Autor(es): Alexandre Inacio | De São Paulo |
Valor Econômico - 20/04/2011 |
A indústria de café no Brasil nunca esteve tão concentrada. As dez maiores empresas do segmento, que eram responsáveis por 43,1% do mercado em 2003, já dominam abastecem 75% do consumo doméstico. E a expectativa é que os elevados preços da matéria-prima acelerem esse processo de concentração, que acontecerá tanto pelo crescimento orgânico das líderes quanto por novas aquisições de companhias menores. Em um corte um pouco mais restrito, as quatro líderes no país - Sara Lee, 3Corações, Melitta e Maratá - já representam 60%. Estimativas das próprias companhias indicam que o processo avançará até que as quatro maiores respondam por 75% de tudo o que se consome no mercado doméstico, ficando os 25% restantes divididos entre companhias que possuem atuação regional. "A concentração da indústria já vinha acontecendo, mas a recente valorização dos preços do café verde acelerou esse processo. A margem da indústria no varejo ficou apertada e muitas empresas se viram obrigadas a deixar o negócio", afirma o consultor Carlos Brando, diretor da P&A Marketing. [contradição do neodesenvolvimentismo petista, em sentido forte, duplo: tanto a fonte de acumulação fica cada vez mais estreita quanto favorece conglomerados desterrados, estrangeiros. Digo que é diretamente por efeito do neodesenvolvimentismo petista, na verdade um neoliberalismo, porque é no varejo que a indústria ficou mais apertada, por efeito da expansão da renda que expandiu o varejo; ao mesmo tempo em que o processo inicia-se mediante uma intervenção do governo, via programas sociais e concessão de crédito, ao final dá-se a concentração, apenas validada pelo CADE, sem que o governo aproveite o alargamento da margem para organizar a concorrência de outros industriais, médios e residentes.] A última grande aquisição da indústria foi feita pela 3Corações, que assumiu as operações do grupo mineiro Fino Grão por R$ 50 milhões. A principal responsável pela concentração da indústria, no entanto, foi a americana Sara Lee, que assumiu na década passada o controle de Café do Ponto, Seleto, Caboclo e Pilão. Em 2008, o grupo americano comprou o paulista Moka, então 9º no ranking, e no ano passado adquiriu, por R$ 100 milhões, a paranaense Damasco, até então a quarta maior indústria do país. Na lista de negócios fechados pelas líderes, entra, ainda, a compra do Café Bom Jesus pela Melitta, em janeiro de 2006. Davilym Dourado/Valor Para Souza, da Sara Lee, famílias aumentarão consumo da monodose no país Na avaliação de Brando, o principal motivo que estimulará a continuidade da concentração da indústria no Brasil nos próximos anos é o fato de que a perspectiva para os preços da matéria-prima ainda é de alta. "Cerca de 60% da produção de café arábica está concentrada em países que tiveram suas moedas valorizadas. Para manter o interesse dos cafeicultores em continuar produzindo, os compradores terão que pagar mais dólares", diz. Além de adquirir as empresas menores e com dificuldades em sobreviver dentro das novas regras de mercado, as líderes da indústria de café decidiram, nos últimos tempos, adotar uma estratégia paralela. Apesar de o varejo ainda ser o principal canal com o consumidor, as grandes companhias estão buscando novas alternativas para agregar valor aos seus produtos, como já informou recentemente o Valor. Segunda no ranking nacional com uma fatia de 20%, a 3Corações tem o plano de elevar o investimento no marketing e comunicação de suas marcas em 20% neste ano. Os quase R$ 50 milhões aplicados no ano passado devem chegar a R$ 60 milhões em 2011 e representar 3% do faturamento do grupo. A expectativa é que as vendas as empresa neste ano atinjam a marca dos R$ 2 bilhões ante os R$ 1,66 bilhão obtidos no ano passado. "Precisamos criar fidelidade com o consumidor. O que temos feito nesse sentido é investir em nossas marcas, qualidade e em comunicação direta", afirma Pedro Lima, presidente da 3Corações. Com uma participação de aproximadamente 23% após a compra da Café Damasco, a líder Sara Lee tem no varejo seu maior canal de vendas, com mais de 90% da receita. A empresa não revela quanto investe e nem qual é sua estimativa de faturamento, mas lembra que já começaram a aparecer oportunidades em outros canais de vendas. "O varejo é se sempre será nosso principal foco, mas estão surgindo outras oportunidades que complementam nosso negócio", afirma Ricardo Souza, diretor de marketing da Sara Lee. Para o executivo, o canal de food service é um dos que mais cresce, mas as vendas de monodoses tendem a fazer parte da rotina das pessoas ao longo da próxima década. "Aquisição é uma coisa de momento e oportunidade. Nosso portfólio de produtos é bastante completo e estamos com bastante projetos em casa", afirma Souza. Dentro do movimento de consolidação da indústria do café no Brasil, a busca por novos canais de venda como o food service, monodoses e investimentos em alta qualidade era uma estratégia que vinha sendo adotada pelas médias empresas do setor. A ideia era fugir do varejo onde a concorrência de preços é maior para buscar alternativas para produtos com maior valor agregado. "A escala das líderes é muito grande e dificultam a concorrência das empresas menores. Além disso, grandes grupos passaram a ter uma atuação mais forte no segmento gourmet e com grandes inovações. Com isso, grupos menores que tentavam se posicionar nesse segmento encontram pela frente uma concorrência que não existia há cinco anos", afirma Nathan Herszkowicz diretor-executivo da Associação das Indústrias de Café (Abic). |
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Concentração na indústria de café ficará ainda maior
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