quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Crescimento baseado em commodities preocupa Ipea

O Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada - Ipea, afirma que a alta participação dos setores de uso intensivo de recursos naturais na economia torna difícil uma estratégia consistente de crescimento sustentável para o Brasil

A reportagem é de Fabiano Ávila e publicado pelo Instituto CarbonoBrasil com informações do Ipea e do Ministério da Ciência, Tecnologia - MCT, 07-02-2012.
Divulgado na última sexta-feira (3), o Comunicado do Ipea nº 133 - Produtividade no Brasil nos anos 2000-2009: análise das Contas Nacionais afirma que a produtividade do trabalho no país manteve-se praticamente estável entre 2000 e 2009, com variação anual de 0,9%. Mas o que mais salta aos olhos no relatório é o papel destacado da agropecuária, que registrou crescimento de 4,3% e da indústria extrativa, com 1,8%.
“Estes setores, de reduzido efeito multiplicador sobre o restante da economia e de baixo valor agregado, impõem obstáculos a uma estratégia de crescimento sustentado no longo prazo, sobretudo se a distribuição da produção estiver se concentrando. Para um país que necessita ampliar suas condições de competitividade externa, essas características devem ser vistas como, no mínimo, preocupantes em uma estratégia consistente de desenvolvimento industrial e econômico”, afirma o comunicado.
O quadro geral que  Ipea passa é que o Brasil está sendo um fornecedor de commodities do mercado global. Assim, o país arca com os passivos ambientais das atividades de uso intenso dos recursos naturais e ainda gasta para importar bens produzidos com a nossa matéria-prima no exterior.
O Instituto também alerta para o fato da economia brasileira ter demonstrado baixo dinamismo em termos de produtividade do trabalho. Se for excluído 2009, ano que o Brasil sofreu os impactos da crise econômica internacional, a indústria extrativa aumentou sua participação em 5,9%, enquanto que a indústria de transformação sofreu uma queda de 2,5%. Outros setores, como gás e construção civil caíram ainda mais, 3,4%.
“É importante ressaltar que o desempenho agregado da indústria só não foi pior por conta do crescimento médio anual de 1,8% da indústria extrativa, haja vista que a indústria de transformação e os outros setores industriais apresentaram variação negativa da produtividade no período.”
O comunicado pede por uma maior diversificação da estrutura produtiva, apesar de apontar de que não existem indícios de que isso venha a acontecer nos próximos anos.
“A elevada instabilidade internacional por conta da crise financeira, que se manifesta, entre outros, pela retração do comércio internacional e por uma maior aversão ao risco por parte de empresários e consumidores, exige um maior dinamismo da relação produto/trabalhador e uma maior diversificação da estrutura produtiva, mas isso não ocorreu nos anos 2000 e não há indícios de que ambas essas trajetórias sejam revertidas no curto prazo.”
Gabriel Squeff, técnico em Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac), acredita que o grande problema é a falta de inovação tecnológica, que estaria acontecendo na economia brasileira como um todo.
De acordo com dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, os gastos com pesquisa e desenvolvimento no Brasil são muito baixos, com apenas 1,19% em relação ao PIB em 2009. Países como o Japão, com 3,44%, Alemanha, 2,82%, e China, 1,54%, estão bem à nossa frente.
Outro dado interessante, que revela a ausência de cultura para inovação no Brasil, é o número de pedidos de patentes de invenção depositados no Escritório de Marcas e Patentes dos Estados Unidos. Enquanto o Japão fez mais de 81 mil pedidos em 2009, a China quase sete mil, o Brasil não passou de míseros 464.
Segundo Squeff, a manutenção dos resultados apresentados pelo Ipea é preocupante quando se almeja um desenvolvimento calcado na indústria e na sustentabilidade. Nesse aspecto, ele ressaltou que o Brasil necessita ampliar suas condições de competitividade externa.
Ipea conclui que a concorrência com produtos chineses torna este cenário ainda mais grave.


