terça-feira, 26 de julho de 2011

Concessão de selo florestal será feita com mais rigor

Autor(es): Sérgio Adeodato | Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico - 25/07/2011
 

Mercado : Cresce número de produtos com certificado FSC no mundo

Das caixas de suco e leite às embalagens de pizza, cadernos, livros, papéis para imprimir, móveis, utensílios domésticos e madeira para a construção civil, são cada vez mais numerosos os produtos que chegam às vitrines estampando o selo da árvore verde, conferido pelo Forest Stewardschip Council (FSC). O emblema, que se torna popular também no Brasil, é reconhecido no mundo por diferenciar itens fabricados a partir da exploração de florestas com baixo impacto e critérios socioambientais. Nos últimos três anos, a quantidade de artigos com o atestado pulou de 11,1 mil para 20,8 mil, em todos os continentes. "Para que o brusco crescimento da certificação não afete a sua credibilidade, novas medidas estão sendo tomadas para maior rigidez e controle da origem", revela Maurício Voivodic, secretário-executivo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
O desafio, segundo ele, centralizou os debates na última assembleia geral do FSC, realizada na Malásia, em junho, com participação de ambientalistas, empresas, movimentos sociais e outros grupos de interesse na questão florestal. A certificação envolve mudanças produtivas que interferem no mercado, balizam políticas públicas e, em muitos casos, moldam a agenda de investimentos das empresas. É vista como ferramenta estratégica para diferenciação no mercado, na perspectiva de melhores preços e conquista de maior espaço e competitividade - esse cenário se reflete nos resultados da balança comercial dos países produtores e consumidores. A complexidade de interesses é retratada nas reuniões globais do FSC, nas quais são debatidas e votadas moções capazes de influenciar a exploração florestal naturais ou plantadas em todo o planeta.
As decisões tomadas na Malásia incluem mudanças no sistema de controle da madeira. A questão se refere ao conceito de "fontes mistas", que permite misturar em um mesmo produto material obtido de floresta certificada com o proveniente de outras áreas, desde que submetido a uma política de controle da própria empresa junto a seus fornecedores. Critérios mínimos, como cumprimento da lei e redução de impactos sociais, precisam ser obrigatoriamente aplicados na auto-avaliação. "O modelo foi criado para dar flexibilidade e atrair para práticas socioambientais setores produtivos que, por falta de escala, não podiam abastecer o mercado apenas com matéria-prima certificada", explica Voivodic. Ele completa: "o problema é que o sistema flexível se mostrou frágil, com falta de transparência, representando grande risco à reputação do FSC".
Após questionamento de organizações ambientalistas, ficou decidido que as instituições certificadoras independentes, credenciadas pelo FSC, serão responsáveis pela avaliação dos fornecedores - e não a empresa compradora do insumo. A regra entra em vigorar no fim de 2012. A medida teve o apoio de grandes corporações que investiram na certificação e não desejam amargar perdas em função de problemas de credibilidade do sistema.
A mudança dará maior garantia para o consumo responsável na ponta final da cadeia. Cresce a consciência de que a decisão de compra nas cidades tem conexão direta com a realidade da floresta tanto sob o ponto de vista ambiental como econômico e social. Em um ano e meio, o número de produtos industrializados de origem florestal com o selo verde dobrou no Brasil, atingindo em junho um total de 671.
O manejo florestal deverá se integrar aos esforços contra o agravamento das mudanças climáticas. Para a certificação, a empresas florestais terão que implementar medidas para reduzir gases do efeito estufa. "As novas decisões fortalecem a certificação como instrumento de mercado e de transformações ambientais e sociais", afirma Fabíola Zerbini, secretária-executiva do FSC Brasil. A entidade vai direcionar energia e recursos para tornar o selo acessível a extrativistas e pequenos produtores e, até novembro deste ano, será concluída uma nova versão mais restritiva e exigente para as regras socioambientais.
A polêmica proposta de se permitir o selo socioambiental para produtos transgênicos, antigo pleito do setor de papel e celulose no sentido de aumentar a produtividade dos plantios de eucalipto, acabou não sendo aprovada. Mas a assembleia do FSC, da qual o Brasil participou com a maior de todas as delegações nacionais, não descartou totalmente a questão, sinalizando para a continuidade dos estudos. O mesmo aconteceu com a possibilidade de certificação para florestas plantadas em áreas desmatadas após 1994. "Foi criado um grupo de trabalho para definir, nos próximos anos, qual rumo adotar frente a esse tema polêmico", esclarece Zerbini.

