terça-feira, 8 de novembro de 2011

Bom negócio é exportar

Marcos Jank
Commodities agropecuárias serão produtos cada vez mais dinâmicos e valorizados nas próximas décadas
Na segunda metade do século XX, a rápida industrialização e urbanização da economia criou um distanciamento entre a sociedade brasileira e o mundo rural. Apesar do reconhecimento de que o agro brasileiro se modernizou, incorporou tecnologia e hoje gera grandes superávits comerciais, ainda predominam certos preconceitos negativos a seu respeito.

Um exemplo são as críticas feitas à pauta primária das exportações brasileiras. Com frequência tenho ouvido frases como “nossa pauta de exportações regrediu aos anos 1970″, “ela prova que o país está se desinduátrializando rapidamente”, “nossas exportações são dominadas por produtos de baixo dinamismo”, e outras bobagens do gênero.

Em primeiro lugar, essa pauta supostamente “primária” é composta de produtos nos quais o Brasil adquiriu notáveis vantagens comparativas pela ampla disponibilidade de recursos naturais combinada com alta tecnologia. Não resta dúvida também que alimentos, fibras e energia são produtos que terão imensa demanda de importação principalmente nos países em desenvolvimento.

Esse movimento é puxado pelo forte crescimento da população nesses países, pelo aumento da renda per capita, pelo intenso processo de urbanização e pela mudança dos hábitos alimentares na direção do maior consumo de proteínas. Commodities agropecuárias serão produtos cada vez mais dinâmicos e valorizados nas próximas décadas.

Com as crescentes restrições de disponibilidade de terra e água e com os problemas advindos das mudanças do clima, produzir commodities tende a ser mais complexo e relevante do que processá-las.

Já a ideia de que a pauta agrícola está retroagindo aos anos 1970 é absolutamente falsa. Naquela época, vivíamos um modelo trabalho intensivo baseado nas exportações de um grande produto primário, o café. Hoje, nossa pauta agrícola é altamente diversificada.

Tornamo-nos o terceiro maior exportador do agronegócio mundial, com notável destaque nos complexos soja, café, sucroalcooleiro, laranja, carnes, algodão, milho, celulose e outros. A pauta de hoje é baseada em um modelo capital intensivo no qual os agricultores desenvolvem sofisticadas relações contratuais com indústrias de insumos, máquinas e equipamentos, sistema financeiro, processamento, transportes, armazenagem, serviços e muitas outras.

Já se foi o tempo em que a divisão da economia em setores primário, secundário e terciário fazia algum sentido. A ideia de “desindustrialização” não tem o menor cabimento
face ao agro brasileiro de hoje. O chamado agronegócio compreende sistemas integrados de produção de alimentos, fibras e agronergia que reúnem, ao mesmo tempo, agentes do setor primário (agricultores), secundário (indústrias à montante e à jusante da agricultura) e terciário (serviços agrícolas, agroindustriais e financeiros).

Nos últimos anos, o agro tem sido o grande sustentáculo das contas externas do país. No ano passado, gerou um superávit comercial de US$ 57 bilhões que compensou com folga um déficit de US$ 46,5 bilhões dos demais setores da economia. Entendo que muitos estejam preocupados com o déficit crescente da indústria manufatureira não agrícola. Apenas não entendo porque o preconceito contra as commodities agrícolas.

Se o mundo em desenvolvimento precisa desesperadamente de alimentos e agroénergia, deveríamos urgentemente iniciar um processo organizado de planejamento estratégico para definir como vamos atender a essa demanda de forma competitiva e sustentável. Isso não é apenas uma oportunidade de mercado. É uma questão essencial para o futuro da humanidade!

Artigo publicado na Revista Globo Rural, edição nº 50 de novembro de 2011
Marcos Sawaya Jank é presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica)

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