terça-feira, 26 de julho de 2011

De novo, os usineiros

Brasil S.A
Autor(es): Márcio Pacelli
Correio Braziliense - 25/07/2011



Depois de despencar 16,53% entre maio e junho, conforme medição do Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), o etanol subiu inesperado 1,79% entre junho e julho

Está sobre a mesa do ministro Edison Lobão, de Minas e Energia, uma proposta do governo que planeja colocar um ponto final à falta de álcool no mercado, aos preços elevados do combustível e à consequente pressão na inflação. Se os produtores de cana-de-açúcar aceitarem as exigências pela manutenção da oferta, eles receberão recursos subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), via Banco do Brasil, para financiar estoques reguladores. A expectativa é de que os dois lados cheguem a um acordo ainda esta semana para que ele seja submetido à presidente Dilma Rousseff.
"Vamos baixar uma medida legal com a proposta de financiamento a juros subsidiados para a renovação dos estoques de etanol", anunciou uma fonte do governo com assento no grupo de discussão formado pelos ministérios da Agricultura, da Fazenda e de Minas e Energia, além da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e entidades privadas, como a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Resta saber se, em troca de garantias contra o desabastecimento, o governo não vai, mais uma vez, ceder ao lobby de um setor que historicamente se beneficiou do dinheiro do contribuinte e pouco se comprometeu com a modernização da economia.
Há três anos, a falta de estoques de álcool vem resultando em uma fatura indigesta em todo mês de março, o último da entressafra. Sem cana para a moagem, os preços do combustível costumam ir às alturas e pressionam os índices de inflação. Cíclico, esse movimento é revertido com o início da colheita, em maio. Mas, neste ano, a produção não está dando conta da forte procura pelo combustível, e os preços já esboçam reação em plena safra. Depois de despencar 16,53% entre maio e junho, conforme medição do Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), o etanol subiu inesperado 1,79% entre junho e julho.
Risco para o BC
Na segunda semana deste mês, Brasília puxou a alta do etanol no país: o litro do combustível subiu 3,98%, segundo a ANP. Na capital federal, o reajuste não foi exatamente uma surpresa. O Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF) avisou, em junho, que as usinas haviam anunciado um aumento de 19% para as distribuidoras do biocombustível — ônus que os postos não assumiriam.
O risco de uma nova curva ascendente no preço dos combustíveis, no momento em que se esperava um pouso suave no segmento, tem tirado o sono da equipe econômica. Diante de uma inflação acumulada em 12 meses de 6,75% em julho (acima do teto da meta, de 6,5%), dificilmente o Banco Central vai permitir uma parada no aumento da taxa básica de juros (Selic) em agosto, como se cogita, se houver pressão do álcool. A prévia da inflação oficial mostrou um recuo de 0,23% para 0,10% de junho para julho. Mas, de um mês para o outro, a gasolina, que leva 25% do etanol, teve deflação menos intensa — caiu de -3,43% para -1,49%.
Uma solução que viabilize a formação de estoques reguladores de álcool não deve conter, de imediato, a alta de preços, mas tende a sinalizar que, pelo menos em 2012, o país ficará livre do problema. Por ora, a solução encontrada pelo governo é importar mais etanol e fazer a Petrobras aumentar a produção do biocombustível. A fonte do governo garante que a estatal deve dobrar sua oferta ao mercado, elevando a fatia atual de 5% para algo em torno de 10%, o que ajudaria a amenizar a falta do produto e a segurar os preços.
Garantias do acerto
O grupo formado para discutir o "problema etanol" debate também o tamanho dos estoques reguladores. Uma sugestão é de que os plantadores de cana cheguem ao fim da entressafra com 8% da produção anual armazenados. Os produtores torcem o nariz para a proposta, mas ainda não discutiram oficialmente a oferta do fiananciamento do BNDES. Para a fonte do governo, entretanto, haverá um preço para um acerto final: "Queremos saber quais garantias eles nos darão a fim de que não falte álcool para o consumidor".
Procurada, a Unica avisou que não fala sobre as negociações antes do desfecho. Mas seu presidente, Marcos Jank, fatalmente será cobrado pelos ministros de Dilma a convencer os usineiros a aumentarem a produção, mesmo após a revisão de queda da safra de cana 2011/2012 no Centro-Sul do país. A entidade refez as contas e anunciou: a colheita será 4,21% menor que em 2010/2011 e, por tabela, a produção de etanol vai a 22,54 bilhões de litros, quantidade 11,2% abaixo do obtido no período anterior.
Especialistas do setor de combustíveis alegam que dificilmente o governo conseguirá fazer os produtores oferecerem mais etanol ao mercado neste ano. Pior: para não pressionar a inflação, além da proibição de reajustar a gasolina, a Petrobras foi forçada a cortar R$ 35 bilhões de seu plano de negócios — o que retira o etanol das prioridades. A curto prazo, resta a solução de sempre: reduzir a mistura na gasolina para 18% como forma de abrandar o impacto inflacionário. Como consequência, o programa do biocombustível brasileiro, um projeto ecológico elogiado mundo afora, seguirá mais uma vez ao sabor da vontade dos usineiros.

