sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ipea avalia inflação do Brasil na última década

20/07/2011 10:21
Estudo analisa relação entre os grupos de preços que compõem o IPCA e o crescimento econômico dos últimos anos
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada divulga nesta quinta-feira, 21, o Comunicado do Ipea nº 101 - A dinâmica da inflação brasileira: considerações a partir da desagregação do IPCA. O estudo será apresentado pelo técnico Thiago Sevilhano Martinez e pela diretora de Estudos e Políticas Macroeconômicas, Vanessa Petrelli de Correa, às 14h30, na sede do Instituto, em Brasília (SBS, Qd. 1, Bl. J, Edifício Bndes/Ipea, auditório do subsolo).
O comunicado aborda o comportamento da inflação brasileira na última década, com maior destaque para o período após 2007. Os pesquisadores do Ipea fizeram a decomposição do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, para analisar quais são os grupos que mais influenciaram a inflação e como eles estão relacionados à trajetória recente de crescimento da economia brasileira. 
Desde 2004, o país vive uma fase de crescimento mais acelerado. No período, houve aumento nos preços dascommodities e melhorias no mercado de trabalho e na distribuição de renda. O estudo avalia o impacto dessas mudanças nos preços dos grupos alimentos, bebidas, serviços, monitorados e industrializados, que formam o IPCA.



