O Deutsche Bank dá um “exemplo” da solidariedade europeia ao reduzir, nos primeiros seis meses de 2011, cerca de 70% da sua exposição aos títulos da dívida soberana de Grécia, Irlanda, Portugal, Itália e Espanha. Isto indica que enquanto o custo dos títulos da dívida soberana aumenta de forma imparável, o Deutsche Bank, desfaz-se destes títulos aumentando ainda mais a instabilidade nos países da periferia. A tese do “salve-se quem puder” parece ser apontada pelo próprio Deutsche Bank. O artigo é de Marco Antonio Moreno.
Marco Antonio Moreno
Isto ajuda-nos a compreender o forte aumento do custo destes títulos da dívida soberana, que começou a subir aceleradamente (ver tabelas para o caso italiano e para o caso grego) apesar dos planos de resgate. A seguinte informação foi publicada no jornal “El Pais”:
“O banco alemão Deutsche Bank reduziu em cerca de 70% a sua exposição à dívida emitida pelos países da periferia do euro como Espanha, Portugal, Irlanda, Grécia e Itália, nos primeiros seis meses do ano, para 3.669 bilhões de euros segundo informou aquela entidade. Em concreto, o maior banco alemão em ativos informou que a 30 de junho a sua exposição líquida à dívida soberana espanhola era de 1.070 bilhões de euros, 53% menos do que no final de 2010, enquanto que cortou 87,5% da sua exposição à dívida italiana, que se situou em 996 milhões. A entidade alemã precisou que a sua exposição à dívida emitida pela Grécia totalizava a 30 de junho 1.154 bilhões de euros, face a 1.601 no final de 2010.”
Isto indica que enquanto o custo dos títulos da dívida soberana aumenta de forma imparável, o Deutsche Bank, desfaz-se destes títulos aumentando ainda mais a instabilidade nos países da periferia. A tese do “salve-se quem puder” parece ser apontada pelo próprio Deutsche Bank. De nada serviu o último informe do FMI comandado por Dominique Strauss-Kahn, que assinalou que a Alemanha não estava a actuar como uma locomotiva europeia. Este dado confirma que a Alemanha se converteu no principal inimigo da moeda única.
É preciso recordar que durante os anos do boom europeu, os bancos alemães estavam felizes por emprestar dinheiro a Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha, países que, por um lado, o pediam para alimentar a bolha em marcha, como revela para o caso espanhol o informe DRYe, por outro, pela convicção de que os títulos gregos eram como os alemães, quase, quase irmãos de sangue...
Esta irmandade foi a que durante uma década levou os bancos alemães e franceses a conceder polpudos empréstimos aos gregos e aos espanhóis que hoje, com toda a certeza, continuariam caso não tivesse existido o choque de uma forte crise financeira que não estava nos cálculos da banca.
Agora, juntamente com as exigências a estes países para assumirem “planos de austeridade” forçados (que mais não são que uma fórmula para a desvalorização interna, isto é: drásticas reduções nos salários e na despesa pública), os bancos alemães apressam-se a liquidar uma dívida que vêem com sérios problemas de ser paga.
E quem pensava que o resgate à Grécia oferecido pela troika do BCE, FMI e UE era um resgate para ajudar o povo grego, terá uma profunda decepção ao verificar que será o próprio Deutsch Bank juntamente com o BNP Paribas e o HSBC que, sob o pretexto de travar a crise da dívida soberana, administrarão o fundo de resgate. Isto foi confirmado pelo próprio ministro das finanças grego, como noticia a Bloomberg.
O plano de resgate não vai restaurar o crescimento econômico dado que é simplesmente uma transferência de recursos para a grande banca europeia. A zona euro, em definitivo, confronta-se com um desafio aterrador da dívida soberana, agravada pela dependência dos seus bancos que têm o apoio dos seus governos e de Estados fortemente dependentes destes bancos. Este fenômeno está acelerando a já incalculável transferência de riqueza do trabalho para o capital, processo que está tendo lugar não só na Europa, mas também nos Estados Unidos, e que ameaça destruir não só o Estado de Bem-Estar mas também toda a classe trabalhadora.
(*) Artigo de Marco Antonio Moreno publicado em El Blog Salmón, traduzido por Carlos Santos para Esquerda.net
“O banco alemão Deutsche Bank reduziu em cerca de 70% a sua exposição à dívida emitida pelos países da periferia do euro como Espanha, Portugal, Irlanda, Grécia e Itália, nos primeiros seis meses do ano, para 3.669 bilhões de euros segundo informou aquela entidade. Em concreto, o maior banco alemão em ativos informou que a 30 de junho a sua exposição líquida à dívida soberana espanhola era de 1.070 bilhões de euros, 53% menos do que no final de 2010, enquanto que cortou 87,5% da sua exposição à dívida italiana, que se situou em 996 milhões. A entidade alemã precisou que a sua exposição à dívida emitida pela Grécia totalizava a 30 de junho 1.154 bilhões de euros, face a 1.601 no final de 2010.”
Isto indica que enquanto o custo dos títulos da dívida soberana aumenta de forma imparável, o Deutsche Bank, desfaz-se destes títulos aumentando ainda mais a instabilidade nos países da periferia. A tese do “salve-se quem puder” parece ser apontada pelo próprio Deutsche Bank. De nada serviu o último informe do FMI comandado por Dominique Strauss-Kahn, que assinalou que a Alemanha não estava a actuar como uma locomotiva europeia. Este dado confirma que a Alemanha se converteu no principal inimigo da moeda única.
É preciso recordar que durante os anos do boom europeu, os bancos alemães estavam felizes por emprestar dinheiro a Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha, países que, por um lado, o pediam para alimentar a bolha em marcha, como revela para o caso espanhol o informe DRYe, por outro, pela convicção de que os títulos gregos eram como os alemães, quase, quase irmãos de sangue...
Esta irmandade foi a que durante uma década levou os bancos alemães e franceses a conceder polpudos empréstimos aos gregos e aos espanhóis que hoje, com toda a certeza, continuariam caso não tivesse existido o choque de uma forte crise financeira que não estava nos cálculos da banca.
Agora, juntamente com as exigências a estes países para assumirem “planos de austeridade” forçados (que mais não são que uma fórmula para a desvalorização interna, isto é: drásticas reduções nos salários e na despesa pública), os bancos alemães apressam-se a liquidar uma dívida que vêem com sérios problemas de ser paga.
E quem pensava que o resgate à Grécia oferecido pela troika do BCE, FMI e UE era um resgate para ajudar o povo grego, terá uma profunda decepção ao verificar que será o próprio Deutsch Bank juntamente com o BNP Paribas e o HSBC que, sob o pretexto de travar a crise da dívida soberana, administrarão o fundo de resgate. Isto foi confirmado pelo próprio ministro das finanças grego, como noticia a Bloomberg.
O plano de resgate não vai restaurar o crescimento econômico dado que é simplesmente uma transferência de recursos para a grande banca europeia. A zona euro, em definitivo, confronta-se com um desafio aterrador da dívida soberana, agravada pela dependência dos seus bancos que têm o apoio dos seus governos e de Estados fortemente dependentes destes bancos. Este fenômeno está acelerando a já incalculável transferência de riqueza do trabalho para o capital, processo que está tendo lugar não só na Europa, mas também nos Estados Unidos, e que ameaça destruir não só o Estado de Bem-Estar mas também toda a classe trabalhadora.
(*) Artigo de Marco Antonio Moreno publicado em El Blog Salmón, traduzido por Carlos Santos para Esquerda.net
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