Cooperativas procuram valorizar a madeira de manejo

Valor Econômico - 25/07/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/7/25/cooperativas-procuram-valorizar-a-madeira-de-manejo
 

A pernambucana Joana Gaia, 52 anos, é exímia no manuseio do machado para o corte de madeira entre cactos na vegetação contorcida da Caatinga, no assentamento Mandacaru, município de Serra Talhada (PE). Com mão de ferro e habilidade gerencial para promover mudanças e boas práticas, a sertaneja comanda 20 associações de produtores de lenha e carvão organizadas em cooperativa. O objetivo é aumentar o poder de barganha para obter melhores preços da madeira extraída por manejo florestal, com técnicas que reduzem impactos e conservam a mata para uso econômico no futuro. "Faltam os compradores se conscientizarem e valorizarem o produto obtido sem devastação", diz Joana, personagem de um movimento que ganha escala para tornar sustentável uma das principais atividades geradoras de renda na região.É comum associar o manejo florestal à Amazônia, explorada para fornecer madeira nativa à indústria de móveis e construção civil. Mas também a Caatinga, vista como "primo pobre" dos biomas brasileiros, se apresenta como campo de oportunidades para se inverter a lógica da relação entre pobreza e conservação ambiental. "Aquela vegetação não existe para ser derrubada e jogada em qualquer forno", enfatiza Antonio Carlos Hummel, presidente do Serviço Florestal Brasileiro (SFB). "Para tornar o manejo atrativo e transformar a economia local, é preciso assistência técnica e combate à ilegalidade", acrescenta.
A Caatinga perdeu 1,9 mil Km2 de vegetação natural entre 2008 e 2009, área superior ao tamanho da cidade de São Paulo, com desmatamento mais intenso na Bahia, Ceará e Piauí. A principal causa está no uso da madeira para fins energéticos. "Cerca de 25% da energia consumida nos setores industrial e comercial do Nordeste têm origem na biomassa florestal deste bioma, com geração de 900 mil empregos diretos e indiretos", revela Newton Duque Estrada, chefe do SFB na região. A lenha da Caatinga tem alto poder calorífico e preço inferior ao de outras fontes energéticas, sendo consumida principalmente por fábricas de telhas e indústrias de gesso, fornecedores da construção civil. A madeira nativa é também utilizada para aquecer caldeiras industriais nos setores alimentício e têxtil, além de abastecer churrascarias, padarias e pizzarias
"Infelizmente o manejo florestal, estendendo-se por 95 mil hectares do bioma, supre apenas 6% do consumo total", lamenta Estrada. Segundo ele, ao fornecer 70% da lenha e carvão utilizados no Nordeste, o desmatamento ilegal é a principal fonte para a indústria. O restante provém de plantios florestais, podas de árvores frutíferas e corte autorizado para atividades produtivas e obras de infraestrutura. Como permite a recuperação da floresta, o manejo contribui para o melhor balanço de carbono dos produtos finais fabricados pela queima da madeira. "Sem controle na extração, a lenha gera impacto para as mudanças climáticas mais nocivo do que os combustíveis fósseis", explica Estrada.
