terça-feira, 19 de abril de 2011

Brasil assume primeiro lugar em 'private equity'

Autor(es): Alex Ribeiro | De Washington
Valor Econômico - 18/04/2011
 

O Brasil tomou da China o primeiro lugar em intenções de investimentos de "private equity" -compra de participação em empresas para depois tentar vendê-las com lucro -, mostra uma pesquisa junto a 156 investidores institucionais de várias partes do mundo feita pela Associação de Private Equity em Mercados Emergentes (Empea, na sigla em inglês) e pela Coller Capital, que será divulgada hoje.
O Empea criou um indicador que, quanto maior o número, maior o interesse das empresas de "private equity" em investir. Nessa métrica, o Brasil fica com nota pouco superior a 65, enquanto a China fica um pouco abaixo de 60. O Brasil avançou alguns poucos pontos de 2010 para cá, enquanto a China caiu quase dez pontos.
O principal fator que explica a queda da pontuação da China é que, naquele país, os negócios de "private equity" se tornaram mais caros. "O Brasil, embora não seja barato, é atrativo quando comparado com a China e a Índia", explicou a presidente da Empea, Sarah Alexander.
Os preços na China ficam muito altos não apenas por causa do grande apetite dos investidores estrangeiros, mas porque há uma crescente demanda local depois que o governo chinês criou uma regulação que permite muito mais investimento em "private equity" por meio de fundos denominados em yuans.
Na pesquisa feita pela Empea, 73% dos investidores afirmaram que esperam enfrentar intensa competição por negócios na China. A Índia vem em segundo lugar nesse quesito, com 68%, seguido pelo Brasil, com 46%. Bem atrás vêm outros países asiáticos (13%), Turquia (12%) e América Latina, excluindo Brasil (11%).
"No Brasil, a competição por negócios é maior sobretudo no segmento de grandes companhias", afirma Erwin Roex, sócio da Coller Capital. "Já no "middle market" e um pouco abaixo dele, a competição não é tão acirrada e os preços não são tão altos." Roex afirma que, no caso do Brasil, a boa perspectiva de crescimento da economia faz com que investidores apostem no país, apesar de, em alguns casos, a relação entre preço e lucros ser relativamente alta.
Quando questionados sobre quais são os fatores que desestimularam negócios, os investidores também apontaram altos preços no caso da China (45%) e Índia (58%). O Brasil, nesse quesito, é de novo o terceiro, com 31%. O Brasil pontua muito bem em risco político (3%), comparado com 63% na Rússia, 24% na China e 11% na Índia.
Alexander explica que o fato de o Brasil ter assumido o primeiro lugar no ranking não significa que o país esteja tomando negócios da China ou Índia. Os investidores continuam bastante interessados nessas duas economias. "O Brasil está tomando fatia de mercado de outras áreas do mundo, como a Rússia e a Europa Oriental."
E qual será a nova fronteira quando os preços no Brasil estiveram mais altos? "Provavelmente o resto da América Latina", afirma Alexander. "Mas há muito tempo ainda para chegar lá."
O Brasil, explica ela, é um território relativamente pouco explorado pelos investidores em "private equity". Cerca de 13% dos pesquisados disseram que pretendem começar a investir no Brasil em 2011, o maior percentual entre todos os países emergentes. Cerca de 33% dizem que vão aumentar os investimentos no Brasil e pouco menos de 3% dizem que vão diminuir investimentos.
Segundo Alexander, nessa onda de investimentos, a primeira fronteira explorada foi a Ásia, principalmente China e Índia. Agora, em meio a preços altos naquela região, os investidores começam a apostar no Brasil para diversificar seus investimentos. "O volume de "private equity" no Brasil é pequeno quando comparado com a Ásia", diz Alexander.
Há também o fato de que, no passado, o Brasil já teve outras ondas de investimentos em "private equity", mas os investidores não tiveram o retorno esperado, em parte por causa do clima macroeconômico adverso. "Existe agora a leitura de que o Brasil mudou, é um lugar diferente, e agora os investidores estão mais dispostos a retornar."

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