O governo prepara uma reação para minimizar o problema da escassez de mão de obra na construção civil. Uma ação coordenada pelo Ministério do Trabalho e Emprego vai ampliar a oferta de cursos para a qualificação profissional no setor. O plano, conforme apurou oValor, é aumentar a oferta de trabalhadores que atuam na base da pirâmide do setor, oferecendo cursos básicos para profissões como pedreiro, armador, ajudante de obra, mestre de obra e carpinteiro, entre outros. Até junho, o ministério quer lançar um novo programa de formação para construção civil com 25 mil vagas. As aulas serão dadas por várias organizações de ensino técnico espalhadas pelo país. Em maio, o projeto, que tem custo estimado em R$ 25 milhões, passará por uma audiência pública. Os recursos usados saem do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Outro pacote de formação voltado para as obras de infraestrutura da Copa do Mundo será lançado no segundo semestre, com mais 25 mil vagas. Nesse caso, serão realizados também cursos técnicos ligados às áreas de transporte e turismo. Somados a outras iniciativas em andamento no ministério, os programas tocados pelo governo deverão colocar no mercado cerca de 80 mil pessoas com formação básica para atuar em obras pelo país. É um número relevante, mas que não chega a fazer sombra à demanda atual. O volume atual de obras em andamento no país exige, segundo cálculos do ministério, a formação de 500 mil profissionais. "Nossa demanda imediata é de meio milhão de vagas. Estamos longe disso, mas há muitas iniciativas em andamento", diz Ana Paula da Silva, diretora de qualificação do ministério. A situação atual é resultado da baixa atenção dada pelo governo nos últimos anos para a formação de profissionais, problema alargado com o aumento recorde de obras no país. Os dados de cursos de qualificação realizados pelo ministério apontam que o governo executou 628 mil treinamentos em construção civil entre 2005 e 2010. Nesse período, o investimento total aplicado nesses treinamentos atingiu R$ 337,2 milhões. O pico foi atingido em 2008, quando 141 mil vagas foram preenchidas, com custo de R$ 89 milhões. De lá para cá, porém, o volume anual de cursos oferecidos caiu. Em 2009, o número de aulas foi reduzido para 94 mil. Em 2010, foram apenas 60 mil. Os cursos técnicos oferecidos pelo governo duram, em média, de três a quatro meses. São apoiados por instituições como o Senai, Instituto Êpa e Organização Oxigênio, entre outras. As aulas, básicas e gratuitas, ensinam o manuseio de ferramentas e máquinas e segurança do trabalho, mas o conteúdo didático varia de acordo com a região na qual os cursos são realizados, já que estão alinhados a necessidades de cada tipo de obra. "É preciso reconhecer que há um problema de precarização do setor. Falta um plano de carreira, alguma projeção de ascensão para o trabalhador. São situações que temos de resolver", diz Ana Paula. Com a dificuldade das empresas para atrair jovens, houve uma mudança no perfil dos interessados em trabalhar nos canteiros de obra. De 2008 para cá, os cursos técnicos de construção civil oferecidos pelo ministério somaram 125 mil alunos. Desses, 70% eram mulheres. "Hoje, 97% dos trabalhadores ainda são homens, mas esse número tende a mudar nos próximos anos", diz Ana Paula. "Dentro de uma obra, há diversas funções que as mulheres podem cumprir e isso é uma tendência." A presença das mulheres também é forte nos cursos oferecidos pelo Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), iniciativa patrocinada pela Petrobras, em parceria com o governo federal. Oferecidos desde 2006, os cursos já receberam 78 mil alunos para aulas técnicas ligadas ao setor de petróleo e gás, além da construção civil. Em áreas operacionais e técnicas, a participação das mulheres foi de 24%. Nas aulas de construção civil, o percentual sobe para 42%. Para Marcos Formiga, assessor da diretoria do Senai Nacional, os cursos de formação técnica tentam mudar um sistema que sempre alimentou a indústria da construção pesada, marcada pela informalidade e pela contratação indiscriminada de trabalhadores. "O trabalho baseado apenas em força física foi marca do século passado. Essas obras requerem cada vez mais uma pessoa especializada", afirma Pimenta. "A situação que estamos vivendo apenas desnuda o fato de que o país está despreparado para lidar com essa demanda." A escassez de profissionais não está restrita a posições mais básicas da construção pesada. O volume de engenheiros formados por ano no país também está muito aquém da necessidade. "Hoje, formamos 40 mil engenheiros por ano, mas temos a necessidade imediata de dobrar essa quantidade. O país está clamando por mais profissionais", diz Formiga. Atualmente, segundo dados do Senai, há 80 mil vagas de engenheiros na construção civil não preenchidas. Em 2006, o setor empregava 1,8 milhão de trabalhadores. No ano passado, esse contingente chegou a 2,8 milhões de pessoas, segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), referentes a todo o país. Só em 2010, foram gerados 320 mil empregos no setor com carteira assinada, crescimento de 13% sobre o ano anterior. Hoje a taxa de desemprego no segmento é praticamente inexistente, de apenas 2,3%.