A pressão sobre as florestas atinge níveis críticos no raio de 150 Km ao redor dos polos industriais consumidores. Danos como degradação do solo, perda de biodiversidade e assoreamento dos corpos d"água levam ao processo de desertificação. "O tempo de regeneração da vegetação nativa não está sendo respeitado", adverte.
Em sua avaliação, "a Caatinga tem surpreendente capacidade de recuperação, caso contrário não contaríamos hoje com 53% de cobertura florestal remanescente, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente". Estudo conduzido durante quase três décadas por instituições de pesquisa comprovou que a vegetação natural se regenera por completo até 15 anos após o primeiro corte - metade do tempo da Floresta Amazônica. O plano de manejo prevê métodos para prevenção de fogo e garantia de abrigo para a fauna. São poupadas árvores protegidas por lei, como aroeira e baraúna, e outras espécies de potencial combustível ou tradicionalmente preservadas pela cultura sertaneja, como o umbuzeiro e o juazeiro.
"Bastam algumas gotas de chuva para tudo aqui ficar verde", conta José Nascimento da Silva, 57 anos, produtor do assentamento Batalha que ganha perto de R$ 700 mensais com a lenha, mais uma renda extra do plantio de milho e mamona. A criação de caprinos, alimentados por folhagens nativas, obedece a um limite máximo para não estragar a mata. Longe da madeira ilegal, Silva ganha o dobro, não precisa trabalhar como diarista na lavoura de terceiros e trocou a casa de pau-a-pique por uma de alvenaria, onde mora com a mulher e oito filhos.
"Quem trabalha na ilegalidade é refém dos preços baixos", afirma o engenheiro florestal João Paulo Ferreira, da Associação Plantas do Nordeste (APNE), que presta assistência técnica a 25 assentamentos rurais de Pernambuco, envolvendo 455 famílias na exploração de lenha e carvão com critérios ambientais. As indústrias pagam R$ 140 pela tonelada de lenha aos intermediários, que por sua vez compram a R$ 60 dos produtores extrativistas. No caso do produto clandestino, o valor cai pela metade como compensação pelos riscos.
A prática do manejo traz junto benefícios como melhoria na infraestrutura e regularização fundiária. "Mas esbarra na burocracia dos órgãos ambientais e de reforma agrária", reclama Ferreira, lembrando que o aproveitamento da madeira no semi-árido não pode descartar outras atividades como plantio para subsistência.
"O manejo é uma alternativa, mas não a única", ressalta José Hilton de Araújo, 43 anos, do assentamento Vila Bela. A comunidade participa de um estudo da APNE com fornos para a produção de carvão e subprodutos da queima, a exemplo do líquido condensado da fumaça, utilizado como defensivo contra pragas e fertilizante natural na agricultura orgânica. A venda do produto mais nobre poderá aumentar cinco vezes a renda com o carvão.
Em Pernambuco, há 90 planos de manejo protocolados no órgão ambiental - parte para abastecer o polo gesseiro da região do Araripe, o maior do país. Há problemas para garantir o fornecimento na escala exigida pela indústria, o que poderia ser resolvido com maior investimento e repressão às práticas ilegais. Como 1 tonelada de lenha permite a produção de 6 toneladas de gesso, o setor consome hoje um terço da 1,5 milhão de tonelada extraídas por ano no Estado, a maioria sem controle sobre a origem sustentável.

Em Minas Gerais, desmatamento é maior nos municípios mais pobres

Valor Econômico - 25/07/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/7/25/em-minas-gerais-desmatamento-e-maior-nos-municipios-mais-pobres
 

O carvão ilegal está associado ao desmatamento e, muitas vezes, ao trabalho similar ao escravo, em condições degradantes. "É consumido por alguns produtores de ferro-gusa, quase totalmente exportado para produção de aço em outros países", esclarece Cristina Yuan, do Instituto Aço Brasil. "A prática mancha injustamente a imagem da indústria nacional, que acaba prejudicada, apesar de atuar de forma responsável", diz a executiva.
Ela informa que o setor possui 80,7% de florestas plantadas próprias, certificadas ou não. "É preciso, entretanto, que seja mantido o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo para comercialização de créditos de carbono após 2012, quando termina o primeiro período de compromissos do Protocolo de Kyoto", diz Yuan.
A tendência é o setor atingir auto-suficiência em carvão. A Lei Estadual 18.365, aprovada há dois anos em Minas Gerais, principal produtor de carvão para siderurgia, estabelece o consumo máximo de 5% de matéria-prima de mata nativa até 2019, com obrigação de reflorestamento na mesma proporção do que foi extraído. A medida induz a expansão das florestas plantadas.
"Mas o controle é difícil, diante das dimensões do Estado e do fato de que grande parte da economia regional está baseada nesta atividade, sobretudo onde se localizam os 50 municípios que mais desmatam, coincidentemente os mais pobres", avalia Bruno Zuffo, diretor de fiscalização do Instituto Estadual de Florestas. Segundo ele, há fraudes que dão aparência legal ao produto clandestino. O carvão de madeira nativa chega a ser transportado com documento emitido para produto de floresta plantada. "O problema está menos no controle e mais no mercado consumidor que financia práticas ilegais", diz.
"O foco das questões ambientais se concentra nos produtores de ferro-gusa, na maioria pequenos e rudimentares, que não tem floresta de eucalipto e compram de áreas nativas para suprir os fornos", analisa Samir Lotfi Vaz, pesquisador da Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte, e autor de tese sobre tema na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo.
"Trata-se do elo mais fraco da cadeia, responsável pelo consumo de 50% do carvão vegetal do setor siderúrgico", explica. Desses fornos independentes, fora das indústrias, sai um quarto do ferro-gusa da produção brasileira de aço.
Segundo o pesquisador, maior parte da produção dos guseiros de Minas Gerais é exportada para mercados que não exigem controle, porque é difícil rastrear o produto. "Internamente, no país, é maior a vigilância pelas indústrias compradoras, principalmente produtores de aço e fabricantes de autopeças", diz Vaz, dedicado ao estudo sobre as mudanças necessárias para a sobrevivência do setor de ferro-gusa no atual contexto desfavorável.
"Os produtores precisam se consorciar para manter conjuntamente florestas de eucalipto e estabelecer uma nova relação com a indústria do aço, no sentido de obter carvão legalizado", recomenda o pesquisador.
"O carvão vegetal é cada vez mais estratégico para a siderurgia, não apenas pela imagem em relação às emissões de carbono, como também pela importância da menor dependência em relação aos preços do carvão mineral", afirma Vaz. Em sua opinião, o suprimento de madeira para carvão mediante fomento a produtores florestais é a melhor solução contra a ilegalidade. "É grande a pressão por parte das matrizes das multinacionais para a garantia da origem do produto nos diferentes continentes", completa o pesquisador.

Operação na mata

Autor(es): Sérgio Adeodato | Para o Valor, de Teresina
Valor Econômico - 25/07/2011
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Em crescimento econômico, o Piauí quer sair do mapa oficial que fixa os limites da Mata Atlântica para ocupar áreas hoje protegidas.

