terça-feira, 24 de agosto de 2010

Concentração da soja no MT

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/24/concentracao-da-soja-no-mt
Valor Econômico - 24/08/2010
Na safra 2009/10, os 20 maiores produtores de soja do Mato Grosso foram responsáveis por 20% da área plantada com a cultura no Estado. Na safra 2004/5, esse percentual foi de 9%.


Grandes produtores de soja ampliam domínios em MT

Levantamento divulgado ontem pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) confirma a aceleração do movimento de concentração na produção de soja do Estado nos últimos anos. Os novos dados mostram que, na última safra (2009/10), os 20 maiores sojicultores radicados em Mato Grosso semearam 1,2 milhão de hectares, ou 20% de uma área total estimada pela entidade em 6 milhões de hectares. Em 2004/05, os gigantes da soja ocuparam 533,7 mil hectares, ou 9% da área total da cultura no Estado.
Na análise que divulgou, o Imea - instituto privado sem fins lucrativos vinculado à associações que representam agricultores - credita a tendência aos ganhos de escala obtidos com a expansão das áreas de plantio e à entrada de grupos estrangeiros no Estado. E mesmo os estrangeiros "profissionais", aqueles que investem no Brasil realmente para produzir e exportar, também precisam dessa escala, já que um dos principais problemas enfrentados pelos agricultores de Mato Grosso é a logística deficiente. No total, o Estado tem, hoje, cerca de 4,6 mil produtores de soja; há cinco anos, eram 6 mil.
Conforme Otávio Celidonio, superintendente do Imea, o movimento de concentração na soja é mais intenso em áreas de exploração mais recente no oeste, como nos arredores do município de Sapezal, e menos significativo em polos como o de Sorriso, no médio-norte mato-grossense. Em Sapezal, informou ao Valor, uma propriedade "típica" já tem cerca de 2,5 mil hectares; em Sorriso, fica em torno de 1 mil, ainda que existam propriedades bem maiores.
Neste oeste de grandes produtores, lembrou Celidonio, os incrementos se dão por meio de aquisições e arrendamentos, e muitas vezes envolvem áreas de outros grandes com problemas. Há casos na região, atualmente, de produtores com dívidas da ordem de R$ 600 por hectare. Em fronteiras como Sorriso, onde a ocupação da terra pelos agricultores já é mais antiga, a organização entre eles também é maior. Há, por exemplo, pools bem estabelecidos para comprar insumos e comercializar a produção. Ao norte de Sorriso, já no bioma amazônico, questões ambientais também freiam negócios.
De qualquer forma, diz Celidonio, a estrutura financeira ainda é um gargalo para muitos agricultores do maior Estado produtor de soja do país. "A eficiência não pode estar só no campo. O associativismo, o cooperativismo e a formação de condomínios podem ajudar. Mas a concentração deve continuar".


