Autor(es): Alex Ribeiro |
Valor Econômico - 26/04/2011 |
O presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, deverá sinalizar amanhã, em sua primeira entrevista coletiva após uma reunião de política monetária, o fim do controverso plano de expansão quantitativa de US$ 600 bilhões. Alguns economistas acham que a medida irá provocar alta nos juros dos títulos do Tesouro americano, mas a maioria acha que o impacto concreto será muito pequeno, porque a expansão quantitativa fez pouco para estimular a economia dos Estados Unidos. Os americanos, porém, não deveriam estar tão preocupados com o fim dos estímulos monetários, mas principalmente com os riscos de uma prematura consolidação fiscal. "Os Estados Unidos correm o risco de cometer o mesmo erro que o Japão", afirma Richard Koo, economista-chefe da Nomura Securities, um dos maiores estudiosos dos erros de política fiscal que levaram a uma década perdida no Japão, nos anos 90. Em resposta à crise financeira ocorrida a partir de 2007, os EUA baixaram os juros para próximo de zero, adotaram medidas pouco convencionais de expansão monetária e aprovaram pacote de estímulo fiscal de US$ 800 bilhões. Agora, preparam-se para desmontar esse aparato.
Muitos analistas acham que as medidas foram eficazes para evitar uma grande depressão, como a iniciada em 1929. Mas a economia ainda cresce lentamente, numa velocidade estimada em 2,8% pelo FMI, e o desemprego de 9,2% é considerado bastante alto para os padrões americanos. As estatísticas ainda apontam fragilidades no mercado imobiliário, que podem levar a um segundo mergulho recessivo. O partido Republicano, de oposição, venceu as eleições legislativas do ano passado com o discurso de austeridade fiscal. Eles sustentam que o alto déficit público inibe consumo e investimentos e, por isso, pressionam a administração Barack Obama a reduzir gastos. Conseguiram corte de US$ 38 bilhões no orçamento deste ano e, agora, ameaçam não renovar o teto do endividamento público, tentando forçar o governo a adotar um plano de consolidação fiscal de pelo menos US$ 4 trilhões. Para Koo, a continuidade dos estímulos fiscais é a única maneira para EUA e Europa evitarem a volta da recessão. "No Japão, tivemos os mesmos problemas políticos", afirmou, em entrevista ao Valor. "É quase impossível manter a expansão fiscal necessária numa democracia e em tempos de paz." A crise americana e europeia atual, afirma ele, é idêntica à vivida pelo Japão a partir de meados da década de 90. No caso do Japão, levou 15 anos para combatê-la, em parte porque o governo recuou na hora errada, em 1997 e em 2001. "Ao primeiro sinal de recuperação, o governo fez o ajuste fiscal", afirmou. "A economia afundou, a arrecadação caiu e a situação fiscal ficou pior ainda." Se o governo japonês não tivesse errado, o problema seria superado em dez anos, diz ele. Estados Unidos, Europa e Japão dos anos 90 enfrentaram o que Koo chama de recessão de balanço privados. Antes da crise, empresas e indivíduos tomaram muito dinheiro emprestado para comprar ativos, como propriedades e ações, cujos preços ficaram supervalorizados. Quando as bolhas estouraram, os preços dos ativos caíram, e o setor privado ficou com enormes dívidas em seus balanços. Agora, estão poupando para quitar esse débitos, num processo que pode levar anos. No caso do Japão, o ajuste demorou 15 anos, porque os preços dos imóveis caíram 75% e o governo fez a coisa errada. Nos EUA, o ajuste nos balanços pode levar algo como seis anos, porque a queda dos preços foi em torno de 40%, mas depende de o governo americano fazer a coisa certa. "Os EUA têm a vantagem de aprender com o exemplo do Japão", disse. Quando empresas e indivíduos aumentam poupança para pagar dívidas, corte nos juros e emissões monetárias, como os patrocinados pelo Federal Reserve, têm impacto quase nulo para aumentar a oferta de dinheiro na economia. Os bancos não querem conceder empréstimos, porque o setor privado está muito endividado. E o setor privado não quer tomar empréstimos, porque sua prioridade é pagar dívidas. Nos EUA, alguns analistas afirmam que a situação do país é diferente, porque sua população é mais jovem, há mais imigrantes e o mercado de trabalho é mais flexível. "Conversa", afirma Koo. "Todo mundo vem com uma desculpa para dizer que é diferente do Japão." O indicador mais importante, afirma ele, é comparar o aumento de poupança privada com o aumento do déficit público. Se o setor privado passou a poupar mais do que a expansão fiscal, a economia segue numa recessão provocada por um processo de ajuste de balanço privado. Nos Estados Unidos, afirma, o aumento de poupança privada é de cerca de 13% do PIB, mais do que o aumento do déficit fiscal, de cerca de 8%. Mesmo em países da Europa, como Espanha, Irlanda e Portugal, a expansão fiscal ainda está atrás do aumento da poupança privada. Por isso, para esses países a recomendação de Koo é que os governos continuem gastando para estimular a economia. A regra, porém, não vale para a Grécia, que apenas expandiu o gasto público, sem aumento de poupança privada. "Sinto muito pelos gregos, mas eles têm que fazer o ajuste fiscal", afirma ele. Contrações fiscais só têm impacto expansionista sobre a demanda agregada, como pregam republicanos nos Estados Unidos, e conservadores na Inglaterra, quando o setor privado não está se desalavancando. "Se o setor privado é saudável, o corte do déficit público vai abrir mais espaço para o setor privado", afirma Koo. "Os juros vão cair." A China, afirma Koo, é um dos raros países que seguiram à risca a lição japonesa. Quando foi atingida pela crise de 2008, o país asiático tinha mercados acionário e imobiliário supervalorizados, com vários sinais de bolha. Se houvesse uma recessão naquela época, afirma o economista da Nomura, a China entraria num processo de ajuste de balanço privado. A resposta chinesa foi um pacote fiscal de 17% do PIB. "A China pode fazer", afirma Koo. "Não é uma democracia." |
quarta-feira, 27 de abril de 2011
EUA repetem erro do Japão dos anos 90
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