Em tempos de mudanças climáticas, quando o mundo começa a planejar a economia de baixo carbono, conservar o que restou de floresta é, na visão de alguns Estados brasileiros, sinônimo de guardar estoques estratégicos para o futuro. Não é o caso do Piauí, que trava uma queda de braços com o governo federal para sair do mapa oficial que delimita a Mata Atlântica - bioma no qual a lei restringe a derrubada da vegetação natural. "A economia estadual dobrou nos últimos oito anos, mas precisamos continuar crescendo para recuperar o atraso", justifica Dalton Macambira, secretário do Meio Ambiente."Vamos reiterar junto ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) o pedido para a revisão do mapa", afirma o secretário. Com PIB de R$ 16 bilhões, o Piauí está entre as regiões mais pobres do país, com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) à frente apenas do Maranhão e de Alagoas. Uma em cada três crianças morre antes de completar cinco anos e o analfabetismo atinge 23,4% da população acima de 15 anos.
Nos últimos anos, investimentos federais em infraestrutura garantiram a expansão do agronegócio, da mineração e até o início da produção de celulose, em 2016. O número de licenças ambientais para novos empreendimentos aumentou de 500, em 2003, para cerca de 2 mil, em 2010. O Piauí tem 4 milhões dos seus 25 milhões de hectares em áreas protegidas, como parques nacionais e estaduais. "É um território equivalente ao de Sergipe, intocável para a economia", diz Macambira. Apenas 12% dos 6 milhões de hectares agricultáveis no Cerrado têm uso econômico. "É a última fronteira agrícola do país e ainda estamos no início da ocupação."
Na Mata Atlântica, diz, "a questão é controversa". A Lei Federal 11.420, de 2006, protege os remanescentes do bioma com base no mapa que inclui a faixa litorânea e encraves florestais no interior, na zona de transição com Cerrado e Caatinga. "O que temos não é Mata Atlântica e sim Caatinga com árvores frondosas", defende Macambira, citando estudos da Universidade Federal do Piauí. Outros pesquisadores e organizações ambientalistas discordam. Afirmam que esses trechos isolados de vegetação nativa são essenciais para a saúde do bioma e por isso estão protegidos pela lei. "Por que a área contígua com as mesmas características, no lado no Maranhão, não entrou para o mapa?", pergunta Macambira.
"Por determinação do governo federal, faremos o mapeamento da Mata Atlântica em escala vinte vezes mais precisa em relação ao trabalho antigo", anuncia Celso Monteiro Filho, coordenador de recursos naturais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O objetivo é apoiar políticas públicas e zoneamentos ecológico-econômicos. Na prática, a tendência é o traçado de maior resolução incluir - e não excluir - remanescentes de mata. "O problema do Piauí só poderá ser resolvido mudando a lei", explica.
"A pedido do governo do Piauí, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) vai rever uma resolução sobre as espécies vegetais que indicam a existência de Mata Atlântica", revela João de Deus Medeiros, diretor de florestas do MMA. "A estratégia piauiense, sem argumentos técnicos, é minar a aplicação da lei", diz. A regra estabelece o nome genérico dos vegetais como um dos parâmetros indicadores do bioma. Ao exigir a identificação específica, o governo estadual quer facilitar o licenciamento. Inventários prévios, realizados pelos empreendimentos, poderão concluir que as espécies não compõem a Mata Atlântica, abrindo brechas para a discussão legal.
"A lei precisa ser cumprida e vamos coibir abusos, como desmatamento para abastecer carvoarias", afirma Tranvanvan Feitosa, procurador da República no Estado. O Ministério Público entrou com ação exigindo maior fiscalização do Ibama, que alegou falta de pessoal. "Em região vista como terra de ninguém, reina a impunidade", reclama Tânia Martins, presidente da Rede Ambiental do Piauí.
A polêmica se concentra na Serra Vermelha, cenário de projetos de manejo florestal para carvão interditados após denúncias de danos ambientais. Em lugar de criar um novo parque nacional na região, como queriam os ambientalistas, o governo federal consultou o Estado e ampliou uma área protegida já existente, o Parque Nacional Serra das Confusões. O decreto permitiu a exploração por manejo florestal do entorno, incluindo parte da Serra Vermelha. Como compensação pela área cedida à conservação, o Piauí receberá R$ 150 milhões da União, indenização inédita. "Foi uma decisão política, por conta da descapitalização do Piauí, que vende terras públicas para fazer caixa", diz Rômulo Mello, presidente do Instituto Chico Mendes, do MMA.
Minas Gerais vive polêmica semelhante. Em 2010 foi criada uma lei para o uso das chamadas "matas secas", beneficiando produtores agrícolas e de carvão, além da mineração de calcário. A região é a mais pobre do Estado e sofre os efeitos da desertificação. Como está incluída no mapa oficial da Mata Atlântica, instaurou-se um conflito. No início deste ano a Justiça Federal tornou a legislação estadual sem efeito. "As licenças na área foram interrompidas, mas muitas atividades continuam existindo na ilegalidade", afirma Rinaldo Souza, do Instituto Estadual de Florestas, do MMA.

