta. A partir da desagregação do IPCA, evidencia-se que a inflação não é um obstáculo estrutural à continuidade do recente modelo de crescimento brasileiro. A alta dos preços de commodities e o fortalecimento do mercado interno, que são pilares desse modelo, geram pressões inflacionárias que têm sido debeladas pela apreciação cambial e, em menor medida, pelos ganhos de produtividade dos bens de consumo duráveis. As políticas para os preços monitorados também foram decisivas para conter essas pressões e permitir reduções no nível da taxa real de juros mesmo com a economia crescendo. Entretanto, para que o elevado nível da taxa de juros e o câmbio fortemente apreciado sejam modificados no âmbito desse modelo, faz-se necessário o uso de instrumentos alternativos para enfrentar a inflação. A alta taxa de juros é um determinante do câmbio apreciado, encarece o custo da dívida pública e inibe o desenvolvimento de fontes privadas para o financiamento de longo prazo. A taxa de câmbio excessivamente apreciada compromete parte da competitividade da indústria. Mas tanto os juros não podem ser reduzidos por mera vontade do Banco Central quanto a apreciação cambial não pode ser contida pela intervenção direta no mercado de divisas sem que a inflação saia de controle. Os objetivos de taxas de juros menores e câmbio competitivo não podem ser alcançados sem o emprego concomitante de outros instrumentos de política. O próprio Banco Central recentemente tem caminhado nessa direção, ao fazer uso do compulsório e de controles do crédito ao consumo, simultaneamente ao aumento da Selic, para reverter o aumento da inflação. Portanto, faz-se necessário desenvolver métodos de avaliação da eficácia dos atuais mecanismos alternativos adotados de controle da inflação, como as políticas para os preços monitorados e o controle de crédito, e elaborar novos instrumentos simultâneos ao regime de metas. Alimentos e serviços puxam inflação desde 2006, diz Ipea
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sexta-feira, 22 de julho de 2011
Ipea avalia inflação do Brasil na última década
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