Glifosato alavanca venda de defensivo genérico no Brasil

Autor(es): Alexandre Inacio, de São Paulo
Valor Econômico - 24/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/24/glifosato-alavanca-venda-de-defensivo-generico-no-brasil
Nos últimos cinco anos, a participação dos defensivos genéricos no Brasil passou de praticamente zero para 48,5% da receita total do mercado brasileiro. No ano passado, esses produtos foram responsáveis por movimentar US$ 3,2 bilhões, ante os US$ 3,4 bilhões dos produtos "convencionais", também conhecidos no mercado como "especialidades".
Em volume, a fatia é ainda maior. O mercado de produtos genéricos representou em 2009 pouco mais de 80% das 725,5 mil toneladas de produto comercial negociada no Brasil. Além disso, das 335,8 mil toneladas de ingredientes ativos comercializadas, apenas 15% foram de produtos convencionais no ano passado.
Parte expressiva desse crescimento se deu pela evolução da soja transgênica no Brasil e o aumento da demanda por seu principal defensivo, o glifosato. "O crescimento dos genéricos foi rápido porque o glifosato é um produto conhecido e muito usado. Aproximadamente 90% dos herbicidas genéricos vendidos são à base de glifosato", diz Cléber Vieira, gerente de projetos da Agroconsult. No ano passado, os herbicidas responderam sozinhos por 60% da demanda de defensivos em volume.
Dados do Ministério da Agricultura mostram que existem 22 empresas registradas para comercializar 45 produtos à base de glifosato. Segundo Valdemar Fischer, gerente geral da Nufarm para América Latina - segunda maior empresa de genéricos no Brasil - existem ainda 174 pedidos para registro de produtos à base do ingrediente ativo para um mercado 250 milhões de litros anuais.
"Os genéricos aumentaram a concorrência no setor. Existem 115 empresas cadastradas no Ministério da Agricultura, sendo que 38 com presença mais expressiva", diz Fischer. Segundo ele, os oito maiores grupos detinham em 2001 quase 85% do mercado. Em 2009, as oito maiores do ranking passaram a ter 77% do mercado.
"A competição no mercado de defensivos está cada vez maior. Para se destacar, as empresas que apostam em pesquisa e desenvolvimento para elaborar novos defensivos e manter patentes por algum tempo estão gastando cada vez mais tempo, pesquisando mais componentes para cada novo registro e aplicando mais recursos durante esse processo", afirma Antônio Carlos Motta Guimarães, presidente da CropLife América Latina e diretor-geral da Syngenta para a América Latina.
Em sua apresentação na Crop World - evento realizado em São Paulo com as principais empresas de agroquímicos -, Guimarães disse que na década de 90 as empresas pesquisavam em média 50 mil componentes durante aproximadamente oito anos, com investimentos de US$ 152 milhões para se chegar a um novo produto. Dez anos depois, passaram a ser necessários 100 mil componentes, nove anos e US$ 184 milhões para cada defensivo. Atualmente, são gastos em média dez anos para combinar 150 mil componentes com aportes de US$ 256 milhões até se chegar a um novo produto.
"O crescimento dos genéricos será menos intenso daqui para frente. Diferentemente do glifosato, que é um produto muito antigo, conforme as patentes caiam as empresas de genéricos precisam iniciar todo o processo regulatório, além de investirem na pesquisa de formulação e na parte técnica da pesquisa", afirma Vieira, da Agroconsult.


Transgênicos alavancam venda de agrotóxicos

24 de agosto de 2010

Do Valor Econômico

Nos últimos cinco anos, a participação dos defensivos genéricos no Brasil passou de praticamente zero para 48,5% da receita total do mercado brasileiro. No ano passado, esses produtos foram responsáveis por movimentar US$ 3,2 bilhões, ante os US$ 3,4 bilhões dos produtos "convencionais", também conhecidos no mercado como "especialidades".
Em volume, a fatia é ainda maior. O mercado de produtos genéricos representou em 2009 pouco mais de 80% das 725,5 mil toneladas de produto comercial negociada no Brasil. Além disso, das 335,8 mil toneladas de ingredientes ativos comercializadas, apenas 15% foram de produtos convencionais no ano passado.
Parte expressiva desse crescimento se deu pela evolução da soja transgênica no Brasil e o aumento da demanda por seu principal defensivo, o glifosato. "O crescimento dos genéricos foi rápido porque o glifosato é um produto conhecido e muito usado. Aproximadamente 90% dos herbicidas genéricos vendidos são à base de glifosato", diz Cléber Vieira, gerente de projetos da Agroconsult. No ano passado, os herbicidas responderam sozinhos por 60% da demanda de defensivos em volume.
Dados do Ministério da Agricultura mostram que existem 22 empresas registradas para comercializar 45 produtos à base de glifosato. Segundo Valdemar Fischer, gerente geral da Nufarm para América Latina - segunda maior empresa de genéricos no Brasil - existem ainda 174 pedidos para registro de produtos à base do ingrediente ativo para um mercado 250 milhões de litros anuais.
"Os genéricos aumentaram a concorrência no setor. Existem 115 empresas cadastradas no Ministério da Agricultura, sendo que 38 com presença mais expressiva", diz Fischer. Segundo ele, os oito maiores grupos detinham em 2001 quase 85% do mercado.
Em 2009, as oito maiores do ranking passaram a ter 77% do mercado.
"A competição no mercado de defensivos está cada vez maior. Para se destacar, as empresas que apostam em pesquisa e desenvolvimento para elaborar novos defensivos e manter patentes por algum tempo estão gastando cada vez mais tempo, pesquisando mais componentes para cada novo registro e aplicando mais recursos durante esse processo", afirma Antônio Carlos Motta Guimarães, presidente da CropLife América Latina e diretor-geral da Syngenta para a América Latina.
Em sua apresentação na Crop World - evento realizado em São Paulo com as principais empresas de agroquímicos -, Guimarães disse que na década de 90 as empresas pesquisavam em média 50 mil componentes durante aproximadamente oito anos, com investimentos de US$ 152 milhões para se chegar a um novo produto. Dez anos depois, passaram a ser necessários 100 mil componentes, nove anos e US$ 184 milhões para cada defensivo. Atualmente, são gastos em média dez anos para combinar 150 mil componentes com aportes de US$ 256 milhões até se chegar a um novo produto.
"O crescimento dos genéricos será menos intenso daqui para frente. Diferentemente do glifosato, que é um produto muito antigo, conforme as patentes caiam as empresas de genéricos precisam iniciar todo o processo regulatório, além de investirem na pesquisa de formulação e na parte técnica da pesquisa", afirma Vieira, da Agroconsult.



