terça-feira, 29 de novembro de 2011

Há desindustrialização no Brasil?


Autor(es): Juan Jensen
Valor Econômico - 29/11/2011

Há algum tempo os economistas têm debatido se há desindustrialização no Brasil. As respostas têm divergido, até porque não há uma única definição para o termo.
A produção industrial mostrava trajetória de crescimento até a crise mundial no final de 2008. Em 2009, a indústria recuperou-se, mas desde março de 2010 tem oscilado próximo ao patamar pré-crise. E essa estabilidade ocorre mesmo com a continuidade do crescimento da demanda, como mostram as vendas do varejo, atualmente 23% acima do registrado no período pré-crise.
Uma das explicações para esse fraco desempenho está no comércio exterior, devido à baixa demanda externa e à taxa de câmbio relativamente apreciada. Um exercício que simula influência neutra do setor externo, mantendo o peso das exportações e importações de bens manufaturados em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) iguais ao período pré-crise (terceiro trimestre de 2008), mostra que a produção industrial estaria, no terceiro trimestre de 2011, em patamar 7,8% superior ao pré-crise, em vez de estar 1,1% abaixo. O aumento das importações de manufaturados, de 18,7% no período, "retira" 5,7 pontos percentuais. da produção doméstica, enquanto a queda das exportações, que estão 11,9% abaixo do pré-crise, retira 3,2 pontos adicionais.
Os dados mostram que parte da demanda doméstica foi atendida pelo aumento de importações. A indústria nacional não atendeu essa demanda adicional, entre outras coisas, pela falta de capacidade instalada. O nível de utilização da capacidade instalada está hoje 2 pontos abaixo dos picos, ou seja, a indústria segue com baixa ociosidade, em vários dos setores e subsetores.
Entretanto, os investimentos têm sido feitos, ainda que pouco tenha efetivamente maturado. Desta forma, o aumento da produção vai ocorrer naturalmente à medida que a capacidade instalada se eleve.
É claro que a competitividade de alguns setores vai continuar baixa mesmo que o real não esteja tão valorizado neste momento. Aqui vale, inclusive, um parêntese: a apreciação do real deriva, em grande parte, das boas condições internacionais para as commodities brasileiras, e esta situação de preços externos deve perdurar, ainda que o crescimento global esteja aquém do esperado. Ou seja, as forças para apreciação do real tendem a voltar e o setor industrial deve buscar outras formas de ganhar competitividade.
Antes de analisar as outras formas de se ganhar competitividade, vale mencionar que o setor de serviços vem crescendo consistentemente mais que o setor industrial, ao menos nos últimos 30 anos. E isto não quer dizer que a indústria diminuiu de tamanho, apenas que cresceu menos que outros setores. É um movimento global, principalmente nos países desenvolvidos, onde o percentual da indústria no PIB é bem mais baixo que no Brasil. Ou seja, à medida que o país caminhe rumo a um PIB maior, é natural que o setor de serviços cresça mais que o industrial.
Quanto aos entraves a um maior dinamismo da indústria no Brasil, destacam-se a alta carga tributária, a infraestrutura precária e o ambiente de negócios ruim. O Brasil não só tem uma carga tributária incompatível com seu nível de desenvolvimento, como tem baixa eficiência econômica por ter muitos impostos em cadeia. Além disso, o setor industrial é penalizado com uma carga tributária relativamente mais alta. Maior eficiência econômica no sistema tributário brasileiro, junto com maior igualdade na tributação, pode permitir melhor situação para indústria, ganhando inclusive competitividade em relação a outros setores.
A infraestrutura precária eleva os custos marginais de produção e resulta de vários fatores. Apesar da carga tributária alta, a péssima estrutura de gastos públicos ocasiona um baixo nível de investimento federal. Faltam parcerias público-privadas, concessões e privatizações que alavanquem o crescimento dos investimentos em infraestrutura. Sem falar no ambiente regulatório ruim, que diminui os incentivos para a participação privada no setor. Melhoras nesses quesitos favoreceriam a indústria, mas também setores como a agropecuária e a mineração, o que pode levar a uma taxa de câmbio ainda mais apreciada, limitando, então, os ganhos ao setor industrial.
Por fim, o ambiente de negócios ruim desloca os insumos produtivos e escassos para atividades que não geram ganhos de bem-estar. Na pesquisa "Doing Business", do Banco Mundial, entre 183 países, o Brasil ocupa a 126ª posição no ranking de 2012, sendo que em 2010 estávamos em 120ª lugar. Para o pagamento de impostos, por exemplo, devido ao confuso sistema tributário, o país está na 150ª posição, e segue piorando. A diminuição da burocracia impacta significativamente a produtividade e deve auxiliar a dinâmica da indústria. Nesse caso, o setor de serviços também melhora, então, isso provavelmente não fará com que a indústria deixe de crescer menos que o setor de serviços.
Assim, se desindustrialização significa redução da produção, não está ocorrendo desindustrialização no Brasil. Mas o ponto é que a dinâmica da indústria pode ser muito melhorada por reformas estruturais, passando, inclusive, longe de controle cambial ou benefícios exclusivos a um ou outro subsetor. Agora, se desindustrialização significa perda relativa do setor industrial, isso, de fato, vem acontecendo e mesmo com reformas estruturais e horizontais, é provável que continue, uma vez que outros setores (que têm maior vantagem comparativa) também devem ser beneficiados. Esse é o custo a se pagar na direção de um país mais desenvolvido.
Juan Jensen é doutor em economia pela USP e sócio da Tendências Consultoria Integrada.


