terça-feira, 1 de novembro de 2011

Desembolsos do BNDES têm recuo de 28% no ano


Autor(es): Por Juliana Ennes | Do Rio
Valor Econômico - 01/11/2011

Diante de um cenário de incertezas nas economias internacionais e com a desaceleração do crescimento da economia brasileira, os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) registraram queda de 28% nos primeiros nove meses do ano e não deverão bater a meta estabelecida para 2011.
A expectativa do presidente da instituição, Luciano Coutinho, no entanto, é que, com a melhora esperada para a economia brasileira em 2012, os desembolsos se mantenham estáveis ou cheguem até mesmo a ter crescimento.
Desde o ano passado, Coutinho já divulgava a intenção de encolher a participação do banco nos financiamentos de projetos de empresas brasileiras, dando lugar ao mercado de capitais, em maior escala, e também ao mercado privado de crédito. No entanto, a piora no mercado global acentuou a "decisão programada" de desaceleração, segundo o presidente. Com isso, de janeiro a setembro, os desembolsos somaram R$ 91,8 bilhões, queda de 28% em relação a 2010. Excluída a capitalização da Petrobras em setembro de 2010, que envolveu R$ 24,7 bilhões em recursos do banco, a queda nos desembolsos se reduz a 11%.
A meta de desembolsos para este ano era chegar a R$ 145 bilhões. Agora, a expectativa é que fique entre R$ 140 bilhões e R$ 145 bilhões. "A economia brasileira reduziu o ritmo de crescimento na margem, mas a expectativa geral é que continuaremos crescendo e, por isso, ninguém está jogando o plano de investimento na gaveta", disse Coutinho. Para o ano que vem, o banco vai avaliar o quadro internacional e, a partir disso, decidir se vai manter a trajetória ou aperfeiçoar as políticas, para garantir a manutenção do investimento de "maneira firme".
Coutinho acredita haver uma expectativa otimista em relação à capacidade da economia de sustentar o crescimento no médio e longo prazo, já que os planos de investimento têm sido reafirmados pelas empresas brasileiras, e companhias estrangeiras também estão anunciando investimentos no Brasil.
Nos primeiros nove meses do ano, as aprovações de empréstimos do BNDES encolheram 25%, para R$ 115,6 bilhões. Os enquadramentos foram reduzidos em 22%, para R$ 135,6 bilhões, de janeiro a setembro deste ano, e as consultas caíram 35%, para R$ 138,5 bilhões.
A indústria foi o setor que puxou a queda dos desembolsos do banco no período. O setor registrou financiamentos de R$ 28,4 bilhões concedidos pelo banco de fomento nos três trimestres, o que representa retração de 56% em relação ao mesmo período do ano passado. A indústria inclui a operação da Petrobras, que aumenta a base de comparação do ano passado em mais R$ 24,7 bilhões, ajudando a acentuar o recuo deste ano. A retração na indústria foi concentrada no setor químico e petroquímico, que recebeu apenas R$ 4,5 bilhões, volume 85% menor do que no ano passado.
O setor de comércio e de serviços também registrou queda dos desembolsos, de 8%, para R$ 17,9 bilhões nos primeiros nove meses do ano. Entre janeiro e setembro, os únicos setores que tiveram aumento nos desembolsos do banco de fomento foram os de infraestrutura e de agropecuária, com alta de 4% e de 1%, respectivamente.

Coutinho revela bastidor da ação do BNDES em 2008

Autor(es): Por Cristiano Romero | De Brasília
Valor Econômico - 01/11/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/11/1/coutinho-revela-bastidor-da-acao-do-bndes-em-2008
 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atuou, nos bastidores da crise de 2008, para impedir que empresas e bancos quebrassem em decorrência da forte desvalorização do real. O banco, segundo seu presidente, Luciano Coutinho, articulou para evitar que bancos privados resgatassem seus créditos em companhias que estavam sofrendo fortes perdas com operações de derivativo cambial.
A dimensão dos impactos da crise no setor privado foi muito maior do que se divulgou à época. "Esse processo afetou seriamente cerca de 200 empresas, sendo umas 60 a 70 em estado dramático no último trimestre de 2008. A solução para isso consumiu todo o ano de 2009", revelou, em longa entrevista à revista "Cadernos do Desenvolvimento", do Centro Celso Furtado. "Foi um longo trabalho de reestruturação, em que tecemos uma cooperação não visível com o mercado de crédito (...) Em alguns casos, o BNDES não precisou aportar recursos, mas foi essencial como coordenador das soluções."
Na ocasião, grandes empresas exportadoras, como a Sadia e a Aracruz , fizeram antes da crise grandes operações com derivativos cambiais, apostando que o real seguiria se valorizando em relação ao dólar. Com a eclosão da crise, a partir da quebra do banco americano Lehman Brothers em setembro de 2008, o real sofreu forte desvalorização.
Segundo Coutinho, naquele momento era "indispensável" para o BNDES coordenar a ação de instituições financeiras privadas, "para evitar que um jogo individualista por parte dos bancos resultasse em deterioração geral da carteira de todos". É a primeira vez que se revela o papel do BNDES no auge daquela crise.
"Uma parte do problema decorria do fato de que o banco que tinha uma fatia pequena dos créditos de uma determinada empresa ficava tentado a tirar sua parte, a resgatá-la. O credor grande, que tinha uma fatia relevante, não podia fazer isso porque sabia que iria asfixiar a empresa. Se todos os bancos que tivessem fatias pequenas buscassem sair ia ser um problema grave. Daí a ideia de o BNDES coordenar, para que os bancos atuassem conjuntamente", disse Coutinho à revista, cuja próxima edição será lançada quinta-feira e foi antecipada ao Valor.
O presidente do BNDES revelou que alguns bancos pequenos, com problemas de "funding" no interbancário, tiveram que resgatar seus créditos em várias empresas, obrigando o BNDES a trazer outros bancos para suprir seu espaço. Várias empresas exportadoras foram obrigadas a absorver grandes prejuízos com os derivativos.
"Nos defrontamos com um sério problema. O BNDES não podia entrar para cobrir os prejuízos, dando saída para os bancos causadores desses prejuízos, nem tampouco podia realizar essas operações devido ao chamado efeito de moral hazard [risco moral], pois privilegiaria os controladores imprudentes", observou.
Para estancar os prejuízos, explicou Coutinho, foi preciso interromper o processo cumulativo de perdas, negociando uma taxa de câmbio de encerramento das posições, de forma a estabelecer um montante devido e partir para o seu financiamento a prazos mais longos. O BNDES deixou claro que essa pré-condição era essencial e que os bancos responsáveis pela venda dos derivativos tinham a obrigação de equacionar o refinanciamento dos prejuízos. "Só após obtido isto, interviemos e quando necessário reestruturando o controle para poder capitalizar e criar empresas capazes de voltar a investir", disse Coutinho.
O presidente do BNDES fez um apanhado sobre a economia brasileira desde os anos 50 e suas perspectivas. Ele afirmou que, depois de anos digerindo a crise da dívida, o Brasil recuperou, entre 1999 e 2005 e entre 2004 e 2006, um mínimo, respectivamente, de robustez fiscal, conquistada a partir da Lei de responsabilidade Fiscal, e robustez cambial, obtida com a acumulação de reservas cambiais. Essas condições foram essenciais para sustentar taxas mais altas de crescimento e permitiram ao país adotar políticas anticíclicas, fundamentais para o país enfrentar a crise de 2008, a mais grave desde 1930.
Um dos principais conselheiros da presidente Dilma Rousseff, Coutinho, que comanda o BNDES desde maio de 2007 e que nesse período quase triplicou o orçamento de desembolsos do banco, advertiu que o país deve tomar o cuidado com o déficit externo, que hoje está em torno de 2% do PIB.
"É relevante extrair a lição. Nunca deveríamos esquecê-la. Faz uma diferença fundamental para a capacidade do Estado, para sua autonomia, ter ou não ter robustez cambial. Ter robustez fiscal é indispensável, mas ter robustez cambial é decisivo, sem ela não é possível um mínimo grau de autonomia", disse ele. "Preocupa-me que uma possível tolerância com um déficit em conta corrente muito alto possa desfazer a robustez cambial do país em pouco tempo. Então, se nós não retivermos essa lição, poderemos desfazer as condições básicas essenciais para sustentar o crescimento daqui para frente."

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