A China e a renda diferencial de Ricardo

Autor(es): Paulo R.Haddad
O Estado de S. Paulo - 24/08/2010

Nos últimos cinco anos tenho trabalhado em atividades de consultoria em cerca de duas dezenas de municípios economicamente deprimidos, localizados principalmente no centro-norte do Pará e no leste de Minas Gerais. O objetivo é identificar oportunidades de investimentos diretamente produtivos visando a promover um processo de desenvolvimento desses municípios e suas microrregiões. Os principais obstáculos a ser enfrentados têm sido a profunda escassez de capital social e institucional, assim como o quadro de histerese socioeconômica que permeia as estruturas desses municípios e de seus habitantes. Faltam as condições necessárias para a mobilização social e política da população, de um lado, e para o empreendedorismo local, do outro, visando tanto a solucionar os problemas socioeconômicos quanto a ativar as potencialidades de crescimento econômico.


Mas, em quase todos esses municípios, um evento portador de mudanças chega de forma inequívoca em suas economias. Com o crescimento acelerado da demanda mundial de produtos intensivos de recursos naturais renováveis e não-renováveis (alimentos, bioenergéticos, papel e celulose, minérios e metais, etc.), particularmente a partir da expansão intensificada do consumo e dos investimentos na China, tornou-se inevitável redefinir o nível de potencial econômico desses municípios.

No médio prazo, pode-se dizer que a dotação de recursos de uma região menos desenvolvida é simplesmente o estoque de recursos naturais que são requeridos, em algum grau, pela economia nacional para atender às demandas interna e externa. À medida que os requisitos da economia se modificam no longo prazo, a composição do estoque se altera e, nesse sentido, o significado do que seja "dotação de recursos" muda com a dinâmica do crescimento econômico, ou seja, com os determinantes da demanda final (preferência dos consumidores, distribuição da renda e da riqueza, padrão do comércio exterior, etc.) e com as condições tecnológicas e de organização do sistema produtivo. Assim, o conceito de potencial de recursos é econômico, e não físico. O valor de um recurso natural não é, pois, intrínseco ao material que o compõe, mas depende da estrutura da demanda, dos custos de produção, dos custos de transporte e das inovações tecnológicas que sejam comercialmente adotadas.


Ora, com a mudança do patamar da demanda global para produtos intensivos de recursos naturais, muitas áreas do País estão tendo sua potencialidade econômica redefinida. Ou porque os crescentes preços relativos desses produtos permitem o uso de recursos de pior qualidade (áreas ecologicamente degradadas) ou porque esses preços favorecem o uso de recursos geograficamente de menor acessibilidade (áreas mais distantes dos mercados consumidores). Dois economistas clássicos estudaram particularmente este processo de valorização de recursos naturais de menor produtividade ou pior qualidade (Ricardo) ou de pior acessibilidade e maiores custos de transporte (Von Thünen) gerando uma renda diferencial para os seus proprietários, num contexto de demanda induzida em expansão.


Assim vem ocorrendo em muitos municípios do País, como no centro-norte do Pará, com o plantio de palmáceas de dendê para a produção de biodiesel em áreas de pastos degradadas; ou no leste de Minas, com a demanda de terras de menor produtividade para o plantio de eucaliptos para duplicação da capacidade produtiva da indústria de papel e celulose. O valor econômico do patrimônio fundiário se amplia seja por diferentes formas de arrendamento de parcelas das propriedades, seja por contratos de pré-compra com assistência técnica liderados por empresas-âncora.


