sábado, 26 de novembro de 2011

O campo também tem sua classe C

Uso de tecnologia e programas de apoio fazem renda de produtores subir
Luiz Silveira
O aumento da renda elevou 30 milhões de brasileiros à classe C nos últimos dez anos, fazendo dessa nova classe média a coqueluche dos marqueteiros.
Boa parte desses brasileiros emergentes está no campo, onde 800 mil famílias formam a classe C dos proprietários rurais, segundo uma nova pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Além de um crescente poder de compra, essa classe C rural representa 15,4% das propriedades rurais e 13,6% do valor bruto da produção agropecuária brasileira. É dessas fazendas que saem 39% do leite, 17% da carne bovina e 19% do café, da mandioca e dos produtos hortícolas produzidos no País.
Ao contrário das classes D e E, os proprietários rurais classe C tiram da terra a maior parte do seu sustento, explica o autor do estudo, Mauro Lopes, coordenador do Centro de Estudos Agrícolas (CEA) do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.
Apenas 27% da renda total dessas famílias vêm de fontes externas, enquanto que nas classes D e E as aposentadorias e programas públicos representam 52% da renda líquida. Nas classes A/B, apenas 6% da renda é de fontes externas à agropecuária. “As classes D e E não têm condições de gerar renda suficiente na atividade agrícola”, pontua Lopes.
O estudo concluiu que a adoção de tecnologia é crucial para que os produtores das classes D e E ascendam para a classe C. “É como um processo de seleção natural”, diz Lopes. As classes D/E somam 3,65 milhões de propriedades.
Por isso, ele vê nas classes D/E uma grande oportunidade para aumentar ao mesmo tempo a renda no campo e a oferta de alimentos, por meio da tecnologia. “É para as classes D e E que nós podemos fazer mais; elas são o grande manancial que podemos trabalhar.”
Os números corroboram essa tese. Nas classes A e B, os adubos representam 41% dos gastos das propriedades, mas esse índice cai para 31% na classe C e 24% nas classes D e E. Nos gastos com agroquímicos, a diferença é ainda maior: 30% na A/B, 23% na C e 12% na D/E.
Confronto desfeito
Mas, como a pecuária é proporcionalmente mais significativa em termos de renda para as classes mais baixas, os gastos com rações e medicamentos pesa mais nas classes C, D e E. No caso de sal e rações o percentual é de 4% para A/B, 25% para C e 23% para D/E.
“Com esse resultado está desfeito o confronto entre dois tipos de agricultura, porque o pequeno produtor depende do milho e da soja baratos produzidos pelos grandes para alimentar seus animais”, avalia Lopes.
Outra constatação do estudo que vai nesta mesma direção é o fato de que em todas as classes de renda há um número semelhante de membros da família trabalhando na atividade agropecuária. Nos produtores A/B e C, esse número ficou em torno de três membros, enquanto nas classes D/E a média ficou perto de duas pessoas da família.

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