quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Fundos menos populares


Autor(es): Por Luciana Monteiro | De São Paulo
Valor Econômico - 09/11/2011
 

Uma certa elitização vem tomando conta do segmento de fundos de investimento nos últimos anos. Apesar de o setor vir em trajetória de crescimento, a participação dos investidores de varejo tem caído ano após ano. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que, depois de representar mais de um quarto dos recursos em fundos em 2006, a participação dos pequenos aplicadores encerrou setembro - último dado disponível - com fatia de 16,87%, com total de R$ 314,992 bilhões.
Só para se ter ideia, o volume de recursos em fundos provenientes dos aplicadores de varejo é superado, inclusive, pelo valor aplicado na caderneta de poupança, tradicional refúgio dos pequenos poupadores. Em outubro, a caderneta já registrava saldo de R$ 411,877 bilhões, segundo o Banco Central (BC).
A dificuldade do varejo de acessar boas carteiras com taxas de administração mais baixas pesa contra a aplicação em fundos, avalia Mauro Calil, professor do Centro de Educação e Formação de Patrimônio Calil & Calil. É difícil para os pequenos aplicadores encontrar fundos mais conservadores, como os DI e de renda fixa, que consigam ao menos rivalizar com a caderneta de poupança, diz. "Os fundos de varejo dos bancos costumam ser mais caros e os investidores, com um conta simples, conseguem ver que é possível conseguir rentabilidade maior com um CDB direto ou mesmo aplicando no Tesouro Direto", afirma ele.
Os números mostram que, em 2006, o setor de fundos encerrou o ano com patrimônio líquido de R$ 957,999 bilhões, dos quais R$ 269,063 bilhões eram aplicações dos investidores de varejo, ou seja, uma fatia de 28,08%. Desde então, a participação só vem caindo. Em dezembro de 2008, os pequenos representavam 20,72% do total em fundos e, dois anos depois, 17,21%. Agora, o varejo representa pouco mais de 16% do total de recursos em fundos, que soma R$ 1,866 trilhão.
É preciso ressaltar, entretanto, que muitos investidores pessoas físicas aplicaram fortemente nos últimos anos em fundos de previdência, que acabam aparecendo no levantamento no segmento institucional, já que o cotista é a seguradora. E não é possível fazer a separação desses números. Além disso, muita gente vem aplicando em fundos de fundos, que acabam também não sendo contabilizados, lembra Calil.
De qualquer maneira, é fato que o aumento da aversão ao risco neste ano tem feito com que os investidores procurem alternativas mais conservadoras de investimento, diz Antonio Carlos Conceição, consultor de investimentos do private bank do Banco Fator. Mesmo o Tesouro Direto vem atraindo cada vez mais os pequenos poupadores, afirma.
Os últimos dados do Tesouro Direto mostram que o estoque de títulos públicos somava R$ 6,722 bilhões em setembro, sendo que R$ 2,732 bilhões foram vendidos apenas neste ano. Já com relação à caderneta de poupança e CDBs, os números são bem mais significativos. No acumulado do ano, até outubro, a caderneta registra captação de R$ 10,565 bilhões, enquanto os CDBs apresentam ingresso de R$ 80,220 bilhões.
Enquanto as aplicações dos pequenos investidores perdem espaço no setor de fundos, o segmento de alta renda registra expansão. Em setembro, as carteiras voltadas para a alta renda tinham patrimônio de R$ 251,442 bilhões, valor 154% maior que os R$ 98,939 bilhões de dezembro de 2006. Percentualmente, a alta renda representava 13,46% do setor de fundos em setembro ante 10,32% em dezembro de 2006.
Esse aumento da participação da alta renda no setor de fundos coincide com a elevação no número de milionários no país por conta das aberturas de capital, fusões e aquisições, ou mesmo pela formação de novas fortunas diante do aquecimento da economia, ressalta Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos. "Muitas famílias venderam suas empresas e buscaram nos fundos de investimento uma forma de rentabilizar seus recursos", diz ele.
Ao observar o segmento de fundos, vê-se que o patrimônio vem crescendo nos últimos anos, assim como o total de recursos proveniente dos pequenos investidores no setor. O problema é que a expansão das aplicações do varejo ocorre em ritmo menor, lembra Camilo Syllos, superintendente-executivo de distribuição da HSBC Global Asset Management. "Mas há também investidores conseguindo taxas mais atrativas em CDBs, o que faz com que muitos acabem dando preferência a outras aplicações no lugar do fundos de investimento."
O crescimento maior visto em outros segmentos de aplicadores, como os institucionais, se deve ao fato de muitos fundos de pensão - que mantinham uma parcela significativa de recursos em carteiras próprias - estarem terceirizando a gestão e, assim, aplicando em fundos, diz o executivo da SulAmérica. "As empresas também têm migrado parte do caixa para aplicações em fundos", afirma. Como as fundações e empresas têm volumes altos, mesmo que os recursos dos pequenos investidores aumentem, o impacto é menor, já que não é possível crescer no mesmo ritmo, diz.
Os números da Anbima mostram que o grosso das aplicações dos pequenos investidores está em fundos de renda fixa e DI, com patrimônio de R$ 124,285 bilhões e R$ 121,095 bilhões em setembro, respectivamente, somando o varejo e o varejo de alta renda (aqueles normalmente com renda mensal acima de R$ 5 mil).
Os multimercados - que foram a vedete do setor de fundos e, por tabela, da pessoa física, por anos - vêm perdendo apelo diante do fraco desempenho, lembra Conceição, da Fator. "E isso contribui para que o investidor busque alternativas mais conservadoras, até porque essas foram as aplicações que tiveram melhor retorno nos últimos meses", diz o executivo.

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