sábado, 11 de fevereiro de 2012

Quatro décadas de desenvolvimento

Autor(es): Achim Steiner
Valor Econômico - 10/02/2012
 

Há 40 anos, em Estocolmo, Suécia, uma decisão histórica foi tomada durante a Conferência da ONU sobre o Futuro da Humanidade e do Planeta. Essa decisão fez da capital do Quênia o centro das relações internacionais sobre o meio ambiente.
Em meio à crescente preocupação com a poluição do ar, da terra e dos mares; e com a perda de espécies e a morte das florestas em consequência da chuva ácida, os países concordaram em estabelecer um órgão da ONU encarregado de coordenar uma resposta global a esses desafios.
Diversos países fizeram campanha para receber esse novo órgão da ONU, entre eles o México, a Índia, os Estados Unidos e o Reino Unido. Mas foi o Quênia que ganhou esse debate diplomático e, assim, se tornou o primeiro país em desenvolvimento a receber uma sede da ONU.
Parte do trabalho da Economia Verde tem sido avaliar e informar a todos os governos sobre os serviços trilhonários que a natureza oferece, mas que, até recentemente, têm permanecido quase que invisíveis nas contas nacionais de lucros e perdas.
Fotos em branco e preto, tiradas no dia 2 de outubro de 1973, durante a inauguração, mostram o presidente Kenyatta rodeado por guardas florestais, acenando ao lado do canadense de 43 anos, Maurice Strong, o primeiro diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Pnuma.
Hoje, o escritório do Pnuma em Nairóbi emprega cerca de 1.120 funcionários locais e internacionais e atua como sede de uma rede estratégica de escritórios regionais em Bangcoc, Cidade do Panamá, Washington (DC), Genebra e Reino de Bahrein.
Originalmente, o escritório foi estabelecido para coordenar as atividades ambientais do Sistema ONU e fornecer análises científicas para Estados-membros sobre temas ambientais emergentes. A ênfase na ciência levou governos a negociar tratados globais fundamentais para responder às crises ambientais.
O Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio - o revestimento de proteção que filtra os níveis danosos de raios ultra-violeta - é um exemplo. Sem ele, os níveis atmosféricos de substâncias nocivas à camada de ozônio poderiam ter se multiplicado em 10 vezes até 2050, o que provocaria até 20 milhões a mais de casos de câncer de pele e 130 milhões a mais de casos de catarata ocular, sem mencionar os danos ao sistema imunológico humano, aos animais selvagens e à agricultura.
No fim da década de 1980, quando o mundo estava lutando para entender as implicações do aumento das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, o Pnuma e a Organização Mundial de Meteorologia estabeleceram o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês).
Seu trabalho científico se tornou referência para governos sobre as prováveis tendências e impactos do aquecimento global. As descobertas do painel exerceram um papel fundamental no estabelecimento da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e seu tratado de redução de emissões: o Protocolo de Kyoto.
Desde 2008, o Pnuma tem defendido a Economia Verde como forma de gerar desenvolvimento e empregos sem deixar de manter a pegada da humanidade dentro dos limites ecológicos.
Parte do trabalho da Economia Verde tem sido avaliar e informar governos sobre os serviços trilhonários que a natureza oferece, mas que, até recentemente, têm sido quase que invisíveis nas contas nacionais de lucros e perdas.
No Quênia, o Pnuma fez uma parceria com o governo para estimar o valor do complexo da Floresta Mau, que, nas últimas décadas, perdeu 30% de sua vegetação. Estima-se que os serviços gerados pela floresta - água que alimenta uma dúzia de sistemas fluviais, como por exemplo, a reserva Maasai Mara e o lago Nakuru; umidade para a indústria de chá, captura de carbono - equivalem a um total de US$ 1,5 bilhão ao ano para a economia queniana.
O mais comum é que os benefícios reais dos acordos ambientais das Nações Unidas apareçam anos ou mesmo décadas depois.
Na Cúpula da Terra sobre Desenvolvimento Sustentável de Joanesburgo, em 2002, o Pnuma foi indicado para atuar como líder de uma aliança para acelerar a redução gradativa de chumbo no petróleo. O chumbo é especialmente prejudicial para o cérebro de crianças e jovens.
Desde então, cerca de 80 países em desenvolvimento, incluindo Gana, Quênia, Tanzânia, África do Sul, Vanuatu e alguns países Caribenhos, têm contribuído para a remoção de chumbo de combustíveis de transporte. Só agora é possível começar a identificar os enormes benefícios resultantes dessas ações.
Cientistas calculam que o aumento no QI, as reduções de problemas cardiovasculares e o declínio da criminalidade equivalem a US$ 2,4 trilhões em benefícios associados à eliminação global do chumbo em combustíveis.
E o que esperar do futuro? No Conselho Governamental anual do Pnuma, que reunirá ministros do Meio Ambiente em Nairóbi de 24 a 26 de fevereiro, todas as atenções estarão voltadas para os resultados da Cúpula da Terra de 1992.
A Rio+20, que acontece em junho deste ano, pode ser uma oportunidade para que a iniciativa Economia Verde seja traduzida de uma forma inovadora e orientada para um futuro que torne real o desenvolvimento sustentável para 7 bilhões de pessoas - um número que pode chegar a 9 bilhões até 2050.
Alguns países, incluindo o Quênia e a Alemanha, estão também sinalizando que chegou o momento de fortalecer o Pnuma e fazer dele uma Organização Mundial para o Meio Ambiente.
Há 40 anos, muitos dos desafios enfrentados pelas pessoas e pelo planeta eram teóricos. Hoje, eles estão rapidamente se tornando realidade.
A criação do Pnuma em Estocolmo em 1972 foi, para alguns, uma caixinha de surpresas. Se junho de 2012 vai mudar a história do Pnuma e levar o seu processo evolutivo a um nível mais alto, apenas o tempo irá dizer.
Achim Steiner é subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do Pnuma

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