Conceição, Bresser e Lessa querem que o real seja desvalorizado

Autor(es): Por Chico Santos e Diogo Martins | Do Rio
Valor Econômico - 29/11/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/11/29/conceicao-bresser-e-lessa-querem-que-o-real-seja-desvalorizado

A desvalorização do real e a adoção de salvaguardas para defender a indústria do país da concorrência chinesa foram as medidas defendidas ontem pelo PT e seus aliados PDT, PSB e PC do B, via suas respectivas fundações de estudos e pesquisas, durante o seminário "A Crise do Capitalismo e o Desenvolvimento do Brasil", realizado no Rio de Janeiro.
A desvalorização do real foi proposta pelo menos por três dos mais importantes palestrantes, os economistas Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Fazenda (governo José Sarney) e da Administração (primeiro governo Fernando Henrique Cardoso), Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES (primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva) e Maria da Conceição Tavares, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Conceição também defendeu a adoção de medidas protecionistas para defender a indústria da concorrência chinesa, no que foi seguida, no painel seguinte, pelo economista Ricardo Carneiro, professor da Universidade de Campinas (Unicamp). "Pode-se fazer por tarifas, subsídios, pode-se fazer por acordos com os países. Tem-se que fazer uma política agressiva com os chineses", disse Conceição, ressaltando que o Brasil só não pode é adotar nenhuma medida sem a prévia concordância dos seus parceiros do Mercosul para não correr risco de arranhar o encaminhamento da unidade na região.
"Estamos perdendo mercado na América do Sul mais rápido do que dentro do Brasil", disse Carneiro, fazendo eco com as propostas da economista. "É proteção cambial, tarifas... Não dá para ser pelo câmbio somente", completou, ressaltando que a simples desvalorização cambial vai acabar tendo impacto negativo sobre os salários.
Bresser Pereira, principal defensor da desvalorização cambial hoje no país, disse em rápida entrevista que já está comprovado em estudo que o efeito de uma desvalorização do real de 30% não seria tão deletéria assim sobre os salários. Segundo ele, os economistas José Luiz Oreiro e Nélson Marconi já demonstraram que para uma desvalorização de 30% as perdas salariais seriam de apenas 6%.
Bresser argumentou que a desvalorização, recuperando a competitividade da indústria, permitiria ao Brasil voltar a crescer, de forma consistente, a taxas de 5% a 6% ao ano. Nesse cenário, as perdas salariais seriam recuperadas, com sobras, em cerca de três anos. As perdas salariais e a aceleração inflacionária são os dois principais problemas vistos por Bresser no processo de desvalorização do real para cerca de R$ 2,40 por dólar.
"Depois da mudança vai ficar tudo azul, mas no processo há problemas", disse, ressaltando que os ganhos de competitividade para a economia compensam os percalços no caminho. "Passei anos procurando uma metáfora para explicar a importância do câmbio. Agora acho que encontrei: ele é um interruptor de luz que liga ou desliga as empresas tecnologicamente competentes da demanda mundial", explicou Bresser-Pereira, no evento.
Carlos Lessa disse que "o câmbio (desvalorizado) protege a indústria avançada da extinção", além de elevar a rentabilidade das commodities em real. Tanto ele como Bresser Pereira defenderam que, durante o processo de desvalorização da moeda brasileira, seria necessário também impor uma taxação sobre as exportações das commodities mais valorizadas.
Bresser mostrou que dessa forma os produtos não ficariam mais caros e os exportadores não perderiam nada, uma vez que a taxação, variável para cada produto, não ultrapassaria o limite do ganho obtido com a desvalorização cambial. Dessa forma, a desvalorização serviria apenas para aumentar a competitividade da indústria.
Os economistas disseram ainda que nada do que propuseram terá efeito se o governo não der continuidade à atual política de redução da taxa de juros básica que, na avaliação de Bresser, dever cair a um nível de 2% a 3% em termos reais.