Como a expansão da demanda direta ou indireta por recursos naturais (ainda que de baixa produtividade ou de pior acessibilidade espacial) tende a ser sustentada, consistente e crescente em escala global, o crescimento da renda diferencial dos seus proprietários tende a se elevar e a contribuir para a formação do embrião de uma nova vertente da classe média rural nesses municípios.


O mau caminho das safras

O Estado de S. Paulo - 24/08/2010

O mundo vai precisar de muito mais alimentos e matérias-primas produzidos no campo nos próximos 10 anos - e o Brasil será o país mais qualificado para atender a essa demanda, se agricultores e criadores conseguirem fazer sua produção chegar aos portos a um custo razoável. A agropecuária brasileira poderá aumentar sua participação no comércio mundial de soja em grão, milho e carnes, além de manter a posição dominante nos mercados de açúcar e café. As projeções aparecem num trabalho publicado pelo Ministério da Agricultura. As perspectivas são auspiciosas, mas o estudo termina com uma descrição pouco animadora das condições de logística.


A produção agropecuária tem crescido muito mais velozmente que os investimentos na infraestrutura de transportes e de armazenagem. Os gastos com transporte aumentaram em média 147% entre 2003 e 2009, segundo levantamento da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), divulgado em reportagem do Estado nessa segunda-feira. Os produtores foram capazes, nos últimos 40 anos, de levar a agricultura a regiões novas, tornando produtiva a ampla área do cerrado e implantando lavouras modernas muito longe das áreas tradicionais. Tiveram durante algum tempo incentivo oficial para abrir fronteiras. Também essencial foi o apoio dos institutos de ciência e tecnologia, especialmente da Embrapa. Mas o investimento na ampliação, na modernização e, depois, na conservação da malha de transportes avançou durante alguns anos e perdeu impulso.

O Centro-Oeste produz cerca de 35% da safra nacional de grãos. A maior parte da exportação sai pelos portos do Sul e do Sudeste, porque o acesso aos portos da Região Norte é muito mais difícil. O caminho seria mais curto, mas acaba sendo mais vantajoso enviar a mercadoria aos pontos tradicionais de embarque. Caminhões transportam cerca de 70% da produção de soja de Mato Grosso, a um custo em torno de R$ 230 por tonelada. O custo é menor para os produtores do Sul e do Sudeste - entre R$ 55 e R$ 70, segundo a reportagem. Mesmo esses custos, no entanto, são maiores que os da Argentina, R$ 34,64, e dos Estados Unidos, R$ 31,18. A eficiência dentro das fazendas é das maiores, pelos padrões internacionais, mas boa parte da vantagem competitiva se esvai no transporte - demorado, arriscado, caro e com elevada perda de mercadoria.

Os produtores podem usar boas máquinas, boas sementes e as melhores técnicas de manejo de solo. Formas de produção igualmente modernas foram adotadas na criação de animais. Tudo isso permitiu baratear a produção nacional de alimentos nos últimos 30 anos. O consumidor nacional foi beneficiado e, ao mesmo tempo, os exportadores conseguiram ocupar fatias importantes do mercado internacional. Mas conseguiram tudo isso apesar das más condições da infraestrutura e de outros itens do "custo Brasil".

Pelas projeções do Ministério da Agricultura, a produção de cinco dos principais grãos e oleaginosas - arroz, feijão, milho, soja e trigo - poderá ser 36,7% maior na safra 2019-2020 do que em 2008-2009. Aumento quase igual (37,5%) é estimado para a produção de carnes de frango, de bois e de suínos. A maior parte da produção de alimentos deverá ser absorvida pelo mercado interno. Ainda assim, a participação brasileira no mercado internacional poderá aumentar consideravelmente no caso de vários produtos: soja em grão, de 30,2% para 35,8%; milho, de 10,1% para 12,7%; carne bovina, de 25% para 30,3%; carne suína, de 12,4% para 14,2%; carne de frango, de 41,4% para 48,1%. Nos casos do açúcar e do café serão mantidas as fatias atuais - 46,5% e 27,2%.

O aumento da produção resultará principalmente de ganhos de produtividade. A expansão da área de plantações e pastagens será pequena. A produção das lavouras deverá crescer em média 2,67% ao ano, enquanto o aumento anual da área usada ficará em 0,45%. Sem a produtividade em alta, o problema da logística teria sido muito mais grave nos últimos anos, porque as distâncias seriam maiores. Responsáveis pela política de transportes foram incapazes de aproveitar essa vantagem.

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