Estudo recém-concluído por um grupo de pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria da Agricultura paulista, aponta que, até 2030, 2,8 milhões de hectares ocupados com pastos em 2008 poderão dar lugar a canaviais, florestas plantadas e, em menor escala, seringueiras. O cálculo leva em conta as tendências de alta da demanda pelos produtos cultivados no Estado até lá. A disputa será ganha por tecnologia e eficiência.
Trata-se de um exercício baseado nos padrões de expansão dos diferentes segmento nos últimos anos, que projeta distintos cenários de incrementos - ou não - dos respectivos níveis de produtividade. Leva em consideração legislações em vigor no Estado e políticas de incentivo, mas obviamente não contempla guinadas nos preços ou influências climáticas.
Feitas as ressalvas e admitidas as extrapolações de praxe em estudos do gênero, o estudos dos pesquisadores Mário Pires de Almeida Olivette, Eduardo Pires Castanho Filho, Raquel Castellucci Caruso Sachs, Katia Nachiluk, Renata Martins, Felipe Pires de Camargo, José Alberto Ângelo e Luiz Henrique Domicildes Câmara Leal Oliveira chega à conclusão que, em termos absolutos, a concorrência entre cana e eucalipto pelas áreas que serão abertas pelo adensamento da pecuária será grande; relativamente, a borracha é a cultura que tem potencial para avançar mais.
Em 2008, a pecuária ocupava 8,072 milhões de hectares em São Paulo, a cana estava em 4,9 milhões, os eucaliptos em 860 mil e as seringueiras em 77 mil. No horizonte traçado, em 2030 a área de pastagens poderá cair para 5,272 milhões de hectares, a cana "brigará" para atingir entre 5,33 milhões e 6,8 milhões, o eucalipto poderá alcançar de 1,4 milhão a 2,7 milhões e as seringueiras, de 300 mil a 400 mil hectares. Ou seja, a área de cana poderia aumentar até 38,8%, a de eucalipto até 214% e a de seringueiras, até 419,5%, sempre considerando-se as tendências de alta das demandas no período.
Mais importante do que suas estimativas numéricas - que certamente serão revistas com o passar dos anos, a depender também do desenvolvimento de novas tecnologias nas respectivas cadeias de produção -, o estudo mostra que o campo paulista não ficará estagnado apesar de o Estado quase não contar mais com áreas virgens passíveis de serem abertas. É verdade que laranja e café, ainda expressivos em São Paulo, hoje não aparecem com força para brigar pelas áreas de pastagens que tendem a ser abertas. Mas haverá dinamismo e, assim, dificilmente haverá espaço para acomodações.
"Não acabou a fronteira agrícola paulista", afirma Mário Olivette. Para Felipe Pires de Camargo, o estudo demonstra que a eficiência do uso da terra pode aumentar. E como a rentabilidade média da pecuária ainda é baixa em algumas regiões do Estado e tem tudo para crescer, é nessas áreas que a disputa entre as diferentes atividades será mais acirrada. O raciocínio vale para outros Estados, sobretudo do Centro-Oeste e do Norte, e embasa projeções de que há no Brasil pelo menos 70 milhões de hectares de pastagens degradadas substituíveis por lavouras.
Diferentemente de outros Estados, lembra Eduardo Castanho, em São Paulo a pecuária se expandiu em áreas anteriormente ocupadas por lavouras. Como no passado mais distante não havia adubos químicos, afirma, quando a fertilização natural do solo acabava os rebanhos o ocupavam. "Hoje temos o processo inverso, e as culturas estão voltando a terras aptas a elas próprias", diz.
Olivette nota que o rebanho bovino de São Paulo, que é o maior produtor de carne do país, alcançava, em 2008, 11 milhões de cabeças, distribuídas por pouco mais de 8 milhões de hectares. A pecuária de corte é mais presente no oeste do Estado, enquanto a leiteira está mais para o centro e para o leste.
No entorno de 11 escritórios regionais da estrutura da Secretaria da Agricultura no oeste paulista, havia em 2008 mais de 2,5 milhões de cabeças. O estudo leva em consideração que, apenas no oeste, se todas as propriedades tivessem uma capacidade de lotação das pastagens abaixo da média, elas seriam distribuídas por mais de 3 milhões de hectares. Se todas migrassem para a média, as mesmas cabeças caberiam em menos de 1,8 milhão de hectares. Se esse processo ocorresse em todo o Estado, extrapola o trabalho, é que haveria a liberação dos 2,8 milhões de hectares até 2030, ou mais de 10% da área total cultivada no Estado.
"O mercado força a pecuária a se mexer. Desde o início do Plano Real, as terras em São Paulo vêm perdendo a característica de reserva de valor", diz Pires de Camargo. Nos últimos anos, graças a esse movimento, os rebanhos perderam 3 milhões de hectares de pastagens. É claro que a própria pecuária, mais eficiente, poderá encarar uma demanda tal que justifique que ela mesma dispute mais espaço. Mas as tendências de oferta, demanda e eficiência indicam que cana e eucalipto, já em expansão, afunilarão a concorrência.
Castanho realça, por exemplo, que na maior fazenda da região de Araçatuba, com 24 mil hectares, a pecuária foi substituída por cana e o rebanho foi enviado para terras mais baratas localizadas na Bahia. E Katia Nachiluk reforça que a produtividade dos canaviais está aumentando e que, com a colheita mecanizada onde é possível - em terrenos com muitas ondulações não é -, deverá crescer ainda mais.
Em 2000, destaca, a produtividade agrícola da cana paulista, foi de 76,04 toneladas por hectare, média que subiu para 81,66 em 2009, quando a cultura ocupava 26,81% do solo do Estado. No caso do eucalipto, aponta Castanho, a produtividade agrícola mais do que dobrou no período. Nessa direção e mantidas as tendências de demanda e a evolução das produtividades, conclui o estudo dos pesquisadores do IEA, as áreas liberadas pelas pastagens comportarão até com certa folga os crescimentos previstos para cana, eucalipto e seringueira. Se demanda e produtividades aumentarem mais do que o previsto, porém, a concorrência será mais acirrada.
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