quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Dívida de emergentes passa a 'seguir' Treasuries


Autor(es): Por Alex Ribeiro | De Washington
Valor Econômico - 31/08/2011
 
Os títulos emitidos por governos de países emergentes, incluindo o Brasil, passaram a oscilar na mesma direção que os papéis de economias avançadas nas últimas semanas, sendo menos rejeitados por investidores que buscam um porto seguro em períodos de estresse. Esse é um fenômeno recente e de duração ainda incerta, mas pode representar uma ruptura em relação ao padrão das últimas décadas.
No passado, ao menor sinal de crise, os investidores procuravam se abrigar em papéis de países desenvolvidos, como os títulos do Tesouro americano - os Treasuries - num movimento conhecido como "flight to quality", ou fuga para a qualidade. Nessas ocasiões, ativos de países emergentes eram desprezados e perdiam valor.

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"No passado, os bônus de países emergentes eram considerados os ativos de maior risco", afirma Benoit Anne, chefe global de estratégia para mercados emergentes do Société Générale, baseado em Londres. "O que temos agora é que, diante dos receios sobre o crescimento mundial, os bônus dos mercados emergentes estão se valorizando em linha com os bônus de países desenvolvidos."
Os dados mostram que, em agosto, depois que aumentaram as preocupações do mercado financeiro sobre a saúde da recuperação das economias americana e europeias, o retorno dos títulos do Tesouro americano de 10 anos caíram de 2,8% para 2,18% ao ano -o retorno se move na direção contrária à do preço dos papéis. No mesmo período, o swap de 360 dias, uma aproximação do quanto o Tesouro do Brasil paga por sua dívida, caiu de 12,59% para 11,29% ao ano.
Paulo Valle, subsecretário da dívida pública do Tesouro Nacional, lembra que em 2008, quando os mercados sofreram um período de forte estresse em virtude da quebra do banco Lehman Brothers, os juros nos Brasil subiram, enquanto o retorno pago pelos títulos americanos encolheu. Alguns títulos brasileiros chegaram a pagar juros de 18% ao ano.
Naquele período, os investidores acreditavam que os países emergentes, incluindo o Brasil, seriam obrigados a subir os juros para enfrentar a crise, repetindo o padrão observados nas turbulências anteriores. Na crise asiática, por exemplo, ocorrida em 1997, o Brasil subiu os juros para mais de 40%. Na quebra do Lehman, porém, os emergentes acabaram cortando juros para estimular as suas economias. "A crise de 2008 foi um divisor de águas", afirma Valle.
Nos momentos de crise, os juros pagos pelos títulos do Tesouro americano caem porque aumenta a procura desse papel pelos investidores - que ainda o consideram o ativo mais seguro do mundo. Recentemente, alguns economistas passaram a questionar se o Tesouro americano é ainda um porto seguro, diante dos altos déficits e dívida pública dos Estados Unidos e o desempenho medíocre de sua economia.
Com situação fiscal em geral um pouco mais sólida do que a dos países avançados, as economias emergentes são cada vez mais apontadas como destino mais seguro para investimento. Apesar disso, seus ativos ainda não são considerados de melhor qualidade do que os de países desenvolvidos pelo mercado de forma geral nem pelas agências de classificação de risco de crédito.
Valle avalia que a queda recente dos juros dos títulos no Brasil tem pouco ou nada a ver com um movimento de "flight to quality". Em tese, para se caracterizar um genuíno "flight to quality" deveria ter havido forte ingresso de investimentos estrangeiros no mercado de títulos da dívida, o que não ocorreu. O Brasil também tem IOF em aplicações de estrangeiros em títulos, o que desestimula movimentos de curto prazo. Mas, reconhece ele, o fato de não ter havido fuga de investidores estrangeiros e brasileiros significa, de certa forma, o reconhecimento da segurança dos papéis brasileiros.
Para Valle, a queda recente dos juros pagos pelos títulos públicos tem mais a ver com a perspectiva de desaceleração da economia global. "O governo tem indicado que, dessa vez, irá usar os juros para estimular a economia, e não instrumentos fiscais", afirma Valle.

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