sexta-feira, 15 de abril de 2011

Brasil vai na contramão e mantém parcela em ouro

Autor(es): Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico - 14/04/2011
 

O Banco Central do Brasil manteve inalterada a fatia de ouro em suas reservas internacionais nos últimos anos: 1.080 milhão de onça-troy. De 2005 até ontem, esse volume de metal amarelo valorizou 228%, passando de US$ 480 milhões para US$ 1,570 bilhão, com a cotação continuando a atingir níveis recordes.
A questão agora é se o BC pretende alterar sua política e voltar a adquirir ouro, como um ativo alternativo, como vem fazendo cada vez mais bancos centrais, incluindo o da China, México, Rússia, Índia e Arabia Saudita.
Em 2010, bancos centrais fizeram o maior aumento de suas reservas em ouro desde 1964, no rastro da maior alta de preços da commodity e no mais claro sinal da reabilitação do metal junto a "investidores oficiais". Compraram 73 toneladas e se tornaram compradores líquidos de ouro pela primeira vez em duas décadas, segundo relatório publicado ontem pela consultoria britânica GFMS. Para o Conselho Mundial de Ouro, não há surpresas: as autoridades monetárias vêm acumulando reservas num ritmo acelerado médio de 17% ao ano, e a diversificação envolve também a aquisição de ouro.
Para a consultoria britânica GFMS, a cotação, que ontem era de US$ 1.460 a onça- troy, pode alcançar US$ 1.600 antes do fim do ano, apoiada por política monetária flexível e inquietações sobre a recuperação da economia mundial.
A situação é bem diferente de maio de 1999, quando o Banco Central da Grã-Bretanha anunciou que passaria a vender boa parte de suas reservas em ouro em favor de ativos oferecendo melhor retorno, como títulos governamentais, deflagrando o sentimento "antiouro" entre outras autoridades monetárias europeias. Vários bancos centrais, como da França, Espanha, Holanda e Portugal, acompanharam os britânicos vendendo parte de seu ouro. Com isso, a cotação caiu para US$ 200 a onça. Só que nos últimos anos o metal amarelo voltou a valorizar, no rastro de turbulências nos mercados.
O jornal "Financial Times" calculou em 2009 que os bancos centrais europeus deixaram de ganhar US$ 40 bilhões por terem vendido reservas de ouro e seguido os britânicos dez anos antes, investindo em títulos públicos. O maior perdedor foi o Banco Central suíço, que vendeu 1.550 toneladas durante a década, deixando de faturar mais de US$ 20 bilhões.
O BC britânico sempre defendeu sua decisão de vender ouro para diversificar as reservas, estimando que no longo prazo o movimento de ouro para títulos governamentais compensa. No entanto, com a crise financeira de 2008, não só bancos europeus começaram a frear suas vendas, como outras autoridades monetárias passaram a buscar fortemente o metal amarelo, ajudando a reforçar o preço em alta permanente.
O Banco Central da China quase dobrou secretamente suas reservas nessa commodity, tornando-se o quinto maior detentor do metal. Enquanto o Brasil mantém cerca de 30 toneladas, a Venezuela acumulou mais de 400 toneladas, com as reservas internacionais baseadas no metal aumentando de 39% em 2009 para 70% ao final de março.
O BC chinês avisou em março num relatório que a demanda por ouro poderia crescer como hedge contra a inflação, reforçando assim o preço. Em 2010, o estoque global de ouro era estimado em 168,3 mil toneladas. Os bancos centrais detêm 18% do total. O valor da barra do metal foi 66% mais elevado no ano passado.

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