Mão de obra vai afetar preços na construção
Autor(es): Ana Luísa Westphalen | De São Paulo |
Valor Econômico - 27/04/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/27/mao-de-obra-vai-afetar-precos-na-construcao |
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Principal responsável pela aceleração dos preços da construção civil neste mês, o grupo mão de obra deve continuar contribuindo para a alta dos custos do setor. Isso porque maio é a data-base de reajuste para os trabalhadores da construção civil em São Paulo, capital que responde pelo maior peso no Índice Nacional de Custo da Construção - Mercado (INCC-M). A leitura de maio já deve refletir os resultados do acordo da capital paulista, mas dependendo da data em que a negociação for concluída, a elevação poderá ser sentida apenas no mês de junho, observa a coordenadora do índice da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ana Castello. Em abril, os custos da mão de obra - que têm peso de quase 50% no índice - avançaram 1,16%, diante de alta de 0,27% em março. O aumento foi reflexo de reajustes salariais ocorridos em função da data-base em Salvador e no Rio de Janeiro. Além disso, em Porto Alegre, houve um adicional previsto em acordo coletivo. Com isso, o INCC-M de abril apresentou alta de 0,75%, o que representa uma aceleração em relação ao resultado do mês passado, de aumento de 0,44%. O que mais chamou a atenção em abril, segundo Ana Castello, foi a desaceleração dos preços de materiais, equipamentos e serviços, que passaram de 0,60% de alta em março para 0,36% de acréscimo neste mês. O subíndice material metálico, que contempla as variações de preço do vergalhão, mostrou recuo de 1,54% para 0,85% na passagem mensal. "Esse movimento não era esperado, considerando o contexto de ritmo forte do setor", avalia a economista da FGV, citando que em alguns casos, foi inclusive verificada deflação, como no preço de produtos químicos (queda de 1,64% em abril). Para a coordenadora do índice da FGV ainda é cedo para determinar se essa desaceleração na cesta de materiais e serviços é pontual ou se trata de uma tendência, pois depende da pressão dos insumos na indústria de material de construção. Na avaliação de Ana Castello, o resultado do acordo salarial firmado com os trabalhadores de São Paulo será determinante para o desempenho do INCC-M no ano. Em 2010, foi fixado um reajuste de 8%. "Se vier muito diferente, vai interferir no acumulado", explica. No primeiro quadrimestre do ano, o indicador acumula alta de 1,96%, o que, segundo a economista, aponta para um comportamento semelhante ao visto no ano passado, quando o INCC-M fechou com variação positiva de 7,5%. |
Para evitar atrasos em projetos, estatal amplia treinamento
Valor Econômico - 27/04/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/27/para-evitar-atrasos-em-projetos-estatal-amplia-treinamento |
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A situação enfrentada hoje pela Petrobras nos canteiros de obras de refinarias em fase inicial de construção dá o tom da necessidade de formação de mão de obra especializada na construção civil. No município de Bacabeira, no Maranhão, há hoje 528 funcionários trabalhando na fase de terraplenagem da refinaria Premium I. Entre um e dois anos, porém, no pico das obras, está prevista a atuação de 26 mil trabalhadores no local. Com investimento de US$ 19,9 bilhões, o que faz do projeto o maior do país em andamento, a Premium I tem previsão de criar 132 mil empregos, somadas as contratações indiretas e por efeito renda. No município de Caucaia, no Ceará, a situação se repete. No local que receberá a refinaria Premium II, há hoje apenas 43 funcionários atuando na fase de sondagem geológica. No pico da obra, 20 mil empregos serão criados. Com vocação para produzir diesel, querosene de aviação, nafta, gás de cozinha e bunker, a Premium II vai receber investimento de US$ 9,7 bilhões e terá capacidade de produção de 300 mil barris por dia. Até janeiro de 2017, quando está previsto o início das operações, a obra vai criar 90 mil empregos, entre diretos, indiretos e por efeito renda. Para apoiar a formação de mão de obra e evitar atraso nos projetos, a Petrobras vai ampliar o seu Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), diz José Renato Ferreira de Almeida, coordenador-executivo do programa, que já formou 78 mil profissionais nos últimos cinco anos. O plano atual prevê que mais 212 mil pessoas passem pelos cursos até 2014. A preocupação da Petrobras não é treinar pessoas para contratar de forma direta. Na realidade, quem passa pelo Prominp é capacitado para ser contratado por outras companhias que prestam serviços para a Petrobras. Os cursos, que duram de três a quatro meses, estão divididos em 185 categorias profissionais - de níveis básico, médio, técnico e superior - abrangendo áreas operacionais de petróleo e gás, além da construção civil. Se o aluno está desempregado, a Petrobras paga uma bolsa que varia de R$ 300 a R$ 900 por mês. Dos 78 mil formados até agora, apenas 11 mil pessoas fizeram cursos específicos de construção civil, mas pelo volume de obras atuais, só neste ano a Petrobras quer formar mais 20 mil pessoas na área. Segundo José Renato Ferreira de Almeida, o programa já recebeu investimentos de R$ 228 milhões até agora, mas outros R$ 554 milhões estão previstos até 2014. Os resultados são positivos. "Dos alunos que já fizeram os cursos até hoje, 35% chegaram ao Prominp empregados, mas no fim do curso, 80% já estavam trabalhando com carteira assinada", diz Almeida. Além das demandas nas obras nas refinarias Premium I e II, a Petrobras também terá de colocar mais 19 mil trabalhadores para trabalhar na construção do complexo petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Hoje 6 mil pessoas já trabalham na obra. A refinaria do Comperj tem o início de operação da sua primeira fase previsto para o fim de 2013, com capacidade de processamento de 165 mil barris de petróleo por dia. Na segunda fase, prevista para 2018, será atingida capacidade total de 330 mil barris de petróleo por dia. Na área de refino, o projeto mais adiantado é o da refinaria Abreu e Lima (Rnest) em Pernambuco, onde a petroleira já tem 20 mil trabalhadores em operação, com previsão de chegar ainda este ano a 26 mil pessoas. Na rasteira das paralisações que tomaram conta das obras das usinas em construção no rio Madeira, em Porto Velho, as operações da Abreu e Lima foram interrompidas mês passado, mas os funcionários retornaram ao trabalho após um acordo com o sindicato patronal. O volume de investimentos da Petrobras em petróleo e gás passou de US$ 5,8 bilhões em 2003 para US$ 42,5 bilhões em 2010. |
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