De 1995 a 2003 a taxa de crescimento média do PIB real foi de 2,18% ao ano, 
enquanto de 2004 a 2010 o crescimento médio subiu para 4,42% (fonte: Ipeadata). 
Amitrano (2010) associa essas taxas mais elevadas ao surgimento de um novo regime de 
crescimento, consubstanciado em alterações no regime de demanda, regime de 
produtividade e alívio da restrição externa
 A força motora do novo regime é o mercado interno, fomentado pela melhora na 
distribuição de renda e redução da pobreza, expansão do crédito e recuperação relativa 
da renda do trabalho. Os instrumentos principais da intervenção governamental sobre a 
distribuição de renda e redução da pobreza são a política de valorização do salário                                                 
mínimo e os programas sociais de transferência de renda. Embora já houvesse um 
movimento anterior de recuperação do valor real do salário mínimo, a partir de 2004 ele 
passa a ser mais intenso e em 2007 culmina em uma regra explícita de indexação do 
salário mínimo à inflação do ano anterior mais o crescimento real do PIB de dois anos 
anteriores. A elevação do salário mínimo impacta diretamente a distribuição da renda 
por ser o piso dos pagamentos previdenciários e da remuneração de contratos formais de 
trabalho, mas também indiretamente ao fortalecer o poder de barganha de trabalhadores 
na negociação de suas remunerações, que têm o mínimo como referência. As 
transferências de renda às famílias por meio de programas sociais, especialmente por 
meio do programa Bolsa Família criado em 2004, cresceram em ritmo acelerado.  
Esse direcionamento de recursos para as transferências às famílias teve 
implicações ficais vultosas. Segundo Orair e Gobetti (2010), de 2004 até o primeiro 
semestre de 2010 as transferências às famílias responderam por quase 80% da expansão 
das despesas não-financeiras da União. Do aumento total nas transferências às famílias, 
no mínimo um terço é diretamente observável como resultado da valorização do salário 
mínimo (12,2% dos benefícios previdenciários do regime geral no valor do salário 
mínimo e 10,3% dos benefícios da Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) no valor 
do salário mínimo) e da ampliação dos programas sociais de transferência de renda, 
especialmente o Bolsa Família (12%). Conforme Barbosa e Souza (2010), a adoção 
dessa estratégia foi possível sem gerar desequilíbrios fiscais porque foi conduzida 
dentro dos limites do aumento de arrecadação bruta  gerado pela aceleração do 
crescimento econômico e maior grau de formalização  dos contratos, de maneira a 
manter estável a carga tributária líquida. 
Além da maior distribuição de renda e diminuição da pobreza, a expansão do 
crédito às famílias foi essencial para fomentar o mercado interno. A criação do crédito 
consignado no final de 2003 e sua vigorosa disseminação a partir de 2004 dinamizou o 
consumo privado. O crédito imobiliário também cresceu mediante incentivos 
governamentais, especialmente a partir de 2008. Por fim, o mercado interno passou a ser 
realimentado pelos efeitos positivos do crescimento econômico e redistribuição de renda 
sobre o mercado de trabalho: queda do desemprego, expansão da massa salarial e 
formalização de postos de trabalho (Amitrano, 2010). 
A capacidade de oferta da economia também se expandiu em parte seguindo a 
demanda, em parte por políticas governamentais adotadas para esse fim. O dinamismo  
da economia, baseado nessas mudanças que fortaleceram o mercado interno de forma 
estrutural, associado à manutenção da estabilidade econômica com o trinômio metas de 
inflação, câmbio flutuante e metas de superávit primário, formaram o ambiente de 
confiança necessário para a expansão dos investimentos do setor privado. O governo 
também adotou políticas diversas para incentivar o investimento privado e ampliou o 
investimento público. Cabe destaque ao aumento dos desembolsos do Banco Nacional 
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Programa de Aceleração do 
Crescimento (PAC), a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e a expansão de 
investimentos da Petrobras. Por fim, a apreciação da taxa de câmbio barateou o custo da 
importação de máquinas para a formação bruta de capital fixo. Enquanto de 2000 a 2005 
a produtividade do trabalho na economia brasileira  manteve-se constante, de 2006 a 
2008 ela cresceu 9% de acordo com dados das contas nacionais (Squeff, 2011). 
A viabilidade desse regime de crescimento esteve escorada no alívio da restrição 
externa, proporcionado pelo impulso às exportações brasileiras com a alta dos preços de 
commodities a partir de 2003. O ingresso de capitais externos, atraídos pela situação 
favorável da economia brasileira e pela alta taxa de juros, também contribuiu 
decisivamente a esse resultado. A partir de 2006, o governo federal adotou uma política 
de acumulação de reservas internacionais aproveitando a abundância de divisas, que de 
US$ 55 bilhões ao final de 2005 passaram a US$ 207 bilhões no fim de 2007 (Barbosa e 
Souza, 2010). Esse estoque de reservas foi crucial durante a crise internacional de 2009, 
permitindo que fossem tomadas políticas anticíclicas para a recuperação rápida da 
economia nacional. Apesar da recessão em 2009, em 2010 já foi retomado o ritmo de 
crescimento econômico característico do atual modelo brasileiro. 
O controle da inflação foi mantido mesmo sob o ritmo de crescimento mais 
intenso.  Desde 2004, as metas de inflação foram atingidas em todos os anos. A taxa de 
juros básica entrou em trajetória declinante, chegando a um patamar abaixo de um dígito 
durante a crise de 2009.  
Após essas considerações, o presente estudo passa a analisar, a partir da 
desagregação do IPCA, como os grupos de preços ao consumidor e a dinâmica 
inflacionária foram afetados pelas transformações estruturais ligadas ao novo regime de 
crescimento brasileiro.  
 A Tabela 1 apresenta a decomposição do IPCA em quatro grandes 
agrupamentos:  alimentos e bebidas,  serviços,  monitorados e  industrializados.
A primeira coluna da tabela mostra o peso médio entre 2000 e 2010 de cada agrupamento 
no IPCA, as próximas representam as variações percentuais do IPCA acumuladas em 12 
meses para os anos de 2000 a 2010, além do mês de junho de 2011. As células 
destacadas correspondem a anos em que a taxa de variação do agrupamento em questão 
ficou acima da banda superior da meta de inflação. 


Como já identificado em Martinez e Cerqueira (2011), no período de 2000 a 
2010 há uma segmentação em duas dinâmicas inflacionárias distintas: antes e depois de 
2006. Na primeira metade da década, duas crises cambiais em 2001 e 2002 
impossibilitaram o cumprimento das metas de inflação nesses anos e tornaram 
necessário redefinir para cima a meta para o próprio ano em 2003.  
                                         
Entre 2000 e 2005, os preços  monitorados foram o agrupamento que mais 
impactou a inflação. Observando o IPMI (Tabela 2),  os monitorados responderam por 
mais da metade de toda a pressão inflacionária para cima das metas nesse período. Em 
todos os anos sua taxa de variação foi maior que a banda superior da meta de inflação. 
Parte dessa pressão elevada é explicada pela indexação dos contratos de serviços 
públicos ao Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), muito afetado 
pelo câmbio. Entretanto, o câmbio não explica tudo, já que os aumentos de preços do 
grupo foram intensos mesmo nos anos 2000, 2004 e 2005. 
O agrupamento  alimentos e bebidas foi o segundo mais influente durante esse 
período, especialmente pelos efeitos da depreciação cambial em 2001 e 2002. Os 
produtos  industrializados também responderam ao câmbio. Os  serviços foram o 
agrupamento com os menores desvios em relação à meta no saldo do período, por 
responderem menos ao câmbio. 

