Eduardo Campos |
Valor Econômico - 04/11/2011 |
Pelo segundo mês consecutivo a indicação é de que as movimentações no mercado futuro terão menor influência na determinação na taxa de câmbio. Bancos e estrangeiros continuam com seu baile de posições na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), mas o volume das posições sejam elas compradas (pró-dólar) ou vendidas (pró-real) continuam bastante tímidas neste começo de mês. Com isso, o fluxo cambial, ou seja, a movimentação física de dólar, continua com maior peso dentro da complexa equação que resulta na taxa de câmbio. Outras variáveis consideradas são a instabilidade externa, preço de commodities, taxa de juros e barreiras regulatórias. Pelo lado do fluxo, a possibilidade de saldos negativos ficou reforçada depois dos dados apresentados pelo Banco Central (BC). No mês de outubro até o dia 28, o resultado é de modesta saída de US$ 105 milhões. Mas olhando apenas a semana entre 24 e 28 de outubro, o fluxo foi negativo em US$ 3,972 bilhões, com saídas na conta comercial (US$ 2,379 bilhões) e financeira (US$ 1,593 bilhões). Se esse resultado do fim de outubro confirmar tendência, a moeda ganha viés de alta. Passando para a BM&F, a virada de mês mostrou firme movimentação dos investidores. No fim das contas, temos bancos e estrangeiros vendidos, porém em montante pouco expressivo. Na passagem de outubro para novembro, os estrangeiros voltaram a mostrar posição vendida em dólar futuro, o que não acontecia desde o começo de setembro, mas o saldo líquido em dólar e cupom cambial (DDI - juro em dólar) é vendido em apenas US$ 2,745 bilhões (veja gráfico abaixo). Para ilustrar o quão diminuto é esse estoque, no começo de julho essa aposta no real se aproximou de US$ 25 bilhões. Já os bancos abriram novembro com posição líquida vendida em US$ 4,150 bilhões, sendo US$ 3,367 bilhões comprados em dólar futuro e US$ 7,518 bilhões vendidos em cupom cambial. O câmbio na BM&F segue disfuncional por causa do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre ampliação de posição vendida. Então, se não tem vendedor não tem comprador. A expectativa de oscilação de preço tem de ser grande o suficiente para cobrir o custo da tributação e, por ora, não se vê muita gente falando em dólar fora do intervalo de R$ 1,70 a R$ 1,75. Passando para o quadro externo, parece que tiraram o bode da sala na zona do euro. O bode em questão é o tal referendo grego para avaliar a vontade popular de arcar com o custo das medidas de austeridade que servem de contrapartida ao recebimento de ajuda externa. A manobra política de George Papandreou foi um tiro no pé. Base e oposição mostraram sensatez e foram para o ataque, obrigando o chanceler a voltar atrás no seu plano. Mesmo com esse assunto saindo de pauta e os mercados reagindo de forma positiva na quinta-feira, o gestor da Vetorial Asset, Sergio Machado, nota que nada de fato mudou. A questão do referendo é apenas uma gota em um oceano de problemas. Os esforços tomados até aqui foram feitos visando preservar o sistema financeiro europeu e é nisso que os lideres devem continuar concentrados, buscando detalhar como será feito o desconto de 50% da dívida grega e de que forma o fundo de estabilidade será capitalizado. Segundo Machado, a questão não são as perdas em si, mas sim como elas serão contabilizadas dentro dos bancos. "Os bancos precisam de tempo para se ajustar aos prejuízos. A forma de reconhecer as perdas é o que faz a diferença", diz. Olhando a questão fora do dia a dia, continua sendo surpreendente que um país do tamanho e importância da Grécia coloque o mundo em desespero. Como disse Machado, não é um caso de "rabo que balança o cachorro", mas sim de "rabo que balança o elefante". Ainda sobre a Europa uma interessante avaliação foi feita pelo gestor do fundo KAM LP, Mike Krieger. A questão dos 5 minutos. Para Krieger, esse é o tempo de reflexão necessário para se compreender a gravidade da situação na Europa. No entanto, os grandes investidores e gestores não se preocuparam em fazer esse singelo exercício para ver os possíveis resultados do que está acontecendo. O resultado disso será perda de dinheiro para muita gente que confia nesses sábios do mercado que se mostram ou preguiçosos ou sem a mínima curiosidade. Para esse gestor, não há "solução" que não resulte em muita dor, confusão e destruição de riqueza. Ao menos metade do continente está completamente falida. São duas saídas apenas: um agressivo perdão de dívida soberana com consequente insolvência do sistema financeiro e posterior reestruturação. Ou o BCE liga a impressora no modo "trilhões de euros", promovendo uma destruição do poder de compra da União Europeia nos moldes do Zimbábue. (A avaliação completa de Krieger pode ser obtida no site www.zerohedge.comzzz/news/michael-krieger-explains-why-it-takes-only-5-minutes) |
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Derivativo perde força na formação do dólar
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