terça-feira, 26 de julho de 2011

Private equity tem captação e investimento recordes no país

Autor(es): Vinícius Pinheiro | De São Paulo
Valor Econômico - 25/07/2011
 

Capital de risco: Analistas estimam que aquisições podem chegar a US$ 10 bilhões no ano
 
O mercado brasileiro de fundos de "private equity" - que compram participações em empresas de capital fechado - virou um jogo para gente cada vez maior. Em um espaço de pouco menos de um mês, duas das principais gestoras nacionais, Vinci Partners e BTG Pactual, fecharam captações dos dois maiores fundos já destinados ao país, de US$ 1,4 bilhão e US$ 1,6 bilhão, respectivamente. O recorde pode ser batido novamente pela gestora Gávea, que também está para concluir uma captação bilionária. Estima-se que atualmente existam outros US$ 9 bilhões em fase de captação.Não só a captação neste ano deverá ser recorde, como também o volume efetivamente investido na compra de participação em empresas por fundos nacionais e estrangeiros. Especialistas estimam que a cifra chegue ao patamar de US$ 10 bilhões, superando em quase 60% os US$ 6,3 bilhões aplicados no ano passado
Com isso, os fundos de private equity já rivalizam com as ofertas de ações como fonte de recursos para as empresas. No ano passado, as ofertas primárias de ações, que representam dinheiro no caixa das companhias, totalizaram R$ 10 bilhões. Vale lembrar que muitas vezes os private equity entram comprando fatias de outros acionistas e não injetando dinheiro novo nas empresas.
No primeiro semestre, no entanto, as aquisições ficaram aquém do esperado, período em que vários fundos se posicionaram na ponta vendedora, mas a estimativa de US$ 10 bilhões se mantém nos cálculos de agentes da indústria.
Ainda que de forma mais seletiva, os pesos-pesados do setor aproveitaram os cofres cheios e partiram para o ataque. A Advent, que no ano passado levantou US$ 1,65 bilhão para investir na América Latina, adquiriu 50% do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) por R$ 835 milhões. O primeiro negócio do fundo de US$ 1,7 bilhão da argentina Southern Cross também foi no Brasil, com a aquisição da fabricante gaúcha de utensílios de cozinha Brinox.
Conhecido por adotar uma postura mais ativa, logo após captar seu primeiro fundo, o BTG Pactual não perdeu tempo e entrou nas negociações - por ora frustradas - para a criação do Novo Pão de Açúcar, que reuniria os ativos da rede de supermercados comandada por Abílio Diniz com os do Carrefour. O fundo, porém, já conta com outras duas empresas: a Brasbunker, que atua na prestação de serviços para a indústria de petróleo, e a rede de drogarias Brazil Pharma.
A lista de gestores com fundos bilionários na praça inclui ainda a Vinci Partners, do ex-Pactual Gilberto Sayão, que já alocou uma parte dos US$ 1,4 bilhão obtido dos investidores na masterfranqueada da rede de fast food Burger King no Brasil e na empresa de locação de veículos Unidas (ao lado da Kinea, do Itaú, e da Gávea).
Com a maior competitividade em torno dos projetos, o aumento no tamanho dos fundos é uma tendência para o setor, segundo o superintendente executivo de private equity do Banco Santander, Geoffrey Cleaver. "Os cheques têm ficado cada vez maiores para compensar a rentabilidade mais apertada dos projetos", diz. O investimento médio dos fundos com foco em infraestrutura, que girava em torno de R$ 50 milhões, subiu para R$ 200 milhões, o que eleva o patrimônio necessário desses fundo para a casa de R$ 2 bilhões, afirma o executivo.
Além das gestoras tradicionais, os investimentos no País devem ser reforçados ainda pelos chamados fundos "fly-in", de empresas estrangeiras que não possuem escritórios nem portfólios dedicados exclusivamente ao país. Em 2010, eles responderam por mais de um terço dos negócios dos private equity.
O crescente interesse em ativos brasileiros coincide com a demanda das empresas em angariar recursos para financiar seus planos de expansão, o que cria condições ideais para o volume de investimentos aumentar ainda mais, avalia Alexandre Pierantoni, sócio da PwC Brasil. A empresa de auditoria e consultoria estima que 43% dos negócios de fusões e aquisições anunciados no país neste ano até junho tenham participação de private equity. Em 2006 essa participação era de 11%.
"Todos os grandes gestores internacionais possuem ou planejam ter presença no Brasil", diz Pierantoni. Não por acaso, importantes negócios do ano passado envolveram a compra de participações em gestoras nacionais, incluindo a entrada da Blackstone no capital do Pátria Investimentos e a aquisição do controle da Gávea pela Highbridge, braço de investimentos alternativos do J.P. Morgan.
Apesar do apetite por aquisições e dos recursos disponíveis, os negócios ainda estão aquém do potencial. De um modo geral, o número de operações de fusões e aquisições recuou 9% no primeiro semestre deste ano, segundo levantamento da PwC. No período, as gestoras de private equity apareceram com destaque na venda de participações, especialmente em ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês).
O ritmo mais lento é resultado de uma maior seletividade dos gestores, segundo Leonardo Ribeiro, sócio da gestora Ocroma. "Em busca de condições mais favoráveis para o fundo, as negociações acabam levando um tempo maior para ser concluídas", afirma. A chegada dos grandes fundos aumentou ainda a concorrência por potenciais ativos, algo relativamente novo no mercado brasileiro.

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