Em 2006, a dinâmica inflacionária alterou-se. Destaca-se a queda na taxa de 
variação dos monitorados, causada por mudanças regulatórias nos setores de telefonia e 
energia elétrica, além de novas políticas no setor  de combustíveis (detalhes na seção 
cinco). Martinez e Cerqueira (2011) observam quebra da variância nos transportes 
monitorados (ligada à política para os combustíveis), redução da constante na regressão 
do segmento habitação monitorados (peso da energia  elétrica) e quebra na função de 
impulso resposta de comunicação monitorados (telefonia). 
Além desse comportamento diferenciado dos preços monitorados, as 
transformações da dinâmica inflacionária estão relacionadas às condicionantes e 
resultados do novo modelo de crescimento brasileiro. A primeira variável importante é a 8 
taxa de câmbio (Gráfico 1). A partir de meados de 2004 a taxa de câmbio real passa a 
valorizar-se intensamente. Isso reflete em parte os ganhos no valor das exportações com 
o aumento dos preços de  commodities (Gráfico 2), em parte a entrada de divisas na 
conta de capitais atraídas pela alta taxa de juros e a boa fase da economia brasileira. Em 
2007 a alta de preços de commodities intensifica-se ao mesmo tempo em que a política 
de acumulação de reservas dissipa parte da pressão  para apreciação do câmbio. 
Somando esses dois fatores, o repasse para preços internos de alimentos torna-se mais 
forte. Nos anos de 2007, 2008 e 2010 a variação dos alimentos e bebidas foi superior a 
10% ao ano (Tabela 1). Apenas em 2009 os preços de alimentos e bebidas cresceram em 
ritmo abaixo do centro da meta, em virtude da queda dos preços de commodities com a 
crise internacional (Gráfico 2). Mas em 2010 tais preços já recuperaram o patamar 
anterior. 

O fortalecimento do mercado interno com as políticas de redistribuição de renda, combate à 
pobreza e expansão do crédito também teve implicações sobre a inflação. Observa-se que as taxas 
de variação no agrupamento serviços, cujos preços são particularmente sensíveis ao salário mínimo 
e à redução do desemprego, foram superiores ao centro da meta de inflação em todos os anos. A 
pressão inflacionária dos serviços se torna mais intensa desde 2008, com IPMI de ao menos 0,40 
pontos. É claro que se trata de um movimento estrutural de mudança de preços relativos e não 
apenas de um aquecimento conjuntural de demanda, já que a taxa de variação dos serviços foi acima 
da meta mesmo em 2009, ano de recessão.  Mas para o ano de 2010 há indícios mais claros de 
pressões inflacionárias no setor de serviços resultantes do aquecimento excessivo da economia, com 
IPMI superior a 0,70 pontos.  
Por fim, assim como os monitorados, os produtos industrializados também passaram a ter 
uma evolução mais favorável ao controle da inflação. Seus preços foram contidos pela apreciação 
do câmbio (Gráfico 1), mas também por ganhos de produtividade na indústria de bens de consumo 
duráveis, especialmente na automobilística. Em alguma medida esses ganhos de produtividade 
foram propiciados pelo próprio crescimento do mercado interno, em especial pelo aumento do 
crédito ao consumidor, dado que nesse tipo de indústria há economias de escala na produção.  


RESUMO: ALIMENTOS E BEBIDAS
 Os efeitos da alta internacional dos preços de commodities sobre os  alimentos 
comercializáveis nos últimos anos, com a exceção de 2009, e do fortalecimento do mercado interno 
e aquecimento da economia sobre o grupo como um todo têm levado as taxas de variação dos 
preços de  alimentos e bebidas a níveis muito acima da meta de inflação. A Tabela 4 sintetiza o
efeito dos alimentos e bebidas sobre o desvio do IPCA em relação ao centro da meta de inflação
através do IPMI. 4
 Nota-se que o IPMI dos alimentos e bebidas comercializáveis é sempre elevado em termos 
absolutos, entre 0,5 e 1,0 pontos, sendo negativo apenas em 2009. No acumulado em 12 meses de 
junho de 2011, foi de 0,65, uma redução substancial em relação aos 0,93 de dezembro, mas ainda 
acima do centro da meta. A partir de 2008, o IPMI de alimentos não comercializáveis no domicílio
passa a ser muito menor que o dos outros dois componentes. Para os alimentos e bebidas  não 
comercializáveis fora do domicílio, o IPMI foi positivo e acima de 0,20 pontos em todos os anos 
desde 2007. Em junho de 2011, subiu um pouco em relação a dezembro de 2010, chegando a 0,47 
pontos percentuais.