Inflação do etanol é a pior em 8 anos

Autor(es): Alessandra Saraiva e Sergio Torres
O Estado de S. Paulo - 25/07/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/7/25/inflacao-do-etanol-e-a-pior-em-8-anos
 

Preços do álcool anidro, utilizado na mistura da gasolina, subiram 46,08% no atacado em 12 meses segundo levantamento da FGV

Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que a inflação acumulada do álcool anidro atingiu em 2011 o maior patamar em oito anos em um mês de junho. Em comportamento atípico para o período de safra de cana-de-açúcar, o produto no atacado subiu 46,08% em 12 meses.
Feito a pedido da Agência Estado, o estudo indica que o impacto chegou ao varejo e elevou os preços do álcool combustível e da gasolina para o consumidor. O álcool anidro é usado na mistura da gasolina.
O quadro de preços altos e carência de oferta de etanol tende a se manter nos próximos dez anos, revela outro estudo, feito pela consultoria Projeto Brasil Sustentável, especializada no segmento sucroalcooleiro.
Mantidas as recentes taxas de evolução do setor, nas próximas cinco safras, haverá déficit de mais de 25% da oferta de etanol em relação à demanda. A produção anual estimada será de 780 milhões de toneladas de cana, enquanto o mercado só estará bem atendido com um mínimo de 980 milhões de toneladas.
Na extensão do cenário para dez safras, a situação piora. Em 2021, a oferta de etanol estará 40% menor que a necessidade do mercado. A safra será de 970 milhões de toneladas para um consumo superior a 1,3 bilhão.
A atual oferta de cana não consegue atender à crescente demanda por açúcar e etanol, alerta o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. "Os preços deveriam estar caindo nesta época."
O anidro mais caro afeta a evolução dos indicadores inflacionários do varejo. O preço do etanol gerou uma migração de consumidores para a gasolina, que também tem anidro na fórmula.
No Índice de Preços ao Consumidor - Brasil (IPC-BR), calculado pela FGV, o álcool combustível acumula alta de 29,12% em 12 meses, também a mais elevada em oito anos. A gasolina subiu 7,70%, o mais forte aumento em cinco anos para o período.
No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de julho, prévia do IPCA, referência como meta inflacionária, os combustíveis tiveram trajetória incomum, diz a coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos.
O preço da gasolina caiu 3,43% em junho e 1,49% em julho - reduzindo pela metade o ritmo de queda. Já o etanol subiu 1,79% em julho, após cair 16,53% em junho. Juntos, os combustíveis respondem por cerca de 4,5% do IPCA e normalmente recuam nesta época do ano, segundo a coordenadora. "Pelo que observamos na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), o peso do etanol tende a aumentar no IPCA", disse Eulina.
Área plantada. A cana ocupa cerca de 7 milhões de hectares (2% da terra arável do país), de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Antes da crise global de 2008, a área plantada de cana crescia 10% ao ano. Cresce hoje de 2% a 3%.
Desde 2008 o setor amarga menos crédito à indústria e não recuperou níveis de investimento do pré-crise, lamenta o presidente da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), Ismael Perina Júnior.
"Sem novos investimentos, a produtividade cai. E tivemos problemas com o clima. Em 2009, chuvas constantes. em 2010, secas. Este ano, geadas afetaram a qualidade da cana e reduziram o potencial de produção de açúcar". A projeção de produção de cana do Centro-Sul do País na safra 2011/12 caiu de 560 milhões para 530 milhões de toneladas.
As incertezas diminuíram o ritmo de abertura de novas usinas de etanol. Hoje são 426 no país. E a cada ano, surgem menos: 30 em 2008, 19 em 2009, 10 em 2010 e quatro em 2011.
Com a menor oferta, o governo discute com a iniciativa privada a redução da mistura de 25% do anidro na gasolina, o que não é comum para esta época do ano. "Isso não elevará a oferta de cana. Temos hoje a mesma oferta que tínhamos há três anos, enquanto a demanda cresce", disse Antônio Pádua Rodrigues, diretor da Unica.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) calcula que a demanda por etanol triplicará em uma década. Passará de 27 bilhões de litros em 2010 para 73 bilhões em 2020.

Oferta de cana será 25% inferior à demanda por etanol

O Estado de S. Paulo - 25/07/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/7/25/oferta-de-cana-sera-25-inferior-a-demanda-por-etanol
 

Desde 2003, a frota brasileira equipada com motor flex aumentou de 48,2 mil para 2,79 milhões de veículos em 2010. Dados dos fabricantes indicam que, na maioria das vezes, modelos flex são abastecidos com etanol. Só nos últimos cinco anos, a frota de carros flex cresceu 23% ao ano, enquanto o volume de cana moída aumentou 8%. Para analistas, mantida a atual taxa de crescimento, haverá defasagem de 25% na relação oferta/demanda nas próximas cinco safras. Serão produzidos 780 milhões de toneladas de cana, ante necessidade de 980 milhões. O déficit chegará a 40% em dez safras. A expectativa é que a produção de cana será insuficiente para atender a demanda por etanol já neste ano.

