sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Modernizando a comercialização de gado para abate

Modernizando a comercialização de gado para abate

A pecuária de corte vem mudando e melhorando muito ao longo dos anos. Cada dia mais produtiva, eficiente e moderna. Um dos lados que avança mais devagar é a questão da comercialização de gado para abate. Em sua grande maioria, pouco mudou. Ainda se vende gado da mesma forma que há muitos anos atrás.
Junto com a modernização da pecuária também está aumentando a demanda por qualidade pelos consumidores. A medida que a renda aumenta, em especial no Brasil e países emergentes, se consome mais carne e se deseja consumir carne melhor.
Como a comercialização pode mudar, melhorar, se modernizar? Acredito que o principal ponto é que ela ajude a indicar os melhores caminhos para o setor e também facilite que os desejos do consumidor e suas tendências sejam traduzidos para todo setor. Quanto mais rápidos e eficientes formos em adaptar a pecuária aos anseios do consumidor moderno, melhor. A comercialização também precisa ser mais objetiva e científica. Menos mitos e mais ciência.
Na maioria dos casos, os preços se separam por boi ou vaca e em muitos casos também por boi inteiro ou castrado. Faz sentido, se analisarmos questões históricas. Na maioria dos casos, uma vaca é mais leve e mais velha, e um boi castrado é melhor terminado que um boi inteiro.
No caso da vaca, ser mais leve diminui a eficiência da planta frigorífica, aumentando o custo por quilo de carne abatida e também carcaças mais leves tem rendimento de desossa pior. Um animal mais velho terá uma carne mais dura e de menor qualidade e uma gordura com coloração menos desejada. No caso do boi castrado, uma melhor cobertura de gordura aumenta a qualidade da carne e atende consumidores e mercados mais exigentes.
A questão principal é que tudo isso colocado acima pode estar errado, ou pelo menos incompleto. Podemos melhorar, estamos em 2012. Pois há bois inteiros muito bem acabados e fêmeas indo para abate com excelente peso, acabamento e qualidade de carne. O ideal seria medir a qualidade de uma carcaça de uma forma mais objetiva e precisa. O ideal seria que se medisse o que realmente importa e não indicadores pouco eficientes em indicar essa qualidade.
Se o mercado deseja pesos específicos de cortes (e com isso pesos específicos de carcaça), com quantidade específica de gordura de cobertura e coloração específica, parece ser mais eficiente e justo medir essas características.
Outro ponto importante é a forma como esse animal foi produzido, tipo de alimentação, etc. Um grande problema e recente é uma reclamação muito comum de gosto e cheiro de fígado. Isso atrapalhou o consumo, apesar de não conseguirmos medir. Muita gente ficou com um pé atrás na hora de comprar carne a vácuo, pois poderia ter uma surpresa ruim em casa.
Uma comercialização mais moderna poderia nos ajudar a indicar de forma mais rápida o que precisamos buscar e oferecer para o consumidor.
A linguagem que usamos para descrever o que estamos buscando, influencia e muito nossa atitude e ações. Por exemplo, falar de lotação de UAs por hectare é uma maneira menos eficiente do que se falar de arrobas produzidas por hectare. A primeira é estoque, a segunda produção.
Como podemos melhorar a comercialização?
Acredito que a maneira mais prática e eficiente é aprender com quem já está fazendo um bom trabalho nessa área. Quem já tem uma experiência de sucesso e quem está estudando sobre o tema. Muito já foi falado e discutido sobre o assunto nos últimos anos e recuperar esses aprendizados também pode ajudar.
Alguns frigoríficos, associações de raça e de produtores, e também redes de varejo tem trabalhado de forma muito interessante. Tem aprendido muito e também tem se conseguido bons resultados.
O mercado de carne brasileiro está mais maduro e caminhando para uma  tendência de mais especialização, de produtos de valor agregado. Produtos premium tem um espaço cada vez maior.
Acredito que vai fazer cada vez mais sentido medir além do peso e sexo do animal abatido, também a coloração, rendimento de desossa, quantidade de gordura. E mais importante, usar esses dados para dar feedback ao produtor do que se espera e deseja. Na questão da qualidade, hoje estamos jogando um jogo sem placar. A informação poucas vezes volta ao produtor de forma que possa tomar decisões com base no seu resultado efetivo de abate. Quanto mais fácil de se ver qual o melhor resultado, o melhor tipo, em relação ao pior, mais fácil será melhorar. E quanto mais objetiva e científica essa medição, melhor será.
Qual o caminho devemos procurar seguir? Alguns frigoríficos estão desenvolvendo programas de tipificação e pagamento diferenciado. Outros não tem pagamento diferenciado e parecem não planejar ter.
Eu acredito no caminho da diferenciação e do preço premium, mas seria ingênuo desconsiderar esse outro caminho. Há gente boa e competente trilhando esse lado e é importante buscar entender as razões que levam a esse raciocínio.
Uma forma diferente poderia ser: uma faixa de qualidade e padrão que o frigorífico deseja comprar e definir um preço para esse tipo de produto e dar assistência, serviços e suporte ao produtor que deseja fazer parte desse programa para que ele consiga chegar nesse padrão, nessa qualidade, mais rápido e de forma mais eficiente e lucrativa.
Outro ponto interessante, levantado recentemente por um leitor do BeefPoint, é a possibilidade do produtor de criar uma fidelização do frigorífico, criando um relacionamento mais duradouro e com mais confiança. Tenho visto isso ocorrer em todas as regiões do Brasil, nunca a maioria, mas sempre há alguém que consegue. Por onde ando, eu vejo produtores que conseguiram criar um relacionamento mais de longo prazo, de mais confiança e ajuda mútua com o frigorífico que fornecem. E conseguem bons resultados com isso.
Tenho certeza que precisamos trabalhar mais no tema comercialização. Precisamos tornar a conversa sobre comercialização mais moderna, focada no que realmente importa e que possamos medir. E buscar os exemplos e aprendizados de quem já faz isso aqui no Brasil é a melhor forma de fazermos isso. Esses exemplos serão aprendizado, troca de experiência e inspiração.
Modernizar a comercialização é um passo importante para melhorar a pecuária de corte brasileira.
Pensando nisso, criamos um workshop e webseminário sobre tipificação de carcaças e comercialização. Esperamos contribuir para esse tema, reunindo quem mais entende do assunto para trocar experiências, ensinar e aprender.
Se você também quer participar desse movimento de modernização da pecuária, te convido a conhecer o programa desse encontro –workshop.beefpoint.com.br/programa/.

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