sábado, 30 de abril de 2011

Polêmico, Ipea não vê falta de qualificação no país

Valor Econômico - 29/04/2011
 

O Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) introduziu ontem uma tese polêmica no debate sobre a qualificação profissional como entrave no crescimento econômico - este ano terminará com um contingente pouco superior a 1 milhão de pessoas desempregadas com qualificação. Segundo o economista Marcio Pochmann, presidente do Ipea e especialista em mercado de trabalho pela Unicamp, o excedente de pessoas qualificadas não é aproveitado porque elas estão "na região errada". Isto é, o déficit de 2,8 mil trabalhadores qualificados na construção civil em Alagoas, estimado pelos técnicos do Ipea para este ano, poderia ser suprido pelo saldo de três mil trabalhadores qualificados no setor que serão gerados no Acre ao longo de 2011.
No estudo, divulgado ontem em São Paulo, os técnicos do Ipea estimam que 19,3 milhões de pessoas serão demitidas ao longo do ano, número superior aos 17,8 milhões que perderam emprego em 2010. O órgão de estudos federais avalia que todos eles são qualificados para trabalhar em suas respectivas funções. De acordo com Pochmann, as empresas demitem "porque é fácil demitir", e as razões por detrás dessas demissões se concentram nos altos salários. "Quando o trabalhador atinge seu pico de produtividade e seu salário já está alto, a empresa demite e contrata outro, com salário maior. O demitido, no entanto, tem qualificação para trabalhar em qualquer outra companhia de seu setor", avalia.
Para chegar no saldo de 1,048 milhão de trabalhadores qualificados que terminarão o ano sem emprego, o Ipea levou em conta que 762 mil dos 1,5 milhão de trabalhadores que ingressarão na população economicamente ativa (PEA) neste ano tem qualificação para trabalhar. E por qualificação, o Ipea entende aquele trabalhador que frequentou um curso de especialização ou já trabalhou na área.
Apenas a indústria registrará déficit de vagas no país, avalia o Ipea - enquanto os Estados do Norte e Nordeste contarão com um contingente de 36,6 mil operários qualificados sem emprego, apenas a região Sul contará com déficit de 51,5 mil trabalhadores com especialização industrial. Segundo Pochmann, o sistema público de emprego, coordenado pelo Ministério do Trabalho, deve ser aprimorado de forma a dinamizar a mobilidade regional de trabalhadores. Quer dizer, metalúrgicos sem emprego no polo de Camaçari (BA), onde o Ipea estima excedente de mão de obra qualificada, poderiam ocupar vagas abertas nas metalúrgicas de Jaraguá do Sul (SC).
"O sistema público tem de fazer sua parte, seja ampliando cursos profissionalizantes, seja ampliando a coordenação entre as informações sobre desemprego e o despacho de trabalhadores qualificados ociosos para regiões onde há demanda por sua mão de obra", diz Pochmann.

Ipea estima 1,7 milhão de novos empregos em 2011

Comunicado do Ipea nº 89, lançado em São Paulo, faz projeções de demanda e oferta de mão de obra no Brasil
Ipea divulgou na tarde desta quinta-feira, 28, em São Paulo, o Comunicado nº 89 – Emprego e oferta qualificada de mão de obra no Brasil: projeções para 2011. O Comunicado, apresentado em coletiva de imprensa pelo presidente do Ipea, Marcio Pochmann, relaciona as perspectivas de oferta de mão de obra e a demanda por trabalhadores qualificados no País.
O estudo indica que a expansão econômica esperada para o ano de 2011 tende a afetar positivamente o mercado de trabalho brasileiro. Uma das conclusões do Comunicado é que deverá ocorrer escassez de mão de obra qualificada e com experiência profissional ao longo do ano de 2011. “Porém, hoje essa escassez não é global, mas restrita a alguns setores”, disse Pochmann.
Haverá, em 2011, excedente de força de trabalho no mercado brasileiro, mas sem qualificação ou experiência, impactando no alcance do pleno emprego global. Isso deve ocorrer, segundo a pesquisa, devido à estimativa de uma demanda de mão de obra de cerca de 22,1 milhões de pessoas ante os 28,2 milhões de trabalhadores disponíveis no mercado brasileiro.
Segundo Pochmann, em 2011 a geração de empregos será menor que em 2010. Isso reflete o crescimento projetado do PIB brasileiro para o ano corrente, cerca de 5%, portanto inferior aos 7,5% do ano passado. “Em 2010 o Brasil gerou cerca de 2,5 milhões de empregos. Para este ano, a projeção é de 1,7 milhão”, destacou Pochmann.
Apesar da falta de trabalhadores qualificados em determinados setores da economia, o Comunicado do Ipea nº 89aponta a estimativa de cerca de um milhão de pessoas com qualificação e experiência profissional que deverão figurar como excedente de mão de obra em 2011. Tal situação advém da incompatibilidade entre a qualificação desses trabalhadores e a qualificação exigida para preenchimento das vagas.
Para a realização da pesquisa, o Ipea utilizou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

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