Autor(es): Samantha Maia | De São Paulo |
Valor Econômico - 18/04/2011 |
Os investimentos industriais esperados para a região próxima ao aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP) - sob o atrativo de sua expansão e da construção do trem-bala que vai ligar a cidade ao Rio, passando por São Paulo -, devem ser viabilizados com o fornecimento de água tratada a partir do esgoto. A necessidade de apostar em projetos de reúso da água surgiu da baixa disponibilidade hídrica da região no período seco, que é de apenas um terço do nível considerado crítico pela Organização das Nações Unidas (ONU). Foi esse cenário de escassez de água para grandes consumidores que levou a companhia de saneamento do município, a Sanasa, a desenvolver um projeto de reúso de água. "Sabemos que haverá expansão industrial ali e que há dificuldade em buscar água. É um mercado para nós", diz Rovério Pagotto Junior, gerente de Planejamento da Sanasa. Projetos de reutilização de água e controle de perdas ganham força na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), onde está localizada Campinas e que abrange uma área que representa 7% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. O local é um importante polo de desenvolvimento e a preocupação demonstrada por autoridades e representantes das empresas na região é que os investimentos não sejam afetados pela falta de água. Indústrias já instaladas na região, como a Rhodia, em Paulínia (SP), investem em sistemas de reutilização da água para expandir a produção sem aumentar o volume retirado dos rios. A preocupação com o assunto levou o Consórcio PCJ, associação privada que reúne empresas e prefeituras da região, a promover, em conjunto com o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), um curso para capacitar as indústrias em técnicas de uso racional da água. "É muito importante que a gestão dos recursos hídricos seja bem feita nessa bacia, que sofre com a carência de água", diz o gerente-técnico do Consórcio PCJ, Alexandre Vilella. Nos períodos secos (outono e inverno), a oferta de água já está em situação crítica para a necessidade de abastecimento. A disponibilidade hídrica na bacia do PCJ fica em 408 m3 /habitante no ano, enquanto a situação apontada como crítica pela ONU é de 1.500 m3 /habitante/ano. Além do uso da água pelos municípios da região, parte da vazão dos rios (29 m3 /s) é levada para o Sistema Cantareira, operado pela Sabesp, que abastece 50% da região metropolitana de São Paulo. Luiz Roberto Moretti, diretor do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) - órgão estadual responsável pela concessão de outorgas para uso do recurso hídrico -, diz que há áreas em que a escassez é mais grave, como o caso da região central da bacia PCJ. "Avaliamos cada situação, e quando há restrições para a oferta do recurso, não costumamos negar a outorga e sim colocar condições, já que a falta de água não ocorre o ano inteiro", diz. Entre essas condições, está a exigência de que o usuário tenha mecanismos para reduzir sua captação de água nos períodos críticos. "Aí a empresa analisa se vale a pena economicamente", diz. "Quando o Sistema Cantareira foi criado, estabeleceram-se as vazões mínimas para alimentar os rios da região do PCJ. Mas o crescimento industrial acabou indo para essa área, um grande erro de planejamento", diz Francisco Lahóz, coordenador de projetos do Consórcio PCJ. Segundo Paulo Massato, diretor da Sabesp, o conflito em torno da gestão do recurso na região foi resolvido em 2004, quando foi instituído o banco de água nas represas do sistema Cantareira. "Essa solução está sendo bem conduzida e é satisfatória", diz. O modelo, no entanto, está sendo rediscutido. Em Campinas, onde a prefeitura planeja destinar uma área de 20 milhões m2 próxima ao aeroporto de Viracopos a um centro empresarial, a Sanasa deve entregar até o fim de abril o primeiro de quatro módulos da estação de tratamento terciário de esgoto, que deixa a água mais limpa que o padrão exigido para lançamento nos rios. O investimento é de R$ 91 milhões. "Estamos nos antecipando, pois temos percebido a demanda da indústria, já que a escassez de água está cada vez maior na região", diz Pagotto Junior. Segundo ele, essa é a primeira estação do país a fazer tratamento terciário em grande volume, o que permite o uso da água em processos industriais. A Estação de Produção de Água de Reúso (Epar) também tratará efluentes industriais. Cada módulo tem capacidade para tratar 162 litros por segundo, o que equivale ao abastecimento de uma cidade de 200 mil habitantes. "Vamos começar a atender parte da Bacia do rio Capivari e já temos contrato com o mesmo consórcio para fazer o segundo módulo até o começo do ano que vem", diz o gerente da Sanasa. As obras estão sendo tocadas pela construtora Odebrecht e pela GE, fabricante da membrana que filtra o esgoto e faz o tratamento biológico. Os dois últimos módulos serão realizados conforme a empresa perceber que há mais demanda. Para conduzir seus planos de expansão, a Rhodia, que tem sua maior fábrica do país localizada em Paulínia (SP), investiu no ano passado R$ 5,5 milhões num sistema de tratamento do lodo residual da água captada no rio Atibaia e assim conseguiu aumentar em 10% o recurso disponível, água que antes era descartada. "Sabemos que estamos numa região muito povoada e com carência de recursos hídricos", diz Jorge Galgaro, gerente de meio ambiente da companhia na fábrica de Paulínia. A empresa consome 10%, ou 0,21m3 /s, do total que capta. O restante é utilizado no resfriamento das máquinas e devolvido ao rio. Outra saída para evitar a necessidade de mais água é a expansão da produção com a conversão dos equipamentos para um modelo fechado que reutiliza o recurso captado. Hoje, parte da fábrica já trabalha dessa forma, mas o gerente não sabe quantificar o quanto representa do total. "No longo prazo, devemos trabalhar apenas com sistemas fechados", diz Galgaro. |
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Interior de SP aposta no reúso de água para atrair investimentos
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