sábado, 5 de novembro de 2011

Onze maneiras de alimentar 7 bilhões

Onze maneiras de alimentar 7 bilhões
Como os cidadãos e os governos podem agir para diminuir a fome
Luiz Silveira

O mundo atingiu nesta semana 7 bilhões de habitantes, pelas contas da Organização das Nações Unidas (ONU), mas a fome ainda atinge pelo menos 850 milhões deles.
Diante da marca populacional histórica e do permanente desafio de combater a fome, oSou Agro lança nesta sexta-feira (04) uma série especial de reportagens sobre 11 iniciativas que podem ajudar o mundo a alimentar melhor todos os seus habitantes.
Aplicadas hoje, essas medidas diminuiriam a fome atual mas, ainda mais importante, impediria que um número maior de pessoas viessem a sofrer com a falta de comida. Até 2050, a população mundial superará os 9 bilhões.
As iniciativas foram divididas em quatro grandes linhas de ação: facilitar o acesso das pessoas aos alimentos, aumentar o uso de tecnologia, tornar o comércio mundial mais justo e consolidar a proteção ambiental na agenda agrícola mundial.

A: Facilitar o acesso aos alimentos

1. Melhorar a distribuição de renda
Não basta haver comida se as pessoas não tiverem dinheiro para comprá-la. A ONU estima que haja 850 milhões de pessoas no mundo sem acesso ao mínimo de alimentos necessário. Não por coincidência, essas pessoas estão principalmente nos países e regiões mais pobres do globo.
2. Pacificar as zonas de conflito
Em regiões em guerra ou conflito armado prolongado, a produção de alimentos é completamente desestruturada e nem mesmo a comida enviada por ajuda humanitária consegue chegar a quem precisa.
3. Reduzir os padrões de consumo
O desperdício de alimentos pode ser diminuído significativamente com simples mudanças de hábito, como controlar as compras, os prazos de validade e não exagerar nas porções. Algo entre 30% e 40% dos alimentos na Europa e nos Estados Unidos acaba na lata do lixo, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
4. Aprimorar a logística da produção
Boa parte dos alimentos se perde antes de chegar ao prato. Não há uma estimativa precisa, mas o Ministério da Agricultura calcula que, no Brasil, 10% a 15% do que é produzido se perca no caminho. A falta de infraestrutura adequada de armazenagem, de transportes, de comunicação rural e de comercialização causa essas perdas e deixa os agricultores mais longe do mercado, o que reduz a sua renda e desestimula a produção.

B: Aumentar o uso de tecnologia

5. Investir em novas tecnologias agrícolas e na sua popularização
Nos últimos 50 anos, 1 bilhão de pessoas foram salvas de morrer de fome por avanços da agricultura, segundo cálculos da Gates Foundation. A produtividade agrícola tem crescido e as perdas por pragas e doenças têm caído, mas ainda é preciso investir mais em pesquisa e desenvolvimento agropecuários. Muitas regiões poderiam passar a produzir alimentos, ou produzir mais, com novas tecnologias.
Paralelamente, é preciso que essas tecnologias modernas sejam adaptadas e distribuídas para os agricultores de todo o mundo, com a devida assistência técnica. Cada hectare de cereais na África produz metade de um hectare da América Latina e um quinto de hectare americano, de acordo com a Gates Foundation.
6. Privilegiar os biocombustíveis que não usem matérias-primas alimentícias
Os Estados Unidos já estão usando mais milho para produzir etanol do que para fins alimentícios, segundo o Departamento de Agricultura do país. São cerca de 127 milhões de toneladas do cereal neste ano. Por isso, as políticas de incentivo aos combustíveis renováveis devem privilegiar aqueles que não diminuem a oferta de matéria-prima para alimentos, como o álcool de cana-de-açúcar e o etanol lignocelulósico, feito a partir de resíduos.

C: Tornar o comércio mundial mais justo

7. Eliminar as barreiras ao comércio
No caso dos alimentos, as barreiras tarifárias, técnicas, sanitárias e até ambientais impedem que os países possam competir de forma igualitária. A redução dessas barreiras estimularia o ganho de eficiência e a produção em países pobres, reduzindo o preço da comida em todo o mundo. A OCDE calcula que se as nações do G20 reduzissem as barreiras comerciais em 50%, gerariam aumento no número de empregos entre 0,3% e 3,9%, enquanto os salários cresceriam entre 0,8% e 8,1%.
8. Reduzir os subsídios agrícolas
A União Europeia deve distribuir meio trilhão de euros em subsídios aos seus agricultores nos próximos oito anos. Esse e outros programas de subsídio tornam economicamente inviáveis as agriculturas de muitos países pobres com vocação agrícola, desestimulando a produção local.
9. Estimular o financiamento e a organização dos produtores rurais
Os agricultores precisam de crédito para produzir e de preço justo para vender, garantindo renda e capacidade de investimento. A informação também é imprescindível, para que os produtores saibam quanto vale seu produto e qual é a melhor hora de vender.
Uma das melhores maneiras de resolver esses problemas é estimulando a organização dos produtores, como no modelo de cooperativas. “As cooperativas agrícolas são centrais para a redução da pobreza e da fome”, segundo a FAO. Juntos, os agricultores têm mais acesso a crédito, à informação e à tecnologia, além de poderem reduzir os custos ao adquirir insumos e vender seus produtos conjuntamente.

D: Consolidar o meio ambiente na agenda agrícola

10. Proteger os recursos naturais
A água e o solo são recursos cruciais para a agricultura, e que precisam ser protegidos para que a produção de alimentos possa continuar crescendo. Para que prevaleça uma agricultura de baixo impacto ambiental, é fundamental que todos os produtores entendam a preservação como parte do seu negócio. Informação, assistência e tecnologias mais eficientes são o melhor caminho para isso.
11. Preparar a agricultura para as mudanças climáticas
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU prevê que o aquecimento global pode afetar a produção agrícola de todo o mundo. Por isso, é preciso investir na pesquisa agropecuária para criar variedades de plantas e animais adaptados.
Além do clima em si, a agricultura precisa se adaptar localmente às novas pragas e doenças que podem se manifestar por conta das mudanças. Um estudo da Embrapa e da Unicamp concluiu que as mudanças climáticas podem gerar perdas de R$ 7,4 bilhões já em 2020 à agricultura brasileira.

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