Parcerias vão mudar a paisagem no Sertão

Valor Econômico - 25/07/2011
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A paisagem está mudando no Sertão do Piauí. Propriedades rurais restritas à lavoura e à pecuária de baixa produtividade, em parte já abandonadas pela degradação e esgotamento dos solos, começam a receber árvores tradicionalmente comuns no Centro-Sul do país. Com investimento de US$ 2,3 bilhões, a Suzano Papel e Celulose planeja inaugurar até 2016 uma nova fábrica nos municípios de Palmeirais e Dermeval Lobão, a ser abastecida por 170 mil hectares de cultivos de eucalipto. No total, serão aplicados US$ 710 milhões no plantio, que até o momento cobre mais de 47 mil hectares, iniciando uma corrida por oportunidades.
"Assinamos compromisso de não comprar terrenos para plantios em domínios da Mata Atlântica", revela Alexandre Di Ciero, gerente de sustentabilidade da empresa. A unidade industrial se localizará fora dos limites do bioma. "Atualmente procuramos uma área nativa a ser adquirida unicamente para conservação, escolhida com base na importância ecológica e na contribuição para políticas públicas", explica o executivo.
A propriedade estará aberta à pesquisa da fauna e flora e educação ambiental, a partir da experiência da empresa com suas reservas na Serra do Mar, em São Paulo. No futuro, a estratégia será integrar-se à conexão de fragmentos de mata natural entre propriedades vizinhas e outras áreas protegidas no sentido de formar corredores de biodiversidade para trânsito das espécies.
No aspecto social, o trabalho realizado no plantio de eucalipto do Sul da Bahia servirá de referência para os projetos no Piauí, em parceria com o governo local e ONGs. "A ideia é permitir a convivência das florestas plantadas com a agricultura de subsistência, típica da região, mediante cessão de terra por comodato", diz Di Ciero. Oficinas de capacitação para o manejo de caju e fabricação de subprodutos, além do extrativismo sustentável de pequi, babaçu e buriti, mantendo o nível de alimentos para a fauna nas áreas nativas, são iniciativas em curso no rastro dos eucaliptos, com potencial para mudar a realidade do sertão.
No total, 70% dos eucaliptos terão como origem áreas próprias da empresa e 30% de terceiros, em parceria com Banco do Brasil e Banco do Nordeste como instituições financiadoras, com poder de acelerar o desenvolvimento local, dentro das normas ambientais. Em São Paulo, Espírito Santo e Bahia, a empresa tem parceria com mais de 1 mil proprietários, responsáveis pelo fornecimento de 30% do suprimento de madeira.
Além de mais empregos e alternativas para o campo, a nova fábrica deve injetar nos cofres estaduais vultosos recursos como compensação ambiental, cujos valores ainda não foram definidos, devendo representar em torno de 0,5% do investimento. "Há um acordo com o governo para aplicação do recurso em unidades de conservação", informa Di Ciero. (S.A.)

Siderúrgica busca alternativas para o carvão mineral

Autor(es): Sérgio Adeodato | Para o Valor, de Belo Horizonte
Valor Econômico - 25/07/2011
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Ambiente: Empresas procuram fontes energéticas mais limpas no processo para a produção de aço

