sexta-feira, 1 de abril de 2011

Braskem vai participar do Comperj

Autor(es): Chico Santos | Do Rio
Valor Econômico - 31/03/2011

Após longo período de análise, o conselho de administração da Braskem, maior petroquímica do Hemisfério Sul, ratificou a participação no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), prevista no acordo que, em janeiro do ano passado, selou a incorporação da Quattor pela empresa controlada pelo grupo baiano Odebrecht. A informação foi dada pelo diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, membro do conselho da Braskem. A parte petroquímica do projeto ainda não tem um valor definido porque o projeto não está detalhado. O projeto como um todo estava avaliado em US$ 8,5 bilhões, mas o valor já é considerado defasado.
"O conselho de administração da Braskem aprovou a participação no Comperj. Seu plano de investimentos, não posso entrar em detalhes, já tem verba aprovada pelo conselho de administração para o futuro investimento", disse Costa em entrevista aoValor. A Braskem confirmou que o investimento foi aprovado em reunião do conselho realizada no dia 16 deste mês. A participação no projeto foi incluída no programa de investimentos apresentado pela direção da companhia aos conselheiros. De acordo com a empresa, só não houve detalhamento sobre quando e como será a participação.
A Petrobras detém, desde a negociação com a Quattor, 40% do capital votante da Braskem, contra 60% do grupo Odebrecht. A entrada no Comperj sempre foi considerada, pela Petrobras, uma etapa essencial para tornar viável a fase petroquímica do projeto, que inclui também a construção de uma refinaria com capacidade para processar 330 mil barris de petróleo por dia. E a estatal usou seu peso de acionista com voto qualificado no conselho para fazer, finalmente, valer seu objetivo.
Com o sim da Braskem, Costa avalia que a totalidade do projeto, dividido em três etapas, ganhou mais robustez, e já prevê uma antecipação da entrada em operação da fase petroquímica, prevista para o fim de 2016 e começo de 2017. Na avaliação do executivo, a continuidade do crescimento da demanda por resinas termoplásticas (polietileno, polipropileno e PVC, principalmente), o foco principal da Braskem, está assegurada por um fato estrutural e por dois eventos temporais de grande porte.
O fato estrutural é o crescimento do mercado brasileiro de consumo, com a incorporação de "23 milhões a 25 milhões de pessoas", com o crescimento econômico do país e a melhoria da distribuição de renda nos últimos anos. Esse movimento positivo, na avaliação do diretor da Petrobras, tende a ser estimulado nos próximos anos pelas obras de infraestrutura que serão executadas nos próximos anos para viabilizar a Copa do Mundo de futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, estes na cidade do Rio de Janeiro.
"Minha visão pessoal é que teremos uma demanda grande (por produtos de plástico)", disse Costa. "Acho que teremos grande chance de antecipar (a entrada em operação da etapa petroquímica do Comperj)." Na origem do Comperj o projeto era de uma refinaria basicamente voltada para a produção de petroquímicos básicos a partir de petróleo pesado da bacia de Campos (RJ). As posteriores análises dos mercados de petroquímicos e combustíveis derivados de petróleo, além da dificuldade para a obtenção de parceiros para a petroquímica, acabaram modificando o desenho geral.
Pela configuração atual, o Comperj, localizado no município de Itaboraí (região metropolitana do Rio), começa a operar no fim de 2013. No início vai produzir combustíveis, especialmente querosene de aviação (QAV), de olho nos dois grandes eventos esportivos de 2014 e 2016, em uma refinaria com capacidade para processar 165 mil barris de óleo por dia. Essa unidade, assim como sua irmã gêmea que virá em 2018, tem controle exclusivo da Petrobras.
A segunda etapa vai englobar uma unidade de petroquímicos básicos (eteno, propeno, benzeno e outros) e unidades de produção de petroquímicos de segunda geração, especialmente as resinas que fazem parte do portfólio da Braskem. Atualmente, de acordo com Costa, 22% da obra da primeira refinaria está concluída. A terraplenagem da área está pronta e a fase atual é de execução das obras civis para receber os equipamentos, todos já encomendados.


Consolidação do setor no país criou gigante mundial

Valor Econômico - 31/03/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/3/31/consolidacao-do-setor-no-pais-criou-gigante-mundial
 
 
De um emaranhado de siglas e participações cruzadas na origem, a petroquímica brasileira está reduzida hoje a praticamente uma grande empresa, a Braskem, ao menos no segmento de resinas termoplásticas. A incorporação da Quattor, criada em junho de 2008, pela Braskem, em janeiro do ano passado, coroou um dos mais radicais e bem-sucedidos processos de consolidação setorial da indústria brasileira.
A incipiente indústria petroquímica brasileira ganhou impulso nas décadas de 70 e 80, sob os ventos industrializantes do regime militar (1964-1985). A Petroquímica União (PQU), em São Paulo, começou a operar em 1972. Em 1978 foi inaugurada a Companhia Petroquímica do Nordeste (Copene), central de matérias-primas do Polo Petroquímico de Camaçari (BA) e, em 1982, surge a Companhia Petroquímica do Sul (Copesul), central do Polo de Triunfo (RS).
Na origem, foi adotado o chamado modelo tripartite, tendo cada empresa participação do Estado, por intermédio da Petroquisa (subsidiária da Petrobras), do setor privado nacional e de um grupo estrangeiro do setor. O grupo Odebrecht, nascido e criado na construção civil, ingressou na petroquímica em 1979 com a compra de uma participação na Companhia Petroquímica de Camaçari (CPC). Hoje é o controlador da Braskem.
O primeiro enxugamento no confuso organograma ocorreu na década de 90, durante o programa de privatizações do governo federal que vendeu a quase totalidade das participações da Petroquisa. No programa, a Odebrecht assume o controle da CPC (1995). Já os estrangeiros encolheram as participações. As privatizações criam o desenho dos grupos que iriam protagonizar a história do setor, vertente termoplástica, na primeira década do século 21: Odebrecht, Ipiranga, Unipar e Suzano. A novidade foi o retorno da Petrobras.
Em 2001 a Odebrecht, em parceria com o também baiano grupo Mariani, assume o controle da Copene e, no ano seguinte, é criada a Braskem. Em março de 2007, Braskem, Petrobras e grupo Ultra compram a Ipiranga, ficando a parte petroquímica para as duas primeiras. Disposta a reconstruir sua presença no setor, a Petrobras compra a Suzano Petroquímica em agosto do mesmo ano.
Em junho do ano seguinte a estatal junta os ativos da ex-Suzano com a Unipar, formando a Quattor, controlada pelo grupo privado (60%), mas com forte influência do poderoso sócio minoritário estatal.
Em janeiro de 2010 é anunciada a incorporação da Quattor pela Braskem. A Petrobras, que já detinha 31% do capital da empresa baiana, passa a deter 40% e voto qualificado no seu conselho da administração. No mês passado, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou com restrições a compra da Quattor pela Braskem.

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