RESUMO: SERVIÇOS
O forte aumento dos preços dos serviços decorre de  mudanças estruturais na economia 
brasileira relacionadas à melhora da distribuição de renda e redução do desemprego, mas se torna 
mais intenso nos anos em que a economia está aquecida. A variação dos preços de alimentos e 
bebidas não-comercializáveis fora do domicílio esteve por volta de 7,7% em 2007 e 2009, mas em 
2008 e 2010, anos de crescimento econômico mais vigoroso, foi 12% e 9,8% respectivamente. O 
mesmo ocorre com os serviços pessoais: sua taxa de variação foi próxima a 7,5% em 2007 e 2009 e 
ao redor de 9,5% em 2008 e 2010. Para a maioria dos outros componentes dos serviços e para o 
grupo como um todo, esse aquecimento aparece com mais força no ano de 2010 especificamente. É 
assim com recreação (8,8% em 2010 contra 4,8% na média dos três anos anteriores), aluguel e 
condomínio (7,3% contra média anterior de 5,5%), mão-de-obra em reparos (10,6% contra 8,1%), 
serviços educacionais (6,7% contra 5,3%) e serviços de saúde (8,6% contra 6,5%). Para o todo dos 
serviços, sem serviços alimentícios, a taxa de variação foi em média 6% de 2007 a 2009 e 7,6% em 
2010


RESUMO: MONITORADOS
 Nos últimos quatro anos as taxas de variação dos preços monitorados têm em geral se 
mantido abaixo do centro da meta e auxiliado a segurar a inflação, com exceção de 2009. Tal 
resultado se deve principalmente aos preços de combustíveis, telefonia e energia elétrica. Os dois 
últimos estiveram dentre as principais fontes de pressão inflacionária da economia desde as 
privatizações até as mudanças regulatórias ocorridas em 2005 e 2006, que substituíram indexadores 
inadequados e aprimoraram regras de repasse de custos. A evolução favorável dos preços dos 
combustíveis se deveu a políticas governamentais para reduzir a volatilidade do repasse dos preços 
do petróleo – via Petrobras e por tributação – e à  difusão dos motores flex, que transformaram o 
etanol em um substituto de fato à gasolina. 
 As categorias transporte público e plano de saúde e fármacos tiveram reajustes próximos ao 
centro da meta em alguns anos e acima em outros. Em transporte público, a maior influência vem 
do ônibus urbano, que responde por mais da metade do peso da categoria. Seu reajuste está muito 
ligado ao ciclo político das eleições municipais, com reajuste médio próximo ao centro da meta em 
2007, inferior em 2008 e reajustes maiores em 2009 e 2010. Dos outros componentes, destaca-se o 
avião, que apesar de não ter peso tão alto impactou bastante a inflação com os reajustes de 32% em 
2009 e 27% no acumulado de junho de 2011. Na categoria plano de saúde e fármacos, enquanto a 
regulação dos medicamentos tem estabelecido preços máximos geralmente abaixo da meta (exceto 
em 2009), a regulação dos planos de saúde vem estipulando reajustes máximos superiores ao IPCA 
do ano anterior. Por fim, os preços da categoria  outros monitorados tiveram variação acima do 
centro da meta de 2007 a 2009 e variação negativa em 2010, com IPMI de -0,16. Destaca-se o 
subitem emplacamento e licenciamento veicular, marcado pelo ciclo político estadual, cuja variação 
foi de 8,5% em 2007, próxima à meta em 2008 e 2009 e de -9,5% em 2010. 
 Para o ano de 2011, as perspectivas de evolução dos monitorados são pessimistas. O IPMI 
do grupo era igual a -0,38 em dezembro e foi a 0,43 em junho de 2011, aumento de 0,81 pontos, o 
maior dentre os quatro grandes grupos. As principais contribuições para esse resultado vieram dos 
combustíveis, transporte público e outros monitorados. O IPMI dos combustíveis subiu 0,37 pontos, 
de -0,15 em dezembro para 0,22 em junho, em decorrência da alta do etanol e seu reflexo sobre a 
gasolina. O IPMI do  transporte público aumentou 0,19 pontos, de 0,08 para 0,27, sendo que as 
taxas de variação de quase todos os subitens se aceleraram substancialmente em relação a dezembro 
e à média dos anos anteriores. Os outros monitorados tiveram aumento de 0,15 no IPMI, de -0,16 
para -0,01, devido aos subitens taxa de água e esgoto, emplacamento e licença e jogos de azar. As 
categorias que ainda não sofreram reajustes substanciais esse ano –  plano de saúde e fármacos, 14
telefonia e energia elétrica – provavelmente terão elevações tarifárias maiores que as observadas no 
ano anterior graças à indexação à inflação alta de 2010. 


RESUMO: INDUSTRIALIZADOS
 Nos últimos anos, os produtos industrializados têm apresentado taxas de variação de preços 
inferiores ao centro da meta de inflação e IPMI entre -0,09 e -0,57. A maior parte dos bens mais 
relevantes que compõem essa categoria também teve essa evolução favorável, em razão da 
apreciação do câmbio e de ganhos de produtividade.  A variação de preços do agrupamento 
automóvel, veículo e autopeças foi de 1,3% (IPMI de -0,18) em 2007 e negativa nos outros anos 
(IPMI entre -0,23 e -0,49), em virtude de intensos  ganhos de produtividade da indústria 
automobilística e da redução do IPI em 2009. Os outros duráveis e semiduráveis também tiveram 
IPMI negativo em todos os anos (entre -0,09 e -0,30), principalmente graças aos preços dos 
eletroeletrônicos e aparelhos telefônicos, afetados pela apreciação cambial e por ganhos de 
produtividade. Retirando o subitem  cigarro dos  outros não-duráveis, apenas em 2008 o 
agrupamento teve alta de preços acima da meta (7,5%, IPMI 0,12), nos outros anos a taxa de 
variação foi entre 2,7% e 3,2% (IPMI de -0,08 a -0,06), também sob influência do câmbio. 
 Os bens industrializáveis mais relevantes que tiveram em geral aumentos de preços acima da 
meta foram o grupo vestuário e o subitem cigarro, que faz parte dos outros não-duráveis. O grupo 
vestuário, de peso 6,6%, só teve variação de preços abaixo da meta em 2007, nos outros anos variou 
entre 6,1% e 7,5% e seu IPMI ficou entre 0,10 e 0,20. O cigarro, cujo peso é de quase 1%, teve um 
aumento de preços de 27% (IPMI 0,19) em 2009, fruto de elevação de impostos, e aumentos entre 
5% e 9,6% nos outros anos (IPMI de 0,00 a 0,04). No acumulado em 12 meses de junho de 2011, o 
IPMI dos produtos industrializados continua negativo (-0,22), quase igual em relação a dezembro de 
2010 (-0,23), porque a aceleração nos preços dos não-duráveis foi compensada pela desaceleração 
dos duráveis e semiduráveis. O IPMI do  vestuário  subiu 0,07 pontos, dos  outros não duráveis
também cresceu 0,07 pontos (0,01 pontos pelo cigarro e 0,06 pelo resto do grupo), de automóvel, 
veículo e autopeças  caiu 0,08 e dos  outros duráveis e semiduráveis  caiu 0,05. Para os próximos 
meses, espera-se que o desaquecimento da economia venha pressionar para baixo os preços do setor 
como um todo.  