Recuperação dos canaviais pode custar R$ 6 bilhões ao setor

Autor(es): Eduardo Magossi
O Estado de S. Paulo - 25/07/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/7/25/recuperacao-dos-canaviais-pode-custar-r-6-bilhoes-ao-setor
 

Expectativa é que usinas de etanol só recuperem 100 milhões de toneladas de capacidade ociosa após três safras

O setor sucroalcooleiro vai demorar pelo menos três safras para reocupar a capacidade industrial das usinas do Centro-Sul, atualmente de 630 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, que está ociosa em pelo menos 100 milhões de toneladas.
A crise econômica mundial e dois anos de clima adverso ( alternando extensos períodos de chuva com estiagem) foram suficientes para reduzir a produção de cana da região para 533,5 milhões de toneladas, de acordo com a mais recente estimativa da União da Indústria de Cana-de-Açúcar.
"Serão necessários investimentos de R$ 6 bilhões apenas no plantio de cana para que o setor opere com capacidade plena", explica o diretor de Alexandre Figliolino, diretor comercial especializado no setor sucroalcooleiro do Itaú BBA.
Embora muitas empresas já estejam investindo na ampliação de seus canaviais, estes aportes não apresentarão resultado no curto prazo. A variedade de cana-de-açúcar com menor prazo de maturação demora 12 meses para ser colhida.
"Está havendo um esforço grande de reforma de canaviais. Todos os grupos estão investindo em cana", afirma o presidente da Datagro Consultoria, o economista Plínio Nastari. Empresas como Raízen, São Martinho, Guarani, Bunge e Shree Renuka anunciaram recentemente investimentos expressivos na recomposição de seus canaviais.
Nastari lembra, no entanto, que a disponibilidade apertada de cana atual não é mais uma questão apenas financeira, mas também agronômica, fator que restringiu o plantio nas duas últimas safras. "Temos que sempre monitorar o clima", afirma.
Preços. Apesar dos investimentos dos produtores, o executivo adverte que o esforço será insuficiente para gerar um excesso de oferta capaz de afrouxar os atuais preços do açúcar e do etanol, que devem seguir elevados nos próximos três anos.
No caso do mercado interno do etanol, isso significa que as cotações não cairão para níveis muito baixos durante a safra, mas também não deverão subir de forma expressiva durante o período de entressafra.
O consultor avalia que a expansão da utilização do etanol no País vai voltar a crescer, mas de forma mais lenta. "Em 2010, o etanol já substituiu 44,5% da gasolina no Brasil, um valor que é excepcional. Nos Estados Unidos, o programa de etanol substitui apenas 10% da gasolina".
Segundo ele, a utilização do etanol como combustível vai ultrapassar os 50%, mas não há espaço para que um crescimento maior ocorra. "O preço da gasolina é um teto para o consumo do etanol e, enquanto o preço do etanol é volátil, os valores da gasolina seguem inalterados artificialmente há cinco anos". disse.
Cálculos do pesquisador Leonardo Zílio, do Centro de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (PECEGE) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), revelam que, de 2007 a 2010, os custos de produção agrícolas e industriais do etanol anidro subiram 35,13% em termos nominais.
Na prática, esses custos precisariam ser repassados para o consumidor para remunerar o produtor, mas, com o preço da gasolina sempre atuando como teto para o preço do etanol, a margem do produtor está desaparecendo. Zílio informa que, em 2010, o custo de produção de anidro estava em R$ 1,00 por litro.
Paralisação. Se as empresas estão investindo na ampliação de seus canaviais, investimentos em áreas totalmente novas estão praticamente paralisados. "Três novas usinas entrarão em operação nesta safra e para a safra que vem o número deve ser ainda menor", diz Nastari. Para os especialistas, o preço fixo da gasolina, entre outras razões, geram insegurança no setor para a construção de novas usinas.
O presidente da Bunge Brasil, Pedro Parente, disse, na semana passada, que o governo precisa tomar cuidado com medidas que possam desestimular os investimentos no setor de etanol do Brasil, como a gestão da mistura de anidro na gasolina. "Uma medida que parece boa no curto prazo pode criar problemas que prejudicarão o setor no longo prazo", disse ele.
Figliolino, do Itaú BBA, acredita que o setor precisa de uma sinalização firme do governo de que não vai intervir, para que os investidores se sintam seguros para voltar a investir em novas usinas. Segundo ele, estímulos mais fortes para a produção de energia elétrica através de cogeração de biomassa seriam, por exemplo, um sinal positivo para investidores.

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