terça-feira, 19 de abril de 2011

Competitividade força empresa a ir para fora

Autor(es): Marcelo Rehder
O Estado de S. Paulo - 18/04/2011

Natura, Vicunha e a gaúcha fabricante de calçados Schmidt Irmãos migraram para países da América Latina em busca de competitividade

A Vulcabrás é apenas um exemplo das muitas empresas brasileiras que estão transferindo para o exterior parte das operações devido à falta de condições mais favoráveis de competitividade no País. Fatores determinantes para a empresa competir em nível global, como juros, carga tributária, infraestrutura e câmbio, inviabilizam a exportação e a competição com produtos importados no mercado doméstico.
Pesquisa da Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais (Sobeet), com cerca de 200 companhias brasileiras, mostra que a busca de competitividade internacional foi o item mais citado como o principal motivo que as levaram à internacionalização. Foi assinalado por 26% das empresas na pesquisa referente a 2010. Em 2008, ano que antecedeu o período mais crítico da crise global, o número era menor, de 25%.
"À medida em que o câmbio se valoriza, esse número ganha mais importância na estratégia de internacionalização das empresas brasileiras", diz o presidente da Sobeet, Luis Afonso Lima. Tanto que 60% das empresas pesquisadas pela entidade responderam que tendência do investimento da empresa voltada para a internacionalização em 2010 e 2011 é de aumento de 30% ou mais, comparado a 2009. Para 46% dos entrevistados, o investimento no exterior vai permanecer igual e só 4% falam em redução.
A fabricante de cosméticos Natura, por exemplo, fez parcerias com empresas locais para a produção e comercialização terceirizada de produtos no México, Colômbia e Argentina. "É o primeiro passo antes de estabelecermos nossa própria indústria local", diz Pedro Passos, sócio fundador da Natura.
Segundo ele, os produtos fabricados nesses países serão destinados a consumo interno, em um primeiro momento, mas também poderão ser exportados para toda a América Latina. "Estamos correndo sério risco de um dia ver as empresas transferirem fábricas para o exterior para abastecer o mercado brasileiro", frisa o empresário.
Mudança. Depois de 70 anos de atividade no País, a fabricante de calçados femininos Schmidt Irmãos, com sede em Campo Bom, no Rio Grande do Sul, decidiu se mudar de mala e cuia para a Nicarágua. Com 100% da produção exportada para os Estados Unidos e Europa, a empresa transferiu toda a sua linha de produção para a zona franca industrial de Zaratoga, na capital Manágua, onde já operava desde setembro do ano passado. Lá, a empresa exporta sem impostos para os EUA e Europa e ainda fica livre dos efeitos da valorização do real, além de dispor de mão de obra farta e barata.
Nos tempos áureos, a Schmidt Irmãos chegou a ter 21 unidades industriais no Rio Grande do Sul, produzia 4,5 milhões de pares por ano e empregava 3 mil pessoas. "Há um ano começou a encerrar atividades em diversos municípios gaúchos e fiz um acordo com a Nicarágua", conta o presidente do Sindicato dos Calçadistas de Campo Bom, Vicente Selistre. "As informações que nos chegam é de que a empresa vai criar cerca de 2 mil postos de trabalho na Nicarágua dentro de dois meses."
Selistre diz que a empresa ainda manteve a sede em Campo Bom, apenas com equipes administrativas e de desenvolvimento de produção. Dos 350 empregados que mantinha na sede, restaram cerca de 200. Na semana passada, os demitidos receberam as verbas indenizatórias no sindicato da categoria.
Já a Calçados Andreza decidiu fechar sua fábrica no município gaúcho de Santa Clara do Sul, no Vale do Taquari. A indústria de propriedade da família Piacini vinha enfrentando dificuldades dede o começo da crise calçadista, há cinco anos, com a escalada valorização do real frente ao dólar.
A data marcada para o fim das atividades é o próximo dia 6 de maio. A decisão causará demissão de 525 trabalhadores, o que corresponde a cerca de 10% da população da cidade (5,6 mil pessoas). "Boa parte dos funcionários estava quase se aposentando na empresa, que completou 40 anos este mês", diz o presidente do Sindicato dos Calçadista de Santa Clara do Sul, Natalício Luís da Rosa. Ele acredita que as fábricas de calçados da Beira Rio, instalada há oito meses na cidade, e da Lide podem absorver boa parte dos trabalhadores que foram demitidos.
Líder na produção de índigos e brins na América Latina e uma da três maiores fabricantes do mundo, a Vicunha Têxtil se prepara para desembarcar na Argentina. No início do ano, a empresa anunciou o fechamento de um acordo com o grupo argentino Ullum para iniciar a produção de denim no país vizinho. O grupo argentino possui as fábricas da Tinturaria Ullum, a Têxtil Galícia e a Têxtil Panamá.
Além disso, a empresa brasileira firmou um acordo de opção para a compra das fábricas, que vence em 30 de junho, ressalta o diretor financeiro da Vicunha, José Maurício D""Isep.