28/11/2011 09:04
Brasil Econômico (SP): Prebisch e as commodities - Rodrigo Sias

Gerente da área internacional do BNDES

http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=12349&Itemid=75

Historicamente, a dependência de exportações de commodities tende a tornar os países vulneráveis externamente.
Raul Prebisch foi um dos primeiros a falar dos possíveis males deste tipo de inserção na economia mundial.
Para o economista argentino, os termos de troca dos produtos primários seguiriam uma tendência de deterioração frente aos produtos industrializados, o que levaria a crescente vulnerabilidade da posição externa dos países especializados na exportação desses produtos.
A Argentina era um dos países mais ricos do mundo, com uma economia complementar à inglesa, a potência hegemônica da época.
Com o deslocamento do centro dinâmico da economia mundial para os EUA, um país com forte setor agroindustrial, e a entrada de Austrália e Nova Zelândia nesse mercado, o preço de seus produtos de exportação desabaram.
A hipótese de Prebisch sobre a “deterioração dos termos de troca” foi muito influenciada pela situação da Argentina nos anos 20 e foi construída, basicamente, durante o período de decadência econômica do qual o país nunca mais saiu.
Escrevendo na década de 50, Prebisch não contava com a ascensão da China, que modificaria radicalmente esse panorama, deslocando o centro dinâmico da economia mundial para a Ásia.
A China, de um lado, atua no lado da oferta, fornecendo produtos industriais a custos cada vez menores.
Por outro lado, exerce uma demanda crescente por produtos primários, inflando seus preços.
Alargando a série estatística usada por Prebisch, não encontramos evidência definitiva de que os preços dos produtos primários sempre cairão relativamente aos produtos industriais.
Na verdade, a evidência empírica concreta é de que os preços dos produtos primários são muito mais voláteis que os preços de produtos industriais.
Mesmo antes da China, episódios como as crises do petróleo da década de 70, já registravam como os preços de produtos primários poderiam ser voláteis.
Embora a “hipótese de deterioração” não tenha sustentação empírica robusta, os efeitos da inserção na economia mundial com esse tipo de pauta exportadora são tão potencialmente danosos para a economia quanto se a hipótese fosse verdadeira.
Com isso, a conclusão de Prebisch seria válida e suas proposições também apontariam na direção correta quando falavam da diversificação da economia e na agregação de valor na pauta exportadora.
Recentemente, o Ipea divulgou um estudo denominado “As relações do Mercosul com Estados Unidos e China ante o deslocamento do centro dinâmico mundial”, que mostra uma série de dados acerca do comércio exterior e da relação de investimentos estrangeiros do Mercosul, EUA e China.
A conclusão do estudo é que o crescimento chinês tem reforçado duas características históricas da economia da região: a primarização da pauta exportadora e a predominância do capital estrangeiro como dinamizador das economias locais.A América Latina não deveria desprezar as lições de Prebisch e se acomodar com a atual conjuntura, por ora, favorável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário