Valor Econômico - 25/04/2011 | ||||
Após cinco anos com atividades praticamente paralisadas na Amazônia, o Forest Stewardship Council (FSC), um dos mais influentes sistemas de certificação do mundo, volta a carimbar empreendimentos na flnativa da região. Marco da retomada é o início das auditorias na madeireira Amata, a primeira a receber o selo para exploração de uma área federal sob concessão - a Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia. A medida abrange 46 mil hectares e resultará na valorização do produto. "Poderemos alcançar um sobrepreço de 10% a 30%, conforme a espécie madeireira comercializada, mas o principal plano é assegurar o acesso a novos mercados", revela Roberto Waack, diretor da empresa. O certificado, que Waack estima receber em setembro após as adequações produtivas, é uma exigência crescente em todo o mundo, principalmente no mercado europeu, onde se tornou praxe nas transações com produtos florestais. Nos EUA, uma recente legislação obriga os compradores a comprovar a origem legal e sustentável da madeira. "Apesar da pressão externa, a aposta estratégica é o mercado interno, que se apresenta como novo filão, por conta do câmbio e da maior demanda da construção civil", afirma o empresário, com a perspectiva de produzir neste ano entre 6 mil e 7 mil metros cúbicos de madeira serrada e expandir o negócio em outras áreas em 2012. No ano passado, a empresa recebeu investimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de três fundos financeiros, consolidando o empreendimento. A colheita de toras em Jamari, operada também pelas madeireiras Sakura e Madeflona, começou em setembro do ano passado, quase três anos após a licitação do governo federal que inaugurou o modelo das concessões florestais no país. Há hoje na Amazônia 1,1 milhão de hectares de florestas federais em diferentes estágios de licitação pública. No total, existe área pública dez vezes superior a essa disponível para uso privado no futuro, a maior parte no Pará, capaz de atender a 20% da demanda de madeira, segundo dados do Serviço Florestal Brasileiro. "Ao garantir a legalidade do produto e a segurança fundiária, maior entrave da atividade, as concessões têm o poder de dar nova escala ao selo socioambiental", analisa Marco Lentini, diretor do Instituto Floresta Tropical (IFT). A certificação induz práticas que resultam em ganhos de produtividade. De acordo com Lentini, o custo da madeira produzida com critérios que reduzem danos à floresta é inferior ao da exploração sem regras que destrói o ambiente. Enquanto o valor médio da produção madeireira sustentável na Amazônia é de US$ 507 por hectare, o uso predatório chega a apenas US$ 351, com base em dados publicados em recente relatório do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). "Produzir com critérios é mais negócio", atesta Lentini. Na contramão das vantagens, as certificações acabaram congeladas na Amazônia por conta de gargalos envolvendo burocracia, corrupção e despreparo dos órgãos ambientais estaduais, que passaram a fazer o licenciamento e o controle da madeira, antes sob responsabilidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O advento de políticas públicas para fomento do manejo sustentável, bem como o combate à ilegalidade que predominava na região e hoje e está reduzida a um terço da produção madeireira, desenharam um novo cenário. "O trabalho atual é promover o mercado para o produto certificado, aproximando oferta e demanda em setores de grande potencial para mudanças, como a construção civil", diz Fabíola Zerbini, secretária executiva do FSC Brasil. As atividades da instituição, que chegou a fechar seu escritório no país por problemas financeiros e de gestão, estão sendo retomadas com cursos para formação de auditores, estudos de mercado, apoio a políticas públicas e recuperação de um comitê para a solução de conflitos trabalhistas e sociais envolvendo projetos florestais certificados. As ações incluem a construção de sistemas nacionais de certificação com regras para uso da floresta adaptadas à realidade brasileira. É o caso de um novo selo que o FSC lançará para o reconhecimento da origem comunitária dos produtos. O modelo se integra às exigências do comércio justo. "Além dos projetos empresariais de maior escala, é preciso agregar valor ao negócio de pequenos produtores", afirma Fabíola. Na Amazônia, a realidade comunitária é diferente da empresarial, com peculiaridades que vão desde a barreira das grandes distâncias e questões envolvendo hábitos culturais até o controle da produção e a gestão administrativa. Um projeto piloto está sendo conduzido no Acre, mediante parceria entre a Cooperativa dos Produtores Florestais Comunitários (Cooperfloresta), uma indústria local e compradores europeus. A expansão do selo entre pequenos produtores é estratégica para a expansão de boas práticas, uma vez que grande parte das florestas hoje disponíveis para uso sustentável situam-se em reservas extrativistas, assentamentos e outras áreas em posse de comunidades. Desde 2004 a floresta nativa com selo FSC na Amazônia não cresce, apesar da demanda global por madeira obtida por critérios socioambientais. Essa área corresponde a 42% de todas as florestas certificadas no país, naturais e plantadas. Somente a Terra Indígena do Baú, em Mato Grosso, com 1,5 milhão de hectares para extração de castanha, representa a metade do território coberto pelo FSC na Amazônia. "O selo é condição prévia para os negócios no setor de papel e celulose", ressalta Fabiola, informando que as indústrias abastecidas por plantios de eucalipto estão entre as principais fontes de sustento do FSC no Brasil. O propósito é manter a governança e a estrutura que representa o interesse das empresas brasileiras nos fóruns internacionais onde as decisões sobre as regras do jogo são tomadas, com impacto na competitividade. Desde 1993, quando foi criado para aliar exploração econômica à conservação dos recursos naturais, o FSC certificou até hoje no mundo uma área equivalente a quase um terço de toda a Amazônia Legal. O Brasil está em sexto lugar no ranking dos países com mais florestas certificadas, atrás do Canadá, Rússia, EUA, Suécia e Polônia. Apesar do destaque entre os primeiros, o número nacional é acanhado. O país detém a maior floresta tropical do planeta, mas reúne apenas 5% das áreas com o selo socioambiental. Febre dos selos
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terça-feira, 26 de abril de 2011
Amazônia retoma a certificação
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