Vulcabrás compra fábrica na Índia

Autor(es): Raquel Landim
O Estado de S. Paulo - 18/04/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/18/vulcabras-compra-fabrica-na-india
 
SÃO PAULO - Maior fabricante de calçados do Brasil, a Vulcabrás, do empresário Pedro Grendene, tomou uma decisão arrojada: comprou uma fábrica na Índia e está transferindo para o país asiático a parte mais intensiva em mão de obra de sua produção de tênis. A decisão foi motivada pela redução de competitividade no Brasil provocada pelo real forte e pela concorrência dos importados.
A empresa fechou na sexta-feira a aquisição de uma fábrica de calçados sediada em Chennai, uma das cinco maiores cidades da Índia. Uma "due diligence" ocorrerá nos próximos 40 dias e o negócio será assinado no início de junho. O valor da aquisição não foi divulgado, mas, incluindo os investimentos que serão feitos nos primeiros dois anos, a Vulcabrás vai aplicar US$ 50 milhões em sua operação indiana.
A unidade de Chennai emprega hoje mil pessoas e a Vulcabrás pretende aumentar esse número para 5 mil em um ano e meio. Como vai trabalhar também com empresas terceirizadas locais, a empresa brasileira vai gerar 8 mil empregos diretos e indiretos no país asiático. Hoje, a Vulcabrás conta com 40 mil pessoas no Brasil e 4 mil na Argentina.
A empresa não é a única a internacionalizar parte da produção. Companhias como Natura e Vicunha Têxtil estão fazendo o mesmo em busca de maior competitividade.
Custos menores. A Vulcabrás vai produzir na Índia os cabedais do tênis - parte superior do produto feita de tecido, couro e materiais sintéticos. Essa etapa exige a maior contratação de mão de obra para a costura do tênis. Os cabedais serão embarcados para Brasil e Argentina, onde ocorrerá apenas a colagem da sola. Em dois anos, a empresa espera fabricar 60% dos cabedais que utiliza na Índia, o que vai reduzir à metade o custo de produção.
"O Brasil tem perdido muita competitividade na manufatura intensiva em mão de obra e a perspectiva de mudança é pequena", disse ao Estado Milton Cardoso, presidente da Vulcabrás, que chegou no sábado à noite da Índia. Ele espera ganhar participação no mercado brasileiro graças à redução de custos e evitar demissões nas fábricas locais.
O governo brasileiro adotou uma tarifa antidumping contra o calçado chinês de US$ 13,85 por par, com o objetivo de proteger o mercado local. Segundo empresários do setor, a medida não adiantou porque os chineses começaram a praticar "triangulação" e as importações vindas de Vietnã, Malásia e Paraguai aumentaram significativamente. O setor pede agora uma extensão da sobretaxa para esses países, mas o processo é tecnicamente mais complicado.
Segundo Cardoso, a empresa optou pela Índia, em vez de China ou Vietnã, maiores fabricantes mundiais de sapatos, por conta da liberdade de negócios que há no país. "Na Índia, você não precisa recorrer à interferência do governo para garantir o investimento como ocorre em outros países", disse.

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