sábado, 23 de julho de 2011

Transposição deve demorar ainda três anos para ser concluída

Valor Econômico - 22/07/2011
 

A transposição do rio São Francisco vai demorar. Ainda mais. O Ministério da Integração Nacional prefere não falar qual será o impacto das paralisações que envolvem as obras, mas admite que seu cronograma atrasou mais uma vez. Em agosto, quando espera ter destravado seus contratos com as empreiteiras, o governo quer anunciar os "novos marcos de entrega da conclusão das obras físicas do projeto".
Calcula-se que serão necessários pelo menos mais três anos para a conclusão total da obra. Isso significa que a presidente Dilma Rousseff, que estará em seu último ano de mandato, poderá inaugurar as obras que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostaria de ter entregado em dezembro de 2010, quando deixou o Palácio da Alvorada.
Pelos dados oficiais, as obras - que foram iniciadas em 2007 - alcançaram 45% de execução no eixo norte e de 70% no eixo leste. Ocorre que, como admite o próprio secretário de Infraestrutura Hídrica do Ministério da Integração, Augusto Wagner Padilha Martins, até o ano passado optou-se por trabalhar nas etapas menos complexas da obra, deixando o trabalho pesado - como a construção de subestações de energia e de estações de bombeamento de água - para segundo plano.
O ritmo da obra também não ajuda. Atualmente, há 4,4 mil pessoas trabalhando na transposição, mas esse contingente já chegou a ter 9,8 mil funcionários até outubro do ano passado, portanto, até a realização das eleições presidenciais.
Dado o seu estágio atual, a transposição deveria estar no pico de obra neste momento. Martins acredita que, resolvida a situação dos contratos e aditivos, a obra voltará a ter 10 mil pessoas. "A questão dos aditivos era um passivo que estava se acumulando. Tínhamos que vencer essa etapa para nos situarmos sobre a obra", diz ele.
As novas licitações formadas por remanescentes de lotes de obras trarão, segundo o secretário, exigências para serviços de manutenção nos canais de transporte de água que já foram entregues. Afinal já há estruturas da obra que precisam de reforma, mesmo sem nunca terem sido utilizadas. "Os canais já têm que ter manutenção, por isso esses serviços serão incluídos nesses novos editais", comentou Martins.
Com todas as características de terem sido executadas a toque de caixa até o ano passado, as obras da transposição exigem casos curiosos, como a construção de uma estação de bombeamento em um terreno que não é o mesmo daquele especificado na licitação. "Isso aconteceu. O consórcio então identificou que se trata de um terreno geologicamente mais complexo, que vai exigir fundações diferentes", comenta o secretário de infraestrutura. "Infelizmente esses defeitos de projeto atrasam, dificultam, complicam os processos e demandam por aditivos e novas licitações", diz.
A complexidade da transposição envolve, além das estações energia e de bombeamento de água, a construção de 36 barragens, 17 aquedutos, sete túneis, 63 pontes, 35 passarelas e 165 tomadas de água. Tal é a extensão do projeto que, quando o eixo norte começar a verter água a partir de Cabrobó, no agreste pernambucano, levará 11 meses até encher seus reservatórios e chegar ao último município de destino, a 402 quilômetros.

ADITIVOS PARAM TRECHOS DE OBRAS NO SÃO FRANCISCO

ADITIVOS EM CONTRATOS PARAM OBRAS NO S. FRANCISCO
Autor(es): André Borges | De Brasília
Valor Econômico - 22/07/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/7/22/aditivos-param-trechos-de-obras-no-sao-francisco
 

Uma das mais caras e polêmicas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a transposição do Rio São Francisco está com boa parte de sua construção paralisada. Isso ocorre em razão da dificuldade de o governo negociar a verdadeira enxurrada de pedidos de aditivos contratuais que cercam a obra. As faturas extras cobradas pelos consórcios de empreiteiras somam R$ 700 milhões. Como o governo decidiu endurecer nas negociações, parte das empresas cruzou os braços. Dos 14 lotes das obras realizadas por empreiteiras, três estão abandonados

