terça-feira, 19 de abril de 2011

Wilson Sons aposta no setor de petróleo

Autor(es): Francisco Góes | Do Rio
Valor Econômico - 18/04/2011
 

A prestação de serviços para a indústria de petróleo e gás vai ganhar força nos negócios da Wilson, Sons, um dos maiores operadores integrados de logística portuária, marítima e terrestre do mercado brasileiro. Em 2011 e 2012, a empresa planeja investir mais de US$ 400 milhões para sustentar estratégia de crescimento apoiada, em boa parte, no segmento de óleo e gás. Serão aplicados US$ 200 milhões este ano, valor recorde, nas diferentes atividades desenvolvidas pela empresa, e cifra semelhante está prevista para o ano que vem.
No petróleo, o grupo vai ampliar a frota de navios de apoio offshore em parceria com sócios chilenos e está dobrando a capacidade do estaleiro que detém no Guarujá (SP), além de manter o plano de erguer outra instalação para construir navios maiores, para o pré-sal, em Rio Grande (RS). Também aposta no aumento da demanda por serviços portuários especializados.
Cezar Baião, presidente das operações da Wilson, Sons no Brasil, diz que os US$ 400 milhões não incluem potenciais aquisições. "É investimento em crescimento orgânico." Segundo ele, a estratégia vai continuar focada no atendimento ao comércio exterior brasileiro, via terminais portuários (em Salvador e Rio Grande); no mercado doméstico, mediante a oferta de serviços logísticos; e no segmento de óleo e gás, setor que ganha cada vez mais espaço. Em 2010, entre 25% e 30% da receita da empresa teve origem nos diferentes serviços prestados para a indústria de óleo e gás. Em dez anos, esse percentual poderá chegar a 50%, prevê Baião.
Desde a abertura de capital, em 2007, a Wilson, Sons foi cobrada por analistas de investimento por não ter sido mais agressiva na área de aquisições. Afinal, ao listar ações em bolsa, a empresa colocou US$ 130 milhões em caixa. O acionista controlador, a Ocean Wilsons Holding, embolsou US$ 215 milhões. A holding tem 58,3% da Wilson, Sons Limited, listada na BM&FBovespa. O restante do capital da empresa, 41,7%, está em mãos de acionistas no mercado.
"Logo após a crise de setembro de 2008 muitos daqueles que criticavam nossa estratégia, reconheceram que a empresa havia acertado ao não comprar ativos, talvez pagando mais do que pudessem valer", afirma Baião. A estratégia continuará a mesma. O executivo afirma que se uma boa oportunidade de aquisição aparecer, a empresa talvez tenha de ir de novo ao mercado. Mas, por enquanto, a Wilson, Sons tem conseguido colocar, "de forma tranquila", suas contrapartidas nos projetos financiados, diz o seu presidente.
Dos mais de US$ 200 milhões a serem investidos este ano, US$ 85 milhões irão para expandir o terminal de contêineres da empresa em Salvador, US$ 35 milhões serão destinados à atividade de rebocadores portuários, cerca de US$ 50 milhões para o negócio de navios de apoio offshore e US$ 40 milhões para dobrar a capacidade do estaleiro do Guarujá.
Em média, 75% dos investimentos serão financiados e 25% feitos com recursos próprios. A empresa terminou 2010 com US$ 155 milhões em caixa. Baião diz que a situação de endividamento é confortável. Da dívida total, US$ 325,3 milhões, mais de 90%, tem perfil de longo prazo. A partir do primeiro trimestre de 2012, estarão concluídas as obras de construção de um dique no estaleiro do Guarujá que vai permitir entregar 4 navios tipo PSV por ano. Com o dique, a unidade passará a fazer serviços de manutenção de embarcações offshore.
Segundo Baião, a Wilson, Sons continua a apostar na construção de um segundo estaleiro em Rio Grande (RS), projeto orçado em US$ 140 milhões, dos quais cerca de 90% poderão ser financiados pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM). O empreendimento depende da regularização do terreno onde o estaleiro será instalado, na área do porto organizado de Rio Grande, em negociações que envolvem o Estado do Rio Grande do Sul e o governo federal. O estaleiro foi pensado para construir navios maiores, com 150 metros de comprimento, a serem usados na exploração e produção da camada pré-sal.
Outro plano é ampliar a frota de embarcações de apoio offshore por meio da Wilson, Sons Ultratug Offshore (WSUT), sociedade meio a meio entre a empresa brasileira e o grupo chileno Ultramar. A WSUT tem hoje 11 navios em operação e o 12º estará disponível em cerca de dois meses. A meta é chegar a 2015 com 24 embarcações na sociedade, incluindo PSV"s e uma embarcação maior conhecida no setor como AHTS. No ano passado, essa joint venture contratou financiamento de US$ 670 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para construir 13 navios de apoio a serem entregues entre 2011 e 2015.
Estudo feito pela Wilson indicou que até 2020 cerca de 100 novas plataformas vão estar operando no Brasil. Cada plataforma exige, em média, cerca de 3 navios de apoio offshore. O cálculo mostra que, em dez anos, o Brasil terá de incorporar à frota cerca de 300 embarcações de apoio offshore.
"Esses navios precisam de portos para operar, o que significa futuro promissor para a Brasco, empresa da divisão de terminais portuários da Wilson, Sons dedicada à indústria de petróleo", diz Baião. A Brasco tem instalações no Rio, em Niterói e em Vitória (ES). O executivo mostra preocupação, porém, com o risco representado pela falta de oficiais de Marinha Mercante para atender a uma frota crescente nos próximos quatro anos.

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