1. Produtividade do trabalho: baixo dinamismo
A produtividade do trabalho foi obtida pela razão entre o valor adicionado (VA), a 
preços constantes de 2000, e o pessoal ocupado em cada atividade econômica calculada 
pelo IBGE nas Contas Nacionais  – referência 2000. Vale ressaltar que em vez de 
deflacionar o VA dos diferentes setores com base em um mesmo índice de preço, foram 
utilizados os deflatores implícitos de cada atividade econômica acumulados no período.
Na tabela 1 reportou-se a produtividade do trabalho para o total da economia, para 
os setores agropecuário, industrial e de serviços e para os subsetores industriais 
(indústria extrativa, indústria de transformação e outros industriais). De maneira mais 
agregada, observa-se que a economia brasileira demonstrou baixo dinamismo em 
termos de produtividade do trabalho entre 2000 e 2009, haja vista que a produtividade 
para o conjunto das atividades da economia cresceu apenas 0,9% a. a. em média. Este 
resultado positivo decorreu, sobretudo, do desempenho da agropecuária, sendo que  o 
setor de serviços apresentou uma taxa de crescimento ligeiramente positiva e a 
produtividade industrial decresceu 0,6% a.a em média.
É importante ressaltar que o desempenho agregado da indústria só não foi pior por 
conta do crescimento médio anual de 1,8% da indústria extrativa, haja vista que a 
indústria de transformação e os outros setores industriais apresentaram variação 
negativa da produtividade no período.
Na avaliação segundo os números absolutos a produtividade do trabalho na 
indústria é superior à verificada nos demais macro-setores e a da economia como um 
todo. Porém, se calcularmos o quociente entre a produtividade industrial e a 
produtividade total, dos serviços e da agropecuária, veremos que essas razões têm 
decrescido quase linearmente no período sob análise. Com efeito, entre 2000 e 2009 ela 
passa de 1,42 para 1,24 no primeiro caso, cai de 1,24 para 1,12 no segundo e, na 
comparação com a agropecuária, a queda é ainda maior (de 5,66 para 3,67). 
Isso significa que está ocorrendo uma convergência do nível de produtividade dos 
macro-setores menos produtivos (serviços e agropecuária) para o macro-setor mais 
produtivo (indústria),  convergência essa, no entanto,  decorrente da queda da 
produtividade deste último, em vez de estar associado a taxas de crescimento superiores 
dos primeiros com relação à indústria.
Cabe destacar que a produtividade da indústria extrativa é superior àquelas 
verificadas para a indústria de transformação e para os outros setores industriais. Esse 
resultado foi influenciado pelos setores  de  petróleo e gás natural, de altas 
produtividades. 
O hiato de produtividade entre os sub-setores industriais está aumentando: a razão 
produtividade na indústria extrativa/produtividade na indústria de transformação 
aumentou de 3,72 em 2000 para 4,74 em 2009. Fenômenos semelhantes ocorreram com 
relação aos quocientes da indústria extrativa vis-à-vis outros industriais (de 4,29  para 
5,31), o macro-setor da indústria (de 3,75 para 4,67) e com relação à economia como 
um todo (de 5,33 para 5,80).
A compreensão da dinâmica da produtividade da estrutura produtiva brasileira 
requer, além dos dados agregados dos sub-setores, uma avaliação pormenorizada da 
indústria de transformação e do setor de serviços. No primeiro caso isso é necessário na 
medida em que sua dinâmica e evolução contribuem, para o crescimento econômico de 
longo prazo do país. No segundo, isso é pertinente em virtude do tamanho do setor de 
serviços, já que ele responde pela maior parte do PIB e do emprego total (ver tabelas 4 e 
5 na próxima seção).
2.1 Total da economia
Em termos agregados (macro-setores da economia), verificou-se pela tabela 4 que 
entre 2000 e 2009 houve pequenas alterações na composição do valor adicionado total 
(VA), sendo a mais proeminente a redução de 0,9% da indústria vis-à-vis um aumento 
de igual magnitude no setor de serviços.
Já no que concerne às ocupações (tabela 5), verifica-se que a agropecuária perdeu 
4,9% de participação no total. Esta queda foi compensada por um pequeno aumento na 
participação da indústria (1,0%) e por um considerável crescimento do setor de serviços 
que passou de 58,2% em 2000 para 62,1% do total de ocupações em 2009.

2.4 Setor de serviços
Por fim, com relação aos serviços  observou-se  uma pequena variação na 
composição do VA (tabela 10) e das ocupações (tabela 11). Com relação  a primeira 
variável, temos um pequeno aumento na participação dos grupos alta tecnologia e 
mercado e financeiro. Já no que concerne às ocupações, destacam-se também o aumento 
da participação dos setores classificados como de alta tecnologia e mercado vis-à-vis 
uma redução de 1,8% no grupo pouco intensivo em conhecimento entre 2000 e 2009.
Ambos indicadores evidenciam que, desde 2002, ocorreu um aumento na 





concentração do VA, embora em 2006 tenha ocorrido uma reversão momentânea dessa 
trajetória. Já no que tange às ocupações do setor de serviços,  verificou-se  um 
comportamento errático até 2005/2006 e entre esse ano e 2008 uma nítida tendência de 
desconcentração. Tal como verificado no caso da indústria de transformação, há uma 
forte semelhança entre o comportamento dos índices de ocupação dos serviços com 
aqueles verificados para a economia como um todo (gráficos 1). Ademais, se  se 
considerar que este setor responde pela maior parte do emprego (tabela 4), pode-se
afirmar que o aumento da concentração da distribuição das ocupações no Brasil em 
2009 decorreu, sobretudo, do comportamento do setor de serviços. 
3. Considerações finais
A produtividade do trabalho no Brasil manteve-se praticamente estável entre 2000 
e 2009. Os setores que mais se destacaram foram aqueles predominantemente intensivos 
em recursos naturais (agropecuária e indústria extrativa) e pouco intensivos em 
conhecimento (serviços). Concomitantemente,  observou-se uma elevação generalizada 
no grau de concentração das atividades econômicas em termos de valor adicionado. 
Estes setores, de reduzido efeito multiplicador sobre o restante da economia e de 
baixo valor agregado, impõem obstáculos a uma estratégia de crescimento sustentado no 
longo prazo, sobretudo se a distribuição da produção estiver se concentrando. Para um 
país que necessita ampliar suas condições de competitividade externa, essas
características devem ser vistas como, no mínimo, preocupantes em uma estratégia 
consistente de desenvolvimento industrial e econômico.
Assim, embora se tenha verificado desconcentração das ocupações – o que contra 
arresta a baixa produtividade e o aumento  da concentração setorial –, a concorrência 
com produtos chineses certamente torna este cenário mais preocupante. 
Ademais, a elevada instabilidade internacional por conta da crise financeira, que 
se manifesta, entre outros, pela retração do comércio internacional e por uma maior 
aversão ao risco por parte de empresários e consumidores, exige um maior dinamismo 
da relação produto/trabalhador e uma maior diversificação da estrutura produtiva, mas 
isso não ocorreu nos anos 2000 e não há indícios de que ambas essas trajetórias sejam 
revertidas no curto prazo.

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