quinta-feira, 14 de abril de 2011

Fed e commodities andam de mãos dadas

Eduardo Campos <eduardo.campos@valor.com.br>
Valor Econômico - 14/04/2011

Depois do tombo de terça-feira, as commodities esboçaram reação no pregão de quarta-feira. O índice CRB, uma das principais referências para esse mercado, terminou o dia o dia com leve alta de 0,14%, a 359,55 pontos.
As oscilações de curto prazo chamam atenção, mas o movimento das matérias-primas salta aos olhos quando ampliamos o horizonte analisado. Desde agosto do ano passado o índice CRB de commodities acumula valorização de 38%.
O quadro fica mais interessante quando voltamos no tempo e buscamos os possíveis motivos para essa arrancada.
Entre as inúmeras possibilidades existentes, elegemos a política monetária americana.
E vejam só, a correlação entre os ganhos do CRB e as atuações do Federal Reserve (Fed), banco central americano, no mercado de títulos andam lado a lado, como mostram os gráficos abaixo.
O rali em curso começou entre agosto e setembro, mas cabe lembrar que o programa de compra de US$ 600 bilhões em títulos começou apenas em novembro. Ou seja, prevendo que o Fed iria atuar provendo mais estímulo à economia, o mercado já saiu tomando commodities, isso porque quanto mais dólares o BC americano "imprime", menor seu valor esperado. Como as commodities são cotadas em dólar, se a moeda referência cai, o preço do ativo sobe. [só não deu nome aos bois]
O gráfico do CRB ainda mostram o famoso "compra no boato vende no fato" justamente em novembro, quando o programa foi formalizado. Nesse período, o CRB "dá uma barrigada", mas depois retoma o viés de alta.

Cabe lembrar que, além dos US$ 600 bilhões, o Fed seguiria e segue reinvestindo o fluxo de caixa de seus investimentos em títulos imobiliários e outros papéis que estão na sua carteira.
Com isso, o valor total do programa, batizado de "Quantitative Easing 2", vai a US$ 900 bilhões. Desse total, incluindo dinheiro novo e reinvestimentos, o Fed já desembolsou US$ 525 bilhões.
Agora em abril, a programação inclui a compra de aproximadamente outros US$ 97 bilhões.
Sabendo que esse programa acaba em junho e considerando essa correlação entre atuações do Fed e commodities, a pergunta que surge, intuitivamente é: quando o Fed encerrar as compras as commodities vão cair? [nada do que foi será do jeito que já foi um dia]
Também de forma intuitiva, podemos responder que sim. No entanto, a liquidez é apenas um dos componentes dessa alta
É difícil dar peso aos vetores dessa valorização, mas um modelo matemático montado por um banco de investimento, que prefere não ser nominado, conseguiu elencar as principais variáveis que influem na formação de preço das matérias-primas.
O referido modelo aponta a atividade econômica de países desenvolvidos como um fatores mais importantes nessa alta das matérias primas. O próprio preço defasado das matérias primas ficaria em segundo. E de acordo com essa mesma regressão matemática, a flutuação do dólar ante uma cesta de moedas tem o terceiro maior peso. Ou seja, o efeito aumento de liquidez derrubando dólar e direcionando recursos para as commodities é o terceiro evento mais relevantes na explicação do comportamento do CRB.
Outros vetores que apresentaram peso relevante no modelo foram a taxa de juros nos EUA e o crescimento das economias emergentes.
Agora, algumas perguntas de alguns bilhões de dólares: O Fed vai encerrar o programa em junho ou vai emendar um "Quantitative Easing 3"? O Fed apenas encerrará o programa de compra de títulos e ficará observando o funcionamento da economia ou já acenará alguma retirada de estímulos? E ainda, o Fed antecipará o fim do programa?
Respostas definitivas não parecem existir e quem as têm não contaria a ninguém, afinal de contas, elas valem bilhões. No entanto, alguns possíveis resultados podem ser traçados. Primeiro, no caso de novo plano de estímulo, nada muda. O CRB tem tudo para seguir avançando. No entanto, isso já esbarra na inflação e no próprio nível de preço das commodities.
Segunda hipótese, se o Fed parar de comprar e ficar observando, algum ajuste de preço acontece, mas nada muito drástico já que o nível de liquidez não será afetado.
Terceira hipótese, se o Fed encerrar e já acenar com a retirada de estímulo, ou mesmo antecipar o fim do programa especial de compra de títulos, a correria pode ser mais acentuada, não só em função da possibilidade de um rearranjo global de carteiras, que estão bastante expostas à alta liquidez e vendidas em dólares, mas também porque o mercado vai bater o pé. Afinal de contas, é muito mais fácil "fazer dinheiro" em commodities e outros ativos quando se tem o Fed como fiador de liquidez.

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