7. Considerações finais 
 A decomposição da variação do IPCA desde 2007 mostra uma estrutura bem definida. Os 
preços dos alimentos e bebidas têm sido os maiores responsáveis a pressionar a inflação para cima 
do centro da meta, seguidos pelos preços dos serviços. Os preços  monitorados e dos produtos 
industrializados em geral atuaram no sentido oposto, mitigando as pressões inflacionárias dos 
alimentos e serviços. 
O tripé macroeconômico metas de inflação na política monetária, câmbio flutuante e superávits 
primários na política fiscal foi adotado em 1999 e é mantido há mais de uma década. Dado que no 
regime de metas para a inflação o papel da política monetária é eminentemente reativo, respondendo 
aos desvios da inflação em relação à meta e às expectativas de inflação, podem-se apontar três 
fatores condicionantes da dinâmica inflacionária recente.  
• Em primeiro lugar, as intervenções governamentais nos preços monitorados, que até meados 
da década eram a maior fonte de pressões inflacionárias da economia brasileira e têm desde 
então ajudado a segurar a inflação. No vencimento de contratos firmados nas privatizações 
dos serviços públicos de telefonia e energia elétrica, as regras de reajustes foram alteradas, 
com a substituição de indexadores inadequados e critérios mais apropriados de repasse de 
custos e ganhos de produtividade. Para o setor de combustíveis, deu-se uma combinação de 
políticas: a Petrobras suavizando repasses dos preços internacionais do petróleo, alíquota 
variável da CIDE em sentido contrário às flutuações do preço do petróleo, e a difusão do 
etanol como substituto à gasolina pelos motores bicombustíveis. 
• Em segundo, os preços de commodities, que também são determinantes do atual padrão de 
crescimento brasileiro. Os efeitos do fortalecimento do mercado interno sobre a inflação são 
mais visíveis no setor de serviços. Nos últimos anos têm apresentado taxas de variação de 
preços acima do centro da meta, inclusive no ano de 2009, em que a economia esteve em 
recessão. Isso sugere que não se trata apenas de um aquecimento conjuntural da demanda 
agregada, mas sim de uma mudança de preços relativos na economia brasileira. 
Provavelmente é uma transformação decorrente da melhora na distribuição de renda e 
redução do desemprego, que pressionam os preços de serviços pela via de aumento de custos 
de mão-de-obra e pelo aumento da demanda por parte da população antes sem acesso a boa 
parte desses serviços. O canal de custos é mais visível em itens diretamente relacionados à 
política de valorização do salário mínimo, como  serviços pessoais  (empregado doméstico, 
cabelereiro e outros) e mão-de-obra para reparos. Tal interpretação é válida também para 
os alimentos e bebidas fora do domicílio, que sofrem pressão de custo direta pelos outros 
tipos de alimentos, mas também têm a característica de serem serviços. Embora seja uma 
mudança estrutural, o aumento dos preços dos serviços foi acentuado pelo aquecimento 
excessivo da economia em 2010. 
• Em terceiro lugar, o aquecimento do mercado interno que também provoca efeitos na 
direção oposta sobre preços de setores em que há economias de escala. É o caso dos 19
produtos industrializados, em que a expansão da demanda e do crédito ao consumo 
propiciou ganhos de produtividade no setor de bens de consumo duráveis, especialmente na 
indústria automobilística. Os preços dos produtos industrializados também são contidos pela 
taxa de câmbio, que se apreciou fortemente nos últimos anos. 
A análise dos efeitos da alta internacional dos preços de  commodities sobre a inflação 
doméstica é mais complexa no caso de economias exportadoras desses produtos, como o Brasil, 
pois é necessário separar os efeitos diretos sobre os preços de alimentos dos efeitos indiretos sobre a 
economia com a apreciação cambial. Desde 2007, nota-se que houve um repasse intenso dos preços 
internacionais para os preços internos dos alimentos comercializáveis. Entretanto, como apontam 
Lora, Powell e Tavella (2011), as pressões inflacionárias resultantes da alta internacional dos 
alimentos são fracas sobre países exportadores líquidos desses produtos se a apreciação cambial 
resultante da entrada de divisas for tolerada. Assim, não é suficiente olhar os aumentos internos dos 
preços de alimentos para dimensionar o efeito total da alta internacional das commodities sobre a 
inflação doméstica, pois essa alta gera apreciação  cambial, que alivia pressões inflacionárias de 
forma distribuída pela economia. No caso brasileiro, ainda contribui decisivamente para a 
apreciação cambial a taxa de juros excessivamente alta. 
 A partir da desagregação do IPCA, evidencia-se que a inflação não é um obstáculo estrutural 
à continuidade do recente modelo de crescimento brasileiro. A alta dos preços de commodities e o 
fortalecimento do mercado interno, que são pilares desse modelo, geram pressões inflacionárias que 
têm sido debeladas pela apreciação cambial e, em menor medida, pelos ganhos de produtividade dos 
bens de consumo duráveis. As políticas para os preços monitorados também foram decisivas para 
conter essas pressões e permitir reduções no nível  da taxa real de juros mesmo com a economia 
crescendo. 
Entretanto, para que o elevado nível da taxa de juros e o câmbio fortemente apreciado sejam 
modificados no âmbito desse modelo, faz-se necessário o uso de instrumentos alternativos para 
enfrentar a inflação. A alta taxa de juros é um determinante do câmbio apreciado, encarece o custo 
da dívida pública e inibe o desenvolvimento de fontes privadas para o financiamento de longo 
prazo. A taxa de câmbio excessivamente apreciada compromete parte da competitividade da 
indústria. Mas tanto os juros não podem ser reduzidos por mera vontade do Banco Central quanto a 
apreciação cambial não pode ser contida pela intervenção direta no mercado de divisas sem que a 
inflação saia de controle. Os objetivos de taxas de juros menores e câmbio competitivo não podem 
ser alcançados sem o emprego concomitante de outros instrumentos de política. O próprio Banco 
Central recentemente tem caminhado nessa direção, ao fazer uso do compulsório e de controles do 
crédito ao consumo, simultaneamente ao aumento da Selic, para reverter o aumento da inflação. 
Portanto, faz-se necessário desenvolver métodos de  avaliação da eficácia dos atuais mecanismos 
alternativos adotados de controle da inflação, como as políticas para os preços monitorados e o 
controle de crédito, e elaborar novos instrumentos simultâneos ao regime de metas. 



