Autor(es): Sergio Leo | De Sanya, China | ||||
Valor Econômico - 15/04/2011 | ||||
Os bancos de desenvolvimento e de comércio exterior dos Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, firmaram acordo para operações conjuntas de apoio a comércio e investimento. Os técnicos desses bancos começam nos próximos dias a discutir as formas de atuação conjunta, que poderão incluir transações em moeda local, sem necessidade de uso de moedas fortes como o dólar. Os mecanismos de financiamento deverão entrar em operação em 2012, segundo os dirigentes das instituições. "As prioridades são distintas em cada um dos países, as nossas são desenvolvimento da indústria brasileira e atração de investimentos que agreguem valor e tecnologia", detalhou o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Ele informou que os bancos devem, inicialmente, trabalhar com os mecanismos já existentes, nem sempre usados devido ao desconhecimento por parte das autoridades e dos eventuais interessados. Coutinho comentou que o BNDES já pode operar com moeda local em empréstimos a países do Brics, desde que as empresas beneficiadas invistam no país. É ainda só uma ideia, porém, a conversa sobre empréstimos em moeda local, sobre mecanismos com menor risco cambial para as empresas, como um que permitisse, por exemplo a uma empresa russa tomar financiamentos do BNDES em rublos para investir no Brasil. Ontem, em encontro com a presidente Dilma Rousseff, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, lembrou a ela o acordo firmado em maio de 2010 entre ele e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para formar um grupo de estudo destinado a desenvolver mecanismos de comércio em moeda local. Dilma disse estar interessada e prometeu trabalhar no tema. A busca de mecanismos para dispensar o uso de moedas fortes como o dólar e o euro nas transações entre os Brics vem sendo discutido desde a formação do grupo, com maior interesse entre os russos e uma posição ambígua por parte da China, que não deixa clara sua intenção em relação ao assunto. Especialistas do governo brasileiro veem com pouco interesse a proposta, porém, devido às grandes diferenças entre as economias dos Brics, e dificuldades de operacionalização do mecanismo, que existe apenas com a Argentina, numa pequena parte do comércio bilateral e deve ser estendido a outros países da América do Sul, com fortes fluxos de comércio com o Brasil. Em julho, reunidos na cidade russa de São Petersburgo, os bancos devem "harmonizar" o conhecimento sobre os instrumentos disponíveis e as possibilidades de cooperação, envolvendo ou não transações exclusivamente em moedas locais, informou Luciano Coutinho. Os mecanismos de financiamento conjunto deverão entrar em operação no ano que vem. Ele vê mais chances de desenvolver mecanismos conjuntos de financiamento a investimentos do que ao comércio, onde há menos experiências nesse tipo de cooperação. "Se uma pequena empresa de software da Índia quiser investir no Brasil poderei ter o suporte da Índia para avaliação de risco, eventualmente para troca de garantias e vice-versa", exemplificou. "Poderemos ajudar empresas brasileiras que queiram investir em outras economias, provendo análise de crédito e trocas de garantias entre nós." Coutinho disse ter preocupação em criar instrumentos de apoio conjunto à atuação de pequenas empresas brasileiras, e também, interesse em incentivar projetos de infraestrutura entre os países do Brics. "Temos empresas de engenharia competentes e eficientes", lembrou. "Podemos financiar a exportação de bens e serviços, e os bancos no outro país podem avaliar o financiamento dos gastos locais." Outra linha de ação possível é a avaliação de projetos em conjunto pelos bancos, para apoio também comum a investimentos, inclusive em outros países, na África, por exemplo. Por enquanto, é o Banco de Desenvolvimento da China quem mais tem atuado com empresas dos Brics, para quem, segundo informou o banco chinês, já emprestou mais de US$ 38 bilhões. No mesmo ano, 2009, em que emprestou US$ 10 bilhões à Petrobras, também fez um contrato de financiamento de US$ 25 bilhões a empresas russas, em troca da garantia de fornecimento russo à China de 300 mil barris diários de petróleo, até 2030. [A segundaVerdrägung, "deslocamento", "repressão", os empréstimos internacionais. Antecedem às crises industriais e comerciais uma forte ampliação da realização e da acumulação da mais-valia, antecipados com os capitais excedentes. Não é correto afirmar que a China virá a quebrar, mas alguns de seus capitalistas individuais, junto com as camadas e os sistemas bancários envolvidos no empréstimo internacional dos demais países. Até aqui não há novidade; essa crise no horizonte, que o mercado esconde com seu otimismo, certamente porque irá lucrar com ela, será de ajuste e preparação para nova ampliação, como de regra, seguida de concentração. Agora, uma idéia a mais. Tanto para adiá-la, a fim de conseguir tempo para organizar-se, quanto para defender-se da crise, cabe aos BRICS projetar mecanismos para exteriorizar os custos de sua reprodução ampliada. Por paradoxal que pareça, a maior beneficiária da crise dos emergentes, a China, está em condições de melhor defender-se dela, porque é uma ditadura. Nos outros países, o aparelho democrático levará a mudanças de líderes e, possivelmente, de governança; aí, sim, o projeto de conjunto estará ameaçado, por instabilidade e demagogia, posto o momento de disputas fisiológicas que o âmbito doméstico em cada país abrirá, mesmo na Rússia. Ora, cabe a cada um dos países assumir a função, sobre os respectivos quintais, de posto-avançado do Subimperialismo, a fim de coordenar o próprio Imperialismo - que, somente associadas, podem exercer; e com vantagem sobre o que até este ponto da História puderam-no Inglaterra e Estados Unidos (se bem que o plano Marshall etc.). Assim, que a África do Sul possa, menos subjugar do que hegemonizar os vizinhos do continente africano, o Brasil, da América Latina, a Rússia, da Europa do Leste e da Ásia Maior. Quanto à Índia e à China, são casos particulares, de alcance ao mesmo tempo imediato, sobre o Oriente Médio e a Ásia Menor, e os grandes blocos capitalistas. Os BRICS não podem converterem-se num clube autofágico. Espontaneamente a China tenderá a tanto, porque é aquela que mais tem excedente de capital e aquela a quem mais interessa aos demais países dos BRICS imiscuirem-se, tecnologicamente defasados. A examinar: de início, para evitar a implosão do bloco e a falência das pretensões de cada um dos seus membros, misturar os conglomerados industriais, a fim de que não se criem capitalistas individuais que sejam capitalistas nacionais; as fusões, mecanismo de reverter a tendência da queda da taxa de lucro antes da crise, devem selar compromissos de dominação verdadeiramente globais. Ao mesmo tempo, os conglomerados financeiros hão de delimitar as fronteiras nacionais da acumulação, pelo mecanismo - que parece realmente bom - de financiar os empreendimentos e os empréstimos com as moedas locais.]. As instituições envolvidas no acordo, que foi firmado durante a reunião de cúpula dos Brics no balneário chinês de Sanya, são, além do BNDES e do Banco de Desenvolvimento da China, o Banco para Assuntos Externos e de Desenvolvimento da Rússia (Vnesheconombank), o Banco de Exportação e Importação da Índia (Eximbank) e o Banco de Desenvolvimento da África do Sul (DBSA). Comércio com câmbio próprio é "sonho distante"
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sábado, 16 de abril de 2011
Bancos de desenvolvimento devem iniciar parceria com créditos em moeda local
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