Autor(es): Cristian Klein | De São Paulo |
Valor Econômico - 25/07/2011 |
A dificuldade da presidente Dilma Rousseff de fazer valer sua intenção de renovar Furnas remete ao tradicional insulamento de poderosos interesses representados nas diretorias da estatal, que, quando ameaçados, já causaram a maior crise enfrentada pelo PT. O estouro do escândalo do mensalão, em 2005, é geralmente associado à reação do então deputado federal e presidente do PTB, Roberto Jefferson, às acusações de corrupção nos Correios, estatal que era controlada por seu partido. Mas as denúncias nos Correios eram um revés de Jefferson numa guerra maior, que remonta a uma intensa disputa em torno de uma cobiçada diretoria de Furnas: a de Planejamento, Engenharia e Construção (DT), hoje subdividida nas diretorias de Engenharia (DE) e Construção (DC). Mesmo dois anos após assumir o governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não havia conseguido tirar da diretoria o polêmico mineiro Dimas Fabiano Toledo. Técnico de carreira, mas muito ligado à administração do PSDB, Toledo era suspeito de utilizar a proximidade com empreiteiras, que o cargo proporcionava, para arrecadar recursos para campanhas eleitorais. Segundo declarações de Roberto Jefferson à época, Lula considerava Toledo "extremamente tucano" e cobrava sua saída, o que não acontecia. O ex-presidente teria ficado especialmente irritado por ter transferido R$ 1,5 milhão para a Cemig, para fazer o programa Luz para Todos em favelas mineiras, e ver o crédito nas placas atribuído ao governo Aécio Neves (PSDB). Como Lula queria nomear para o cargo um nome do PTB, escalou Roberto Jefferson para a tarefa de derrubar Dimas Toledo. Jefferson, segundo conta em seu livro "Nervos de aço", chegou a recusar o cargo, pois já havia feito um acordo com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, no qual R$ 4 milhões arrecadados de empresas interessadas em contratos com Furnas seriam divididos entre o PT, o PTB (R$ 1,5 milhão para cada) e Toledo, que, em troca, permaneceria no posto. Lula, ainda segundo o relato de Jefferson, teria ficado indignado com o acordo feito à sua revelia e ameaçado dar o cargo para outro partido. Diante da possibilidade de perder influência sobre a diretoria, Jefferson lançou-se em rota de colisão com Dimas Toledo. A divulgação de fitas sobre a corrupção nos Correios, envolvendo Roberto Jefferson - que resolveu então abrir a boca e revelar o esquema de pagamentos mensais a parlamentares para obtenção de apoio ao governo no Congresso - é considerada uma retaliação de Dimas Toledo, por ter perdido o cargo em Furnas. A Toledo também é atribuída a elaboração de uma lista com nomes de mais de 150 políticos, a maior parte de partidos aliados que sustentavam o governo Fernando Henrique Cardoso, que receberam doações de caixa 2 arrecadadas por ele. A chamada "lista de Furnas" seria um trunfo de Toledo para que políticos beneficiados pelo esquema e interessados na não divulgação de seus nomes pressionassem o governo por sua manutenção na DT. Durante as investigações do mensalão, diante da convocação do publicitário Marcos Valério, protagonista do esquema, petistas forçaram, por sua vez, o depoimento de Dimas Toledo com o objetivo de incluir a oposição no escândalo. Segundo uma fonte com ligações com Furnas, o ex-diretor ainda teria influência na empresa. |
terça-feira, 26 de julho de 2011
Estatal foi o estopim do mensalão no governo Lula
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