Alimentos e serviços puxam inflação desde 2006, diz Ipea

Autor(es): Aricia Martins | De São Paulo
Valor Econômico - 22/07/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/7/22/alimentos-e-servicos-puxam-inflacao-desde-2006-diz-ipea
 

Os alimentos são a principal fonte de pressões inflacionárias da economia brasileira a partir de 2006, ano em que houve mudança na dinâmica do aumento de preços, seguidos do grupo serviços, conclui estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado ontem e denominado "A dinâmica da inflação brasileira: considerações a partir da desagregação do IPCA". Os preços de itens monitorados, administrados por contrato, e de produtos industrializados, por sua vez, têm segurado a inflação nos últimos anos.
"Uma inflação ao redor de 5% é um nível adequado e aceito pela sociedade e uma redução rápida nesse nível arcaria com custos maiores, com impacto direto na geração de renda", avalia o coordenador de regimes monetários e cambiais do Ipea, Thiago Martinez. "A inflação não é um obstáculo estrutural para o modelo de continuidade do crescimento brasileiro e não há risco dela explodir", disse depois de apresentar o estudo.
"A distribuição de renda gera impacto sobre a inflação, e é bom que gere. É bom que suba o salário do empregado doméstico", disse. No estudo, o Ipea conclui que a melhora da distribuição de renda e a política de ganhos reais do salário mínimo são os principais fatores que mantêm os preços de serviços pressionados acima da meta de inflação nos últimos anos.
Segundo Martinez, não é necessária no atual momento da economia uma política para reduzir rapidamente a inflação, que está em 6,71% em 12 meses, acima do teto da meta de 6,5% estabelecida pelo governo. "Agora estamos um pouco acima da meta, mas um nível em cerca de 5% é adequado para atingir níveis de distribuição de renda", concluiu o coordenador.
Segundo o instituto, a alta das commodities no mercado externo nos últimos anos é o principal responsável pela escalada interna no preço dos alimentos, junto ao fortalecimento do mercado interno e aquecimento da economia, que também pressionam os serviços.
Os preços monitorados foram responsáveis por mais da metade de toda a pressão inflacionária para cima das metas entre 2000 e 2005, mas passaram a contribuir negativamente para os índices a partir de 2006 devido à mudança em regras de contrato com novos indexadores.
Os serviços de telefonia deixaram de ser reajustados pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) e foi criado um indicador específico, o Índice de Serviços de Telecomunicações (IST). As tarifas de energia passaram a ser reajustadas pelo IPCA.
O Ipea aponta a atuação do governo sobre o preço dos combustíveis como fator atenuante para a inflação dos monitorados, já que a Petrobras demora a repassar altas do petróleo no mercado internacional e também controla os preços por meio de variação na alíquota da Contribuição por Intervenção de Domínio Econômico (Cide). A popularização do carro flex também ajuda a manter os preços da gasolina estáveis, com a concorrência do etanol.
Sobre os produtos industriais, o Ipea afirma que a taxa de câmbio é determinante para que eles continuem contribuindo com a inflação, já que a concorrência do produto importado pressiona os produtores nacionais a manter os preços em níveis menos pressionado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário