segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Demanda doméstica perde fôlego

Investimento derruba demanda no PIB
Autor(es): Por Sergio Lamucci | De São Paulo
Valor Econômico - 28/11/2011
 

Depois de crescer em ritmo chinês em 2010, de quase 9%, a demanda interna (o consumo das famílias, o consumo do governo e o investimento) sofreu forte desaceleração neste ano, devendo avançar perto de 4% ou um pouco mais, segundo estimativas de diferentes analistas. A maior perda de fôlego é do investimento, que saiu de uma expansão de 21,9% no ano passado para uma alta que deve ser inferior a 5% neste ano. O consumo das famílias também perdeu ímpeto, passando de um avanço de 7% em 2010 para algo entre 4,5% e 5% em 2011

Depois do crescimento de quase 9% em 2010, a demanda interna teve uma forte perda de fôlego neste ano, devendo avançar perto de 4% ou apenas um pouco mais, segundo estimativas de diferentes analistas. A maior desaceleração é a da formação bruta de capital fixo (medida do que se investe na construção civil, máquinas e equipamentos), que saiu de uma expansão de 21,9% no ano passado para uma alta que deve ser inferior a 5% neste ano. O consumo das famílias também reduziu o ímpeto, passando de um avanço de 7% no ano passado para algo entre 4,5% e 5% em 2011.
Com um ritmo mais fraco de expansão da demanda interna, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) será bem mais modesto neste ano - em torno de 3% ou menos, bem abaixo dos 7,5% de 2010. Nas contas do economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, a demanda doméstica vai contribuir com 3,9 pontos percentuais para o crescimento de 2,8% estimado para o ano.
Em um quadro de alta mais moderada do consumo e do investimento, as importações crescem a uma velocidade menos expressiva do que em 2010, fazendo com que a contribuição do setor externo para o PIB seja menos negativa. A LCA estima que ele vai "tirar" 0,6 ponto percentual do avanço da economia em 2011, bem menos que os 2,8 pontos de 2010. Já o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, acredita que o setor externo vai subtrair do PIB 1,5 ponto, por ver um crescimento um pouco mais forte das importações do que a LCA. Para completar, a variação de estoques joga contra o crescimento neste ano, devendo tirar cerca de 0,5 ponto do PIB em 2011 - em 2010, acrescentou 1,5 ponto.
Segundo Borges, a alta dos juros a partir de janeiro - e já em processo de reversão -, as medidas de restrição ao crédito e a moderação nos gastos públicos derrubaram a taxa de expansão da demanda interna, o que se acentuou a partir de meados do ano com as crescentes incertezas no cenário externo - em especial com o agravamento da crise na zona do euro.
O investimento é, disparado, a grande decepção de 2011. No começo do ano, a expectativa era de um avanço na casa de dois dígitos. Hoje, as previsões são de uma alta bem mais modesta - a LCA e a Rosenberg & Associados estimam 4,5% e a MB Associados, 5,1%.
Vale, da MB, afirma que a deterioração no cenário internacional afetou o investimento, levando as empresas a uma atitude mais cautelosa quanto a projetos de expansão da capacidade produtiva. Num quadro de incerteza, as companhias privilegiam mais o caixa, reduzindo e adiando alguns projetos de inversão, avalia Bráulio Borges, da LCA. A perspectiva de crescimento mais fraco em 2011 e 2012 contribui para a prudência dos empresários, embora a perspectiva de avanço mais expressivo do PIB em prazos mais longos faça com que haja poucos cancelamentos, diz ele.
A economista-chefe da Rosenberg, Thaís Marzola Zara, observa que o momento ruim da indústria, que deve crescer apenas 1% neste ano, também desestimula o investimento. "A competição com o importado tem sido cruel com a indústria", diz ela.
A utilização de capacidade instalada em níveis confortáveis tampouco incentiva as empresas a investir mais. Por fim, parte da contenção de despesas da União recaiu sobre os investimentos. De janeiro a outubro, caíram 3,7% em relação a igual período do ano passado.
Já o consumo das famílias desacelerou menos que o investimento, mas também não será tão exuberante como em 2010. As medidas adotadas a partir do ano passado para moderar o crédito tiveram impacto, diz Borges. As vendas de bens duráveis, como automóveis, perderam algum ímpeto. O aumento dos juros básicos também contribuiu para o ritmo mais fraco do consumo privado neste ano. Borges projeta expansão de 4,5%, enquanto Vale aposta em alta de 5% do consumo das famílias.
A desaceleração da atividade, hoje evidente, demorou a se confirmar neste ano. O aumento dos juros e as medidas de restrição ao crédito levam alguns meses para produzir efeito sobre a economia. O impacto mais forte se deu, tudo indica, no terceiro trimestre, quando o aperto monetário se fez sentir com mais intensidade e a piora no cenário internacional afetou a confiança dos agentes econômicos, especialmente empresários. O PIB deve ter ficado estável ou encolhido em relação ao segundo trimestre, na série com ajuste sazonal, segundo analistas.
O consumo do governo também vai crescer menos neste ano, refletindo a expansão mais fraca dos gastos públicos em 2011. Borges estima crescimento de apenas 1,3%, enquanto Vale espera alta de 2,2%. Em 2010, a alta foi de 3,3%.
A formação de estoques indesejados na indústria a partir de meados do ano vai derrubar um pouco mais o PIB. Números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que, em outubro, os inventários seguiam acima do planejado. Borges acredita que, na primeira metade do ano, a indústria apostou numa demanda mais forte do que a que realmente se concretizou. Para alguns analistas, a concorrência do importado também contribuiu para a formação dos estoques excessivos.
Vale projeta alta de 3,1% no PIB deste ano, com a demanda doméstica ajudando com 5 pontos percentuais, a variação de estoques tirando 0,5 ponto e o setor externo subtraindo mais 1,5 ponto. Em 2010, as importações de bens e serviços aumentaram 36,5%, bem acima dos 11,5% das exportações. Para este ano, a expectativa é de uma expansão de 10% nas compras externas e de 3% nas exportações.
Para 2012, Borges vê uma alta do PIB de 3,1%, composta por 2,5 pontos percentuais da demanda doméstica e 0,6 ponto da formação de estoques - o setor externo teria contribuição zero. Ele diz que a contribuição pequena da demanda interna se deverá em grande parte a uma questão estatística, já que a herança (o carry over) de 2011 para 2012 deverá ficar muito próxima de zero. Isso significa que, se o PIB ficar 2012 no mesmo nível do fim deste ano, a expansão no ano que vem será nula.
"O crescimento trimestral médio, porém, será maior do que neste ano - os 3,1% de 2012 parecerão mais fortes que os cerca de 3% de 2011", diz Borges. Segundo ele, a demanda doméstica deve crescer em média 0,4% por trimestre neste ano em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. Em 2012, o avanço médio tende a ser de 1,1%.
Vale, por sua vez, acredita que a demanda doméstica vai ter um peso mais forte em 2012, colaborando com 6 pontos percentuais do crescimento de 4% esperado para 2012. Os juros baixos e os gastos públicos mais fortes impulsionariam a economia, elevando importações e fazendo o setor externo "tirar" 2 pontos percentuais do PIB.

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