terça-feira, 26 de abril de 2011

Ações da AL devem brilhar em Nova York

Tio Sam quer nossa batucada
Autor(es): Antonio Perez | De São Paulo
Valor Econômico - 25/04/2011
 

A Nyse Euronext, controladora da Bolsa de Nova York, prevê um ano muito bom para as ofertas de ações de companhias latino-americanas nos EUA. A perspectiva é atingir um recorde histórico em número de operações e em volume financeiro, superando os mais de US$ 9 bilhões da oferta de ADRs (recibos de ações) da Petrobras no ano passado. "Este vai ser, sem dúvida, o melhor ano para as empresas latino-americanas em Nova York", disse ao Valor Scott Cutler, vice-presidente-executivo da Nyse Euronext. Diferentemente de 2010, quando o apetite do investidor americano pela região foi "saciado" pelo gigantismo da oferta da Petrobras, neste ano, ressaltou Cutler, deve haver um número elevado de ofertas. O sucesso da Arcos Dorados, franqueada do McDonald"s, que captou US$ 1,3 bilhão, seria uma amostra.

A Nyse Euronext, controladora da Bolsa de Nova York, prevê um ano de ouro para as ofertas de ações de companhias latino-americanas nos Estados Unidos. A perspectiva é atingir um recorde histórico em número de operações e em volume financeiro, superando os mais de US$ 9 bilhões da oferta de American Depositary Receipts (ADRs, recibos de ações) da Petrobras no ano passado. "Este vai ser, sem dúvida, o melhor ano da história para as empresas latino-americanas em Nova York", disse ao Valor Scott Cutler, vice-presidente-executivo da Nyse Euronext, em passagem por São Paulo para visitas a empresas e investidores. 
Diferentemente de 2010, quando todo o apetite do investidor americano pela região foi "saciado" pelo gigantismo da oferta da Petrobras, neste ano, ressaltou Cutler, deve haver um número elevado de ofertas de companhias de diversos setores e países latino-americanos "O nosso "pipeline" [número de empresas na fila para realizar uma oferta] para este ano é muito extenso", afirmou.
O sucesso recente da abertura de capital da Arcos Dorados, franqueada do McDonald"s na América Latina, que captou US$ 1,3 bilhão em uma operação em que a procura pelas ações superou em dez vezes a oferta, seria uma amostra de que o momento é favorável para listagem na Bolsa de Nova York. Em janeiro, a Adecoagro, empresa do setor agrícola com operações no Brasil e Argentina, havia captado US$ 341 milhões em seu IPO.
Segundo Cutler, a demanda de investidores americanos, e também globais, por ações de companhias da América Latina é muito maior que a oferta. Ou seja, há um espaço enorme para a ampliação do número de papéis da região na Nyse. "O volume de negociação de ADRs da América Latina está aumentando de forma drástica, e um mercado secundário é condição essencial para estimular as emissões", disse.
Parte expressiva das ofertas de ADRs em Nova York este ano, afirmou Cutler, deve vir de empresas que têm entre os controladores fundos de "private equity" (de participação). Esses fundos compram fatias de empresas promissoras e, após investimentos em gestão e reestruturação financeira, vendem a participação, principalmente por meio de uma oferta secundária de ações, para remunerar os investidores. Foi o que ocorreu, por exemplo, no caso do IPO da Arcos Dorados, em que a gestora brasileira Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, vendeu uma parcela de sua participação na companhia.
Esse movimento de fundos de "private equity" foi muito forte globalmente no primeiro trimestre e deve continuar ao longo do ano, disse Cutler, ressaltando que, ao todo, os IPOs na Nyse Euronext somaram US$ 15 bilhões no período, com destaque para a Ásia, sobretudo China e Coreia do Sul. "Apesar das preocupações sobre a força da recuperação econômica, estamos otimistas de que esse bom momento para IPOs vai se estender para o restante do ano", afirmou. "O desempenho econômico dos emergentes atrai os investidores dos países desenvolvidos, e somos um centro de liquidez onde as empresas podem encontrar esses investidores."
O interesse de aplicadores dos Estados Unidos por companhias latino-americanas levou a Nyse Euronext a realizar pela primeira vez eventos dedicados a países como Colômbia, Peru e México. No primeiro trimestre houve, por exemplo, o "Dia da Colômbia" no pregão da Bolsa de Nova York. "Vemos também boas oportunidades no Chile e até mesmo na Argentina, cuja economia vem crescendo, embora o Brasil ainda seja de longe a maior atração da região", disse Cutler. "O Brasil sai na frente na América Latina porque tem empresas globais, como a Vale, por exemplo", afirmou.
Dados do Bank of New York Mellon mostram que, no fim do primeiro trimestre, os ADRs de empresas brasileiras representavam 8,62% do valor de mercado de todos os ADRs de 35 países presentes na Bolsa de Nova York. Os recibos de ações brasileiras ficaram atrás apenas, em valor de mercado, dos ADRs do Reino Unido e do Japão. No ano passado, os ADRs brasileiros lideraram, pelo terceiro ano seguido, o volume negociado com recibos de ações estrangeiras na Nyse, movimentando US$ 744 bilhões - o equivalente a 24% do total (US$ 3,1 trilhões).
Os ADRs das grandes empresas brasileiras, disse Cutler, já ganharam espaço, inclusive, nos portfólios dos investidores de varejo dos EUA. "Cada um dos 50 Estados americanos tem investidores que possuem ADRs brasileiros em suas carteiras", ressaltou.
A atração de empresas para Nova York está longe de representar uma ameaça às bolsas locais, ressaltou Cutler. A listagem lá fora, mesmo quando não envolve captação, segundo o executivo, expande a base de investidores e acaba aumentando a liquidez das ações no próprio mercado doméstico. No fim de março, por exemplo, a Usiminas anunciou planos de listar, ainda neste ano, ADRs de Nível 2 na Nyse. Nesse caso, não há permissão para captação de recursos, mas o ADR pode ser negociado em bolsa (no Nível 1, o recibo fica disponível apenas no mercado de balcão).
Cutler ressaltou ainda que todas as empresas que abrem capital na Bovespa captam recursos de investidores institucionais americanos. E os vários programas de ADRs existentes mostram que a entrada na Nyse após a abertura na Bovespa complementa a liquidez, ao facilitar o acesso de mais americanos aos papéis brasileiros. "Na verdade, há uma relação complementar entre a listagem local e o lançamento de ADRs", disse.

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