Autor(es): Alexandre Inacio | De São Paulo |
Valor Econômico - 27/04/2011 |
Depois de seis anos de pesquisa e investimentos de aproximadamente R$ 50 mil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) conseguiu identificar uma mutação no genoma de ovelhas da raça Santa Inês capaz de aumentar a produtividade dos rebanhos. As pesquisas mostraram que nos animais que possuem a mutação a taxa de ovulação das fêmeas é 82% maior do que naqueles que não têm a variação genética. Com a maior ovulação nas fêmeas, o índice de nascimento de gêmeos na raça cresce cerca de 58%. Segundo o pesquisador Eduardo Melo, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, responsável por coordenar a pesquisa, o índice de nascimento de gêmeos é de 13% nos animais que não têm a mutação, número que sobe para 78% nos ovinos Santa Inês que tenham a variação genética. A descoberta é considerada um feito raro na comunidade científica. Isso porque a mutação ocorre em apenas 3% a 4% das ovelhas e sua identificação no gene não é fácil. Cada gene de ovelhas pode ter dezenas ou até centenas de mutações, das quais poucas com relevância econômica. O trabalho foi realizado em parceria com a unidade da Embrapa Tabuleiros Costeiros, que disponibilizou um rebanho de 334 animais, instalados em uma fazenda da unidade em Aracaju. "Levantamos o genótipo desses animais e conseguimos criar uma metodologia para identificar em rebanhos da raça a presença ou não do gene com a mutação. Essa metodologia [marcador molecular] foi patenteada e provavelmente será transferida ao setor produtivo", explica Melo, observando que o pedido de patente já foi depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Com mais gêmeos de ovinos Santa Inês nascendo dentro de um rebanho, a expectativa é que a produtividade de da raça aumente, solucionando o principal problema da atividade. Além disso, a descoberta deve beneficiar principalmente os criadores do Nordeste. A Santa Inês é a principal raça ovina do Nordeste, maior região produtora do Brasil, com 57% do rebanho nacional, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Atualmente, o rebanho ovino do Brasil é de 16,8 milhões de cabeças, das quais 9,5 milhões estão no Nordeste. Com a descoberta científica, a Embrapa agora passa a seguir dois caminhos. O primeiro é avaliar o impacto econômico que animais com a mutação podem apresentar no sistema de criação semi-intensivo: alimentação a pasto no verão e suplementação no inverno. O segundo passo, segundo Melo, é encontrar parceiros no setor privado que tenham interesse em desenvolver comercialmente o marcador molecular patenteado pela Embrapa, pagando os devidos royalties pela tecnologia à estatal brasileira. O projeto de genotipagem de ovelhas foi um dos principais programas desenvolvidos pela Embrapa em 2010. Ontem a estatal divulgou balanço, com os principais projetos desenvolvidos no ano passado. Segundo a Embrapa, o lucro da sociedade com suas pesquisas e investimentos foi de R$ 18,16 bilhões. Além disso, a Embrapa assinou com a Vale um termo de parceria de pesquisa, desenvolvimento e transferência tecnológica em sistemas sustentáveis, recuperação ambiental, agroenergia e fertilizantes alternativos. Entre os principais focos da pesquisa em parceria com a mineradora estão o sequestro de carbono, eficiência energética, uso do dendê e pinhão-manso e aplicação da nanotecnologia para produção de fertilizantes. |
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Embrapa identifica gene que amplia fertilidade em ovinos
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