sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Na crise, instituições públicas reduziram juros e 'spread'

Autor(es): Por Mônica Izaguirre | De Brasília
Valor Econômico - 04/11/2011
 

O spread bancário (a diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada dos tomadores de crédito) praticado pelos bancos públicos, nos empréstimos e financiamentos a juros prefixados, caiu quase 40% em 2010. Segundo o Banco Central (BC), em 2009, eles concederam crédito a uma taxa média de juros 34,22 pontos percentuais ao ano acima da taxa paga na captação de recursos. No ano passado, essa diferença (o spread) recuou para apenas 21,11 pontos percentuais.
Os números foram divulgados ontem, no Relatório Economia Bancária e Crédito. Mesmo com seu custo de captação subindo de 9,89% para 13,01% ao ano, as instituições sob controle governamental reduziram suas taxas de juros de 44,11% para 34,12% ao ano. E isso sem considerar o crédito direcionado (concedido com recursos de destinação obrigatória como os da poupança), cujos juros são mais baixos.
Enquanto o sistema financeiro estatal reduziu, os bancos privados elevaram seu spread, de 27,97 pontos percentuais. para 30,51 pontos percentuais A taxa média de captação nesse segmento subiu de 10,71% para 11,46% ao ano. Mas isso foi totalmente repassado à taxa de aplicação (aquela cobrada nas operações de empréstimo e financiamento), cuja média se elevou de 38,68% para 41,97% ao ano. Mesmo subindo, tanto o spread quanto a taxa final do sistema privado em 2010 ficaram abaixo dos patamares observados em 2009 nos bancos públicos.
Segundo fontes do governo, a principal explicação para a forte redução da taxa final e do spread nos bancos estatais foi a crise mundial, que derrubou o Produto Interno Bruto brasileiro (PIB) em 2009. Numa estratégia para reerguer a economia, em 2010 o governo federal usou as instituições financeiras sob seu controle, como Caixa, Banco do Brasil e BNDES, para baratear e aumentar a oferta de crédito a famílias e empresas.
Coincidência ou não, 2010 também foi o ano em que a presidente Dilma Roussef se elegeu, com engajada participação do então presidente Lula na campanha eleitoral. Independentemente disso, houve motivos técnicos. A queda do risco de crédito respondeu por grande parte do recuo do spread no segmento estatal. A parcela do spread justificada pelo risco de inadimplência caiu nada menos do que 5,66 pontos percentuais, saindo de 11,63 pontos percentuais para 5,97 pontos percentuais.
O diferencial entre taxas de captação e de aplicação também caiu em função da margem líquida de lucro, que nos bancos públicos baixou de 8,69 para 6,46 pontos percentuais. Como proporção do próprio spread, essa margem aumentou de 25,41% para 30,6%. Mas isso só refletiu o fato de que outros itens que o compõem, como o risco de inadimplência, caíram proporcionalmente mais.
Nos bancos privados, a margem líquida de lucro subiu tanto em termos absolutos quanto em termos relativos. Em 2009, era de 9,08 pontos percentuais., o que então correspondia a 32,47% do spread. Em 2010, respondeu por 10,42 pontos percentuais. ou 34,15% do spread, representando efetivamente um fator de encarecimento do crédito.

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