quinta-feira, 28 de abril de 2011

Contas externas têm rombo recorde

Rombo nas contas com exterior vai a US$ 14 bi
Autor(es): Renato Andrade e Fabio Graner
O Estado de S. Paulo - 27/04/2011
 
Recorde negativo no trimestre foi causado pela remessa de lucros e gastos de turistas

A disparada na remessa de lucros e o forte aumento das despesas de turistas brasileiros provocaram mais um rombo recorde nas contas externas do País em março. O saldo das transações comerciais e financeiras com o resto do mundo ficou negativo em US$ 5,7 bilhões, o maior déficit para meses de março desde 1947, início da série do Banco Central.
Apesar disso, o BC se diz tranquilo com a situação porque a entrada de investimentos estrangeiros tem sido mais do que suficiente para cobrir o buraco. De acordo com dados divulgados ontem, os estrangeiros investiram diretamente em empresas brasileiras US$ 6,8 bilhões no mês passado, garantindo uma folga de quase 20% em relação ao déficit das contas externas.
O resultado do trimestre também é recorde. Enquanto o saldo das transações correntes ficou negativo em US$ 14,6 bilhões, os chamados investimentos estrangeiros diretos atingiram a marcar de US$ 17,5 bilhões.
"As contas externas do País, tanto em março, quanto no primeiro trimestre, vieram em linha com aquilo que a gente estava esperando, ou seja, uma ampliação do déficit em transações correntes que, em última instância, reflete o crescimento da economia brasileira", afirmou Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC. "Ao mesmo tempo, tivemos uma elevação dos recursos na conta financeira, que permitirá o financiamento em condições favoráveis deste déficit crescente."
Um dos fatores que contribuíram para o aumento do buraco nas contas externas foi o comportamento das chamadas remessas de lucros e dividendos. Filiais de empresas internacionais repassaram para suas matrizes US$ 3,7 bilhões no mês passado, um aumento de 83% em relação ao que havia sido enviado no mesmo período do ano passado. No trimestre, as remessas somaram U$ 8,4 bilhões, bem acima dos US$ 4,5 bilhões no primeiro trimestre de 2010.
Segundo Maciel, essas empresas têm aproveitado o bom desempenho da economia brasileira para ampliar lucros e garantir uma remessa gorda de recursos às matrizes. "Essa é uma tendência. Tivemos uma conjuntura favorável ao longo do ano de 2010, com crescimento expressivo, e isso se reflete no envio de lucros e dividendos."
Turismo. O dólar barato e a melhora na renda também fizeram com que mais brasileiros embarcassem para o exterior, aumentando ainda mais o déficit na conta de viagens internacionais.
Somente em março, o dinheiro deixado lá fora por turistas brasileiros superou em pouco mais de US$ 1 bilhão o que foi gasto por estrangeiros em viagens pelo Brasil. O resultado representa um aumento de 87,15% em relação a março do ano passado. De janeiro a março, os brasileiros gastaram US$ 4,7 bilhões em viagens no exterior, enquanto os estrangeiros deixaram por aqui US$ 1,8 bilhão.
Pelos cálculos do BC, o Brasil deve encerrar o ano com um déficit de US$ 60 bilhões na conta corrente. Este saldo deve ser praticamente todo financiado com a entrada de investimentos estrangeiros diretos, estimados em US$ 55 bilhões pelo BC.

Turismo eleva rombo na conta externa

Gasto de turistas brasileiros no exterior é recorde
Autor(es): agencia o globo: Geralda Doca
O Globo - 27/04/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/27/turismo-eleva-rombo-na-conta-externa
 
Conta de viagens tem rombo de US$1 bi em março, uma alta de 87% sobre 2010. Déficit externo atinge US$5,6 bi

BRASÍLIA. Impulsionados pelo dólar barato, os gastos dos turistas brasileiros no exterior bateram recorde em março e levaram a conta de viagens internacionais a virar o mês com déficit de US$1,020 bilhão - alta de 87% na comparação com igual período de 2010. Enquanto os brasileiros deixaram lá fora US$1,650 bilhão, os turistas estrangeiros gastaram US$630 milhões aqui. No primeiro trimestre, o resultado negativo somou US$2,927 bilhões, o maior da história para os primeiros três meses. Os dados parciais de abril também apontam para saldo negativo de US$1,001 bilhão até o dia 26. A série histórica do Banco Central (BC), que divulgou os dados, começa em 1947.

O crescimento das despesas com viagens fora do país ajudou a pressionar o desempenho das transações correntes (operações de troca de bens e serviços do país com o resto do mundo) no mês passado, que ficaram no vermelho em US$5,676 bilhões, atingindo US$14,631 bilhões entre janeiro e março e US$50,047 bilhões nos últimos 12 meses. Foram os piores resultados para tais períodos em 64 anos.

O pagamento do aluguel de equipamentos no exterior também contribuiu para o comportamento das contas externas, tendo registrado déficit de US$1,259 bilhão em março - praticamente repetindo o recorde de igual mês de 2010 e alcançando resultado negativo de US$3,619 bilhões no primeiro trimestre.

- Há ampliação do déficit em conta corrente porque o país está crescendo e, com isso, precisa importar bens de capital, bens intermediários, de consumo e (exibe) uma demanda maior no volume de serviços - disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.
O desempenho das contas externas, segundo ele, não preocupa porque o país tem atraído cada vez mais investimentos estrangeiros no setor produtivo que cobrem com folga o déficit de transações correntes. Em março, o chamado investimento estrangeiro direto (IED) atingiu R$6,791 bilhões, o melhor resultado para o mês, somando US$17,473 bilhões no primeiro trimestre - também recorde.

Medidas do governo não têm surtido efeito 
A despeito do efeito positivo do ingresso de capital externo para o equilíbrio do balanço de pagamentos, formado pelas contas corrente e de investimentos, o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), Luis Afonso Lima, chama a atenção para o crescente déficit corrente, que caminha para 3% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Segundo ele, esse comportamento não é sustentável no longo prazo e acabará por incomodar os investidores estrangeiros.

- As medidas tomadas pelo governo brasileiro, como taxação do IOF, não têm surtido efeito no câmbio. Então, está na hora de agir, pensando no longo prazo. O Estado pode melhorar a competitividade dos produtos nacionais, enfrentando a questão tributária, trabalhista e os gargalos na infraestrutura - disse.

Devido ao crescente ingresso do capital externo, subiram as remessas de lucros e dividendos em março, com déficit de US$3,716 bilhões, o mais alto desde março de 2008 e somando no primeiro trimestre resultado negativo de US$8,398 bilhões.

- Isso reflete o ingresso expressivo de investimentos estrangeiros nos últimos anos, uma conjuntura favorável da economia brasileira, com as companhias enviando lucros para as matrizes no exterior - explicou Maciel.

Até o dia 26 deste mês, a conta de investimentos estrangeiros estava positiva em US$4 bilhões, devendo fechar o mês em US$4,3 bilhões. Os dados apresentados ontem pelo BC mostram ainda que a dívida externa total subiu US$22,4 bilhões entre dezembro e março, sendo que US$18,9 bilhões do total foram recursos captados por bancos lá fora para expandir o crédito no país.

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