No mundo fantástico dos aditivos contratuais, poucas obras podem se gabar de um desempenho como o da transposição do rio São Francisco. Uma das mais caras obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a transposição está hoje com boa parte de sua construção simplesmente paralisada devido à dificuldade do governo de negociar a enxurrada de pedidos que cercam a obra.
A fatura extra cobrada pelos consórcios de empreiteiras chega a ultrapassar a cifra dos R$ 700 milhões. Como o governo decidiu endurecer nas negociações, parte das empresas cruzou os braços. Dos 14 lotes da obras realizadas por empreiteiras, três estão abandonados.
Até três meses atrás, a lista de aditivos da transposição somava nada menos que 43 pedidos de empresas de construção e serviços, resultado de projetos básicos de consultoria recheados de todo tipo de falha.
Todas as empreiteiras que trabalham na transposição do rio, as quais estão divididas em 12 consórcios, pediram aditivos ao Ministério da Integração Nacional (MIN), que é responsável pela obra. Desde o início do ano, o governo tem negociado com os consórcios e, nas últimas semanas, conseguiu chegar a um acordo com quatro deles, o que significou um desembolso extra de aproximadamente R$ 100 milhões dos cofres públicos. Outros oito aditivos, no entanto, ainda estão em negociação.
O absurdo da situação fica mais evidente quando são analisados os pedidos que foram apresentados. Há pelo menos 11 aditivos que cobram mais de 25% sobre o preço do contrato, limite que é definido por lei. Entre os casos que mais chamam a atenção está o lote sete, sob a responsabilidade do consórcio construtor Águas do São Francisco (que reúne as empresas Carioca, SA Paulista e Serveng Civilsan). As empresas pedem um aumento de até 70% sobre o preço original do contrato para entregar estruturas de canais e dois reservatórios. O mesmo porcentual é exigido na construção de um túnel no lote 12, que está nas mãos do consórcio formado pelas empresas OAS, Galvão, Barbosa Mello e Coesa.
O coordenador geral das obras da transposição do São Francisco e secretário de Infraestrutura do Ministério da Integração, Augusto Wagner Padilha Martins, afirmou que as negociações têm sido difíceis porque o ministério, orientado pelo Palácio do Planalto, decidiu que não vai liberar nenhum aditivo acima de 25%, como determina a lei. "Nenhum aditivo firmado até agora ultrapassou esse limite e não ultrapassará", disse.
Trata-se de uma mudança na posição do ministério. Até três meses atrás, a estratégia do ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, era a de procurar o Tribunal de Contas da União (TCU) para negociar os pedidos das empresas e demonstrar que, segundo ele, ocasionalmente seria melhor ter um aditivo de 30%, 35%, do que ter de parar a obra e relicitar o saldo do contrato. O argumento é que os preços poderiam ficar muito maiores que aqueles contratados inicialmente. Mas agora o caminho é outro.
O ministério já decidiu que aquilo que não couber em 25% de reajuste terá de ser licitado novamente, ou seja, o governo vai empacotar os restos de cada lote da transposição para colocar de novo no mercado. A expectativa é de que, em setembro, os editais dos remanescentes da obra estejam na rua. "O levantamento desses remanescentes começou a ser feito há 40 dias. É um caminho mais trabalhoso, mas foi uma decisão que já tomamos", comentou Martins. "E não precisamos da crise [que afeta a cúpula dos Transportes] para decidir isso. Já estávamos defendendo essa alternativa."
A dificuldade de dar um fim ao imbróglio de aditivos que contaminam toda a obra da transposição fez com que o Ministério da Integração decidisse por tornar permanente a comissão de análise de aditivos, um grupo criado no início do ano e que, pelo plano original, teria uma atuação apenas temporária. "Esse grupo de 12 engenheiros já foi incorporado à coordenação geral da obra. Sabemos que essa situação [de pedidos de aditivos] é permanente. Isso não acaba nunca", disse Martins.
Seja com ou sem duras negociações, o fato é o custo da transposição do São Francisco vai ficar muito superior àquilo que se calculava inicialmente. Até o ano passado, o projeto era estimado em R$ 5 bilhões, mas o próprio ministério admite que a fatura poderá chegar a R$ 7 bilhões, uma conta extra que, além dos aditivos pedidos pelas empreiteiras, envolve centenas de contratos firmados com fornecedores de equipamentos e outros tipos de serviços.
"Estamos fazendo uma varredura total da obra, metro a metro. Estamos andando pela obra para verificar o que está feito, o que não está e o que precisa ser revisado", disse Martins. "Quando chegamos aqui já encontramos problemas de aditivos. A situação já era de paralisação, mas as negociações demoraram mais do que a gente imaginava."
Além dos 14 lotes entregues a empreiteiras, a transposição tem dois lotes em execução pelas equipes de engenharia do Exército. Em ambos projetos, os militares trabalham nos trechos de aproximação dos canais da transposição com o rio.

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