Grande emissor de gases do efeito estufa, o carvão mineral é hoje, em todo o mundo, o principal combustível para a produção de aço. No Brasil, o setor consumiu em 2010 mais de 15 milhões de toneladas desse insumo, que é importado e continua prevalecendo como uma fonte energética por conta de limitações tecnológicas e de escala ao uso de opções renováveis nos fornos de alta capacidade.Mas uma recente decisão da ArcelorMittal, uma das maiores empresas do setor, tem o poder de influenciar concorrentes e direcionar o mercado para o potencial das alternativas limpas. "Nas próximas expansões industriais vamos priorizar, sempre que possível, o carvão vegetal, oriundo de florestas de eucalipto plantadas", afirma Augusto Espeschit, CEO da unidade de Aços Longos.
A meta é aumentar o uso de carvão vegetal de 1,4 milhão para 3,2 milhões de toneladas, nos próximos sete anos. Hoje essa matéria-prima é responsável pela produção de 800 mil toneladas de aço, 20% da capacidade total. "O plano estratégico é no futuro substituir 100% do carvão mineral, o que só poderá ser alcançado com maior segurança no processo, tanto na garantia de origem sustentável como no uso industrial do insumo", ressalta. O passo inicial foi dado na siderúrgica controlada pela empresa em Juiz de Fora (MG), abastecida por sucata (60%) e ferro-gusa obtido por carvão vegetal (40%).
O objetivo é reduzir a dependência da sucata e aumentar a economia de energia. "Mais que pressão de mercado, trata-se de uma decisão estratégica porque precisamos de base para manter nossa participação diante do elevado crescimento do setor, de 8,4% ao ano", explica Espeschit.
Para suprir a produção com a garantia de procedência da matéria-prima, além de usar carvão de plantações florestais próprias e de terceiros, totalizando 90 mil hectares certificados pelo Forest Stewardschip Council (FSC), a empresa controla a cadeia de produtores de ferro-gusa mediante auditorias.
"A intenção é estabelecer parcerias de longo prazo em troca de exclusividade na compra, o que evita a pulverização de fornecedores e o risco da matéria-prima produzida com carvão ilegal de mata nativa", completa Espeschit.
"Plantios de eucalipto de alta produtividade contribuem para a viabilidade do processo e reduzem a pressão nas florestas naturais", concorda Elesier Gonçalves, presidente da ArcelorMittal BioFlorestas. Ele informa que parte dos investimentos na expansão da biomassa renovável virá de créditos de carbono, com base em dois projetos da empresa em fase de certificação pela ONU, no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
As iniciativas envolvem a queima de gases durante a produção de carvão e a captura de carbono da atmosfera pela floresta plantada, com potencial de reduzir emissões no total de 1,1 milhão de toneladas durante dez anos, o que em valores atuais equivale a 14,3 milhões de euros.
No mercado voluntário de emissões (Chicago Climate Exchange), será negociado um terceiro projeto para a produção mais limpa de aço com carvão vindo do eucalipto, em substituição ao mineral.
"A receita no mercado de carbono é estratégica para o aumento da economia de base florestal no país", analisa Fábio Marques, gerente da Plantar Carbon, em Belo Horizonte. A empresa compõe um grupo que nasceu na década de 1960 para prestar serviços de plantio de eucalipto para terceiros, criando mais tarde uma siderúrgica abastecida com floresta própria.
"Com o fim dos incentivos fiscais para o setor florestal, nossa salvação foram os créditos de carbono após o Protocolo de Kyoto, que permitiram implantar a área de eucalipto de que necessitávamos para produzir aço", conta o executivo. "Foi necessário desenvolver metodologia para a aprovação dos primeiros projetos brasileiros junto à ONU", ressalta Marques.
A primeira transação com carbono, em 2002, até então inédita para o setor no país, resultou em US$ 5,3 milhões. Hoje a empresa produz 100% do ferro-gusa a partir de fornos a carvão de plantios e o conhecimento desenvolvido por questão de sobrevivência no mercado é utilizado para consultoria e suporte a políticas públicas. "Em parceria com o Banco Mundial e o governo de Minas Gerais, participamos de um programa para a sustentabilidade da produção de ferro-gusa, lastreado no crédito de carbono", informa Marques.
A lógica é a substituição das emissões do carvão mineral. "Para cada tonelada de ferro-gusa produzido com carvão renovável, o ganho climático é a redução de três toneladas de dióxido de carbono, sem contar a quantidade estocada na floresta", revela o executivo.
Segundo Fábio Marques, estudo em dez empresas do setor siderúrgico mostrou um potencial para captação de R$ 1,6 bilhão em créditos de carbono ao longo de 14 anos. "Por razões tecnológicas é difícil banir o carvão mineral, mas é possível substituir o nativo", avalia o executivo da Plantar Carbon.

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